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President Biden Signs Executive Order On Economy
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O Presidente dos EUA, Joe Biden, segura um semicondutor antes de assinar uma ordem executiva para acelerar o fabrico de semicondutores

Getty Images

O Presidente dos EUA, Joe Biden, segura um semicondutor antes de assinar uma ordem executiva para acelerar o fabrico de semicondutores

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Em Portugal até a Autoeuropa parou. Porque é que há falta de chips em todo o mundo?

Uma guerra comercial, uma pandemia, secas e até fogos estão a criar uma rutura mundial no mercado do semicondutores. Problema? A procura destes componentes está em alta e as falhas já afetam Portugal.

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Smartphones, carros, computadores pessoais, consolas de jogos ou até algumas escovas de dentes mais tecnológicas. Os semicondutores estão presentes em muitos dos produtos que usamos no dia a dia. Contudo, há uma escassez global deste componente devido a uma “tempestade perfeita”, como lhe chama alguns analistas: uma guerra comercial sem fim à vista entre os EUA e a China, a pandemia de Covid-19, secas em Taiwan e até um incêndio no Japão. Tudo isto aliado a um ano em que a procura por este produto está a bater recordes.

Apesar de a maioria dos semicondutores serem desenvolvidos na Ásia, as consequências deste assunto não estão assim tão longe. Esta semana, a Autoeuropa — que, em fevereiro, dizia que não ia ser afetada por este problema — suspendeu os trabalhos por ter falta de semicondutores. Em sete respostas fique a par deste problema. Algo que só poderá fazer graças a vários aparelhos que dependem de semicondutores para funcionar — mesmo que imprima o artigo, precisou de uma impressora para o fazer. Como dissemos, este problema não está assim tão longe.

Para começar, o que é um semicondutor?

Semicondutor é o nome dado aos materiais que permitem transferir eletricidade entre um condutor elétrico, como o metal ou cobre, e um isolante não metal. Esta é a definição mais básica — tão básica que a encontramos no dicionário online da Priberam. Contudo, e não entrando em demasiados pormenores técnicos, o nome semicondutor — semiconductor, em inglês — é também utilizado de forma lata para definir microchips ou processadores. Isto acontece porque os materiais semicondutores são a base para se fazer processadores. Os processadores são dos equipamentos mais cruciais em qualquer máquina: funcionam como o cérebro desta, permitindo gerir e direcionar o fluxo de dados.

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Semi Conductor Production

Funcionários da Jiejie Microelectronics, fabricante de semicondutores, em Nantong, no leste da China, na produção deste componente. A China tem investido para ter um mercado próprio de semicondutores

Barcroft Media via Getty Images

A título de curiosidade, o silício é componente químico mais utilizado para semicondutores. Silício, em inglês, diz-se silicon. Este elemento dá nome a Silicon Valley [Vale do Silício, em Português]. Não é por acaso que esta área no noroeste dos EUA, em São Francisco, tem este nome e é o berço e atual capital da indústria tecnológica. A zona foi assim designada devido à quantidade de empresas de processadores que surgiram nesta área nos anos de 1960. Ou seja, a sede de maior parte das empresas que pode pode pensar — Facebook, Twitter, Google, entre muitas outras –, está, logo pelo local, associada a semcondutores. Por outras palavras, já percebeu a importância que os semicondutores têm para a indústria tecnológica.

O que é que está a causar a escassez de semicondutores?

A resposta a esta pergunta não é fácil. Não há um motivo específico para a falta de processadores. Há um conjunto de problemas que criaram esta falha de mercado a nível global, como explica a New Scientist. Contudo, como tudo o que tem acontecido no último ano, a pandemia de Covid-19 pode ter aqui uma grande fatia de responsabilidade.

Com a população mundial a confinar, as pessoas começaram a comprar menos carros. Atualmente, os carros, principalmente os modelos elétricos, precisam de chips semicondutores para funcionar. Consequentemente, os fabricantes de processadores reduziram o volume destes componentes que faziam para carros e passaram a fazer para computadores, smartphones ou consolas de jogos. Com o mundo fechado em casa, foi o que se começou a comprar.

Isto mostra como é que a economia funciona. Tanto que, como revelou no início do mês a associação internacional de fabricantes de semicondutores, a SIA (Semiconductor Industry Association), as vendas de janeiro de 2021 aumentaram 13,2% em relação a janeiro de 2020, quando os impactos da pandemia ainda não eram sentidos. Contudo, com vacinas e mais conhecimento sobre a Covid-19, os fabricantes de automóveis estão a prever que vão vender mais carros e começaram a precisar de mais semicondutores.

Japanese video gaming system brand created and owned by Sony

A Sony tem tido dificuldade em fabricar o número que pretendia de unidades da sua nova consola, a PS5, devido à falta de semicontudores

SOPA Images/LightRocket via Gett

Este problema de procura e oferta teve outros constrangimentos para piorar a situação. A maioria dos semicondutores são feitos na República da China (Taiwan) — não confundir esta república com a República Popular da China, que não reconhece Taiwan como uma nação independente e está numa guerra comercial com os Estados Unidos da América desde 2018. Devido a este conflito diplomático, inúmeras empresas tecnológicas do Ocidente passaram a estar proibidas de negociar com empresas chinesas — tudo ganhou mais visibilidade com o embargo à Huawei. Isto fez com que a China começasse a apostar neste mercado para não estar dependente de empresas externas. Qual é o problema? Reduziu-se a necessidade de Taiwan fazer tantos semicondutores por passar a ter mais concorrência.

A isto, junta-se o facto de a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), que é a maior fabricante mundial de componentes semicondutores, estar a ter problemas em criar estas peças. Para as fazer precisa de 156 toneladas de água diariamente. Por ironia do destino, numa altura em que a procura subiu, há secas em Taiwan. Isto é um problema grande: no final de fevereiro, a Bloomberg revelou que a TSMC estava a recorrer a camiões de água só para poder continuar a fazer semicondutores.

Se, mesmo com isto tudo não foi suficiente, achar que o problema não está justificado, falamos de mais mais dois fatores. No resto do mundo, outras fabricantes também não têm tido sorte. Em novembro, no Japão, houve um incêndio numa fábrica de semicondutores da AKM. No final de janeiro, em comunicado, a empresa deixava ainda o aviso: “Não sabemos quando vamos reabrir”. Lembrar que, em 2011, devido ao tsumani e terramoto que afetou o Japão, 21% da produção de semicondutores ficou ameaçada, como contou na altura o The New York Times.

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Já no Texas, nos EUA, a NXP Semiconductors, uma das maiores empresas do setor, viu a sua fábrica a fechar durante um mês devido aos cortes de energias provocados pelo tempo frio anormal deste inverno nesse estado. Em suma, quem está neste mercado não tem tido meses fáceis além da pandemia.

E isto é mau porquê?

Como explicámos na resposta acima, o cenário atual é a tal “tempestade perfeita” para as fabricantes terem pouca oferta de componentes semicondutores. Alia-se a isto o facto de, nos dias que correm, haver um aumento da procura destas peças. A procura não decorre só devido ao aumento da venda de equipamentos tecnológicos que a pandemia provocou, como computadores portáteis. É principalmente por as fabricantes de automóveis quererem recuperar a produção e não o conseguirem fazer devido a esta peça bem pequenina, literalmente.

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Isto afeta a indústria automóvel, mas também afeta todas as empresas que dependem deste componente. A tecnológica sul-coreana Samsung, por exemplo, anunciou na semana passada que a falta de semicondutores pode afetar todos os produtos que vende. Esta empresa, além de fabricar microchips– mais de metade dos que produz é para consumo interno, diz a Mirabaud , faz inúmeros aparelhos que dependem destes, como máquinas de lavar a roupa, televisões ou smartphones.

Como conta a Bloomberg, a Samsung foi das primeiras grandes empresas (que operam fora do mercado automóvel) a afirmar que vai continuar a ter problemas devido à falta deste produto. Contudo, não foi a única. A Sony e a Microsoft, que lançaram no final de 2020 novas consolas de jogos, não têm conseguido fabricar as quantidades que queriam devido a esta falha, como contou o Financial Times em fevereiro. Também em 2020, a Apple foi forçada a adiar o lançamento do iPhone 12 devido a esta escassez.

Os líderes mundiais estão a fazer o quê para resolver isto?

Na prática, o que podem. mas isso poderá não ser o suficiente para resolver rapidamente o problema. Se esta rutura no stock de componentes semicondutores mostra alguma coisa é que os países que precisam destes equipamentos estão demasiado dependentes de outras nações. E o que é que acontece nestas situações em economia? Tentam tornar-se independentes.

Quanto ao caso chinês, já o referimos: devido à guerra comercial, a China tem investido fortemente na criação de fábricas deste componentes no país. Contudo, do outro lado da barricada, estão os EUA. Apesar de fabricarem estes materiais, estão muito dependentes de Taiwan, do Japão e da Coreia do Sul. Por isso, no final de fevereiro, o Presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma ordem executiva para se investir 37 mil milhões de dólares (cerca de 31 mil milhões de euros) na criação de fábricas de semicondutores no país. “Estou a ordenar que responsáveis sénior da minha administração trabalhem com líderes industriais para identificar soluções para o défice de semicondutores”, disse ao assinar a ordem executiva.

"Estou a ordenar que responsáveis sénior da minha administração trabalhem com líderes industriais para identificar soluções para o deficit de semicondutores”, disse Joe Biden

Não obstante, os EUA não são o único país com uma indústria automóvel ou tecnológica ameaçadas por este problema. Os Estados-membros da União Europeia estão também a ser fortemente afetados. Ainda esta segunda-feira, o ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, presidiu ao Conselho de Competitividade no âmbito da Presidência portuguesa do Conselho da UE. Esta reunião teve como tema principal esta rutura. Como explicou o político: “Basicamente, vamos tentar discutir com os Estados-membros e com a presença da Comissão [Europeia] o que é que a Europa deve fazer para reduzir a sua dependência estratégica relativamente a componentes e matérias-primas, e procurar também assegurar a resiliência do nosso continente perante disrupções que possam ocorrer nas cadeias de valor”.

Presidência da UE. Siza Vieira espera “debate importante” sobre redução da dependência estratégica da economia

Ainda na sexta-feira, numa conferência de imprensa no âmbito do Dia Digital da UE, Siza Vieira dizia aos jornalistas: “Os desafios para construir uma economia mais resiliente são garantir que temos acesso e podemos produzir componentes sensíveis como semicondutores“. O ministro disse também que um dos objetivos do Conselho da União Europeia é “aumentar a nossa capacidade de produção de semicondutores”. Além disso, referiu: “Esta escassez mostrou que os cidadãos europeus estão dependentes de uma cadeia de produção e queremos garantir que estamos mais independentes sem que sejamos postos em causa caso exista algo com uma pandemia ou outra calamidade”.

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E as empresas?

As empresas estão a fazer o que podem: as que fazem semicondutores estão a tentar aumentar a capacidade de produção. As que dependem deles, estão a ajustar as linhas de produção, chegando mesmo a cessar operações. A Honda e a Volkswagen anunciaram na semana passada que iam suspender o trabalho em fábricas, principalmente nos EUA, como noticiou a CNN. A Ford, a Chrysler, a GM e a Nissan têm optado por tomar as mesmas medidas nos últimos meses.

Porque é que a Autoeuropa é chamada para o meio disto?

A Volkswagen Autoeuropa, em Palmela, é uma das maiores fábricas da Volkswagen em todo o mundo. No final de fevereiro, como noticiou o Eco, uma fonte oficial da fábrica dizia: “O volume planeado e produzido pela Volkswagen Autoeuropa está a correr sem qualquer interrupção na cadeia de fornecimento“. Porém, na semana passada a empresa anunciou ia suspender a produção de 22 a 28 de março devido à “escassez de semicondutores”.

Falta de semicondutores leva Autoeuropa a suspender produção de 22 a 28 de março

Tendo em conta que esta é empresa cujo o produto tem representado mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) português, esta suspensão fez soar alarmes. Como disse a empresa, esta suspensão vai traduzir-se na “perda de 5.700 automóveis”. Desde o final de 2020, quando esta escassez de semicondutores começou a mostrar-se problemática, que a Volskwagen tem um grupo de trabalho só a lidar com esta situação. Mesmo assim, convém lembrar: isto acontece também porque a procura aumentou. No mesmo comunicado, a fábrica de Palmela afirma que tem operado na sua máxima capacidade desde o início do ano.

Funcionários da Autoeuropa trabalham na construção do Volkswagen T-Roc na fábrica da Autoeuropa, em Palmela, 13 de maio de 2020. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

A Autoeuropa tem representado mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) Português nos últimos anos. A fábrica depende dos semicondutores

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Aliado a esta suspensão está o receio sobre se os cinco mil despedimentos anunciados recentemente pela Volkswagen vão afetar Portugal. Como explica o Expresso esta segunda-feira, a resposta é não. Estes despedimentos estão associados à aposta do grupo alemão na eletrificação da sua frota. Como já referimos, uma das alterações que os carros elétricos têm trazido é a necessidade crescente por parte das indústria automóvel em precisar de mais semicondutores.

Pelo menos para já, a fábrica de Palmela continuará a apostar nos motores tradicionais. No entanto, isto não significa que não precisará de semicondutores. Os carros a gasóleo e a gasolina têm utilizado cada vez mais estes componentes. Além disso, Portugal pode ser uma das apostas do grupo para uma futura fábrica de baterias do grupo, ficando mais dependente dos semicondutores.

Ao menos sabe-se quando é que esta rutura de semicondutores vai durar?

A resposta é um pouco igual à da pergunta que incide sobre o tempo que ainda pode durar a pandemia de Covid-19: muito está a ser feito, mas não se consegue resolver o problema de um momento para o outro.

Como explicou Neil Campling, analista de tecnologia do grupo de investimento Mirabaud, ao The Guardian, pode demorar até dois anos para as fábricas de semicondutores conseguirem corresponder à procura. Até lá, “isto vai afetar todas as pessoas”. E continua: “Esperem que os carros custem mais e os telefones também. O iPhone deste ano não será mais barato do que no ano passado”.

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