Lavar muito a carne de frango para tirar as hormonas ou deixar a sopa arrefecer a temperatura ambiente para não azedar são mitos que podem causar doenças, alertou esta quinta-feira uma investigadora da Universidade Católica Portuguesa do Porto.

Em entrevista à agência Lusa a propósito do Dia Mundial da Segurança Alimentar, que se assinala sexta-feira, Paula Teixeira, investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF) da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, falou da importância de lavar, separar, cozinhar e refrigerar adequadamente os alimentos para evitar contaminações alimentares na cozinha.

Os alimentos nunca foram tão seguros como hoje, nunca houve um controlo como há hoje, mas há sempre espaço para melhorar, há novos desafios e muitos mitos para desmistificar”, afirmou a também docente da Escola Superior de Biotecnologia.

Paula Teixeira, que dirige há mais de duas décadas uma equipa de investigação que estuda o comportamento dos consumidores, nomeadamente as barreiras a boas práticas de higiene, contou, por exemplo, que em Portugal é comum as famílias acharem que devem lavar muito a carne de frango para tirar as hormonas.

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“Lavo porque sempre vi a minha mãe ou a minha avó a lavarem, dizem-nos, mas este é um mito que pode ter impacto na segurança do alimento. É suposto cozinharmos bem o frango e, quando cozinhamos bem, os micróbios são destruídos. Quando lavamos muito a carne de frango, contaminamos tudo o que está à volta, esparrinhamos água por todo o lado e é nessa banca que lavamos a salada que é consumida crua”, descreveu a investigadora, alertando para os perigos da contaminação cruzada.

Entre outros mitos, a investigadora alertou para a ideia errada de que a sopa deve ser arrefecida a temperatura ambiente porque quente ou morna no frigorífico azeda.

“Mas, não é pela sopa ser guardada quente no frigorífico que se estraga, mas sim porque demora mais tempo a arrefecer, dando tempo suficiente aos organismos que vão estragar o alimento para crescerem. Mais ainda, quando um alimento é colocado quente no frigorífico, vai aumentar a temperatura no interior do equipamento o que irá, por um lado aumentar também a temperatura dos outros alimentos, aumentado o risco do crescimento de micróbios indesejáveis, e por outro, aumentar os gastos de energia do frigorífico”, descreveu.

A solução não é deixar arrefecer à temperatura ambiente durante horas, mas sim dividir por recipientes mais pequenos, arrefecer em banho de água ou ir mexendo para arrefecer mais rápido.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, anualmente são reportados 600 milhões de casos de toxinfeções alimentares no mundo.

Cerca de 40% ocorrem nas casas e advêm de pequenos erros do quotidiano como a temperatura de confeção insuficiente, temperatura do frigorífico demasiado alta, contaminações cruzadas durante a preparação dos alimentos, principalmente os que não vão ser cozinhados.

“Estes números são 5 a 10% dos casos reais. Os casos reportados são casos que tiveram de ir ao hospital, ficaram internados (…). O problema é maior em regiões mais pobres e mais precárias, mas isto não significa que não existam números muito maus na Europa”, referiu a docente.

Em 2022, de acordo com o último relatório da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), foram reportados 23 milhões de casos e 5.000 mortes na Europa por toxinfeções alimentares.

Só as bactérias “campylobacter” (associada a carne de aves) e salmonela (associamos aos ovos) causaram mais de 200 mil casos na União Europeia (UE), mil dos quais em Portugal.

Já a listéria, associada a alimentos prontos a comer com prazo de validade muito grande como queijos de pasta mole, enchidos que são consumidos crus ou patés à fatia, causou a morte de 300 pessoas na UE. Em Portugal foram detetados 60 casos e morreram 10 pessoas.