O liberal Duarte Gouveia vai ser candidato a coordenador da Iniciativa Liberal (IL) na Madeira, na sequência da demissão de Nuno Morna, propondo “uma solução de futuro” para a direção do partido na região autónoma, foi anunciado esta segunda-feira.

“Era para mim claro que tinha responsabilidade de – tendo sido crítico também – propor uma solução de futuro para a Iniciativa Liberal na Madeira e, portanto, foi rápido e inesperado, porque eu não sabia que Nuno Morna se ia demitir, mas foi rápido também porque [a decisão de ser candidato] é baseada na convicção de que é possível fazer bastante melhor e é possível ter uma solução de futuro para a Iniciativa Liberal noutros moldes do que os que têm seguido até aqui”, afirmou Duarte Gouveia, em declarações à agência Lusa.

Nuno Morna comunicou no domingo ao Conselho Nacional da IL a renúncia ao cargo de coordenador do Grupo de Coordenação Local da Madeira (GCL), considerando ser o momento para uma renovação e criação de novas estratégias, ressalvando que irá manter-se como deputado único eleito da IL no arquipélago até ao final da legislatura.

Nuno Morna renuncia à coordenação da Iniciativa Liberal na Madeira

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De acordo com o Regulamento Geral de Núcleos da IL, o coordenador deve ser substituído pelo vice-coordenador, mas quem ocupa atualmente esse lugar, Francisco Costa, informou que não pretende dar continuidade ao seu mandato neste GCL.

Neste contexto, deve ser convocado “um plenário eleitoral para eleição de um novo GCL”, indicou Nuno Morna, referindo que a coordenação cessante se mantém em gestão corrente sob a coordenação da Comissão Executiva.

Apresentando-se como candidato a líder da estrutura madeirense, Duarte Gouveia lembrou que saiu “de forma crítica” da direção regional do partido em janeiro deste ano, face aos resultados das eleições regionais de setembro de 2023, em que foi o terceiro da lista da IL. O partido conseguiu eleger apenas um deputado, à semelhança do que voltou a acontecer nas antecipadas de maio.

Duarte Gouveia foi militante ativo do PS/Madeira durante 20 anos, mas mudou para a IL, tendo sido coordenador regional entre 2019 e 2021. 

O liberal sublinhou que o partido não é nem de esquerda, nem de direita, criticando o posicionamento à direita e reforçando que a IL quer ser “a casa comum de todos os liberais”.

Sobre a continuidade de Nuno Morna como deputado único da IL no parlamento madeirense, Duarte Gouveia defendeu que “deve ter a liberdade e a responsabilidade pelos seus atos”, e ressalvou que nem sempre pode estar de acordo com o GCL.

“Mas também não aceitaremos que Nuno Morna se comporte a mando da direção nacional da Iniciativa Liberal. Em muitas matérias parece que é isso que tem estado a acontecer. Isso também é inaceitável”, apontou.

Sobre o futuro político da região, sob liderança do PSD, que governa sem maioria absoluta, Duarte Gouveia criticou a postura da IL, com “uma intransigência que é incompreensível para um partido que conseguiu apenas um deputado”, e defendeu a abertura ao diálogo para conseguir consensos.

“Somos profundamente ideológicos enquanto liberais, mas temos de ter a flexibilidade de encontrar soluções e, na minha perspetiva, um dos motivos que neste momento estão a bloquear a situação é, por um lado, a IL estar a olhar apenas para metade do hemiciclo, para o lado direito do hemiciclo, também recusando soluções do outro lado. E, estando a IL numa perspetiva liberal, que não é de esquerda, nem de direita, deve olhar para todo o hemiciclo em busca de soluções. Isso não significa que o PSD não seja também uma alternativa”, indicou.

Duarte Gouveia manifestou disponibilidade para apoiar a solução de governo proposta por PS e JPP por ser “uma opção matematicamente viável” – com o apoio da IL, passariam a ter 21 deputados, o mesmo que têm juntos PSD e CDS –, “mas também estaria disponível para viabilizar uma solução dentro do lado direito”.

Contudo, reconheceu, “com um deputado a força negocial é relativamente pequena”.

O liberal considerou que o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque (PSD), “não tem condições para poder governar” e está a ser “uma forma de bloqueio ao desenvolvimento da região”, até porque dentro do PSD poderia haver outra solução.

Não é claro qual é o melhor caminho para chegar a uma solução em que teremos uma governação estável […]. Se houver eleições, não há nenhum drama nisso, mas serão as terceiras de seguida”, disse.

Nuno Morna foi novamente eleito em maio, nas legislativas regionais da Madeira, para ocupar um dos 47 lugares da Assembleia Legislativa. Obteve 2,56% dos votos.

Na sequência das eleições legislativas antecipadas, sete partidos conseguiram representação no parlamento madeirense: o PSD (19 deputados), o PS (11), o JPP (nove), o Chega (quatro), o CDS-PP (dois), a IL (um) e o PAN (um).

O Governo Regional, liderado pelo social-democrata Miguel Albuquerque, tomou posse em 6 de junho, mas enfrenta agora a possibilidade de um chumbo do Programa do Governo, que será discutido entre terça e quinta-feira. PS, JPP e Chega (que somam 24 assentos, equivalentes a uma maioria absoluta) já anunciaram o voto contra o documento.

As eleições antecipadas de maio na Madeira ocorreram oito meses após as mais recentes legislativas regionais, depois de o Presidente da República ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando o líder do Governo Regional (então PSD/CDS-PP) foi constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção.