Usa aliança, é pai, nem por isso perde aquele ar jovial de quem não parece estar à beira de fazer 30 anos em agosto. À primeira vista, Bernardo Silva continua com o mesmo aspeto descontraído que tinha quando saiu muito novo para o estrangeiro. Depois, começa a falar e o discurso ganha idade. É maduro, muito tranquilo, sem complexos. E foi assim que o médio ofensivo-avançado-qualquer posição que seja necessário cumprir abordou o segundo de três encontros particulares da Seleção antes do Campeonato da Europa, por sinal o teste mais complicado não só nesta fase mas de todo o caminho com Roberto Martínez. E com uma outra particularidade: no regresso ao Estádio Nacional 11 anos depois, o jogador pode estrear-se no Jamor.

“Ganhei essa Taça de Portugal de 2013/14 [pelo Benfica] mas porque fiz um jogo nessa caminhada que não a final, aí não estava. Nunca joguei no Jamor e se o técnico me chamar vai ser a minha estreia num estádio mítico, que é importante para todos nós portugueses. Tenho muito essa vontade de poder jogar finalmente no Jamor”, apontou o jogador do Manchester City esta sexta-feira na Cidade do Futebol, na antecâmara do particular com uma Croácia que conta com dois companheiros de equipa na Premier: Gvardiol e Kovacic.

“Falei com eles, claro. São dois amigos, duas pessoas que chegaram há um ano ao Manchester City mas com quem temos uma relação muito forte porque o balneário também é muito bom e falámos sobre o jogo de preparação. É importante mas não é o mais importante, isso é preparar da melhor forma o Europeu e afinar algumas coisas. Queremos continuar com esta energia positiva e estamos focados em fazer um bom jogo vendo o que não corre bem para acertar e chegar da melhor forma ao Europeu”, frisou Bernardo Silva, que ficou sempre com algo “atravessado” na carreira: a lesão muscular que o impediu de marcar presença na fase final do Campeonato da Europa de 2016, que terminou com a vitória de Portugal frente à França.

Deixando uma palavra de apreço à caminhada da Seleção Sub-17, que perdeu a final do Europeu tal como o esquerdino mas nos Sub-21, e explicando que Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, “tentou que o grupo prometesse que só voltava do Europeu no dia 15 de julho da Alemanha entre um espírito sempre muito otimista e confiante”, o internacional português, que ficou no banco no primeiro jogo particular com a Finlândia por uma questão de gestão física, falou sobre o momento de João Neves e o interesse de grandes clubes europeus no médio do Benfica… que terá também o próprio Manchester City.

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“O que lhe dizia? Dizia para ele vir para o Manchester City, já… Não é fácil, pela época que teve muitos clubes podem estar interessados, não tenho nenhuma inside information mas acho que sim. Como português e como jogador que aprecio muito, gostava de o ter do meu lado mas quero que ele tome o melhor caminho. Guardiola? Não preciso de convencer, ele próprio convence pelo que faz, pela forma como trabalha e pela energia que dá ao jogo, convence quase todos os treinadores do mundo mas depois não será uma saída barata… Ficando ou saindo, aquilo que quero é que faça o melhor para ele”, salientou.

Por fim, e numa questão que até abriu a conferência, Bernardo Silva comentou ainda as palavras de Roberto Martínez ao podcast FIVE de Rio Ferdinand, que referiu não ter dúvidas de que o esquerdino vai dar mais tarde treinador. “Por enquanto estou muito feliz como jogador, não penso nisso. Mas claro que agradeço as palavras, é um orgulho que o nosso treinador pense nessa forma. Se tivesse de escolher um companheiro de equipa para adjunto, escolheria o Rúben Dias. Não é difícil, vê o futebol da mesma forma que eu e que é um grande amigo a nível de relação seria fácil”, explicou o jogador do City.

“Quando recuamos no tempo e nos lembramos do Bernardo Silva durante o seu período no Mónaco, jogava muito mais como um extremo direito puro, sempre a trabalhar naquela estrutura ofensiva, e depois vai para o Manchester City e torna-se um jogador muito mais de preencher os espaços interiores. Já jogou em quase todas as posições no City, até mesmo como lateral esquerdo. E isso deve-se muito à inteligência dele e a forma como é capaz de ver o jogo. Não tenho dúvidas de que será treinador quando terminar a carreira, sem dúvidas. Tem a capacidade de ler e entender o jogo. Normalmente, enquanto jogador, és capaz de entender o teu papel dentro da equipa mas ele percebe o que os outros também estão a fazer e como o seu posicionamento em campo pode ajudá-los de alguma forma. É um jogador com uma capacidade incrível para criar situações de perigo Quando recuamos atrás uma jogada de golo, vemos sempre que há algo ali de intuitivo. Com o Bernardo isso não acontece, há sempre uma ideia, um pensamento, uma linha que ele segue. Tem um cérebro absolutamente incrível”, elogiou Roberto Martínez na conversa com Rio Ferdinand.