As Forças de Defesa de Israel entregaram os corpos de 84 palestinianos na Faixa de Gaza, através da passagem de Karem Shalom esta segunda-feira. “Como pode Israel, sob a liderança de [Benjamin] Netanyahu, devolver corpos sem garantir a libertação de nenhum dos nossos entes queridos?”, afirmou numa mensagem o Fórum das Famílias dos Reféns, a plataforma que reúne muitos dos familiares dos sequestrados pelo Hamas ainda mantidos em cativeiro na Faixa de Gaza.

Segundo a imprensa palestiniana, é a terceira vez desde o início da guerra de Israel contra Gaza que o exército israelita devolve ao enclave os cadáveres de palestinianos que lá exumou para tentar averiguar se havia algum refém israelita entre eles.

Os cerca de 80 cadáveres foram sepultados no cemitério turco da localidade de Khan Yunis, no sul do território, indicou a Defesa Civil de Gaza. O Hamas, que governa a Faixa de Gaza, denunciou que os cadáveres devolvidos esta segunda-feira se encontram “em estado de total decomposição, sem que se possa determinar as suas identidades“.

O grupo também acusou Israel de matar civis indefesos em hospitais e refúgios, exumar os seus cadáveres e transportá-los para instalações israelitas fora de Gaza. Desde que começou a guerra, a 7 de outubro do ano passado, as autoridades do enclave palestiniano declararam ter encontrado pelo menos sete valas comuns em hospitais da Faixa de Gaza, como o Nasser ou o Al-Shifa, alvo de fortes ofensivas militares israelitas que obrigaram à sua evacuação temporária.

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No seu interior, as autoridades de saúde do território encontraram pelo menos 520 cadáveres, segundo os mais recentes números divulgados pelo Governo do Hamas.

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Entretanto, dos 251 sequestrados pelo Hamas no seu ataque de 7 de outubro, 111 permanecem em cativeiro no enclave palestiniano, pelo menos 41 dos quais mortos, segundo Israel (mais de 70, segundo o grupo islamita). Quatro outros reféns estão detidos na Faixa de Gaza há anos, dois deles mortos.

Com as negociações para um acordo de cessar-fogo que permita libertar os seus familiares em perigo, após o assassínio, em Teerão, do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, o Fórum das Famílias exigiu às autoridades israelitas que expliquem por que razão devolveram estes 80 corpos a Gaza sem terem ainda assinado qualquer acordo.

Israel declarou a 7 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o Hamas – desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.194 pessoas, na maioria civis.

A guerra, que entrou no 304.º dia esta segunda-feira e que continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 39.623 mortos e 91.469 feridos, além de cerca de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros após quase dez meses de guerra, de acordo com números atualizados das autoridades locais.

O conflito causou também mais de dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer vítimas – “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.