É certo que já todos conhecemos a qualidade e popularidade dos vinhos da região de Setúbal, mas há um mundo por descobrir para além dos brindes à mesa e da garrafa de moscatel que oferecemos no Natal aos nossos tios, (que já agora, é uma excelente ideia).

Como diria Bocage, “Amores vêm e vão, mas o verdadeiro amor nunca sai do coração”.

Cada garrafa é uma história de amor e um capítulo repleto de memórias e tradições que se entrelaçam com a evolução da viticultura na Península de Setúbal. São séculos de expertise, de saberes transmitidos de geração em geração, resultando em vinhos que não são apenas bebidas, mas sim testemunhos engarrafados de uma herança vinícola rica e apaixonante.

Imagine-se numa viagem sensorial pelas vinhas de Setúbal, onde cada uva é uma porta aberta para um universo de singularidades e características únicas. Neste artigo, convidamo-lo a embarcar nesta autêntica prova de vinhos da I.G. Península de Setúbal, D.O. Palmela e D.O. Setúbal, mergulhando naquilo que os torna tão excecionalmente únicos e desvendando os segredos por trás do copo.

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Os mais céticos e locais poderão até dizer “apá sóce, nã me moias” na gíria local, mas, em Setúbal, beber vinho é uma experiência que desperta os sentidos, tal e qual como despertava os de Bocage ou Luísa Todi e provavelmente continua a despertar no palato de vários setubalenses ilustres como Aurea, A Garota Não, Bruno Vieira Amaral, José Mourinho, Toy ou Bárbara Bandeira, Slow J, Manuel Marques, Paulo Rocha, Viriato Soromenho Marques, entre outros.

A magia da Península de Setúbal

A Região da Península Setúbal tem uma área total de cerca de 8.500ha de vinhas distribuídas por 13 concelhos que compõem o Distrito de Setúbal, sendo a maior incidência em Palmela, Montijo, Setúbal, Grândola e Alcácer do Sal.

Todo este extenso território tem um clima mediterrânico que, com o tempo quente e seco no verão e frio e chuvoso no inverno, permite a obtenção de vinhos carismáticos, com personalidade forte e uma singular relação entre qualidade e preço. Mas é a abundante proximidade com a água que traz a estes vinhos o alicerce da sua diferença: próximo do oceano Atlântico e de dois enormes “lagos”, os estuários do Tejo e do Sado, e, o segredo mais bem escondido, o lençol freático (as chamadas águas subterrâneas) a pouca profundidade que “alimentam” as videiras de forma natural.

Os solos característicos, desde os arenosos até os argilo-calcários, combinados com a influência da Serra da Arrábida e os ares do Oceano Atlântico conferem esta identidade distinta aos vinhos de Setúbal e Palmela, fazendo deste unique terroir o cenário onde se desenrola a magia por trás dos vinhos. Tudo isto é um autêntico testemunho da íntima ligação entre solo, clima e tradição, reconhecido e aclamado mundialmente.

E se por um lado, o terroir cria o ambiente romântico para tudo isto, por outro, o enólogo é um autêntico cúpido na arte do amor a Baco.

Não se trata apenas de uvas cultivadas. É um romance entre a terra e as videiras, onde a influência do terroir se torna o código genético destes vinhos, através das mais diversas castas como Castelão, Arinto, Syrah, Fernão Pires ou a rainha das castas: Moscatel de Setúbal – acariciada por um sol generoso e por noites frescas, amadurecendo para dar vida a vinhos que são verdadeiras joias engarrafadas.

O enólogo torna-se um artista que tem de saber ler a linguagem da terra e traduzi-la para o paladar. É um ballet meticuloso entre a natureza e a intervenção humana, onde a escolha do momento exato da colheita, o cuidado na vinificação e o envelhecimento cuidadoso são sinónimos de qualidade e autenticidade.

No fundo, é um casamento perfeito entre a terra e o microclima costeiro e ribeirinho, entre os rios  e o Atlântico, que confere a estas uvas uma personalidade ímpar, dando aos vinhos da Península de Setúbal uma assinatura inconfundível.

Por isso, lembre-se: da próxima vez que brindar “à babuje”, como dizem os setubalenses, saiba que não está apenas a saborear um belo de um vinho. Está a brindar à magia que acontece quando a natureza e a arte se encontram, transformando belas uvas em vinhos que capturam a essência da Península de Setúbal em cada garrafa.