O coordenador da extinta comissão independente que estudou os abusos sexuais na igreja católica reagiu esta terça-feira às críticas do Grupo VITA sobre dificuldades de acesso a dados, esclarecendo que por questões de sigilo os dados foram destruídos.

“Como o próprio Grupo VITA sabe e a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi informada e concordou, os nossos dados foram sempre em registo anónimo e posteriormente destruídos pela nossa parte, a fim de garantir o sigilo pessoal, sempre por nós assegurado desde o inicio do estudo a toda e qualquer pessoa que nele participasse com o seu testemunho”, esclareceu o pedopsiquiatra Pedro Strecht, em resposta à Lusa.

Segundo Pedro Strecht, o acesso informático à base de dados era “mega blindado, algumas vezes alterado e nunca nenhum membro da comissão independente teve acesso pessoal ou exclusivo ao mesmo, durante ou depois do estudo, cumprindo rigorosamente regras internacionais de proteção de dados neste tipo de estudo”.

O Grupo VITA adiantou esta terça-feira estar a sentir dificuldades no acesso a informações sobre as vítimas ouvidas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, que apresentou o seu relatório em fevereiro de 2023.

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Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA, criado pela Conferência Episcopal Portuguesa e que entrou em funcionamento em maio de 2023 com o objetivo de acompanhar as vítimas de violência sexual no contexto da Igreja Católica em Portugal, disse esta terça-feira, em Fátima, que ainda não receberam “qualquer informação da Comissão Independente”.

“Ainda antes de entrarmos em funcionamento (…) fizemos uma série de diligências e iniciativas e uma delas foi exatamente uma reunião de todos nós [Grupo VITA] com todos os elementos da Comissão Independente e salientámos a necessidade de partilha de informação”, disse Rute Agulhas, na sessão de apresentação do segundo relatório de atividades da estrutura que lidera.

A psicóloga adiantou que, depois disso, houve duas vítimas que, ao contactarem com o Grupo VITA, disseram “‘eu já partilhei com a comissão independente e eu autorizo, eu consinto, e vou pôr por escrito esse consentimento para que a Comissão Independente partilhe com o Grupo VITA a informação de que dispõe'”.

“Numa dessas situações nós não recebemos nada e na outra situação recebemos um parágrafo de informação. Manifestamente pouco para o que necessitamos de recolher”, adiantou, sublinhando que o Grupo VITA não sabe onde estão esses dados que “são dados sensíveis, que são propriedade da Igreja em bom rigor, porque foi a Igreja que encomendou esse estudo”.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal iniciou a recolha de testemunhos de vítimas em 11 de janeiro de 2022, tendo validado, até ao final de outubro desse ano, 512 denúncias das 564 recebidas, o que permitiu a extrapolação para a existência de um número mínimo de 4.815 vítimas desde 1950.

Aquando da apresentação do seu relatório, em 13 de fevereiro de 2023, a equipa liderada por Pedro Strecht defendeu a constituição de uma nova “comissão para continuidade do estudo e acompanhamento do tema”, com membros internos e externos à Igreja.

Neste contexto, a Conferência Episcopal procedeu à criação do Grupo VITA.