A grande maioria das pessoas (95%) não concorda com relacionamentos extraconjugais. Mas do que pensa ao que faz vai uma grande diferença – uma em cada quatro, das pessoas entrevistadas, admite já ter traído o parceiro pelo menos uma vez. “Existe uma grande disparidade entre o que as pessoas dizem ou pensam acerca da infidelidade e os seus comportamentos”, diz ao Observador Joana Arantes, autora do estudo e coordenadora do Grupo de Investigação em Psicologia Evolutiva da Universidade do Minho.

Com o estudo “Infidelidade: A sua influência no desejo sexual, na qualidade do relacionamento e na atratividade” a psicóloga verificou que “quanto maior o desejo sexual maior a probabilidade de uma pessoa trair o parceiro“. A probabilidade de trair também aumenta nos casos em que a qualidade da relação é má ou quando a pessoa que é infiel dá muita importância ao aspeto físico, explica a autora. Mas Joana Arantes deixa uma mensagem de esperança: “Como a qualidade da relação afeta a probabilidade de ocorrer traição, cabe a ambos os membros do casal fazerem alguma coisa para aumentar a qualidade do relacionamento que mantém”.

Ter sido infiel ou não, numa relação anterior, influencia a forma como cada pessoa encara a relação atual. “As pessoas que já tinham tido pelo menos um caso extraconjugal consideraram que a qualidade do relacionamento atual é mais baixa, atribuíram uma maior importância à atratividade física do parceiro e sentiram mais desejo sexual quando comparadas com aquelas que referiram nunca terem sido infiéis”, revela Joana Arantes em comunicado de imprensa. Mas a idade também é um fator importante: os participantes mais velhos têm a perceção de que a relação é mais pobre do que participantes mas novos, mas, pelo contrário, têm níveis de desejo sexual mais altos e portanto dão mais importância à aparência física dos parceiros. Em conclusão, os participantes com menor desejo sexual e que atribuem menos importância à aparência física consideram ter relações de melhor qualidade.

Das 488 pessoas entrevistadas, entre os 18 e os 82 anos, 260 eram mulheres. Estas mostraram menor tendência para trair o parceiro – 20% das mulheres já tinham traído o parceiro, contra 39% dos homens. Entre os que já tinham sido infiéis pelo menos uma vez contam-se 26% dos inquiridos. Mas a perceção do que é traição varia: pode ser uma traição física – com contacto sexual – ou uma relação emocional – com telefonemas e troca de mensagens e/ou mentindo aos parceiros. Alguns dos inquiridos que têm vários parceiros, consideram que não estão a trair nenhum deles.

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A perceção do traído pode ser diferente. 45% das pessoas entrevistadas já foi traída pelo menos uma vez – um terço dos quais mais do que uma vez. E dos 281 (74%) participantes que estavam no momento da entrevista numa relação íntima, 13 acreditam ter sido traídos pelo parceiro atual. Oito dos participantes que mantinham uma relação oficial admitiram ter pelo menos uma relação extraconjugal e, como tal, estar a trair o parceiro. Oito indivíduos é uma pequena amostra das 33 pessoas que estavam efetivamente envolvidas com mais do que uma pessoa ao mesmo tempo – 22 inquiridos tinham duas relações, seis inquiridos tinham três e cinco dos inquiridos tinham seis relações em simultâneo -, portanto a maioria não considera estar a trair os parceiros.

O estudo pretendia também avaliar se a orientação sexual poderia alterar a forma como as pessoas encaravam a infidelidade, as relações íntimas e o desejo sexual, mas as amostras erame demasiado pequenas para serem conclusivas – 13 pessoas homossexuais e 14 bissexuais.

O Grupo de Investigação em Psicologia Evolutiva liderado por Joana Arantes tem como objetivo principal perceber os relacionamentos amorosos e a atração interpessoal segundo uma perspetiva evolutiva, seguindo três linhas principais:

  • o que acontece em termos de atenção, memória e perceção temporal quando vemos um potencial parceiro muito atraente. “Parece que estamos de algum modo formatados para olharmos para pessoas bonitas, para nos recordamos mais delas e para pensarmos que aquela troca de olhares ou aquele sorriso durou mais tempo quando a pessoa é atraente”, refere a investigadora.
  • como tomamos decisões nos relacionamentos amorosos. Será que os processos que influenciam as decisões tomadas em contextos económicos, são os mesmos que estão envolvidos na tomada de decisão no contexto dos relacionamentos amorosos? Como no efeito sunk cost em que o indivíduo tem um comportamento económico irracional porque as tomadas de decisão são influenciadas pelos custos passado quando deveriam ser influenciados apenas pelos custos e benefícios futuros. “Devo continuar com este relacionamento infeliz? Investi tanto nele!” – um exemplo de sunk cost.
  • as atitudes e as perceções em relação à infidelidade, como no estudo agora apresentado.