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D.R. Twitter Porsche Team

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António Félix da Costa e o sonho perdido da Fórmula 1: "Acho que houve política à mistura"

Das pistas para a rádio, António Félix da Costa contou tudo Em 40 Minutos: o que está a falhar esta época, porque não chegou à F1 e como ultrapassou o acidente: "Sem o 'halo', tinha-me ficado ali".

É uma das grandes bandeiras do desporto nacional e figura maior do automobilismo português. O campeão do mundo de Fórmula E em 2020 e da LMP2 em 2022 esteve na Rádio Observador, Em 40 Minutos, e nem eles não chegaram para passar a pente fino todas as vitórias… mas também os obstáculos por que teve de passar desde o início da carreira.

António Félix da Costa lembra a infância já virada para os carros e sempre com um objetivo na cabeça: chegar à Fórmula 1. O sonho não se cumpriu por pouco – e diz o próprio, talvez por influências políticas –, mas levou a outros caminhos de vitória. Fazemos o raio-x à época menos conseguida – mas com tempo para virar –, prevemos o futuro, que pode passar pelo Dakar depois dos 45 anos, e olhamos ainda para a preparação psicológica, de quem não tem “1% de medo” de perder a vida na pista. António Félix da Costa, Em 40 Minutos.

(Veja aqui a entrevista completa em vídeo)

Comecemos por puxar a fita atrás: ainda te lembras de qual foi o primeiro carro que conduziste?
É uma boa história, por acaso. Eu tinha o meu irmão Duarte e o meu irmão João já a experimentar karts. Até foi o meu irmão João, o mais velho, que me levou a primeira vez ao Cartódromo de Évora, quando tinha seis anos. E eu lembro-me como se fosse ontem: estava todo contente, meti o capacete, eles puxaram o cordel, o kart começou a trabalhar, imenso barulho, fumo e eu…  fiquei com medo. Não queria ir! Eles ‘bora, bora’, a fazer sinal, e eu olhar para eles. Bem, lá fui. Só sei que só parei quando a gasolina acabou. Não parava [risos]. Eles ‘pára, pára, que eles têm de fechar o Cartódromo’. Rapidamente ultrapassei o medo e adorei.

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E tudo por causa do empurrãozinho dos teus irmãos. Foram muito importantes, não foram?
Eles estão os dois ligados ao automobilismo, já é uma coisa de família. Aliás, há uma história engraçada, até para ir um bocadinho mais atrás: os meus tios Mello Breyner, Pedro, Manuel e Tomás, são os únicos três irmãos até hoje a competirem nas 24 horas de Le Mans no mesmo carro, são o único trio de irmãos a fazer a corrida. Já vem um bocadinho daí.

Estamos habituados a ver-te a ti e aos grandes pilotos nas pistas mas fora delas tem havido aqui alguns episódios curiosos como o Verstappen a tentar alugar um carro no Algarve e a não conseguir ou o Miguel Oliveira que não tinha a carta de mota, por exemplo. Como é o António Félix da Costa a conduzir no mundo dos mortais, fora da pista?
Se puderem ir a guiar por mim, melhor [risos]. Eu adoro guiar, atenção. Mas, para mim, trânsito é uma coisa que tira anos de vida. Por exemplo, eu não marco voos às 10 ou às 11 da manhã porque teria de sair de casa muito cedo. Eu planeio a minha vida toda para fugir ao trânsito. Mas ainda fora das pistas, há uma história engraçada: eu chumbei no exame de condução. Uma estupidez.

Chumbaste?
Sim, mas eu acho que o examinador já estava ali um bocado contra mim. Imaginem isto: o exame estava no primeiro minuto. Saímos do centro de exames e estava imenso trânsito ali em Linda-a-Velha. Basicamente, eu saí e parei logo. Só que parei… em cima de uma passadeira. E o “gajo” disse logo: podes voltar para trás. Foi logo. Nem deu para aquecer, chumbei logo, nem um minuto fiz. Pronto, tive de lá voltar e passei à segunda.

E seres piloto foi sempre o teu plano principal? Ou equacionaste outra coisa?
Quando és miúdo, há sempre uma fase em que queres ser polícia, astronauta ou bombeiro. Todos os miúdos passam por essa fase. Mas eu, quando tinha dois ou três anos, já vi os meus irmãos nas pistas, cresci a vê-los a correr. E logo aí disse “Ah, também quero ser piloto!”. Não era hipótese nenhuma, era aquilo. E depois, como disse, experimentei aos 6 anos. Aos oito, faço a minha primeira corrida. Aos nove, estou a fazer o meu primeiro campeonato nacional. Aos dez, fui campeão nacional. E a partir daí é que tive de começar a tomar decisões.

Porquê?
Porque como qualquer miúdo, eu ia para a escola aos dez anos. E passava os dias a contar as horas para ir treinar. ‘Quando é que toca? Quando é que toca?’. A certa altura, aos 14 anos, tive de pensar e os estudos tiveram mesmo de passar para segundo plano. E aí, para além dos meus pais e irmãos, a minha avó teve um papel importantíssimo. Foi quando decidi não ir mais à escola e fazer o resto online. É que há 15 anos, estudar online era uma coisa da idade da pedra. E os meus pais tinham receio e foi a minha avó que disse ‘bora, vamos a isso!’. E fiz isso, fiz os últimos dois anos a estudar online e acabo o 12.º ano assim. É que eu ou fazia isso, ou mais valia parar. Porque por mais talento que se tenha, ou estás em pé de igualdade com os outros, ou então não chega. E eles treinavam todos os dias. Olha, resultou, foi uma boa aposta.

António Félix da Costa esteve no programa Em 40 Minutos, da Rádio Observador

E nessa altura, quando começaste, quem eram as tuas referências? Tu já não apanhaste propriamente o Ayrton Senna, por exemplo, tinhas três anos quando ele morreu…
Sim, verdade. Eu não me lembro de ver o Senna correr, obviamente. Claro que hoje em dia, depois de estudar um bocadinho, sei perfeitamente tudo o que ele fez, o que ele representa, o que mudou no nosso desporto. Ele foi o impulsionador de várias coisas. Foi o primeiro piloto a treinar fisicamente, por exemplo. Antes a malta fumava, bebia uns copos, punha o capacete e ia. Ele foi o primeiro a profissionalizar a nossa modalidade. Depois o Schumacher dá um passo ainda mais à frente.

Mas então era o Schumacher a tua referência?
Na altura, o Schumacher ganhava aquilo tudo. Mas vou ser sincero… eu sempre soube que um dia ia estar ali a correr contra eles, por isso nunca quis ter ídolos. Eu entendia o quão bom eles eram, claro. E tentava apanhar as coisas boas de cada um. Mas eu achei sempre que um dia ia correr contra eles no circuito, e não queria estar a correr contra os meus ídolos. Sempre tive essa imagem, de ser ambicioso a esse ponto. Nunca tive um ídolo que me enlouquecesse, mas tenho um respeito enorme por eles todos.

"Achei sempre que um dia ia correr contra eles no circuito, e não queria estar a correr contra os meus ídolos. Sempre tive essa imagem, de ser ambicioso a esse ponto. Por isso é que nunca tive um ídolo que me enlouquecesse."

Ganhaste os primeiros títulos com 11 anos. Foste o piloto português mais jovem de sempre a competir na Fórmula Renault 2.0. O mais jovem de sempre a conduzir um carro de Fórmula 1. Em miúdo, e com estes recordes todos, já tinhas noção de que eras especial?
Não alocava o meu tempo a perceber se eu era especial ou não. E vejo isso um bocadinho com outras modalidades aqui em Portugal. E é aí que a nossa mentalidade desportiva mudou muito nos últimos cinco ou dez anos, e muito por causa do Cristiano Ronaldo e do Mourinho. A partir deles, tivemos muitos atletas a pôr Portugal no mapa. Hoje em dia, entras em campo ou em pista com um português e a malta já te olha de lado, com respeito.

Notas isso?
A 100%. O Miguel Oliveira na Moto GP, o Kikas no surf, o Figueiredo e o Melo Gouveia no golfe, o João Sousa no ténis. Todos eles têm impulsionado a nossa bandeira. Os adversários já dizem ‘Atenção, que hoje é contra o português!’. Estamos no mapa, estamos completamente no mapa. E eu nunca perdi tempo a pensar se era o melhor aqui da minha aldeia. Mas vi muitos atletas aqui, em Portugal, cheios de talento em diversas modalidades, que ganhavam aqui duas ou três coisas e já chegava para serem os maiores. Pensei sempre numa escala maior e acho que resultou. Tento basear-me em atletas que têm a mesma ambição de pensamento. Pensar grande. Claro que as desilusões depois também são maiores, porque quanto mais competitivo é o meio em que estás, mais derrotas vão aparecer. Mas as derrotas são uma coisa ótima para nós. Se as aceitarmos e aprendermos com elas, não há nada melhor do que perder, saber perder e usar isso para andar para a frente.

"As derrotas são uma coisa ótima para nós. Se as aceitarmos e aprendermos com elas, não há nada melhor do que perder, saber perder e usar isso para andar para a frente."

E já colocavas essa pressão quando eras miúdo, quando estavas a começar?
Nessa idade, tão jovem, não. Até porque aquilo era… não queria dizer fácil, mas era. Se não ganhava, estava sempre ali em segundo ou terceiro, mas não tinha dias muito maus. Eu sabia que no final do dia íamos estar ali entre os dez primeiros. Claro que depois, de décimo para oitavo, para quinto, para quarto, para ganhar, aí sim era um trabalhão. Mas sabia que se estivesse ali entre os dez primeiros, então estava no mapa e no radar das equipas de Fórmula 1. Hoje em dia é diferente. Há campeonatos, como o meu, onde, do primeiro ao último, é um talento muito igual. Os carros são muito iguais. E aí a pressão é altíssima, porque mesmo que esteja tudo bem, se falhares um bocadinho é a diferença de estar em primeiro ou em décimo, ou em décimo quinto. A pressão é mais alta, mas é uma coisa que eu adoro.

Mas lidas bem com a pressão agora?
Lido, lido. Acho que sim. A pressão significa que estás a fazer alguma coisa importante. Se não tiveres pressão, é como se fosses jogar ao berlinde ali no parque. Tento usar a pressão dessa forma. Quando estou em momentos maus, esfrego as mãos e ‘bora lá’ mostrar a esta malta que vamos sair daqui.

Tens um psicólogo do desporto também. Como é que ele te ajuda no teu dia a dia, na tua rotina de piloto, a aguentares todas estas pressões?
Para dar aqui um bocadinho de contexto, a primeira vez que eu trabalhei com um psicólogo, foi quando era júnior da Red Bull, e estava a pé a entrar para a Fórmula 1. E disseram-me que tinha de ir à Suíça falar com este psicólogo desportivo. E eu respondi ‘Não sou maluco, não preciso disso para nada’. Estava a ganhar as corridas todas, ia agora falar com um psicólogo. Psicólogo é para malucos. Era o que eu achava. Cheguei lá e… adorei. Adorei. Ele pôs-me a cabeça a funcionar de outra forma, a entender porque é que estamos contentes, porque é que estamos tristes, e como lidar com esses dois sentimentos. Porque também é importante saberes lidar com a felicidade, não só quando estás infeliz. Entretanto esse psicólogo morreu e há três anos encontrei o Pedro Almeida, que trabalha com uma série de atletas também, e está muito ligado ao desporto.

E como tem corrido?
Estou a adorar. Trabalhamos de forma constante e acho que é importante desmistificar isto. Por exemplo, estou a atravessar uma fase complicada agora. Tive três corridas más no início deste ano e a minha maior missão é motivar-me, dar o check nas caixinhas todas, saber que estou a fazer o meu melhor, e que posso dormir descansado no final do dia.

Histórico: António Félix da Costa assegura vitória no Mundial de Fórmula E após segundo lugar em Tempelhof

Este mês até deste uma entrevista à página oficial da Fórmula E precisamente sobre a pressão e a saúde mental. Dizias que à medida que foste envelhecendo, foste também percebendo como é que funciona o nosso cérebro.
Sim. Eu acho que à medida que vais ficando mais velho, vais percebendo melhor como é que funciona este músculo aqui em cima. Mas fica mais difícil. Quanto mais percebes, mais queres tentar controlá-lo. É um jogo do gato e do rato, mas acho que tudo se resume a uma palavra: perspetiva. Se puseres as coisas em perspetiva, vai ajudar-te em momentos maus a conseguires relaxar e a perceber as coisas de uma maneira mais calma.

Na época passada apanhaste um grande susto, em Roma, tiveste um acidente grave. Essa preparação psicológica que tens ajudou-te a ultrapassar isso?
Nunca tinha tido nenhum acidente muito grave até esse. Infelizmente, nos meus 20 anos de carreira, vi alguns pilotos perderem a vida. É verdade que o desporto está a ficar mais seguro, mas esta não deixa de ser uma modalidade de altíssimo risco. Dessa vez, o halo salvou-me a vida. Sem halo, eu tinha lá ficado, certinho. Certinho. Tu às vezes estás a puxar os limites e percebes que te vais despistar, mas apertas-te, mandas uma porrada, mas tiras o pó e sais do carro e está tudo bem. Naquele dia, em Roma, no ano passado, não foi assim. Era uma esquerda a fundo, a subir, e vais a 220 km/hora. Eu ia em quinto na corrida e o piloto que vai em segundo despista-se sozinho e fica parado no meio da pista. Como a curva é a fundo, e vais a 200 km/hora, aquilo cega. Ou seja, eu passei de estar a fundo, para, num milésimo de segundo, ter um carro parado à minha frente. Foi a primeira vez na vida que fechei os olhos e pensei ‘Esta aqui vai doer, esta vai doer’. E tive a maior sorte do mundo. Apertei-me, fechei os olhos, e aquilo até fluiu mais ou menos bem. Quando saí do carro, vi que não tinha rodas, não tinha nada, até o chassis estava partido ao meio. Já eu, só tinha umas marcas no capacete. Estava era cheio de óleo, porque o carro partiu a caixa de velocidade ao meio, e fiquei com o óleo da caixa em cima.

"Dessa vez, o halo salvou-me a vida. Sem halo, eu tinha lá ficado, certinho. Certinho. Tu às vezes estás a puxar os limites e percebes que te vais despistar, mas apertas-te, mandas uma porrada, mas tiras o pó e sais do carro e está tudo bem. Naquele dia, em Roma, no ano passado, não foi assim."

E como é que se volta para a pista depois de um acidente desses?
Assustei-me um bocadinho, fiquei a pensar um pouco, confesso. Aquilo podia ter magoado a sério. Mas no dia a seguir tínhamos outra corrida. Os meus mecânicos nem dormiram, tiveram de montar um carro novo numa noite. E no dia a seguir pus o capacete na cabeça e fui lá para dentro. Nunca mais voltei a pensar nisso. Não tenho 1% de medo, 1%. Mudei foi uma coisa: nós somos obrigados a ter um seguro. Para além do nosso seguro de saúde, temos de ter um seguro de corridas, que é uma coisa mais cara. Eu fazia sempre o mais barato de todos. Se tivesse um acidente que me partisse as duas pernas, quase não tinha compensação, era-me indiferente. Hoje em dia não, já penso de outra forma. Tenho uma família, preciso de tomar conta deles. Quero certificar-me de que se acontecer alguma coisa de mal, os meus ficam bem.

E como é que é a vossa preparação física? Por exemplo, tens de fazer dieta como um atleta normal? Tens de ter essas atenções?
Não interessa ser muito pesado, mas tens de ter cuidados. Nós não temos direção assistida nos carros, por exemplo. Por isso, cada buraco que tu sentes vem do pneu diretamente para ti, para o teu corpo. Por isso é importante ser forte, ao ponto em que consegues aguentar com o volante do carro durante aquela hora de corrida, duas ou três horas seguidas, como é em Le Mans. Tenho a sorte de ter uma genética boa. Aliás, para ganhar peso até tenho de treinar, senão eu até perco.

Por falar em pressão e adversidades, tens uma história já bem conhecida: estiveste no programa de jovens pilotos da Red Bull, estava tudo pronto para entrares na Fórmula 1, mas no último segundo não ficaste. Como é que se lida com um sonho que fica por cumprir?
Isso foi, talvez, um dos episódios mais complicados que tive. Felizmente já não era tão novo, tinha uns 18 anos, e já tens alguma maturidade para lidar com isso. Na altura, se eu não ganhava, ficava em segundo. Se não era segundo, era terceiro. Era sempre ali, nas competições pré-Fórmula 1, na Fórmula 3, na Fórmula 4, na Fórmula 2. E chega o momento da Fórmula 1. Eu já tinha o contrato assinado, tinha feito o fato, tudo à medida, o banco para o carro, tudo. Mas acabei por perder o lugar para um piloto russo. Ia haver pela primeira vez um grande prémio na Rússia, acho que entrou ali alguma política à mistura. Mas foi complicado, porque o objetivo era sempre chegar à Fórmula 1. E de repente, de um segundo para o outro, depois de ter tudo fechado, tudo certo, falhou.

"Eu já tinha o contrato assinado, tinha feito o fato, tudo à medida, o banco para o carro, tudo. Mas acabei por perder o lugar para um piloto russo. Ia haver pela primeira vez um grande prémio na Rússia, acho que entrou ali alguma política à mistura."

Como soubeste da notícia?
Recebi uma chamada do meu chefe, do Helmut Marko, que ainda é representante da Red Bull na Fórmula 1. Ele ligou e disse: ‘António, o lugar já não é para ti, mas vamos manter-te aqui nesta casa e vamos continuar a apoiar-te’. Eu queria lá saber, comecei a chorar baba e ranho. Porque o teu sonho dos últimos dez anos acabou ali. Estava tão perto, estava ali na mão e fugiu. Mas também é verdade que, até ao ano passado, fui o único piloto da equipa júnior da Red Bull que eles não promoveram para a Fórmula 1, mas que também não despediram. Porque, normalmente, se tu serves, sobes. Se não serves, não sobes e vais embora. E eles mantiveram-me ali. Consegui engolir esse sapo. Continuei como piloto de teste, continuava ativo, se alguém se magoasse eu podia entrar, mas também é mandar um bocadinho areia para os olhos, porque todos os dias acordas a pensar se alguém está doente ou se alguém se magoou. Mas tornei-me profissional assim. Costumo dizer que a Red Bull me tirou o sonho, mas deu-me uma carreira. Por isso, não há mágoas, não há nada. Continuo muito agradecido ao que a Red Bull fez por mim e na minha carreira. Já nos desvinculámos, e essa é uma conversa que também tem pano para mangas, mas continuo a dar-me muito bem com eles e sou profissional muito por causa da Red Bull.

E também fizeste amigos na altura. O Max Verstappen ainda te manda mensagem quando ganhas alguma corrida?
O Max é um caso especial. Ele não me manda mensagens só quando ganho, também manda quando não ganho. Se eu vos apresentasse aqui os 20 pilotos que correm na Fórmula 1 – sem câmaras e microfones –, o Max era aquele que vocês iam gostar mais de conhecer. De longe. É o mais humilde, o mais simples. E se eu mandar uma mensagem aos 20 pilotos, ele vai ser o primeiro a responder. Também fui piloto de teste com o Sebastian Vettel e com o Marc Weber. O Vettel foi o primeiro piloto de grande calibre, campeão do mundo, com quem fiz amizade. Íamos de férias juntos e tudo. Portanto, sim, levas bons amigos. Mas respondendo à pergunta, da Fórmula 1, o único que vem ao meu casamento, no final deste ano, é o Max.

Félix da Costa, numa prova de Fórmula 4, pela equipa jovem da Red Bull, em 2013

/LUSA

Falemos desta época: estás em 18º lugar no Campeonato do Mundo de Fórmula E e ainda não pontuaste. Porque é que este ano não está a correr tão bem como nos últimos?
Olha, é uma boa pergunta. Tinha de entrar aqui em detalhes tão técnicos que as pessoas iam adormecer. Mas long story short: não clicou. Sinceramente, ainda não clicou. É o pior início de época que eu já alguma tive vez na minha carreira. Ter zero pontos à terceira corrida do ano nunca me aconteceu, nunca, nunca. E agora começaram a entrar coisas novas nesta bola de neve, que é a tal pressão de que falávamos. Vamos estar em fase de renovações com a equipa e tudo mais. Ou seja, já nem é só pensar na próxima corrida e acelerar. Não. A mochila já começa a ficar pesada, por isso é um trabalho de casa que agora também tenho de fazer comigo próprio.

Mas o que tem falhado, especificamente?
Olha, não me tenho sentido nada confortável com o carro. Não consigo confiar no carro. Estes dois primeiros circuitos a que fomos são circuitos citadinos muito rápidos. E se não tens confiança no carro, muito facilmente perdes três ou quatro décimos de segundo.

Mas sentes que a tua equipa está a tentar mudar isso?
Tenho a certeza. Tenho a certeza de que a equipa está comigo, que vamos dar a volta à situação, não tenho dúvidas. Tenho a certeza de que vamos olhar para trás daqui a uns meses e ver que isto foi um problema mínimo. Ainda não clicou, mas vai clicar. Não tenho dúvidas nenhumas, eu sei perfeitamente como é que se faz uma curva depressa, eu sei que a equipa sabe isso. No outro dia estava ao telefone com um amigo meu, e ele disse-me uma metáfora de que gostei: ‘Imagina que vais ao McDonald’s e pedes umas batatas fritas grandes. E olha, três batatas caíram ao chão. É chato, mas ainda tens 20 para comer. Por isso esquece’. É outra vez a palavra ‘perspetiva’. Eu sou um sortudo. Faço aquilo de que gosto, corro pela Porsche, consigo viver disto, e tenho a sorte de ir agora correr para o Brasil e para Tóquio. Vou dar a volta a esta situação, por isso, acho que as coisas têm que ser olhadas desta forma. Mas temos aqui muito trabalhinho pela frente, sem dúvida.

"Sinceramente, ainda não clicou. É o pior início de época que eu já alguma tive vez na minha carreira. Ter zero pontos à terceira corrida do ano nunca me aconteceu, nunca, nunca (...) Mas vai clicar."

Sabemos que não gostas só de acelerar, portanto… Automobilismo ou surf?
Eu sou um prego a surfar (risos). Por mais que goste, sou um pregão. Mas não, automobilismo vai sempre ter um lugar especial. Até porque consigo competir e eu adoro competir. No surf é só apanhar umas ondas. Já recebi umas propostas, tipo uns programas e uns campeonatos assim para amadores, mas cortei-me sempre.

Mas continuas religiosamente a deixar um bocadinho das tuas férias para o surf, ou não?
Sim, isso 100%. Eu faço sempre uma surf trip por ano nas Maldivas. Toda a gente acha que as Maldivas têm aquele mar de chão, paradinho, mas encontram-se ondas inacreditáveis. É como se fosse a minha terapiazinha pós-época.

E é fácil preparar um casamento enquanto se tenta conquistar um Campeonato do Mundo de Fórmula E e outro de resistência?
Olha, boa pergunta. Não. Sim e não. Eu tenho sorte numa coisa: a minha futura mulher é muito organizada. E como nós somos os últimos aqui do grupo a casar, já sabemos quem é que vai ser o catering e todas essas coisas. No dia em que pedi a Inês em casamento, no Douro, fechámos logo tudo nas três horas de viagem de regresso. Fechámos tudo, tudo, tudo. Agora é começar a juntar as peças do puzzle. Mas eu disse-lhe logo: ‘Inês, quando eu começar a época, não me chateies mais com isto’. Aproveito também as duas ou três semanas de intervalo entre corridas.

E sobre o futuro: gostavas de correr até que idade?
Também é uma boa pergunta. Eu faço 33 anos este ano, estou a ficar velhote. Acho que conseguiria correr facilmente até aos 45 anos, mas acho que não o vou querer fazer. Estou com vários projetos a começar também fora dos circuitos e olha, não sei, agora vou casar-me. Sei lá quando é que vou ter um filho, se Deus quiser. Se calhar, vou quer correr mais, mas não sei, não tenho uma meta. Enquanto me estiver a divertir, enquanto estiver a ser competitivo, não quero parar.

Numa entrevista, disseste que gostavas de experimentar o Rali Dakar. Isso ainda faz parte dos teus planos?
Adorava! A única razão pela qual ainda não o fiz, é porque o Dakar é sempre nos primeiros 15 dias do ano, e eu nos primeiros 15 dias do ano já dei quase uma volta ao mundo na Fórmula E. É um projeto que está 100% pronto e pensado, mas está em banho-maria para já.

 
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