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JOÃO RELVAS/LUSA

JOÃO RELVAS/LUSA

Afetos são para manter. Pelo menos até o Presidente voltar a ser candidato

Mantém tabu da recandidatura, e vai continuar igual a si próprio. Pelo menos até decidir se volta a ser candidato. "Ninguém muda" aos 70 anos. Marcelo, a evitar crises políticas desde 9 de março 2016.

Enviado especial a Angola

“Até logo” ou “até à próxima”. “Não se trata de partir para não voltar, porque vou voltar o mais breve possível”. Marcelo Rebelo de Sousa despediu-se de Angola com a inconfidência de que esta poderá muito bem ter sido a viagem “mais importante do seu mandato”. Foi o tiro de partida para um “novo ciclo histórico” e foi certamente o local onde levou mais puxões, mais encontrões, mais beijos e abraços. Neste último dia, em Luanda, o Presidente esteve duas horas de pedra e cal a tirar fotografias com as centenas de pessoas que se dispuseram em fila indiana, prontas a esperar horas para o cumprimentar. Receção em grande tem sido a norma na África lusófona — no Príncipe foi idêntico, em Moçambique idem ou em Cabo Verde –, mas nada como Angola.

Leniza, Edna, Maria de Fátima e Djamila foram das tais que aguentaram longos minutos de espera na fila para tirar uma foto com o Presidente português. E saíram a dar pulos de satisfação. “Ele reconheceu-nos logo! Disse que éramos as meninas da Clássica e até pegou no telefone para tirar selfie”, dizem, ainda com a respiração ofegante. As quatro formaram-se em Direito na Clássica, onde Marcelo deu aulas, e não perdiam uma aula do “professor”. “Já naquela altura ele era assim, sentava-se connosco no corredor, era muito próximo”. Isto foi em 1995. Todas a exercer advocacia em Angola, uma a estudar para juíza, a mais velha já está de volta à terra onde nasceu há 18 anos — e nenhuma quer voltar.

Marcelo confirma que sempre foi assim e não vai mudar tão cedo: “O Presidente da República deve, no meu entendimento, estar muito próximo dos cidadãos. Mas isto tem a ver com a maneira de ser de cada um, e eu não ia mudar do dia 8 de março de 2016 para o dia 9 de março de 2016 [dia em que tomou posse], ninguém muda aos 67 anos de idade”, disse aos jornalistas fazendo uma retrospetiva dos três anos de mandato comemorados este sábado em Luanda. Três anos depois, o modelo dos afetos não está já a esgotar-se? A avaliar pelo resultado prático em Angola, onde Marcelo recorreu à mesma fórmula que usou em Portugal para apaziguar a sociedade, não está esgotado nem vai esgotar-se tão cedo.

“Ainda só passaram três anos” para aquilo que Marcelo acredita que é a “missão a cumprir”. Mas o que esperar então do futuro? No que depender de si, mais do mesmo. “Os princípios estão cá, eu afirmei-os. Depois, há muita realidade que é imprevisível, e aquilo que pode ser a intervenção do Presidente varia em função das circunstâncias e das situações concretas”.

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Marcelo foi recebido este sábado na Escola Portuguesa de Luanda por um grupo de crianças a entoar os dois hinos nacionais: de Portugal e Angola

LUSA

O antes e o depois da decisão da recandidatura. “Saberei sair do palco”

O tema ainda é tabu. Faltam dois anos para terminar o mandato para o qual foi eleito, e Marcelo faz questão de manter vivo o tabu da recandidatura. A propósito do anúncio do Papa de que as Jornadas Mundiais da Juventude em 2022 iriam ser em Lisboa, Marcelo deu um passo maior do que a perna e mostrou vontade de ser Presidente nessa altura, mas agora, em Luanda, voltou a dar um passo atrás recorrendo aos pensamentos do costume: se tiver saúde, se achar que não há mais ninguém em melhores condições para o lugar. Se, se, se.

Certo é que “há uma coisa que é evidente”: haverá um antes e um depois do momento em que anunciar a decisão de se recandidatar, ou de não se recandidatar. “A partir desse momento, e continuando eu em funções, porque não se sai de funções até o mandato acabar, muda qualitativamente a minha posição. Porque se for candidato, naturalmente terei isso presente, para não prejudicar aqueles que forem candidatos também. E se não for candidato, saberei sair do palco, deixando o palco para aqueles que vierem a ser candidatos”, afirmou.

Ou seja, Marcelo será Marcelo pelo menos até anunciar a decisão quanto a mais um mandato. Nessa altura, e para não prejudicar outros eventuais candidatos, terá freio e acionará os travões. Até lá, será aquilo que foi por estes dias em Angola, o profeta do amor como arma de arremesso político.

"Entendi na altura que era preciso fazer a ponte, e que a ponte devia ser feita a partir da direita e não da esquerda, porque já seria esquerda a mais"
Marcelo sobre o que o levo a candidatar-se a Belém

Marcelo e o Governo. “O seguro de vida do Governo foi a base de apoio parlamentar”

O que o vai levar a decidir se se recandidata ou não, não sabe. Mas sabe o que o levou a decidir avançar na primeira vez, há três anos: o facto de ser a pessoa que estava, no seu entender, em melhores condições para aquela missão naquele momento. E aquela missão, num momento em que o PS se tinha aliado à esquerda, pela primeira vez na história, chamava por alguém que conhecesse os protagonistas há décadas e que fosse de direita. “Entendi na altura, olhando para o retrato do país, que era preciso fazer a ponte, e que a ponte devia ser feita a partir da direita e não da esquerda, porque já seria esquerda a mais”, disse aos jornalistas na conferência de imprensa de balanço da visita (ou do mandato).

As legislativas são agora, em outubro, e Marcelo tem mandato até 2021. Entre os vários cenários em cima da mesa, há quem preveja que o próximo governo seja um governo minoritário do PS, e que dure apenas dois anos, portanto, os timings poderão coincidir. “Vamos esperar para ver exatamente qual é a situação que é vivida para saber se não há ninguém melhor do que eu para esta missão”, afirmou. Vamos esperar, portanto, para ver de que lado é preciso construir a ponte.

Questionado sobre se o Presidente da República foi o seguro de vida do atual Governo, Marcelo rejeitou a ideia, embora tenha admitido que tenha feito de tudo para evitar crises políticas. “O seguro de vida do governo foi a sua base de apoio parlamentar e aquilo que o governo fez ao serviço do país” disse, deixando cair um elogio rasgado ao Governo, e sublinhando que “jamais o Presidente pensou questionar a estabilidade da legislatura através de crises políticas ou de incidentes de percurso”, sobretudo numa altura “particularmente sensível para a economia e as finanças”.

Para Marcelo, não é fundamental que os protagonistas políticos se conheçam para a cooperação institucional funcionar, mas isso também ajudou: “É evidente que o facto de conhecer os protagonistas facilita a cooperação, não se trata de estar a descobrir de novo pessoas que já se conhecem há décadas”. Marcelo e António Costa estão em caminhos paralelos na política há décadas.

Dito isto, ao dar a mão ao Governo, Marcelo acredita que não fez mais do que o país pediu. “Para o país, a cooperação institucional era e é necessária. Sempre que for possível evitar a criação de crises, isso é bom para o país. O país quer que haja normalidade constitucional que permita o crescimento económico, a justiça e a estabilidade social. Já basta o que é instável no mundo. Não vamos juntar a essa instabilidade mais instabilidade”.

Marcelo e João Lourenço despediram-se oficialmente este sábado no Palácio Presidencial, na Cidade Alta

LUSA

Três anos depois da tomada de posse, o discurso não muda muito. Mas há, ainda, lugar a algumas surpresas. Como quando falou horas antes na Escola Portuguesa de Luanda e pôs a plateia a rir ao dizer que há “realidades” em que é cavaquista. E essa realidade inusitada era aquela: estar ali, em Angola, a celebrar o aniversário do mandato presidencial junto das comunidades.

Três anos de Marcelo (em Angola). “Há realidades em que sou cavaquista”

Está assim feita a visita de quatro dias a Angola, e estão feitos os três anos em Belém. Três que, comenta um assessor ao Observador, “parecem seis”. E o ritmo não deverá abrandar tão cedo. Mas, com Marcelo, nunca se sabe. “Ser tudo sabido e premeditado tira encanto às coisas”, admite o próprio a propósito da data para uma futura visita a Angola, mas que quase serviria como lema de vida do Presidente. Um jornalista angolano ainda insistiria na pergunta da recandidatura, questionando se gostava que João Lourenço se recandidatasse para fazerem, os dois, um segundo mandato na Presidência, mas Marcelo esquivou-se. Como, de resto, se esquivou sempre às comparações com o Presidente angolano, tido como mais afetuoso do que o antecessor, mas não tão afetuoso como este estranho Presidente que se atira para os braços da multidão.

Leniza, Edna, Maria de Fátima e Djamila não querem saber de recandidatura. Para já, estão contentes com o “estreitamento das relações” entre os dois países onde nasceram e estudaram, e nem sequer receiam que o brilho da “estrela mais brilhante do firmamento”, como lhe chamou João Lourenço, tenha ofuscado o Presidente angolano. Quando muito deu-lhe uma espécie de palestra, ou ação de formação sobre isto de fazer política à base dos afetos. “Um não ofusca o outro, porque num caso é permitido este tipo de fugas ao controlo de segurança e no outro caso não é”. Além de que, diz uma das advogadas ao Observador, “João Lourenço é chefe do Governo angolano, enquanto Marcelo não é”. “E ele também é afetuoso, ligado às pessoas”.

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