“Clássico? Estamos confiantes, muito confiantes”. Ainda na zona de entrevistas rápidas do Estádio de São Miguel, após um triunfo com reviravolta frente ao Santa Clara, Francisco Conceição dava o mote para aquele que seria o jogo grande do Campeonato quase com vontade de entrar de imediato em campo para defrontar os encarnados. Na quinta-feira, o extremo que ganhou uma nova alma no decorrer da temporada e assumiu a titularidade nesta segunda vida no Dragão por empréstimo do Ajax estava a lançar uma mensagem para um FC Porto transfigurado e capaz de fazer a melhor exibição da época. E foi muito por si que aconteceu.

Galeno, o jogador de mão cheia que enche as medidas de Sérgio (a crónica do FC Porto-Benfica)

Num início de jogo equilibrado e com Tengstedt a ter a melhor oportunidade do quarto de hora inicial para visar a baliza de Diogo Costa numa tentativa que saiu por cima, foi o esquerdino que deixou a cabeça em água a Morato pela direita do ataque e foi criando desequilíbrios com cruzamentos para a área ou passes atrasados para procurar a continuidade das jogadas. Foi assim que, logo nos minutos iniciais, Pepê desviou de cabeça para defesa de Trubin. Foi assim que, no dobrar do primeiro quarto de hora, uma falta mais dura de Morato junto ao banco dos azuis e brancos motivou muitos protestos e o cartão amarelo para Sérgio Conceição. Foi assim que, na marcação de um canto à direita, Morato desviou e Galeno fez o 1-0 ao segundo poste.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Só faltava mesmo marcar também o seu golo, o que não aconteceu pouco depois porque Trubin evitou males maiores e travou o 2-0 em mais uma grande jogada individual, mas esse redobrar do avanço surgiria ainda na primeira parte em mais um lance iniciado na direita com cruzamento para assistência de Evanilson e bis de Galeno. Entre um autêntico “atropelo” coletivo dos dragões aos encarnados, Francisco Conceição, sem fazer golos ou assistências “diretas”, foi a chave que desbloqueou a caminhada para a goleada.

Depois de alguns períodos de “olés” num Estádio do Dragão a festejar o triunfo por antecipação após o segundo cartão amarelo e consequente vermelho a Otamendi, Francisco Conceição saiu aos 87′ por Toni Martínez e teve a ovação de pé de todos os adeptos que merecia antes do abraço particularmente efusivo com o treinador e pai, Sérgio. Além de ter criado ocasiões flagrantes, feito passes para finalização e criado várias situações de perigo após cruzamentos e dribles, o ala somou ainda três desarmes e oito recuperações de bola, sinal evidente daquilo que oferece também à equipa sem bola e que voltou a ficar patente no clássico.

Desde que assumiu em definitivo e com regularidade a titularidade do FC Porto, no encontro no Estoril para a Taça de Portugal no início de janeiro, Francisco Conceição marcou um golo e fez três assistências em 11 partidas onde os dragões sofreram apenas uma derrota em Arouca e continua a ser uma das principais referências da equipa. Apesar de ter sido apenas meio ano, o “Erasmus” em Amesterdão fez-lhe bem, como se vê também na Seleção Sub-21 onde se tornou um dos capitães e o principal destaque de Portugal.

“Sendo campeão nacional, tendo podido jogar no meu clube do coração e ganho títulos, achei que o melhor para a minha evolução fosse ir para fora e continuar a minha evolução no estrangeiro. Fui para o Ajax a achar que ia ter minutos, que ia jogar muitas vezes a titular e que as coisas iam correr bem, muito por culpa do que as pessoas do Ajax me transmitiram, mas não gostei de muitas coisas que se passaram lá. Por isso decidi que o melhor era voltar para onde me sinto verdadeiramente feliz. Foi uma aprendizagem e não posso dizer que foi mau, porque aprendi mesmo muita coisa. Se agora me sinto confiante e feliz muito se deve a essa passagem e à consciência que passei a ter de muitas coisas”, disse em janeiro à revista Dragões.