Esteve para ser o fim em 2018, foi mesmo o fim em 2021 depois de um Euro-2020 que foi adiado um ano devido à pandemia da Covid-19. “Joguei pela Alemanha 106 vezes. Gostaria que tivessem sido pelo menos 109 vezes mas não haverá outra vez. Foi uma grande honra para mim poder usar esta camisola por tanto tempo. Fiz isto com orgulho e paixão. Obrigado a todos os adeptos que apoiaram com aplausos e gritos. E obrigado a todos os críticos pela motivação extra. Há muito tempo estava claro para mim que não estaria disponível para o Mundial de 2022 no Qatar principalmente porque quero concentrar-me totalmente nos meus objetivos no Real Madrid nos próximos anos e na minha família”, anunciou Toni Kroos.

É verdade, este futebol ainda é para velhos (a crónica do Alemanha-Hungria)

O médio alemão não era propriamente “velho” mas, aos 31 anos, considerou que estava na hora de parar em algumas das vertentes da carreira. No clube não era hipótese, na vida privada ainda menos, a seleção ficou com a “fava” da decisão e o campeão mundial de 2014 acabou por retirar-se numa fase em que Joachim Löw deixou também o comando da Mannschaft por troca com Hansi Flick. Só “errou” numa frase: “Não haverá outra vez”. Houve mesmo. E o regresso do campeão europeu pelo Real foi a melhor notícia para Julian Nagelsmann e para a Alemanha, de tal forma que a seleção germânica ganhou todos os cinco jogos.

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“Já chega de falar e de se escrever sobre o meu regresso, agora quero é jogar e meter mãos à obra. Foi para isso que voltei, para jogar, foi única e exclusivamente pelo futebol. Estou muito feliz aqui. Penso que não tenho de provar nada a ninguém, quando o selecionador me procurou para jogar o Europeu a minha única preocupação era se estava capaz de ajudar ou não. Ponderei e penso que sim”, referira Kroos em março, por altura desse regresso. A Alemanha ganhou à França (2-0) e aos Países Baixos (2-1), depois empatou também num particular com a Ucrânia com o médio de fora, esteve no triunfo diante da Grécia que serviu como um ensaio geral (2-1) e voltou a ser titular nos dois primeiros jogos do Europeu contra Escócia (5-1) e Hungria (2-0). Mais do que participar nesses encontros, Toni Kroos tem distribuído um master class de futebol.

É curioso que foi o próprio jogador que um dia, em entrevista, assumiu que as estatísticas eram demasiado valorizadas para o que realmente interessa. Em parte ou grande parte, é verdade. Questão: tal como o The Athletic tinha escrito por estes dias, são os números que dão dimensão a tudo o que Toni Kroos consegue oferecer ao coletivo germânico desde que regressou e o triunfo com os magiares foi exemplo paradigmático disso mesmo: tocou 147 vezes na bola (mais 42 do que qualquer outro jogador), fez 131 passes (mais 36 do que qualquer outro jogador), realizou 31 passos para o último terço (mais 19 do que qualquer outro jogador), fez 13 passes para a área contrária (mais cinco do que qualquer jogador). Neste Europeu e apenas em dois jogos nesta fase final, o número 8 tentou um total de 233 passes… e falhou apenas oito.

“Ainda demorei algum tempo para conseguir convencê-lo porque ele queria saber aquilo que nós íamos mudar na equipa. Numa das primeiras chamadas que tivemos, o Toni disse-me que só iria voltar a fazer parte da equipa se sentisse que poderia ajudar com alguma coisa para a equipa ganhar. Depois falei-lhe dos passos seguintes que queríamos dar, das mudanças que queríamos fazer na equipa… Ele respondeu ‘Ok, vou fazer parte desse projeto, let’s rock!”, contou Julian Nagelsmann antes do jogo de abertura. E o médio de 34 anos, que vai terminar a carreira no final deste Campeonato da Europa, está a levar isso à letra.