Os desafios de coligação que António Costa pode ter pela frente caso o PS vença as eleições legislativas sem maioria absoluta não escaparam a algumas das intervenções desta manhã no congresso socialista. O presidente da federação de Lisboa (FAUL), Marcos Perestrello, assim como o recém-eleito presidente do partido, Carlos César, abriram as hostilidades nas críticas aos partidos de ambos os lados, especialmente à “esquerda sectária” que “só tem sido útil à direita”.

“Como nos distinguimos da direita, também nos distinguimos dos partidos à nossa esquerda. Nós somos uma esquerda que faz”, disse Perestrello, sublinhando que a crítica que deixa é para a “esquerda à nossa esquerda”, isto é, para o PCP e o Bloco de Esquerda, que “não têm sido capazes de ultrapassar o seu sectarismo”. A verdade é que tanto BE como PCP já decidiram quais são as linhas com que vão cozer o seu discurso eleitoral: ataque à direita e às políticas de direita que dizem que o PS está a acolher. E, portanto, nada de aproximação aos socialistas.

Carlos César, que foi eleito neste congresso presidente do partido, foi ainda mais duro. “A esquerda só tem sido útil à direita”, disse, referindo-se ao PCP e Bloco de Esquerda. Da parte do PSD e CDS também não se pode esperar acordos, “há partidos a mais e social-democracia a menos”. E por isso César começou por pedir maioria absoluta em 2015. Só assim o PS conseguirá evitar o problema de ter de decidir para que lado pisca o olho, se para a esquerda se para a direita.

“Pedimos maioria absoluta dos votos nas próximas eleições porque o estabelecimento de compromissos interpartidários para a governabilidade tem grandes fragilidades no nosso país. No PCP e BE, temos a esquerda que só tem sido útil à direita e, no Governo PP-PSD, temos partidos a mais e democracia cristã e social-democrata a menos”, disse a partir do palco da Feira Internacional de Lisboa, onde decorre o XX congresso do PS.

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Mas na equação entram outras variáveis, como o recém-fundado movimento político composto pelo Partido Livre e por outras associações políticas, onde constam nomes como Ana Drago e Daniel Oliveira, e que se apresentaram como candidatura para as legislativas com um discurso de aproximação ao PS para a constituição de um governo de esquerda. O partido Livre foi mesmo convidado para estar presente no encerramento do conclave, no domingo, num sinal de abertura a essa hipótese por parte dos socialistas. E o convite foi aceite.

Certo é que António Costa tem dado provas no sentido de “nem à esquerda, nem à direita”. Neste primeiro congresso onde chega na qualidade de secretário-geral, Costa ditou novas regras dando mais tempo de antena a nomes independentes do PS – como Sampaio da Nóvoa e o constitucionalista Reis Novais – num gesto que pretende ser de abertura do partido aos simpatizantes.

Quando tomou a palavra no palco do congresso, o próprio António Costa quis deixar uma palavra para os independentes. São eles que vão ajudar o PS a ter uma maioria, disse, e a “devolver a confiança em Portugal”.