A Grécia motivou mais uma discussão acesa entre os ministros das Finanças da zona euro, desta vez em Riga, na Letónia, com o governo grego a ver convergência e os restantes ministros a expressarem a sua frustração com a falta de progressos. “Não temos o direito de não conseguir este acordo”, diz o ministro das Finanças grego. O tempo escasseia e os progressos são muito limitados, contrapõe o Eurogrupo.

Os ministros das Finanças da zona euro reuniram-se esta sexta-feira fora de Bruxelas, como acontece a cada seis meses no país que tem a seu cargo a presidência rotativa da União Europeia, desta vez em Riga, na Letónia, mas a reunião terminou com uma discussão acesa, com a Grécia novamente no centro da discussão.

A 20 de fevereiro, quando o Eurogrupo chegou a acordo com as autoridades gregas para estender o programa de resgate por mais quatro meses, até ao final de junho, ficou acordado que o final de abril seria a data para fechar um programa de reformas entre as duas partes. Hoje, no último Eurogrupo antes do final de abril, os resultados não estavam lá e a esperança de um acordo já era quase inexistente e ainda a reunião não tinha começado.

O primeiro sinal foi dado pelo vice-presidente da Comissão Europeia para o Euro, Valdis Dombrovskis, o primeiro a falar à entrada para a reunião de hoje na Biblioteca Nacional da Letónia. Dizia o responsável europeu que as negociações técnicas teriam de continuar, porque o progresso até agora “não foi suficiente para conseguir chegar a um acordo neste Eurogrupo”. “É importante que todos os lados se mantenham fiéis aos seus compromissos, incluindo a Grécia. Por isso, agora é muito importante que a Grécia esteja a acelerar o trabalho sobre a lista de reformas e que também comece a trabalhar na implementação das condições”, disse.

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Logo de seguida, o presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, mestre-de-cerimónias nas reuniões dos ministros do euro, pelo menos durante mais alguns meses (a corrida para a sucessão está lançada, e Dijsselbloem quer manter o lugar, mas o espanhol de Guindos também já assumiu vontade de liderar o grupo), veio passar a mensagem mais passada esta sexta-feira: o tempo está a esgotar-se.

“Falei com os meus colegas em Atenas e eles estão muito determinados em conseguir um acordo. Eles sabem que o tempo se está a esgotar”, disse. “Vamos ver o que acontece nas próximas semanas”. Já Peter Kazimir da Eslováquia, começou logo por dizer que não tinha praticamente qualquer esperança de um acordo. “O tempo está a acabar”, disse, e os ministros ainda estão “à espera de propostas sérias”.

Lá dentro, como todos os ministros das Finanças da zona euro reunidos com os membros da troika, o presidente do BCE, Mario Draghi, o presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade, Klaus Regling, o diretor do Departamento Europeu do FMI, Poul Thomsen, e os representantes da Comissão Europeia, Pierre Moscovici (comissário para os Assuntos Económicos) e Valdis Dombrovskis, a Grécia foi o primeiro tema a ser discutido.

Mas depois de passagens por temas relacionados com o Chipre e o programa de Espanha para os bancos, a discussão sobre o programa grego voltou acima da mesa. A discussão aqueceu e a reunião prolongou-se mais que o previsto. Com os jornalistas à espera na sala de conferências de imprensa à hora marcada, foi através de Valdis Dombrovskis, numa ação pouco comum, que foi lançada a primeira acha para a fogueira. No twitter, Dombrovskis anuncia o fim da reunião dizendo que havia preocupação entre os membros do Eurogrupo com a falta de progressos: “é urgente acelerar as negociações”.

Foi então que o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, chegou à sala onde era esperado pelos jornalistas. Aí, ladeado por Pierre Moscovici, Klaus Regling e Mario Draghi, confirmou que as discussões aqueceram na parte final e que não foi alcançado o progresso desejado.

“Foi uma discussão muito crítica. Chegámos a um acordo há dois meses e hoje esperávamos ter um resultado para podermos tomar decisões, mas ainda está muito por fazer”, disse Jeroen Dijsselbloem, questionado sobre o tom aceso das discussões sobre o tema, adiantando que ainda há muito por fazer e “grandes, grandes problemas para resolver”. O tempo escasseia, disse.

O holandês disse ainda que sem um acordo sobre a atual revisão, não haverá discussões sobre o que vier a seguir, nem sequer haverá um desembolso parcial (uma resposta com um curto e direto “não”) da última tranche do empréstimo.

“Estamos todos conscientes que o tempo se está a esgotar. Demasiado tempo foi perdido nas últimas semanas”, disse, acrescentando que a responsabilidade está do lado da Grécia e que “conseguir um acordo é em primeiro lugar, e principalmente, do interesse da Grécia”. O holandês acrescentou diz que “é muito difícil falar do futuro se não se consegue um acordo para um período de quatro meses”.

Mario Draghi, presidente do BCE, até disse que havia margem para o Governo grego não cumprir a meta do défice para este ano que estava estipulada no programa, mas disse que não é possível “haver um acordo se não houver um processo adequado para avaliar e quantificar as medidas”, uma das críticas mais comuns do banco central. No final, “o tempo está a esgotar-se, como disse o presidente do Eurogrupo”, disse o responsável.

Imediatamente a seguir, foi a vez de Maria Luís Albuquerque, numa sala ao lado com os jornalistas portugueses, explicar o ponto da situação. Segundo a ministra, as discussões decorreram num “tom de frustração” por “não se terem registado progressos e já ter passado demasiado tempo”.

Os progressos, diz, são muito limitados, e dizem respeito mais à relação de trabalho, que a progressos nas reformas: “Aquilo que nos é transmitido de dentro das conversações é que parece haver um melhor entendimento entre as partes, entre as instituições [FMI, BCE e Comissão Europeia] e as autoridades gregas. Mas em termos de progresso real, de haver acordo sobre alguma área especificamente, infelizmente não”.

O ministro das Finanças grego fechou a contenda na sala principal. A mensagem era de algum otimismo, especialmente quando o discurso é comparado com os seus colegas da zona euro. O grego disse que as partes estão “muito mais próximas em questões como as privatizações, uma comissão autónoma para os impostos” e que vêm “convergência” quando olham para as últimas semanas.

No final, Yanis Varoufakis mostrou-se confiante que o acordo será possível com os seus parceiros europeus: “Não temos o direito de não conseguir este acordo”, disse o responsável.