Aos 57′ de jogo, após um sim-não-sim-não-sim-não-sim que até deu vontade de rir entre árbitro principal, árbitro assistente e árbitro de baliza sobre um canto para o FC Porto, a combinação dos azuis e brancos não saiu como esperado, Alex Telles não conseguiu fazer o cruzamento para a área e o Mónaco tentava sair para o ataque pela esquerda. De repente, apareceu um bombeiro vestido de azul claro e o número 27 nas costas a atirar um balão para a bancada e a acabar com a brincadeira dos franceses. Mas quem é aquele?, pensaria alguém que acabasse de ligar a TV. Aquele era Sérgio Oliveira. Sérgio Miguel Relvas de Oliveira, o novo príncipe do Mónaco não tanto pelo que jogou mas por tudo o que permitiu que a equipa jogasse.

Nessa altura, o médio de 25 anos (é verdade, aquele miúdo que quando se estreou com 17 anos pelos dragões e foi na altura o mais novo de sempre a jogar de azul e branco já tem 25 anos) era o jogador com mais quilómetros corridos (acabou com 10,5km) e, em paralelo, o elemento com mais desarmes conseguidos. Era mais fácil falar de Aboubakar? Sim, claro: visou duas vezes a baliza de Benaglio, marcou dois golos e saiu de papo cheio com a missão cumprida. Mas, esta noite, para haver um Aboubakar (e um Marega, e um Brahimi etc.) houve sobretudo um Sérgio Oliveira como ainda não se tinha visto. Que mais não seja porque, até hoje, não tinha feito qualquer minuto oficial pelos dragões.

Ficha de jogo

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Mónaco-FC Porto, 0-3

2.ª jornada do grupo G da Liga dos Campeões

Estádio Louis II, no Mónaco

Árbitro: Slavko Vincic (Eslovénia)

Mónaco: Diego Benaglio; Sidibé, Glik, Jemerson, Jorge; Fabinho, João Moutinho, Lemar (Rony Lopes, 63′); Ghezzal (Keita Baldé, 74′), Diakhaby (Guido Carrillo, 46′) e Falcao

Suplentes não utilizados: Seydou Sy, Raggi, Tielemans e Jovetic

Treinador: Leonardo Jardim

FC Porto: Casillas; Ricardo Pereira, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo Pereira, Sérgio Oliveira (Diego Reyes, 86′); Herrera, Brahimi (Layún, 71′), Marega e Aboubakar (Corona, 71′)

Suplentes não utilizados: José Sá, Maxi Pereira, Óliver Torres e Soares

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Aboubakar (31′ e 69′) e Layún (90′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Diakhaby (9′), Fabinho (33′), Herrera (34′), Sérgio Oliveira (62′), Danilo (66′), Sidibé (83′) e Casillas (87′)

Mas o que foi feito de Sérgio Oliveira (perguntará o leitor e vai confirmar quem escreve)? Foi emprestado ao Beira-Mar, passou pela Bélgica (Mechelen), esteve no Penafiel, na equipa B dos dragões e no P. Ferreira, voltou ao Dragão e foi cedido ao Nantes na segunda metada da última época. Ao Nantes de Sérgio Conceição, o treinador que quis ficar com ele no início da temporada. Agora, percebe-se porquê: o fato de operário do médio foi o fato de gala do FC Porto, que antes dos leões (Sporting) soube secar um Tigre (Falcao) e reinou na selva da Champions.

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Podia antever-se este desfecho? Não, longe disso. Até porque, logo aos quatro minutos, após uma perda de bola em zona proibida de Brahimi, o avançado colombiano colocou à prova o batido Casillas. A verdade é que os minutos passaram e os azuis e brancos foram conquistando o Principado por fases. Com intervenientes em destaque visível (como Ricardo Pereira, os centrais, Herrera ou Brahimi) empurrados pela grande figura do trabalho invisível: na ocupação do terreno, na leitura dos espaços entre linhas e no equilíbrio que dava nas transições, Sérgio Oliveira foi merecendo a escolha de Sérgio Conceição, sobretudo por secar os movimentos interiores dos alas monegascos que tantos golos costumam marcar. E a meio da primeira parte, tudo estava mais do que repartido.

Até que, aproveitando uma evidente lacuna do Mónaco, o FC Porto adiantou-se no seguimento de um… lançamento lateral: Alex Telles arremessou longo para a área, Danilo rematou forte após um ressalto e Aboubakar, na segunda recarga, conseguiu mesmo bater o desamparado Diego Benaglio para gáudio dos muitos adeptos azuis e brancos que, a nível de som, tornaram durante largos minutos o Louis II numa espécie de mini Dragão (31′). E, até ao intervalo, seriam os portistas Marega (37′) e Brahimi (42′) a beneficiarem das melhores oportunidades.

Leonardo Jardim foi claramente surpreendido pela colocação tática de um duplo pivô Danilo-Sérgio Oliveira à frente da defesa, com Herrera a ficar com o papel de transportador de bola para as setas do ataque. Ao intervalo, o técnico campeão francês ainda lançou Guido Carrillo para dar mais peso ao corredor central ofensivo, mas o perigo dos visitados foi pouco ou nenhum e o maior problema dos dragões era mesmo o cansaço. Um cansaço que, no lance do segundo golo, não se viu: Herrera cortou uma bola na sua área e deu para Brahimi, o argelino fletiu da esquerda para o meio a galgar metros e adversários, lançou em profundidade para Marega na direita e Aboubakar, que já tinha pedido para sair, fez um sprint até à área para empurrar sozinho para o 2-0 (69′).

Houve ainda uma bola na trave de Falcao logo a seguir, naquela que foi a única oportunidade do Mónaco ao longo do jogo, mas o FC Porto, já com Corona e Layún nas alas a apoiar Marega, conseguiu controlar as ofensivas monegascas e, numa espécie de cereja no topo do bolo, ainda chegou ao 3-0 num lance de insistência por Layún (90′).

Poucos minutos antes, Sérgio Oliveira, esgotado, tinha dado lugar a Diego Reyes. Se lhe tapassem a boca, caía para o lado. Mas fez um grande jogo, taticamente um dos melhores da sua carreira, que só não teve ainda mais brilho porque Marega, isolado por um passe longo soberbo do médio, falhou (59′). E, quando se deslocava para o banco, foi abraçado por Sérgio Conceição. O segundo golo de Aboubakar foi um hino à forma como se deve desenhar uma transição rápida, mas esse abraço acabou por ser o momento do jogo entre os dois maiores obreiros do triunfo: um a pensar na tática no plano teórico, outro a interpretar a tática em termos práticos. E assim o FC Porto fez história, tornando-se na primeira equipa portuguesa a ganhar no Mónaco.