A escritora irlandesa Edna O’Brien, autora de “Raparigas de Província”, vencedora do Prémio PEN de Carreira, morreu no sábado aos 93 anos, anunciaram este domingo os seus agentes literários, Peters Fraser and Dunlop, e a sua editora, Faber & Faber.

O’Brien morreu no sábado após doença prolongada, segundo o comunicado divulgado pelos seus representantes.

“Com um espírito desafiador e corajoso, Edna esforçou-se constantemente para abrir novos caminhos, escrever com sinceridade, a partir de um sentimento profundo”, lê-se no comunicado este domingo divulgado pela Faber & Faber.

Edna O’Brien, “um orgulho literário e fora-da-lei na Irlanda”, como escreve a agência Associated Press, “escandalizou a terra natal com o seu romance de estreia, ‘The Country Girls’ [‘Raparigas de Província’, na edição portuguesa], mas conquistou reconhecimento como contadora de histórias, acabou bem-vinda e aclamada em todo o lado, de Dublin à Casa Branca”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“The Country Girls” viria a constituir-se uma trilogia, com os dois livros seguintes, “The Lonely Girl” (1962) e “Girls in Their Married Bliss” (1964), que a autora reuniu num só volume na década de 80.

Josephine Edna O’Brien nasceu em 1930, na aldeia irlandesa de Tuamgraney, na região de Clare, mudando-se depois para Dublin, onde trabalhou numa farmácia, o que lhe permitia ler Tolstoy e Thackeray, atrás do balcão, ou James Joyce e o “Retrato de um artista quando jovem”, que a inspirou a escrever.

Mais tarde, fixou-se em Londres onde iniciou a carreira literária com contos publicados na revista The Bell, ao mesmo tempo que revia manuscritos para a Hutchinson. A editora impressionou-se com a qualidade dos seus resumos das obras em avaliação, e acabou por publicar “Raparigas de Província”.

A frontalidade da escrita de O’Brien, sempre objetiva, sempre em função da história e das suas personagens, levou a que os seus livros fossem alvo de censura, na Irlanda católica, mas elogiados por autores como Kingsley Amis e Philip Roth. O seu nome foi por várias vezes indicado ao Nobel da Literatura.

A escritora publicou mais de 20 títulos, sobretudo romances e coletâneas de contos, e conhecia aquilo a que chamava “extremos da alegria e da tristeza, do amor e desamor, do sucesso e do fracasso, da fama e do massacre”, cita a Associated Press.

“Poucos desafiaram tão concreta e poeticamente os tabus da Irlanda sobre religião, sexo e género; poucos escreveram com tanta ferocidade e sensualidade sobre solidão, rebeldia, desejo e perseguição”, acrescenta a agência norte-americana de notícias.

O livro “Raparigas de província”, centrado em duas jovens mulheres que fogem de um convento para Dublin, foi de imediato proibido na Irlanda, em 1960, assim que publicado, à semelhança do que já acontecera com obras de autores como James Joyce e Frank O’Connor. Chegou a ser queimado em Tuamgraney, onde a autora nascera.

Nos anos de 1980, a banda britânica Dexy’s Midnight Runners pôs Edna O’Brien lado a lado com outros escritores irlandeses proibidos na terra natal, como Eugene O’Neill, Samuel Beckett e Oscar Wilde, na canção “Burn It Down”, do álbum “Searching for the Young Soul Rebels”.

Na obra de Edna O’Brien contam-se romances como “August Is a Wicked Month” (“Agosto é um mês perverso”, em tradução livre), sobre a libertação sexual de uma mulher; “Down By The River”, baseado na história de uma adolescente irlandesa que engravidou depois de violada pelo pai; e o autobiográfico “The Light of Evening”, sobre uma escritora de regresso à Irlanda para ver a mãe doente.

O seu mais recente romance, “Girl” (“Menina”), de 2019, é dedicado a vítimas do Boko Harem.

A obra de Edna O’Brien encontra-se publicada em Portugal pelas editoras Cavalo de Ferro (“Menina”, “Na Floresta”, “Pequenas Cadeiras Vermelhas”) e a Relógio d’Água (“Byron e o Amor”, “Raparigas de Província”).