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FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

André Coelho Lima: "Eleições internas são prejudiciais para o PSD. É uma evidência"

Vice-presidente do PSD entende que o partido deve revelar "postura de Estado" neste momento. Coelho Lima nem considera hipótese de interferência de Marcelo. "Seria uma quebra institucional", diz.

André Coelho Lima, vice-presidente do PSD e um dos apoios mais importantes de Rui Rio, não tem dúvidas de que o partido devia refletir sobre o adiamento das eleições internas sob pena de destruir o capital político conseguido nas autárquicas e de entregar a vitória aos socialistas. Mesmo sem se comprometer com uma proposta formal nesse sentido, o dirigente social-democrata aponta esse caminho: “Exige-se de nós a postura de Estado, o sentido de responsabilidade e uma postura patriótica”.

Em entrevista ao Observador, Coelho Lima falou ainda sobre os episódios que envolveram Marcelo Rebelo de Sousa — a audiência com Paulo Rangel, onde terá discutido datas para as eleições legislativas, e a tentativa de persuadir os deputados do PSD-Madeira a votarem a favor do Orçamento do Estado. Dizendo preferir não acreditar que tal seja sequer verdade, o vice do PSD é taxativo: a ser verdade, “seria uma quebra institucional nunca vista”.

Coelho Lima defendeu ainda que Rui Rio é o social-democrata em melhores condições de derrotar António Costa e chegar a primeiro-ministro. Ainda assim, reconheceu: se Rio falhar, terá naturalmente de “retirar ilações”.

Ouça aqui a entrevista.

“O PSD deve ir sozinho a votos”

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“Se PSD e CDS não estivessem na situação em que estão, o Orçamento poderia ter passado”

No último debate bimestral, António Costa acabou por protagonizar um episódio consigo onde fingiu não saber o seu nome ou, pelo menos, não ser muito conhecido. Eram sinais de que o Governo já não estaria bem? Era nervosismo por parte do Governo?
Não sei se seriam sinais disso, talvez. Acho que é uma atitude que não ficou bem ao primeiro-ministro. A intervenção que fiz foi com a cortesia parlamentar habitual. Objetivamente a crítica foi muito direcionada para utilização do PRR, que é um instrumento fundamental para a recuperação do país, como uma arma de campanha partidária de um partido que ocasionalmente está a dirigir um país. Aliás, disse isso nessa altura sem consciência de quanto o tempo daria razão a essas palavras. Estava na altura o Governo e agora não estará.

Terá sido o termo circunforâneo que o irritou?
Por acaso acho que não. Não tenho a certeza que o primeiro-ministro tivesse na altura ciente do alcance da expressão, mas enfim. Acho que foi eu ter dito que a atitude da utilização do PRR com estes efeitos propagandísticos e partidários e, portanto, unilaterais de um partido só que o apoucava como primeiro-ministro, que não estava à altura daquilo que um primeiro-ministro devia fazer. Um primeiro-ministro deve utilizar determinado tipo de instrumentos com a consciência de que são instrumentos de um país e não de um partido ainda que esse partido esteja a gerir o país.

Não é muito o estilo da bancada do PSD, mas após essa situação há ali um momento que não é propriamente aproveitado embora tenha algum destaque mediático. Este modelo de debate com duas rondas não tira um pouco de capacidade de oposição ao Governo?
Do ponto de vista puramente aritmético tem que se dizer que sim. Se se está de duas em duas semanas na Assembleia em debate com o primeiro-ministro é diferente do que estar com uma distância maior. Aritmeticamente, é assim. Politicamente, não é necessariamente assim.

O balanço que faz é positivo?
É evidente que é importante a confrontação com o Governo, mas também é evidente que é importante dar tempo aos governos, a qualquer governo, para governar. Não podemos ter o Governo de Portugal de 15 em 15 dias a tirar três dias para este tipo de confrontação. Não podemos perder de vista o que é mais importante que tudo isto que é: governar em condições de governabilidade.

Há quem defenda que esta crise pode ter sido provocada por António Costa para reforçar a maioria ou pelo menos conseguir governar sozinho. Parece-lhe que esta tese tem algum sentido?
Há 15 dias, no Conselho Nacional do PSD, quando apelei a que o requerimento apresentado pela Comissão Política Nacional fosse aprovado, utilizei esse mesmo argumento. Dito de outra forma: não tenho a certeza que se o PSD e CDS não estivessem na situação em que estão o Orçamento não teria passado. Era relativamente evidente pela intransigência do governo na negociação com os habituais parceiros que havia uma vontade maior [de rompera] da parte do primeiro-ministro.

Está a tentar aproveitar-se do facto de os partidos estarem em confrontos internos e poderem ter menos estabilidade?
Eu disse isso por estas palavras: se não soubermos ler os sinais só há uma entidade que pode ganhar que é António Costa e o Partido Socialista. Disse isto no Conselho Nacional, muita gente ouviu. Alertei e alertou o presidente do PSD nas declarações que fez no exterior dizendo que esta confrontação interna nos partidos que podem servir de alternativa ao governo aproveita obviamente quem quer sair reforçado das eleições.

Acha que Paulo Rangel e os seus apoiantes foram ingénuos ao ler a situação política?
Enquanto candidatos a determinadas posições temos o dever de ler os sinais que a política nos emite e os sinais eram muito evidentes.

"Tenho dúvidas que se as pessoas soubessem que hoje estariámos onde estamos que tivéssemos eleições disputadas no PSD"

Não quiseram ou não conseguiram ler?
Há um primeiro sinal, que são as eleições autárquicas. Dentro desse sinal há Câmara de Lisboa, é um sinal fortíssimo. Não perceber os sinais é não perceber aquilo que está à frente dos nossos olhos. Depois há um segundo sinal que são as conferências de imprensa de Bloco de Esquerda e PCP. Na quarta-feira o Presidente da República diz o que disse [que avançaria para eleições antecipadas em caso de chumbo]. Estamos a falar do Chefe de Estado.

Aí é que é a grande diferença?
Quando o Presidente da República fala ao país e diz ‘se o Orçamento não passar dissolvo imediatamente a Assembleia e convoco eleições antecipadas’ é porque para o Presidente da República este é um cenário absolutamente real.

O que lhe perguntávamos era se os apoiantes de Paulo Rangel, pelo menos aqueles que não quiseram que as eleições fossem adiadas, não conseguiram ler os sinais ou não quiseram ler os sinais. Há diferenças.
Há diferenças. Percebo onde quer que vá, mas deixe-me dizer assim: tenho dúvidas que se as pessoas soubessem que hoje estaríamos onde estamos que tivéssemos eleições disputadas no PSD. Acho que houve uma errónea interpretação da atitude da Comissão Permanente e do presidente do PSD. Pensou-se que haveria qualquer interesse tático por trás daquele apelo que ele fez. A vida política é mesmo assim, temos que estar preparados para reagir de imediato a circunstâncias para as quais não estávamos preparados. Acho que aqui Rui Rio demonstrou essa preparação e acho que não houve essa preparação da parte de quem apresentava uma opção alternativa naquele Conselho Nacional.

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Se Marcelo tiver falado com PSD/M terá sido “quebra institucional nunca vista”

O Presidente da República esteve particularmente ativo nos últimos dias. Considera legítimo que Marcelo Rebelo de Sousa tenha assumidamente feito diligências junto de outros partidos, nomeadamente até junto do PSD-Madeira, tentando provocar uma cisão na bancada, para tentar salvar o Orçamento? Acha isto legítimo vindo do Presidente da República?
Não vou ter como certo que isso efetivamente aconteceu, não vi.

Marcelo assumiu que fez diligências.
Mas não disse quais.

Também não as desmentiu.
Certo, mas também não as confirmou e estamos a falar do senhor Presidente da República. Não podemos fazer presunções sobre quais foram as suas diligências. O simples facto de presumir que elas pudessem ter acontecido já seria institucionalmente grave de mais. É evidente que não consigo admitir que tenha havido as diligências que se especula que houve.

A direção do PSD não perguntou ao presidente do PSD-Madeira o que se tinha passado?
Só o presidente do PSD pode responder a isso. A isso não responderei. Aquilo que quero dizer é que é natural que o Chefe de Estado pugne pela estabilidade política. Isto é natural e já aconteceu várias vezes, qualquer Chefe de Estado mas nomeadamente o professor Marcelo Rebelo de Sousa já o fez em diferentes momentos. O que não seria natural é que esse esforço vá para além do esforço que o próprio governo está disponível para fazer. Nunca se soube que o Governo tenha estado em conversações com o PSD-Madeira ou qualquer franja além daqueles que são os parceiros, não se soube isto.

"Aquilo que me parece é que o Paulo Rangel não é ainda formalmente candidato ao PSD. Há um mínimo que a Chefia de Estado deve cumprir ao nível das audiências a que procede."

Então, ficamos só na primeira parte. Acha legítimo que um Presidente da República faça assumidamente diligências na fase tão delicada em que o processo se encontrava? Quando os partidos já discutiam o Orçamento no Parlamento? À altura dos factos já não estava sequer em negociações com o Bloco e o PCP.
Exatamente, terminaram no fim de semana, tal e qual. Seria difícil de compreender, para usar a expressão mais benigna que me posso lembrar agora, que houvesse uma intromissão num processo negocial que compete apenas ao Governo e aos partidos. Sendo fácil de compreender que haja uma intervenção no sentido de pugnar pela estabilidade, já é difícil de compreender que haja uma ingerência ao nível daquilo que se especulou. Não admito que as especulações que vieram a público possam ter sido uma realidade.

Porque se fossem realidade seria grave?
Se fossem seriam uma quebra institucional nunca vista. É evidente que o senhor Presidente da República, ciente do seu papel e da posição que tem perante os portugueses, nunca faria tal coisa.

Vamos então a outro momento protagonizado por Marcelo Rebelo de Sousa, que foi a audiência com Paulo Rangel para discutir, aparentemente e também não foi desmentido, a data das eleições antecipadas. Isso foi uma deslealdade de Marcelo Rebelo de Sousa?
Não sendo a primeira vez que o Presidente recebe candidatos ao PSD, aquilo que me parece é que o Paulo Rangel não é ainda formalmente candidato ao PSD. Há um mínimo que a Chefia de Estado deve cumprir ao nível das audiências a que procede.

Mas é incompreensível que discuta as datas das eleições antecipadas ou não?
Já lá vou. É também difícil compreender que o faça quando na situação em que o fez. Deve ter sido o pior timing da história da democracia. O país está a discutir o Orçamento, a Assembleia da República está reunida, os focos estão voltados obviamente para o que se está a passar na Assembleia no debate do Orçamento do Estado… É preciso também respeitar estes momentos. Quanto à outra parte, sobre o que discutiram, aí estaremos a entrar em especulações. Não vou especular.

Acredita que Marcelo Rebelo de Sousa está a tentar derrubar Rui Rio?
Não posso responder a essa pergunta tão concreta, pelo menos de forma tão concreta. Vamos dizer assim: o Presidente da República tem a função de Presidente da República de todos os portugueses, aquilo que me parece, aquilo que se espera é que ele atue de acordo com aquilo que interessa ao país e o que interessa ao país é que o Presidente faça exatamente aquilo que ia fazer, que é convocar no mais breve prazo possível as eleições.

"Não entramos na discussão de datas. A posição do PSD é que é uma questão que tem de ser resolvida o mais depressa possível"

É essa a posição do PSD? Que sejam marcadas as eleições o mais breve possível?
Eu acho que isto é a posição de qualquer pessoa de bom senso. Não há nenhum interesse tático por detrás disto, nenhum. Interessa ao país fazermos eleições em março ou em abril ou em maio? Quem é que tem a ganhar com isto? Não há nenhuma razão que eu esteja a ver para que, no prazo de 24 ou 48 horas depois do Conselho de Estado [agendado para quarta-feira] isso não seja realizado.

Podem ser em fevereiro?
Estando o Conselho do Estado convocado para quarta-feira, dia 3, não há nenhuma razão para que em 24 ou 48 horas não seja dissolvida a Assembleia e depois que comecem a decorrer os casos para a convocação das eleições.

Olhando para os prazos legais, dia 16 de janeiro será o mais indicado para o PSD?
Mesmo que houvesse compreendam que não iria transmitir. O Presidente da República tem de ouvir os partidos e essa é a altura dos partidos lhe transmitirem.

Quando saírem dessa reunião vão dizer qual é?
Não entramos na discussão de datas. A posição do PSD é que, no estado em que o país está, sem Orçamento e com a Assembleia em vias de ser dissolvida, de acordo com o que disse o Presidente da República, é uma questão que tem de ser resolvida o mais depressa possível. As eleições devem ser marcadas no mais breve prazo possível porque foi exatamente isso que disse o Presidente da República antes de todo este cenário. Aquilo que o PR disse foi a sua interpretação do interesse do país.

"Não há razão para que a dissolução não seja 24 ou 48 horas depois do Conselho de Estado"

Se depois de ter recebido Paulo Rangel e de ter havido notícias sobre esse assunto, se agora o Presidente não marcar eleições para janeiro, que foi o que disse que faria em meados de outubro, e marcar só para fevereiro, isso seria um motivo de incompreensão por parte do PSD?
Sim, sem dúvida. Não vejo nenhuma razão que possa justificar uma circunstância dessa natureza.

A não ser a tentação de interferir com a vida interna do PSD?
Que é algo que eu não admito que possa ser feito por um Presidente da República, seja ele militante do PSD, do PS ou de qualquer outro partido. É algo que nem sequer como hipótese académica posso sequer ponderar. Estamos a discutir a alternância de poder e projetos alternativos de governo. Não estamos aqui a discutir questões menores, não estamos a discutir sequer a presidência do PSD. Estamos a discutir a candidatura alternativa à do PS que tem estado a governar nos últimos seis anos.

“É uma evidência que eleições internas são prejudiciais para o PSD”

Continua ou não a fazer sentido propor o adiamento de eleições internas no PSD?
Tenho a certeza que se os conselheiros nacionais do PSD soubessem que aquilo que na altura era especulativo ia efetivamente acontecer, aquele requerimento teria sido aprovado e quase por unanimidade. Não posso pensar de outra forma.

Acredita mesmo nisso?
Acredito.

Não está a ser ingénuo? 
Não, não, não. No Conselho Nacional, vários apoiantes de Paulo Rangel e o próprio na apresentação da candidatura disseram que isto era um cenário que não existia. Ou seja, fundamentaram a circunstância de não se ter aprovado aquele requerimento porque estávamos a exagerar. Se houver alguma humildade intelectual é preciso perceber o que vamos fazer se agora constatamos que não houve exagero algum.

E o que é que a direção do PSD vai fazer? Vai haver ou não proposta de adiamento das eleições internas do PSD?
Não sei. Não é algo que eu possa dizer nem que me compita dizer agora.

Mas acha que era útil?
Nem sequer vou a responder a isso. O PSD perceba deve entender aquilo que neste momento o país de nós exige, de todos os protagonistas e contendores. O momento atual exige que exista postura de Estado. O momento mudou. Já se cometeu um erro ao não avaliar devidamente o impacto positivo que teve para o PSD as eleições autárquicas. O PS está há um ano em perda junto da população, em condições de poder perder as eleições. O PSD teve nas eleições autárquicas o primeiro impulso. Foi negativo para o PSD não se ter permitido que o partido capitalizasse um momento importante. A conquista da capital do país, do Governo regional dos Açores, a manutenção do Governo regional da Madeira contra todas as expectativas na altura… Isto tem de ter leitura. Depois das autárquicas o PSD merecia poder capitalizar isto e não foi permitido. É preciso que o PSD saiba interpretar estes sinais que são claros e que responda a isto com a maturidade própria de um partido como o PSD.

"É importante lembrar que o PSD tem uma liderança consolidada, em funções até 12 de fevereiro. O mandato só termina aí"

As eleições internas no PSD seriam prejudiciais para as hipóteses de o PSD de disputar as legislativas?
É uma evidência. Nem é uma opinião. Se o PS está a falar para o país e nós estamos a falar para dentro, se o PS está a tentar mostrar que é uma alternativa estável e nós estamos a tentar mostrar quem é que é o melhor contendor, isto não é objetivamente positivo para o PSD, como seria para qualquer partido. Há aqui uma infelicidade cronológica, de calendário, para a qual Rui Rio alertou. Isto era antecipável. Tinha de ser antecipável para quem sabe ler a política nacional. Agora, exige-se de nós a postura de Estado, o sentido de responsabilidade e uma postura patriótica. É isso que os portugueses exigem de nós. Este é um momento de maturidade e é um momento em que o PSD se tem de apresentar aos portugueses como uma alternativa estável e equilibrada.

A confirmarem-se as eleições em meados de janeiro, o PSD pode ficar numa situação esdrúxula: ser a atual direção a desenhar as listas de candidatos a deputados e, porventura, haver uma mudança de líder a 4 de dezembro. Entende que Rui Rio deve fazer um esforço de consensualização com Paulo Rangel para garantir que haja um grupo parlamentar que sirva os dois?
É o tipo de especulação em que não quero entrar. Não sei se isso vai ser assim, depende das datas e do calendário que vai ser definido pelo Presidente da República. É importante lembrar que o PSD tem uma liderança consolidada, em funções até 12 de fevereiro. O mandato só termina aí. Todas estas especulações que aqui estamos a fazer dão razão àquilo que tenho estado a dizer: a situação em que o partido pode entrar é altamente desfavorável para a situação em que o partido se tem de apresentar aos portugueses. Tudo isto é indesejável para o maior partido da oposição.

As distritais mais importantes, incluindo boa parte das estruturas da sua (Braga), apoiam Paulo Rangel. Acredita que é possível vencer o partido sem o apoio das distritais em Lisboa, Porto e Braga?
Claro que acho. Primeiro, a pergunta assenta num pressuposto com o qual não concordo.

É um facto histórico em relação a todos os líderes que foram eleitos. Rui Rio, aliás, contou sempre com o apoio de duas grandes distritais, Porto e Aveiro.
As distritais não são uma organização unânime. As distritais têm várias sensibilidades, um candidato pode ter o presidente da distrital com uma opinião e os seus dois vices com outra. É importante desmistificar isto. Não é para valorizar o voto livre, é para dizer as coisas como elas são. Uma distrital não fala apenas pela voz do que diz o seu presidente.

É verdade. Mas as distritais e concelhias geralmente traduzem uma tendência.
Repare: na incerteza em que estamos, nada, inclusive algumas posições tomadas há uma ou duas semanas, pode ser dada como fechado ou adquirido. Confio que todos os militantes do PSD, os que queriam apoiar uma candidatura e os que queriam apoiar outra, a fazer esta pergunta: o que é melhor para o partido e para o país?

Houve muitos dirigentes que mudaram de lado. Não retira uma leitura disso? Rui Rio tratou mal o partido?
Não. É uma ideia dura e injusta. Rui Rio foi eleito para o seu segundo mandato três meses depois de não ter vencido as legislativas. Ao ter sido eleito nessa altura, foi por um motivo claro: achou-se que qualquer que fosse o candidato do PSD àquelas legislativas, teria muitas dificuldades em as disputar verdadeiramente e portanto quis-se reconduzir Rui Rio para ser candidato a primeiro-ministro pelo PSD quando houvesse legislativas. É quase contrassenso ter um candidato que tem melhor perfil para ser primeiro-ministro do que líder da oposição e agora poder ter como candidato a primeiro-ministro um candidato que tem melhor perfil para líder da oposição. O PSD fez uma escolha há dois anos porque acreditava na capacidade de Rui Rio para ser o melhor candidato a primeiro-ministro do PSD. Paulo Rangel até verbalizou isso mesmo. Poder-se-ia dizer: ‘Daqui para cá, tudo falhou’. Mas não. Todos os objetivos foram superados.

"O que é tradicional ver-se num líder da oposição é ser mais aguerrido e combativo, mas há outros perfis. E o de Rui Rio é de governação"

Rui Rio será melhor como primeiro-ministro do que líder de oposição?
Não tenho a mais pequena dúvida que Rui Rio é o primeiro-ministro de que Portugal precisa.

Mas não foi essa a pergunta.
Pois não, mas foi esta a resposta.

Já percebi que não quer responder.
Eu respondo desta forma: acho que Rui Rio tem um perfil de estadista, de uma pessoa que diz aquilo a que vem. As pessoas sabem que, concordem ou discordem daquilo que são as suas posições, ele diz sempre aquilo que acha que é o melhor para o país, independentemente de ser melhor para si ou não. Aquilo que é tradicional ver-se num líder da oposição é ser mais aguerrido e combativo, mas há outros perfis. E o de Rui Rio é de governação. Agora, também lhe dou uma resposta direta à pergunta: aquilo que as últimas eleições têm revelado é que os portugueses querem uma liderança de oposição que demonstre que está preparada para exercer o poder. É exatamente isso que fez Rui Rio. Enquanto que alguma da militância pudesse esperar um estilo diferente de fazer oposição, aquilo que as autárquicas, mas não só, têm revelado é que não é isto que o eleitorado pensa. O eleitorado prefere que o líder da oposição seja alguém que esteja preparado para ser primeiro-ministro.

A questão da experiência executiva tem sido um dos pontos aprovados, isso é determinante? Rio ter sido presidente de câmara e Paulo Rangel não ter essa experiência executiva? Isso é um ponto que marca a diferença também?
Já estaríamos a entrar quase em campanha, mas dizer que sem dúvida o que é o track record de cada um é fundamental para aquilo a que se candidata. É natural, o curriculum de cada candidato a um emprego ou função política.

Rangel é um bom tribuno, mas Rui Rio pelo percurso que teve na câmara seria um melhor primeiro-ministro.
Rui Rio é um excelente tribuno. A verdade é que além das qualidades políticas inequívocas que tem e que são por todos reconhecidas, tem também uma experiência como presidente da câmara do Porto e como dirigente nacional do PSD em momentos históricos importantes, foi vice-presidente de sucessivas lideranças e isto dá a Rui Rio um apport de ser a melhor pessoa que o PSD tem para apresentar para liderar o país.

Pedro Passos Coelho quando chegou a primeiro-ministro não tinha nenhum cargo executivo, nunca tinha desempenhado nenhum cargo executivo. Foi um mau primeiro-ministro?
Não. Está a fazer a pergunta ao contrário. Pedro Passos Coelho cumpriu uma função histórica que era preciso cumprir, e cumpriu-a muito bem.

Mas a questão era a falta de currículo, um dos pontos apontados a Rangel.
A pergunta foi feita ao contrário.

Há muitos apoiantes de Rui Rio que têm descrito Rangel como um mero tribuno, alguém com muito talento na oratória.
Não é aquilo que estou a dizer, acho que as pessoas têm as suas qualidades. A pergunta que me foi feita é se a experiência executiva é importante. Considero que é importante, acho que isso é óbvio.

Mesmo que Pedro Passos Coelho não a tenha tido e depois tenha sido um bom primeiro-ministro pelas suas palavras?
Sim, mas isso é importante na avaliação, obviamente. Isto não é excludente de ninguém.

Numa avaliação mais objetiva, um dos pontos que Rui Rio tem atacado Paulo Rangel é que teve o pior resultado da história do PSD, como cabeça de lista nas europeias. Rui Rio também teve talvez o pior resultado deste século em termos de legislativas. Isso também faz dele um mau candidato?
Há diferentes circunstâncias. O resultado que o PSD teve nessas legislativas foi muito idêntico, por um ponto e meio de diferençam, ao que teve Cavaco Silva quando venceu pela primeira vez as legislativas, antes de depois haver dissolução da Assembleia e ter vencido com maioria absoluta. Santana Lopes, Manuela Ferreira Leite, Cavaco Silva, Rui Rio, quatro candidatos a primeiro-ministro que tiveram resultados entre os 27 e os 30%.

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“As vitórias eleitorais internas ou externas não se obtêm pelo ataque feroz ao adversário”

Recentemente, em entrevista ao Observador, Miguel Pinto Luz acusou Rui Rio de não ter espessura intelectual para ser líder do partido e candidato a primeiro-ministro. Não lhe pergunto se concorda com isto nem peço que responda diretamente a Miguel Pinto Luz, mas que faça uma análise geral. Acredita que existe uma parte do partido elitista, solista e liberal para recordar as palavras de Luís Filipe Menezes, que nunca aceitou a liderança de Rui Rio?
Vou tentar ser mais diplomata do que é habitual em mim. O PSD precisa de quem contribua para unir, farto que está de quem contribua apenas para o desunir. O PSD precisa de sentido de responsabilidade e maturidade, não precisa de imaturidade de declarações que apouquem qualquer dos candidatos ao partido que são pessoas cujos percursos falam por si. As vitórias eleitorais internas ou externas não se obtêm pelo ataque feroz ao adversário. Obtêm-se por sermos capazes de apresentar uma postura madura e séria. Não conhecia essa frase e, se quer que lhe diga, lamento tê-la ouvido.

Se Rui Rio vencer as diretas está obrigado a vencer as próximas legislativas. Se isso não acontecer deve demitir-se?
Isso é futurologia.

Admito que acredite na vitória interna de Rui Rio e que vai ser candidato a primeiro-ministro.
É evidente que a candidatura de Rui Rio, neste cenário e depois do que aconteceu ao país, tem como único objetivo ser candidato a primeiro-ministro e vencer as eleições legislativas, poder governar. É este o objetivo claro.

Se falhar tem que retirar ilações.
Se falhar tirará, com certeza, as ilações dessa circunstância.

Por falar em eleições legislativas, com os dados que estão em cima da mesa e sabendo nós que qualquer coligação favorece o espaço de quem vai coligado, o PSD deve ir a votos aliado ao CDS com uma coligação pré-legislativa?
Penso que o PSD, Rui Rio já o disse várias vezes, deve ir a votos como partido social-democrata.

Disse-o sem saber que as eleições estavam aí à porta.
Sim, mas o PSD deve ir a votos como partido social-democrata. Com a multiplicidade de partidos representados no Parlamento temos, nós portugueses e os principais partidos, que ter a consciência que cada vez mais os futuros governos se vão fazer em entendimentos. Pós-eleitorais, sem ser pós-eleitorais, pontuais, de temáticas específicas ou de instrumentos orçamentais não sei, mas entendimentos

Pré-eleitoral com o CDS não é desejável?
O PSD deve apresentar-se a eleições como partido social-democrata como sempre fez, tirando quando esteve no governo coligado.

Paulo Rangel já defendeu o cordão sanitário em torno do Chega. Enquanto vice-presidente e apoiante de Rui Rio defendeu que o PSD deve contar com todos para formar uma maioria respeitando uma solução semelhante à que foi encontrada nos Açores. Isso seria possível?
Aquilo que é importante nesta altura fazer-se é que o PSD se afirme como alternativa e que ao afirmar-se como alternativa os eleitores possam dar ao PSD uma posição relativa que dispense muitos entendimentos. Se tiverem que existir logo se verá. Há uma coisa que é clara: é evidente a diferença monstruosa entre o PSD e o Chega. É evidente que o Chega defende políticas nas quais o PSD manifestamente não se revê. Agora, a partir daí, também é evidente que o Bloco de Esquerda defende coisas em que o PSD não se revê manifestamente e a mim não me choca, como já tive ocasião de o dizer, que o PSD possa ter entendimentos com os partidos à esquerda do Partido Socialista. Não sei de que entendimentos estamos a falar, o futuro vai exigir de todos nós esta ginástica para que permita que tenhamos governo.

"É evidente que o Chega defende políticas nas quais o PSD manifestamente não se revê. Agora, a partir daí, também é evidente que o Bloco de Esquerda defende coisas em que o PSD não se revê manifestamente e a mim não me choca"

A solução dos Açores não o chocaria a nível nacional.
Não é isso. Não a quero sequer antecipar.

Admite um cenário de bloco central em alguma circunstância.
Um cenário de bloco central só é admissível, como foi dito por Rui Rio e António Costa, em cenários absolutamente extraordinários.

E se for um cenário de total ingovernabilidade? Se no próximo quadro das eleições resultar, ou não existir maioria inequívoca, dos dois blocos os dois partidos podem ou não entender-se?
Acho que o bloco central é negativo para o país. O país vive desta alternância entre os seus dois maiores partidos e é bom que assim seja. A frase do Presidente da República é ‘ilusórios blocos centrais nunca nos levaram a lado algum’. Penso que é essa a postura que devemos ter porque isso é bom para o equilíbrio de forças no patamar democrático.

Se Rui Rio vencer as diretas e depois as legislativas está disponível para ser ministro?
Não posso responder a essa pergunta. Se Rui Rio vencer as diretas e as legislativas, como espero, as escolhas serão obviamente feitas por ele. Estou sempre disponível para trabalhar, é por isso que estou aqui e deixei a vida de trabalho em suspenso. Estou disponível para trabalhar.

Com Paulo Rangel também?
O presidente do PSD é Rui Rio e é só com ele que estou a trabalhar. É com ele que estou motivado porque quero que seja o próximo primeiro-ministro de Portugal.

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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