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O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e a Polícia Judiciária (PJ) estão a investigar a dependência económica de pequenos clubes, como o Santa Clara e o Desportivo das Aves, face ao Benfica. O clube liderado por Luís Filipe Vieira é suspeito de promover transferências a custo zero e emprestar jogadores para aqueles clubes com o objetivo de conseguir alegadas vantagens desportivas — o que já terá levado à recolha de indícios da prática de corrupção desportiva, além de crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e participação económica em negócio.
No centro dessa suspeita, que está a ser investigada num inquérito que reúne os casos Mala Ciao, e-mails e vouchers (todos envolvendo o Benfica), está um complexo esquema que tem a sua origem no verdadeiro entreposto de jogadores de futebol em que se transformou o clube liderado por Luís Filipe Vieira. Com recurso a empréstimos e a transferências em alegadas condições de favor, o DCIAP e a PJ suspeitam que o presidente benfiquista está no centro desse alegado esquema de dependência económico-desportiva de clubes com orçamentos mais reduzidos. O Observador sabe que, além do Santa Clara e Aves, há outros clubes mais pequenos sob suspeita.
O DCIAP e a PJ estão igualmente a investigar o pagamento de comissões a Paulo Gonçalves, ex-diretor jurídico do Benfica que foi acusado no caso e-toupeira e é uma figura muito próxima de Vieira, em várias transferências que envolvem igualmente o Benfica. Numa delas, a de Jhonder Cádiz, existe a suspeita de que Gonçalves terá recebido um valor superior ao que foi pago ao Vitória de Setúbal, onde o jogador venezuelano jogava.
O conhecimento que Luís Filipe Vieira terá sobre as alegadas tentativas de suborno de vários jogadores do Rio Ave e do Marítimo durante a época 2015/2016 por parte do agente César Boaventura é outra das matérias relevantes nas investigações ao Benfica. Há três jogadores do Rio Ave que já confirmaram à PJ propostas que terão recebido do empresário, sendo que em várias dessas abordagens Boaventura terá mesmo invocado o nome do presidente do Benfica.
O Observador contactou a equipa de defesa de Luís Filipe Vieira mas ainda não recebeu uma resposta até ao momento. Num comunicado publicado no site do clube às 21h53, a direção de Vieira classifica o trabalho do nosso jornal como um ataque ao clube “através da publicação de matérias inverídicas, imprecisas e caluniosas” e diz que “não tem nada a esconder”.
Vieira apanhado nas escutas. 200 jogadores emprestados desde 2010/2011
O Benfica foi participante ativo em 209 movimentos de transferências (como comprador, vendedor e recebendo jogadores emprestados) e emprestou mais de 200 jogadores a outros clubes em dez anos, desde a época de 2010/2011. Em termos financeiros, o presidente Luís Filipe Vieira fez negócios que renderam mais de 1,1 mil milhões de euros ao clube e levaram a gastos totais de cerca de 480 milhões de euros, segundo dados do site especializado Transfermarket.
As suspeitas relacionadas com alegados crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais em algumas dessas operações mais relevantes já foram noticiadas pelo Observador e estão a ser investigadas através de uma parceira entre o DCIAP liderado pelo procurador-geral adjunto Albano Pinto e a Autoridade Tributária. Em março, a Operação Fora de Jogo levou à realização de 76 mandados de busca a diversos dirigentes, entre os quais Luís Filipe Vieira, Jorge Nuno Pinto da Costa, Frederico Varandas, António Salvador, o empresário Jorge Mendes e jogadores como Iker Casillas, e cinco a escritórios de advogados (como a Morais Leitão, onde trabalha o advogado Carlos Osório de Castro).
Operação Fora de Jogo. Desvio das receitas das transferências sob investigação
Mas a alegada corrupção desportiva que terá origem nestes esquema de dependência económica alegadamente criado pelo Benfica é outra questão. Estes inquéritos estão sob alçada da equipa especial de investigação criada no DCIAP ainda durante o mandato de Joana Marques Vidal.
No caso da alegada dependência económica do Santa Clara, dos Açores, estão em causa as transferências dos jogadores César Martins, Patrick, Martin Chrien e Fábio Cardoso. Todos passaram pelo clube da Luz com poucas ou nenhumas oportunidades, sendo que apenas dois chegaram mesmo a jogar na equipa A:
- César Martins esteve em nove jogos entre outubro e janeiro da época 2014/15, entre Campeonato, Liga dos Campeões, Taça de Portugal e Taça da Liga, devido às muitas ausências no setor defensivo da equipa benfiquista por lesão (jogou 634 minutos, e viu dois amarelos);
- Martin Chrien foi duas vezes suplente utilizado, no Campeonato e na Taça de Portugal (43 minutos).
- Já Fábio Cardoso, no clube desde os infantis após ter sido contratado ao Águeda, e Patrick nunca se estrearam na formação principal.
Todos têm em comum o facto de terem servido apenas como ‘moeda de troca’ com outros clubes e das respetivas operações terem tido, na visão das autoridades, contornos originais.
Em primeiro lugar, todas estas transferências terão tido um alegado intermediário que é um ilustre desconhecido: o ex-jogador José Luís Gonçalves Moça, também conhecido no mundo do futebol como José Luís Ribeiro. Assumido benfiquista e jovem diretor desportivo do Desportivo das Aves na época de 2018/2019 com 31 anos, Moça terá negociado a ida daqueles quatro jogadores com ligações ao Benfica para o clube açoriano. O que não deixa de ser surpreendente quando o jovem dirigente não tinha nenhuma relação com o Santa Clara ou com o Benfica e também não é agente de jogadores.
Como? Em primeiro lugar, discutindo diretamente com Luís Filipe Vieira tais transferências. A PJ terá recolhido indícios de que Moça, um ex-jogador que passou por clubes como o Vianense, Fão e Mirandela, terá viajado mesmo para Ponta Delgada entre 21 e 22 de junho de 2018 para negociar com Diogo Boa Alma, então administrador do Santa Clara e hoje diretor desportivo do mesmo clube, a entrada no quadro do Santa Clara daqueles quatro jogadores na época de 2018/19.
José Luís Moça esteve sob escuta e a PJ terá recolhido indícios de que Luís Filipe Vieira estaria alegadamente por dentro do processo. Ele e o ex-diretor desportivo do Aves terão falado sobre os reforços para o Santa Clara, nomeadamente o jogador Patrick.
Não é a primeira vez que Moça é associado ao Benfica. Em agosto de 2019, um ano depois dos factos sob investigação pelo DCIAP e pela PJ, o Sporting Clube de Braga acusou o ex-diretor desportivo do Aves de apresentar-se “como representante dos interesses do Benfica” para impedir a transferência do argentino Guilherme Schettine do Santa Clara para os bracarenses. O clube acusou mesmo José Luís Moça, referido como “José Luís Gonçalves”, de ter prometido ao agente de Schettine “uma reunião com o presidente do Benfica [Luís Filipe Vieira]” e garantido que tanto o jogador com o agente Javier Rangel “seriam bem recompensados”.
Antes, e de acordo com algumas fontes contactadas, José Luís Moça dizia ter uma procuração para negociar a saída do lateral esquerdo Grimaldo da Luz mediante uma verba pré-definida pelo Benfica para essa transação. Antes de chegar ao Desportivo das Aves, o dirigente foi jogador em escalões secundários no Fão, no Vianense e no Mirandela, foi convidado para ser diretor desportivo do Académico de Viseu em 2014/15 e mudou-se na temporada seguinte para o Desportivo de Chaves, onde fez parte da estrutura que garantiu a última subida à I Divisão do clube, em 2015/16 (desceria em 2018/19, quando o dirigente já não estava em Trás-os-Montes).
O agente desconhecido que tentou levar Grimaldo para o Bayern por 35 milhões
Confrontado com estes indícios das autoridades, José Luís Moça afirmou ao Observador que é “tudo mentira! Zero por cento de verdade”. Apesar de confirmar que é “amigo pessoal” de Diogo Boa Alma, o dirigente do Santa Clara que esteve na negociação dos quatro jogadores, nega que tenha ido a Ponta Delgada tratar da sua transferência do Benfica para o Santa Clara. “Nunca falei com o presidente [do Benfica] sobre o Patrick!”, garante.
Moça confirma também que tem uma boa relação com Luís Filipe Vieira desde o tempo em que era diretor desportivo do Grupo Desportivo de Chaves mas sempre “tudo às claras”. Assume, por exemplo, que tentou intermediar a venda de dois jogadores do Santa Clara para o Benfica (Schettine e Fernando). Os clubes chegaram a acordo mas os jogadores recusaram a mudança, preferindo o primeiro o Sp. Braga e o segundo o FC Porto.
Foi também para o clube de Pinto da Costa que José Luís Moça diz ter intermediado a venda do lateral nigeriano Zaidu. “Sou agente do jogador e fiz uma parceria com a Gestifute para a transferência do jogador. Tenho uma relação de pai e filho com ele desde o tempo em que nos conhecemos no Mirandela”, diz.
Antes, e ao que o Observador apurou, José Luís Moça dizia ter uma procuração para negociar a saída do lateral esquerdo Grimaldo da Luz mediante uma verba pré-definida pelo Benfica para essa transação. O ex-diretor desportivo e agora agente de jogadores confirma que participou numa negociação com o Bayern de Munique “em 2018 ou 2019” mas não a pedido do clube de Luís Filipe Vieira.
“Um empresário alemão pediu-me ajuda porque queria saber os valores que o Benfica pedia pelo jogador para ser vendido para o Bayern de Munique. Estava em causa uma proposta de 35 milhões de euros. Falei com o presidente Luís Filipe Vieira e o irmão do Hoeness [ex-presidente do Bayern de Munique] veio a Lisboa para reunir com o Benfica. Não estive na reunião, mas o negócio acabou por não se fazer porque Vieira pediu demasiado dinheiro”, diz.
Os jogadores do Benfica que foram parar ao Santa Clara
O sistema de empréstimos do Benfica, FC Porto e Sporting sempre causou polémica devido às suspeitas de dependência económica (e consequentemente desportiva) dos clubes mais pequenos face aos três grandes do futebol português.
Depois de uma primeira limitação de três jogadores emprestados no máximo por cada equipa, a Assembleia Geral da Liga de Clubes aprovou, em dezembro de 2017, uma nova regra válida a partir da época 2018/19 em que cada clube só podia ceder a título temporário seis jogadores a equipas do mesmo escalão, um no máximo por clube, e receber três. A FIFA acrescentou ainda uma nova norma em março de 2020, a ser seguida em todas as janelas de transferências (no verão e no início do ano): qualquer jogador que seja contratado por um clube permanecer na equipa no mínimo 16 semanas (quatro meses), não podendo assim ser comprado e logo de seguida emprestado ou vendido. Caso essa regra não seja cumprida, o jogador será castigado pela entidade que tutela o futebol mundial.
Este contexto é importante para perceber os contornos das transferências de três jogadores do Benfica para o Santa Clara na época de 2018/19: o central César Martins, o lateral Patrick e o médio Martin Chrien que, no total, custaram ao clube encarnado cerca de 5,5 milhões de euros. Na época de 2018/19, os dois primeiros foram transferidos a custo zero para o Santa Clara, enquanto o terceiro foi emprestado.
No caso do central brasileiro César Martins, o Benfica só detinha 50% dos direitos económicos do passe do jogador, sendo que o remanescente titulado por uma sociedade comercial.
O DCIAP e a PJ terão recolhido indícios de que estes movimentos de transferência do Benfica para o Santa Clara demonstram uma alegada dependência económica para alcançar objetivos desportivos e por isso todos os documentos estão a ser analisados a pente fino. Nas buscas realizadas à SAD do Benfica, do Santa Clara e aos domicílios e escritórios de Rui Cordeiro (presidente da SAD do Santa Clara) e de Diogo Boa Alma (ex-administrador SAD do Santa Clara e hoje diretor desportivo do clube açoriano), no passado dia 9 de novembro, foi apreendida toda a documentação relacionada com aqueles três jogadores.
O contrato relacionado com a transferência do central Fábio Cardoso foi igualmente apreendido. Depois de um empréstimo ao Paços de Ferreira em 2014/15, Cardoso foi transferido pelo Benfica a custo zero na época seguinte para o Vitória de Setúbal, tendo os encarnados ficado com 50% dos direitos económicos do passe do jogador.
Após uma época em Setúbal em que participou em 27 jogos, Fábio Cardoso foi transferido na época de 2017/18 para os escoceses do Glasgow Rangers. Como o Benfica tinha 50% dos direitos económicos do passe, reclamou o pagamento de cerca de 807 mil euros (mais IVA). Em vez de euros, os encarnados vieram a receber a segunda prestação que os escoceses pagaram ao Setúbal a 16 de novembro de 2017 em libras, mais concretamente 750 mil libras.
Certo é que apesar de ter feito 18 jogos pelo Glasgow Rangers, Fábio Cardoso foi transferido a custo zero para o Santa Clara na época 2018/2019 depois dos escoceses terem anunciado a rescisão de contrato por mútuo acordo. Dai que a transferência esteja a ser escrutinada pelas autoridades devido a uma alegada influência do Benfica.
José Luís Moça e a influência do Benfica no Aves
Acresce a tudo isto outro facto: o jogador Patrick foi um dos jogadores envolvidos nas suspeitas de alegada corrupção desportiva no Marítimo-Benfica, jogo da penúltima jornada de 2015/16. O lateral brasileiro, que regressou ao seu país para jogar no Coritiba, foi igualmente referenciado nas buscas realizadas ao Vitória de Setúbal no âmbito do caso Mala Ciao, como tendo sido alegadamente aliciado para ganhar ao FC Porto.
Mais: será mesmo o jovem diretor desportivo José Luís Gonçalves Moça quem estará na origem do caso Mala Ciao. Este inquérito, ao qual a equipa especial do DCIAP e da PJ sempre deu muita atenção, ter-se-á iniciado com uma denúncia contra Moça e Luiz Andrade, o ex-presidente da SAD do Desportivo das Aves que representa os acionistas maioritários da Galaxy Believers. De acordo com o jornal Público, os dirigentes do Aves teriam alegadamente acordado com o Benfica uma alegada violação dos regulamentos da I Liga que proibiam que um clube emprestasse a outro do mesmo escalão mais de três jogadores na época de 2017/28 e apenas um jogador a partir da época de 2018/19.
Ora, só na época de 2017/18 transitaram nove jogadores do Benfica para o Aves. Sendo que, por exemplo, dois deles (Derley e Agra) foram emprestados pelo Benfica e quatro vieram do Benfica B. Dos nove jogadores no total, só três (Luís Farinã, Cristian Arango e Derley) tinham custado originalmente cerca de 7 milhões de euros aos encarnados mas nunca jogaram na Luz. Acresce que Farinã, Derley, Luquinhas, Carlos Ponck, André Ferreira e Ricardo Mangas saíram a custo zero ou em condições muito vantajosas naquelas duas épocas do Benfica para o Aves.
Na época de 2018/19, o croata Mato Milos saiu para o Aves sem nenhuma alegada contrapartida para o Benfica, o mesmo acontecendo com o jovem André Ferreira e o líbio Hamdou Elhouni — um jogador que saiu a custo zero depois do clube liderado por Luís Filipe Vieira ter comprado o passe ao Santa Clara por 500 mil euros.
De acordo com o Público, as transferências de jogadores do Benfica para o Aves alegadamente a custo zero, ainda que com os encarnados a ficarem quase sempre com uma parte dos direitos económicos, fez com que o Desportivo das Aves chegasse a ter uma dívida de dois milhões de euros na conta corrente aberta entre as duas sociedades anónimas desportivas. Por outro lado, as cláusulas dos contratos assinados entre o Benfica e o Aves eram, segundo aquele jornal, eram de tal forma leoninas que, na prática, os jogadores continuavam a ser dos encarnados — uma matéria polémica quando muitos deles defrontaram o Benfica com a camisola do Aves.
Estas suspeitas já tinham levado, a 25 de junho de 2018, a buscas da PJ nas instalações da SAD do Benfica, Aves, Paços de Ferreira e Vitória de Setúbal.
Em declarações ao Observador, Moça rejeita qualquer favorecimento. Confirma que negociou com Luís Filipe Vieira a ida de vários jogadores para o Aves, como Derley ou Ponck, mas nega ilegalidades. “Foi tudo claro. O contrato do Derley implicava pagar 400 mil euros ao Benfica, sendo que o investidor chinês [que na altura era acionista do Aves] dizia que podia vender o jogador para a China por dois ou três milhões. A história do Ponck também é simples: o presidente do Benfica só deixava sair o Ponck se nós levássemos dois ou três miúdos da equipa B com quem ele queria rescindir contrato. Foi assim contratamos também o Luqinhas e o Mangas”, garante. “Não conheço nenhum diretor que peça a um jogador emprestado para perder um jogo. Quem é do mundo do futebol sabe que isso não tem lógica nenhuma”, diz.
Comissões de Paulo Gonçalves sob investigação
Depois de ter sido acusado pelos crimes de corrupção ativa, oferta indevida de vantagem e 28 crimes de falsidade informática no caso e-toupeira, Paulo Gonçalves foi obrigado a sair do Benfica em setembro de 2018. Ex-diretor jurídico e homem muito próximo de Luís Filipe Vieira, a queda de Gonçalves só não arrastou a SAD do Benfica porque a juíza de instrução criminal, Ana Peres, entendeu que a acusação do Ministério Público contra aquela pessoa coletiva liderada por Vieira não estava suficientemente fundamentada, tendo pronunciado apenas Gonçalves e o funcionário judicial José Silva.
Toupeira acedeu mais de 600 vezes a processos criminais em segredo para ajudar o Benfica
Ao que o Observador apurou, o DCIAP e a PJ estão agora a investigar uma alegada comissão que terá sido paga a Paulo Gonçalves pela sua participação como intermediário na transferência do jogador Jhonder Cádiz do Vitória de Setúbal para o Benfica na época 2019/20. Desde que saiu do Benfica, Gonçalves fundou uma sociedade chamada Profute Consultoria que se dedica tanto a intermediação de transferências, como ao agenciamento de jogadores. E a sua antiga e profunda ligação a Luís Filipe Vieira não é um impedimento na participação em operações que tenham o Benfica como protagonista.
No caso de Cádiz, as autoridades estão a investigar a suspeita de que Paulo Gonçalves terá alegadamente recebido uma comissão, enquanto intermediário, superior ao valor recebido pelo clube onde jogava o venezuelano (Vitória de Setúbal).
A operação em causa, contudo, é complexa e foi recentemente explicada pelo Público — que teve acesso aos documentos desta contratação. O passe de Jhonder Cádiz pertencia ao Sanjoanense. Numa parceria entre aquele clube do Campeonato Nacional e o Vitória de Setúbal, Cádiz foi emprestado a 28 de julho de 2018 por dois anos ao sadinos.
Paulo Gonçalves entra em cena a 27 de março de 2019. Foi nessa data que, segundo o Público, a Porfute assinou com a direção do Vitória de Setúbal um contrato de intermediação para vender Cádiz para um destes quatro clubes interessados: os espanhóis do Albacete e do Alavés, os gregos do Olympiacos e o Benfica.
Após uma boa época de 2018/19, Cádiz foi comprado por 2 milhões e 750 mil euros pelos encarnados, segundo o relatório e contas do Benfica daquela época. Ou seja, 1 milhão e 250 mil euros acima da cláusula de rescisão.
Contactado pelo Observador, Paulo Gonçalves refuta que tenha recebido uma comissão superior ao valor pago pelo Benfica ao Setúbal e explica uma operação que nasceu do interesse do treinador Bruno Lage pelo jogador.
“Toda esta operação é legal e a minha empresa pagou todos os impostos que a lei impõe. O jogador era da Sanjoanense mas o Vitória de Setúbal (clube ao qual o jogador estava cedido) tinha três direitos:
- o direito de usufruiu dos direitos desportivos do atleta por duas épocas;
- e direito a 40% de uma futura transferência.”
Paulo Gonçalves — que, recorde-se estava a intermediar o negócio em nome do Setúbal — diz que o Benfica avaliou o jogador e a cedência desses três direitos em 2,5 milhões de euros.
Ou seja, e ainda de acordo com Gonçalves, o Benfica terá pago 1 milhão e 250 mil euros em duas tranches: uma para a Sanjoanense e outra para o Setúbal.
E porque razão o Benfica inscreveu 2 milhões e 750 mil euros no relatório e contas como o valor da operação? “Porque o agente do Cádiz, Juan Mata (pai do jogador do Manchester United com o mesmo nome), exigiu uma comissão de 250 mil euros do Benfica”, explica Paulo Gonçalves.
Quanto à sua própria comissão — o objeto da investigação das autoridades —, o ex-braço direito de Luís Filipe Vieira diz que a sua empresa recebeu “250 mil euros mais IVA do Vitória Setúbal. Foi esse o valor que acordei contratualmente: 10% do valor total da operação. Como a operação foi fechada em 2,5 milhões de euros, recebi 10% desse valor. A minha empresa emitiu a respetiva fatura e o IVA foi pago. Foi tudo feito dentro do que a lei impõe”, enfatiza.
Mais tarde, o Setúbal não veio a receber a 1 milhão e 250 mil euros mas sim cerca de 900 mil euros. Tudo porque o Benfica fez uma compensação de créditos de perto de 300 mil euros — valor que correspondende a uma dívida antiga que o Vitória tinha para com o Benfica.
É preciso dizer que a contratação de Jhonder Cádiz já fez correr muita tinta. Por ser mais um exemplo de um jogador de qualidade suspeita para jogar na equipa principal do Benfica, Luís Filipe Vieira sentiu necessidade de afirmar numa Assembleia-Geral do Benfica em junho de 2019 que “há uma estratégia para se ter feito isso… e garanto-vos que é para benefício do Benfica”, assegurou então.
Já António Carraça, ex-diretor do Benfica entre 2011 e 2013, afirmou no Canal 11 que “toda a gente sabe que o Cádiz foi, digamos, um gesto de solidariedade para com o Vitória de Setúbal, no sentido de não lhe acontecer o que lhe aconteceu agora [baixar ao Campeonato de Portugal, terceiro escalão do futebol português, por não cumprir os critérios financeiros da Liga].”
Refira-se igualmente, tal como o Observador já tinha noticiado em junho de 2018, que as autoridades estão igualmente a investigar o empréstimo do jogador brasileiro Luís Filipe do clube da Luz para os sadinos. Contratado pelo Benfica em 2014, o defesa é mais um dos que nunca chegou a vestir a camisola benfiquista em jogos oficiais, sendo sucessivamente emprestado aos clubes brasileiros Joinville, Paysandu, Rio Claro e Oeste.
Um jogo para gravar e mais tarde recordar. Por várias razões (a crónica do V. Setúbal-Benfica)
No mercado de inverno de 2016/2017, o Benfica decidiu emprestá-lo depois ao Vitória de Setúbal. Luís Filipe rescindiu-lhe o contrato com o clube da Luz e ele assinou pelos sadinos até 2019. Ao minuto 90 do jogo entre Vitória de Setúbal e Benfica, o jogador brasileiro entrou e acabou por provocar um penálti polémico a favor do Benfica, ao derrubar o argentino Sálvio na grande área do V. Setúbal. O Benfica ganhou 2-1 esse jogo numa fase decisiva da época e ficou com quatro pontos de vantagem e mais um jogo que o FC Porto.
A contratação de um jogador em final de contrato que custou 2,9 milhões
Desde que entrou no Benfica em 2007, vindo do Boavista de João Loureiro onde esteve seis anos até 2006 como diretor-geral e depois de gorada a possibilidade de ser diretor executivo da Liga de Clubes então presidida por Hermínio Loureiro (antes, entre 1997 e 1999, passou pelo FC Porto), Paulo Gonçalves rapidamente se transformou no homem forte de Luís Filipe Vieira para as transferências. Não há um contrato de compra, venda ou empréstimo assinado por Vieira que não tenha sido escrutinado por ele. O que faz com que o ex-diretor jurídico benfiquista seja um dos homens que mais segredos possui sobre os mandatos do presidente do Benfica.
Uma das contratações que passou pelo visto jurídico de Paulo Gonçalves foi a de Marcelo Hermes. Em final de contrato com o Grémio de Porto Alegre, o lateral esquerdo foi contratado no mercado de inverno da época 2016/17 por 2,9 milhões de euros que terão sido pagos ao clube da capital do estado do Rio Grande do Sul. A quantia paga, que não consta dos relatórios e contas do Benfica nem foi comunicada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, não deixa de surpreender quando o jogador estava a pouco menos de um mês do final do contrato e as notícias da época referem que Hermes vinha para a Luz a custo zero.
O DCIAP e a PJ consideram que existem indícios de que a contratação foi concretizada em circunstâncias anómalas, o que levou as autoridades a apreenderem o contrato e restante documentação nas buscas que realizaram no Estádio da Luz. Na época em que Hermes foi contratado, o site transfermarekt apenas avaliava o jogador em 500 mil euros — quase seis vezes menos do que o valor pago pelo Benfica.
Hermes apenas fez um jogo (45 minutos) pela equipa principal do Benfica na época 2016/17, tendo sido posteriormente emprestado ao Cruzeiro e a outros clubes brasileiros. Em janeiro de 2019, a imprensa brasileira noticiou uma parceira entre o Benfica e o Cruzeiro, segundo a qual Hermes seria transferido para o clube de Minas Gerais a custo zero com os dois clubes a partilharem em igual proporção os direitos económicos do passe do jogador. Esta época, o lateral transferiu-se a custo zero para o Marítimo — transferência que teve de merecer a concordância do clube liderado por Luís Filipe Vieira.
As compras de Chiquinho, Alfa Semedo e Pedro Nuno
Além do Santa Clara e do Aves, há também a situação do Moreirense e da Académica. O Observador não conseguiu confirmar se a Briosa e o clube minhoto também estão a ser investigados no contexto da dependência económica/desportiva face ao Benfica. Contudo, a equipa especial de investigação do DCIAP e da PJ também estão a analisar os contratos dos jogadores Chiquinho, Alfa Semedo e Pedro Nuno, tendo os mesmos sido apreendidos nas buscas realizadas ao clube de Coimbra e de Moreira de Cónegos.
Por exemplo, o médio Pedro Nuno foi contratado à Académica na época de 2016/2017 por um valor entre 400 e 500 mil euros, tendo sido cedido ao Tondela sem nunca jogar no Benfica. Fez ano e meio em Tondela e foi cedido ao Moreirense a título definitivo em 2018/19 sem custos.
Já as situações de Chiquinho e Alfa Semedo são mais complexas.
No caso do primeiro jogador, que já fez 44 jogos pelo Benfica, começou por ser adquirido pela Académica em janeiro de 2018 a um clube croata por cerca de 150 mil euros. Fez 37 jogos na II Liga e 4 na Taça de Portugal em seis meses e foi vendido ao Benfica por 600 mil euros. Na época de 2018/19 foi cedido a custo zero ao Moreirense da I Liga onde fez 38 jogos, 10 golos e 8 assistências. Um ano depois voltou a ser comprado pelo Benfica por cerca de 5,25 milhões de euros, segundo o site transfermaket.
Já o guineense Alfa Semedo é um produto da formação do Benfica. Começou por sair para o Moreirense a custo zero na época 2017/18 depois de ter sido emprestado ao Vilafranquense na época anterior. Fez uma boa época, com 34 jogos e três golos, e foi adquirido pelos encarnados por cerca de 2,5 milhões de euros quando o seu valor de mercado, segundo o Transfermarket, seria apenas de 1,5 milhões. No Benfica ainda fez 16 jogos em 2018/19, mas tem sido emprestado a diversos clubes ingleses da II Liga desde então.
Boaventura suspeito de ter aliciado jogadores do Rio Ave e do Marítimo em 2015/2016
No seguimento das suspeitas de aliciamento de jogadores do Rio Ave e do Marítimo antes dos jogos decisivos com o Benfica a contar para a época de 2015/16, o DCIAP e a PJ realizaram também buscas domiciliárias ao agente César Boaventura, em Fão e em Samora Correia, em que terá sido apreendida uma cópia da caixa de correio eletrónica do empresário. Apesar de este caso ter começado a ser falado na imprensa ainda sem nomes em dezembro de 2017, todos os desenvolvimentos levaram a que houvesse novas diligências apontando para Boaventura.
Romain Salin, ex-guarda-redes do Marítimo, confirmou à PJ que terá sido abordado por César Boaventura de forma inusitada. Ou seja, em plena via pública e na véspera do jogo com o Benfica no Funchal. Segundo o depoimento de Salin, que joga atualmente no clube francês Rennes, Boaventura ter-lhe-á alegadamente prometido uma transferência para um clube estrangeiro como contrapartida por um alegado favorecimento ao Benfica.
Ao que o Observador apurou, Cássio, guarda-redes agora de 40 anos que joga desde 2018 nos sauditas do Al Taawon, já depôs também no inquérito criminal contra César Boaventura, tendo confirmado que recebeu uma alegada oferta por parte do agente no valor de 60 mil euros para facilitar uma vitória dos encarnados no jogo que o Rio Ave disputou com o Benfica na época de 2015/16.
Também o defesa Lionn, que esteve na época passada no Famalicão depois de ter passado pelo Desp. Chaves e que está agora sem clube, apontou o dedo a Boaventura perante os inspetores da PJ, confirmou o Observador junto de fonte conhecedora do processo: “Ele [Boaventura] disse-me que o presidente do Benfica queria pagar-me 80 mil euros para eu levar um amarelo na primeira parte, fazer um penálti e ser expulso na segunda parte”, terão registado os agentes responsáveis pela investigação, segundo esta mesma fonte.
Já Marcelo, central brasileiro que passou pelo Sporting e pelos EUA e que atualmente joga no P. Ferreira, terá confirmado igualmente que também foi aliciado pelo agente para facilitar a vitória do Benfica, tendo-lhe Boaventura alegadamente perguntando algo como: “Não quer fazer um penálti?”, contou o mesmo conhecedor da investigação.
Ouvido também no âmbito do inquérito, Pedro Martins, hoje no Olympiacos mas que era treinador do Rio Ave em 2015/16, corroborou as declarações dos jogadores, nomeadamente de Lionn e Marcelo, que lhe relataram antes do jogo o que tinha acontecido e que terão também reportado às autoridades. No entanto, e para se perceber o filme desde início, é preciso avançar em termos temporais até 2017 e a um jogo que nada teve a ver com esse.
O Observador tentou contactar César Boaventura mas o empresário não respondeu até ao momento. Antes, logo no dia das mais recentes buscas, o agente tinha deixado um comentário na sua página do Facebook.
“Confirmo que foram efetuadas buscas na minha residência, com um agradecimento enorme da minha parte.
– Um processo que reporta de 2015 a 2017, teve a utilidade apenas para me ajudar a limpar o que já não me fazia falta para por no lixo;
– Um exagerado orgulho da minha parte, saber que a montanha pariu um rato, e uma vergonha para as denúncias anónimas que nem constituído arguido fui, numas buscas que demoraram 1h;
– Excelente prestação de serviço à opinião pública onde se pode provar que que não existe nada das invenções a que fui sujeito nos últimos anos;
Colaborei durante uma hora com profissionais de elevado nível e que no final levaram duas fotografias que provam a minha ligação à corrupção e ao Benfica, as quais deixo aqui e das quais tenho muito orgulho por terem sido oferecidas por um amigo de infância;
Triste pela frustração de um elemento presente, por não encontrar corrupção numa casa com dignidade e honestidade.”
PJ investiga Rio Ave-Benfica de 2015/16 por suspeitas de viciação de resultado
A 6 de fevereiro desse ano, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa suspendeu à tarde as apostas no Placard para o jogo Feirense-Rio Ave, marcado para essa noite, numa decisão que partiu do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos e que foi seguida por outras casas de apostas, estando em causa suspeitas de combinação de resultados. O dinheiro foi devolvido aos apostadores, como está previsto nestes casos, mas registaram-se volumes atípicos de transações. Menos de 48 horas depois, o Ministério Público decidiu abrir um inquérito para apurar o que se tinha passado. Ficou a cargo do Departamento de de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Aveiro, na secção de Santa Maria da Feira.
Segundo noticiou mais tarde o Expresso, a investigação partiu do pressuposto que, havendo aqui uma suspeita de manipulação de resultados, seria mais provável que as abordagens tivessem sido feitas à equipa para perder o jogo (que perderia mesmo, por 2-1) e aos jogadores do setor recuado. Assim, o guarda-redes (Cássio) e os defesas (Nadjack, Marcelo, Roderick Miranda e Rafa Soares) foram colocados sob escuta e, na semana que antecedeu o Rio Ave-Benfica, a 7 de maio, Cássio recebeu uma chamada de alguém. As citações foram reproduzidas pelo jornal. “Precisava de te dar uma palavrinha, mas pessoalmente, porque os telemóveis nascem com ouvidos”, dizia a pessoa do outro lado. “Se isto é de Lisboa, nem vale a pena conversar. Não quero saber”, respondeu o brasileiro. “Sim, por acaso uma parte é, a outra não”, ouviu.
Caso Rio Ave. Identificados quatro jogadores que terão sido pagos para perder jogo
Mais tarde, falando com um amigo, Cássio falou dessa chamada. “Lembra aquilo que você me perguntou? Teve aqui um gajo que me tentou fazer o mesmo outra vez”. “É o mesmo da outra vez? Lá de Paços de Ferreira?”, questionou o amigo. “Não, este é outro”, disse Cássio. Segundo o jornal, citando fontes judiciais, o “mesmo da outra vez” era César Boaventura. Mais: Nelson Monte, jogador do Rio Ave, terá confirmado que o empresário esteve nas instalações do Rio Ave e tentou aliciar Marcelo, que de acordo com as autoridades tinha mensagens de WhatsApp trocadas com o agente. “Está aqui um gajo do Porto a dizer que eu te aliciei para a viciação de resultados. Diz que te queixaste”, escreveu Boaventura. “Nunca comentei com ninguém. Os únicos que sabem são o Cássio e o Lionn”, respondeu o defesa. “Apaga as mensagens, amigo. Apaga todas”, terá pedido o empresário.
Mais tarde, outro caso paralelo voltou a colocar o Rio Ave-Benfica de 2015/16 em foco. No seguimento da goleada do FC Porto frente aos vila-condenses no Dragão por 5-0, a 18 de fevereiro de 2018, César Boaventura escreveu um post no Facebook onde insinuava, de acordo com a análise de Cássio, que o guarda-redes tinha facilitado de forma propositada. O jogador da equipa de Vila do Conde avançou com um processo por difamação ao agente, tendo chamado várias testemunhas de defesa. Uma delas foi Lionn. “César Boaventura tentou comprar-me antes do jogo contra o Benfica. A mim, ao Cássio e ao Marcelo”, disse o defesa no Tribunal de Esposende, segundo declarações a que o Expresso também teve acesso e também publicou. “Ele [Cássio] ficou muito abalado e nos jogos seguintes, em Guimarães e Braga, era sempre motivo de acusações. Os adeptos abanavam notas e chamavam-lhe corrupto, insinuando que se tinha vendido ao FC Porto. Não acredito, é uma pessoa correta”, disse Marcelo, duas semanas depois.
Lionn diz em tribunal que foi vítima de aliciamento por empresário antes do Rio Ave-Benfica
Na penúltima semana de abril de 2019, as duas partes chegaram a um acordo e Cássio desistiu da queixa. Nesse documento, a que o Record teve acesso, Boaventura “reconhece que nunca pretendeu ofender o assistente Cássio ou pôr em causa o seu profissionalismo e a sua honradez, tendo a certeza que o Cássio jamais aceitaria receber dinheiro ou outra contrapartida para prejudicar a sua equipa”, reconhecendo no guarda-redes brasileiro “uma pessoa muito séria”. Em paralelo, o agente “compromete-se a não voltar a falar dele publicamente”. Já o guarda-redes “aceita as desculpas e explicações e desiste da queixa e do processo de indemnização cível”. Nada nesse documento faz alusão ao caso que ainda decorre sobre a investigação às abordagens antes do Rio Ave-Benfica.
Existe pelo menos mais um jogo a ser investigado em relação a essa época de 21015/16, o Marítimo-Benfica. De acordo com as informações recolhidas pelo Observador, Romain Salin, guarda-redes dos insulares (que passou depois pelo Guingamp e pelo Sporting antes de chegar ao atual clube, o Rennes), relatou às autoridades que foi abordado “de forma inusitada na via pública” por César Boaventura, na véspera dessa partida a 8 de maio de 2016 a contar para a 33.ª e penúltima jornada do Campeonato, com uma proposta de transferência para um clube estrangeiro, a qual recusou de imediato, “admitindo a existência de segundas intenções na abordagem”.
Empresário ligado ao Benfica suspeito de tentar aliciar quatro jogadores do Marítimo
Dois anos depois, o Correio da Manhã revelou que esse encontro estava a ser investigado por alegada tentativa de aliciamento de um empresário com ligações ao Benfica a quatro jogadores do Marítimo, sendo um deles o lateral Patrick, que mais tarde viria a assinar pelos encarnados antes de ser cedido ao Vitória de Setúbal e posteriormente sair para o Santa Clara. Nesse mesmo dia, numa reportagem da SIC feita na Madeira que passou no Jornal da Noite, dois jogadores que preferiram manter o anonimato falaram sobre essas alegadas abordagens que tinham sido feitas por alguns empresários antes do jogo em causa.
Na reconstituição que é feita, pelo canal de televisão, de um encontro curto de dois/três minutos no hotel Pestana Casino Parque, dois dias antes do jogo, um intermediário diz a um jogador “Estamos aqui pelo Benfica, para não rematares, não jogares como é habitual, e em troca damos 40 mil euros”. Perante a recusa, é feito o pedido para que a conversa não seja comentada porque “o Benfica é muito grande”.
Jogadores do Marítimo falam na primeira pessoa sobre alegado aliciamento do Benfica
Outro jogador diz ter sido alegadamente abordado pelo empresário César Boaventura para que “o jogo corresse bem” aos encarnados, havendo como contrapartida um contrato muito melhor na época seguinte com as águias. Um dos jogadores falou também sob anonimato sobre um incentivo extra do Sporting, que corria contra o clube da Luz na luta pelo título, de 400 mil euros para o plantel, o que daria cerca de 13 mil euros por jogador (algo legal, porque só a partir de 2017 passou a ser crime aquilo que se denominou no mundo do futebol por “jogo da mala”).
“Vi mas não vou dizer nomes porque não posso porque não estaria a proteger-me a mim… Paulo Gonçalves, fico-me por aqui”, disse esse mesmo jogador que falou sob anonimato à SIC na reportagem, respondendo à pergunta se teria visto coisas estranhas neste âmbito de pessoas ligadas de forma direta ao Benfica.