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De risca em risca à conquista do mundo: como a "breton" passou de camisola dos marinheiros a peça essencial da moda

Nasceu nas praias da Normandia, ganhou estatuto na marinha e conquistou o mundo através da moda. A "breton", ou camisola às riscas, tornou-se um essencial de guarda-roupa além de géneros e estações.

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Estavam os marinheiros da Normandia a lidar com as ondas munidos de uma camisola que apenas pretendia ser resistente e visível no mar, quando o olhar curioso de uma jovem criativa os captou. Gabrielle Chanel apaixonou-se e fez da peça utilitária um objeto de moda. A camisola breton foi dos mares daquela região para a marinha francesa, reinventou-se nas passerelles e hoje multiplica-se em guarda-roupas por todo o mundo. A camisola de riscas não tem estação, dispensa géneros e adapta-e a qualquer cor ou textura e, por isso, tornou-se um clássico da moda.

A camisola “breton” deve o seu nome à localidade da Bretanha, no noroeste de França e as riscas surgiram com o objetivo de fazer com que os marinheiros fossem facilmente avistados no mar. Foi por lá, mais precisamente em Saint James, que nasceu a marca com o mesmo nome em 1850. Estas camisolas foram criadas para proteger do vento e da água quem trabalhava no mar. Eram feitas em lã e construídas numa malha apertada para serem resistentes. No início do século XIX viriam a ganhar um padrão de riscas. Em 1858 a breton tornou-se parte do uniforme naval oficial francês com regras muito específicas que incluíam 21 riscas brancas com 20 milímetros de largura e 21 riscas azuis com 10 milímetros de largura. Segundo a tradição, o número de riscas na camisola representa o número de batalhas ganhas por Napoleão. Na manga deverá haver 15 riscas brancas e 14 ou 15 riscas azuis.

Ainda hoje estas regras se cumprem na Saint James. Atualmente, a marca ocupa um antigo aeródromo da II Guerra Mundial na mesma localidade, a quase 20 quilómetros do Mont Saint-Michele, e continua a produzir as famosas camisolas. A Saint James foi notícia em 2016 pelo crescimento galopante, pela transparência na produção e na origem de matéria primas, por pertencer a um coletivo (neste caso os 300 funcionários) e por trabalhar em apenas duas coleções por ano, segundo avalia a revista Condé Nast Traveler. Já o Telegraph escreve que do volume de negócio no valor de 43 milhões de libras nesse ano, 32% deve-se a exportações da famosa camisola de riscas.

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Oficiais de um navio francês no rio Tamisa, em Londres, em 1935 © Getty Images

A Armor-lux, fundada na cidade de Quimper (na Bretanha) é outra marca produtora de camisolas breton na região e foi fundada em 1938 por Walter Hubacher, um engenheiro suiço. Esta marca tem clientes famosos, entre eles Paul Sevigny, DJ celebridade de Nova Iorque, que popularizou a marca ao usar boxers às riscas azuis e brancas e ao admitir que cada vez que vai a Paris compra cerca de 30 pares. A marca também dá o seu contributo para a imagem de França, ao fazer os uniformes dos serviços de correios nacionais e do pessoal da rede de comboios SNCF.

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Conquistado o lado prática e funcional e até, de certa forma, com estatuto de vestuário para profissão de risco, o que faltava à “breton” para ser uma estrela era o toque de magia de uma fada madrinha da moda. Em 1912 Deauville, no centro da costa norte de França, era uma das zonas à beira mar mais famosas da Belle Époque, tinha praia, cultura e a nata da sociedade. Gabrielle Chanel era uma das pessoas que por lá passeava e todo o ambiente proporcionava inspiração à sua mente criativa. Um dos elementos que lhe chamou a atenção foi a camisola dos marinheiros locais. A carreira de Chanel estará sempre ligada à Normandia. Tinha 29 anos e vivia um romance com o que terá sido o grande amor da sua vida, o empresário britânico Boy Capel quando se deixou conquistar também pela camisola às riscas em Deauville e foi lá que teve a primeira loja com o seu nome na fachada, onde vendia chapéus e acessórios. Em Biarritz, também na costa norte francesa, mas já perto de Espanha, abriria, apenas uns anos mais tarde, a sua primeira casa de Alta Costura. Na segunda década do século XX esta era uma zona balnear de luxo e a imperatriz Eugénia era uma das turistas mais famosas.

Chanel decidiu incluir a camisola de riscas no seu guarda-roupa pessoal e nas suas coleções tornando-a uma peça de moda. A modesta “breton” atravessou França e viria a passar de vestuário de trabalho no norte a look de férias no sul. Pelo meio conquistou Paris e assumiu o estatuto de peça de vestuário identitária da cultura francesa e até de um certo imaginário de “chic francês”. O cinema deu uma grande ajuda a tornar a “breton” num ícone dividindo o ecrã com grandes nomes. Brigitte Bardot (La mariée est trop belle) e Jean Seberg (“A bout de souffle”) personificaram na perfeição uma sensualidade descontraída, Audrey Hepburn (“Two for the road”) acrescentou a sua classe com humor e Elizabeth Taylor (“The only game in town”) prova que a peça está ao alcance das maiores divas. Os atores também contribuíram para manter viva a imagem de camisola do marinheiro. John Wayne (“Adventure’s End”) e Kirk Douglas (“20 mil léguas submarinas”) usaram ambos a camisola para vestir a pele de homens do mar, recuperando as origens da peça.

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O ator John Wayne no filme "Adventure's End", em 1937. A atriz Audrey Hepburn em 1955

Getty Images

A simpática camisola de riscas nunca perdeu o seu lugar no guarda-roupa masculino, dos homens de ação aos irreverentes, como provou Kurt Cobain nos MTV Video Music Awards em 1993 com Courtney Love e a bebé de ambos, Frances Bean. E há ainda dois artistas que emprestaram o seu carisma para manter vivo o mito desta peça de vestuário. Pablo Picasso adotou a camisola de riscas como uma espécie de imagem de marca. Ficaram famosas as imagens que o fotojornalista Robert Doisneau captou de Picasso quando o visitou na sua casa em Paris, em que o artista está sentado à mesa com uma série de pães arranjados para parecerem dedos rechonchudos. E claro que está a usar uma camisola breton. A marca The Breton Shirt Co até tem um modelo que se chama “The Picasso breton shirt”, é uma camisola branca com riscas azuis e custa 67 euros. Uns anos mais tarde, seria Andy Warhol a apropriar-se da breton.

Atravessadas as linhas de fronteira, mas sem sair da risca do padrão, a breton é uma daqueles peças de vestuário que prova que a moda é cíclica. Nas últimas décadas do século XX, Jean Paul Gaultier voltou a fazer da camisola de riscas uma peça chave na moda ao adotá-la como sua imagem de marca e reinterpretando-a ao jeito da sua marca. Foi com uma camisola de riscas azuis e brancas que foi retratado pela dupla Pierre et Gilles, fez da imagem do marinheiro com uma sexualidade elevada ao máximo uma das referências da marca e foi precisamente um torso masculino com riscas que deu forma ao frasco do icónico perfume Le Male. Gaultier usou e abusou da camisola de riscas. Chegou mesmo a esticá-la até a transformar num vestido, acrescentou plumas, a magia da Alta Costura e depois Carolina do Mónaco deu o selo de aprovação real ao usá-lo no Baile da Rosa em 2000.

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Kate, ainda duquesa de Cambridge, num evento em 2022. A princesa Carolina do Mónaco no Baile da Rosa em 2000

Samir Hussein/WireImage

Contudo, Kate Middleton, a princesa de Gales, é que ao longo dos seus 13 anos na família real se assumiu como a verdadeira fã e embaixadora da camisola de riscas na realeza e na moda. É seguro dizer que tem uma coleção no seu guarda-roupa porque já a vimos usar diferentes peças em diferentes ocasiões, muitas delas foram momentos descontraídos em família. A princesa de Gales fez desta uma camisola que combina conforto e elegância, e foi com uma camisola de riscas brancas e azuis que se sentou num banco de jardim para gravar um vídeo com o qual anunciou ao mundo que iria fazer tratamentos de quimioterapia preventiva e por isso se iria afastar dos seus deveres públicos durante um tempo indeterminado. Mas que a dita camisola não assuma uma carga negativa, porque foi com uma versão mais leve que quase cinco meses depois, sorridente, entusiasmada e em modo de férias de verão, a princesa se juntou ao marido num vídeo de celebração e agradecimento à equipa britânica que participou nos Jogos Olímpicos.

A camisola breton também é muitas vezes chamada de marinière (marinheiro) e ao longo do século XX foi sendo absorvida pela cultura popular sem nunca perder o seu lugar na moda. Tornou-se uma peça de vestuário intemporal, sem género ou estação do ano e ainda goza da ligeireza de ser uma peça com herança cultural e, simultaneamente, prática e alcançável para todos os orçamentos. “Há poucos grandes clássicos do vestuário, como o vestido preto, o casaco camel, o trench-coat, e a camisola breton está entre os principais”, segundo Justine Picardie, atualmente autora e antiga diretora da revista Harper’s Bazaar. “O seu apelo é totalmente intemporal.” E a provar isso reunimos uma galeria com algumas camisolas de riscas, da original Saint James a algumas interpretações coloridas, mas haverá alguém que não tenha uma?

 
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