Em 1988, há 36 anos, a larga maioria dos protagonistas dos Jogos Olímpicos de Paris estava ainda a mais de uma década de nascer. Em 1988, porém, Nino Salukvadze já estava nos Jogos Olímpicos. E 36 anos depois voltou a estar nos Jogos Olímpicos: a atleta da Geórgia tornou-se a primeira e única mulher a competir em dez edições olímpicas, já que não falhou nenhuma desde a de Seul.

Em Paris, Nino Salukvadze atingiu esse registo inédito na categoria feminina e igualou a marca de Ian Millar, cavaleiro canadiano que era até aqui o único atleta a participar em dez Jogos Olímpicos. A georgiana estreou-se em 1988 ainda inserida na delegação da União Soviética, com apenas 19 anos, e conquistou desde logo a medalha de ouro no tiro com pistola a 25 metros e a prata no tiro com pistola a 10 metros.

Rudy Fernández, o primeiro basquetebolista a disputar seis Jogos Olímpicos

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Chegou a pensar em terminar a carreira logo depois de Seul, voltou a ter a mesma ideia durante os anos 90 e quando a sustentabilidade financeira da família se tornou mais difícil depois do fim da União Soviética e foi uma das grandes histórias de Pequim 2008, quando conquistou a terceira e última medalha olímpica, um bronze no tiro com pistola a 10 metros.

Sem nunca se agarrar ao histórico ou a uma continuidade teimosa da carreira, voltou a equacionar parar na antecâmara dos Jogos Olímpicos de Tóquio, principalmente depois do adiamento devido à pandemia de Covid-19. Insistiu mais uma vez, mas anunciou mesmo o aparentemente definitivo adeus à competição quando regressou do Japão — para voltar a mudar de ideias.

Aos 55 anos, em declarações à Associated Press, Nino Salukvadze contou agora que só procurou apurar-se para Paris para realizar o último desejo do pai e treinador, que morreu no início do ano. “Era o meu mentor. Não só no desporto, mas na vida, era um homem sábio. Nunca me pediu nada na vida. Tínhamos aquele tipo de relação em que nos entendíamos só com o olhar. E ele disse-me que nunca poderia voltar se desistisse. Pediu-me para tentar. Foi o único favor que me pediu durante a vida toda. Pensei que talvez não pudesse voltar a pedir nada e reuni todas as minhas forças”, revelou.

O pai da georgiana ainda assistiu ao apuramento da filha para os Jogos Olímpicos de Paris, onde acabou por bater um recorde de longevidade impressionante. Nino Salukvadze ficou no 38.º lugar no tiro com pistola a 10 metros e no 40.º no tiro com pistola a 25 metros, posições bem diferentes das que chegou a alcançar nas últimas três décadas e que significaram que nem sequer chegou a uma final com transmissão televisiva.

A atleta vai ser homenageada pelo Comité Olímpico Internacional e, logo depois das eliminações em Paris, anunciou novamente o fim da carreira. “De vez”, garantiu. Ainda assim, é improvável que Nino Salukvadze fique muito longe dos Jogos Olímpicos: é treinadora de outras jovens atletas e vice-presidente do Comité Olímpico da Geórgia, o que significa que irá andar sempre perto dos palcos que bem conhece desde os anos 80.