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Manuel em Cracóvia, nos Jogos Europeus, acompanhado por dois dos três filhos
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Manuel em Cracóvia, nos Jogos Europeus, acompanhado por dois dos três filhos

Adelino Meireles

Manuel em Cracóvia, nos Jogos Europeus, acompanhado por dois dos três filhos

Adelino Meireles

Fundar a "Alqateia", ver um Mundial com a licença parental e os famosos chapéus: o adepto que vai ao fim do mundo pelos Lobos

Emigrante no Luxemburgo, Manuel de Mascarenhas Gaivão acompanha a Seleção Nacional para todo o lado. Foi a Singapura, Dubai ou Hong Kong só para ver jogos de râguebi e promete não ficar por aqui.

Se o indivíduo de quem aqui se fala lhe parece familiar, é porque provavelmente o viu na televisão a chorar após a vitória de Portugal contra Fiji no Mundial de râguebi. Para Manuel de Mascarenhas Gaivão aquele foi também para si o momento alto de um percurso que se arrasta desde 2007 a acompanhar os Lobos para todo e qualquer lugar. A presença da sua imagem ao longo da transmissão, cujo sinal é distribuído por todo o mundo, valeu-lhe mensagens que viajaram da Austrália até ao telemóvel do adepto português mais conhecido da modalidade. Afinal, no universo do râguebi, todos sabem de quem se trata.

A qualificação de Portugal para o Campeonato do Mundo de 2023 esteve perto de não acontecer. Quando os Lobos conseguiram o apuramento frente aos EUA, no Dubai, Manuel foi logo tentar comprar bilhete e ficou “muito aflito”. Para ele, todas as ocasiões para ver a Seleção Nacional são ideais, mas esta não podia escapar. Os bilhetes para os jogos de Portugal no Campeonato do Mundo já estavam esgotados quando a equipa se apurou. “Mandei imediatamente um email à organização”, conta o português emigrado no Luxemburgo. “Disseram que não havia bilhetes, que tinham sido todos postos à venda. Com os amigos e conhecidos de outros países, lá consegui arranjar bilhetes”.

Manuel não garantiu apenas um bilhete ou, no máximo, cinco, contando com os três filhos e a mulher que o costumam acompanhar nas viagens para ver os Lobos. Manuel conseguiu obter 196 entradas para os jogos de Portugal no Mundial. “Fui acumulando bilhetes, porque sabia que havia gente em Portugal que não ia conseguir bilhete facilmente, atendendo a que eles diziam que não havia”, revelou. “Acabei a gerir 196 bilhetes. Felizmente, toda a gente ficou com o seu bilhete e toda a gente entrou no estádio, não houve ninguém que se tenha queixado de algum problema com os bilhetes que geri. Tive bilhetes que foi um amigo sul-africano, que tinha uma amigo sul-africano, que tinha um amigo norte-americano que, como os EUA já não estavam apurados, queria vender os bilhetes e então fiquei com eles”.

Há poucas partes do mundo que Manuel não conheça por causa das viagens que faz para acompanhar râguebi. Do mesmo modo, também há poucas partes do mundo que não conheçam Manuel. “Havia um torneio de Sevens em Exeter que durou três ou quatro anos consecutivos e nós [família] não falhámos nenhum desses torneios. A partir de certa altura, já toda a gente nos conhecia. Chegávamos ao estádio, a seguir ao primeiro ano, com os nossos chapéus dos Lobos e, na zona onde nós nos sentávamos, já toda a gente nos cumprimentava”.

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Proveniente do Algarve, mais concretamente de Portimão, Manuel descobriu o râguebi através do Torneio das Cinco Nações. Seduzido pelo jogador de que mais gostava, o francês Serge Blanco, não resistiu à tentação de se manter ligado à modalidade mesmo que nunca tenha praticado por não existir nenhum clube na zona onde morava. Quando subiu até ao centro do país para ingressar no curso de Direito, em Coimbra, a paixão intensificou-se, mas continuou a ser vivida fora do campo. Ao longo dos verdes anos na Cidade dos Estudantes, a Académica, clube que lhe podia eventualmente dar a possibilidade de praticar a modalidade, vivia tempos de glória tendo vencido a Taça Ibérica. “Nunca teria qualquer hipótese de entrar nesse grupo, mas dava-me muito bem com os jogadores, alguns eram meu colegas de curso inclusivamente”, aponta. “Quando estava no segundo ano [do curso], dois dos nossos caloiros eram internacionais portugueses, jogavam na primeira linha. Em Coimbra, dava-me muito bem com a malta do râguebi”.

Terminado o curso, voltou a descer no retângulo à beira-mar plantado para trabalhar em Lisboa onde conheceu a mulher. Há 22 anos, Manuel rumou ao Luxemburgo onde vive até hoje e trabalha para a União Europeia como auditor no Tribunal de Contas Europeu. Entretanto, tal como descreve, começou a andar “da esquerda para a direita atrás da Seleção”. A partir do Mundial de 2007, o primeiro em que Portugal participou, começou a loucura, ao que parece, pela forma como conta as histórias que viveu desde aí, “saudável”. Seguiram-se torneios de Sevens e jogos da Seleção de XV que o levaram aos mais variados locais da Europa e a outras geografias mais longínquas como Hong Kong, Dubai ou Singapura. “Os Lobos são uma grande ponte entre Portugal e nós que estamos fora. Todas as equipas nacionais nos fazem sonhar, sofrer e matar saudades, mas os Lobos são particulares devido à maneira como a equipa sempre se exprimiu. Desde essa altura, em 2007, que sentimos muito a camisola através dos Lobos.

Foi no ano da primeira participação de Portugal num Mundial que teve o primeiro filho. Por acaso (ou não), Vasco, hoje um jovem de 16 anos, recebeu o mesmo nome que o capitão da Seleção Nacional de râguebi. Terá a descendência de Manuel sido influenciada pelo mais de 100 vezes internacional português Vasco Uva? “Não posso dizer que foi propositado, porque se digo que foi a minha mulher mata-me”. 

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Manuel esteve presente nos Mundiais de 2007 e 2023, os únicos em que a Seleção Nacional de XV participou

World Rugby via Getty Images

As deslocações para ver Portugal dependem sempre dos compromissos laborais e, desde que os três filhos nasceram, do período escolar. Dá-se o caso de, quando ainda só era acompanhado pela mulher, Manuel ter falhado um dos jogos que mais queria ver ao vivo, o Nova Zelândia-Portugal do Mundial de 2007. “Tinha bilhetes, mas, por causa do trabalho, tive que ir à Guiné-Bissau. Tive que ceder os bilhetes para o filho de um colega e para um amigo dele. Acabei a ver o jogo numa pastelaria em Bissau. Tenho imensa pena de não ter visto esse jogo, mas é assim. A vida é assim e não me posso queixar. Tenho sido um privilegiado”. Está mais do que visto que o emigrante português não falha um jogo sem ter um motivo de força maior e há provas disso. “Tive um acidente no Parque Nacional da Peneda-Gerês, andei atrapalhado e fui operado. Ainda assim, a minha mulher fez o favor de me guiar até Amesterdão para ver o Países Baixos-Portugal e até Nyon para ver o Suíça-Portugal”.

Não só de família se fazem as viagens de Manuel. Também os amigos se juntam a estas digressões. Numa visita ao Dubai para ver o Mundial de Sevens, em 2009, nasceu a “Alqateia do Luxemburgo”, um grupo de apoio aos Lobos que ainda sobrevive. “Fui ao Dubai aproveitando a licença parental do meu segundo filho. A minha mulher ficou com ele em casa e eu tirei uma semana e fui para o Dubai com uns amigos ver o râguebi. Andámos por lá uns dias. Demos uns passeios, fomos ao deserto, etc. Um dia, estávamos no mercado e vimos uns chapéus de Pashtun [grupo étnico que se encontra maioritariamente no Afeganistão]. Comprámos os chapéus e enfiámos os chapéus na cabeça. Alguém começou a brincadeira a perguntar como é que nos íamos chamar”, recorda o adepto. Aí nasceu a “Alqateia”, nome que designa sete amigos fãs dos Lobos. “Como estamos aqui na terra dos árabes em que usam o ‘q’ em vez do ‘c’, vamos por um ‘q’. Então, ficou a Alqateia do Luxemburgo. De 2009 para cá, já vamos com 14 anos”.

No Mundial de 2023, onde a Seleção Nacional conseguiu o melhor desempenho de sempre, Manuel viajou acompanhado pela mulher e pelos três filhos, todos eles jogadores de râguebi, um nos Sub-14, outro nos Sub-16 e outro nos Sub-18. Foi ele quem deu o mote para que muitas pessoas usassem os chapéus em forma de Lobo que distinguiram os adeptos portugueses em França. Toda a gente perguntava à família onde os tinham comprado e muitos até achavam que se tratava de um artigo exclusivo da Alqateia. A resposta que davam era que tinham sido encomendados na Amazon. Os chapéus de Manuel e da mulher têm mais de dez anos. Perante a divulgação que fizeram do adereço, depois do primeiro jogo, contra Gales, outros adeptos apareceram no mesmo figurino.

“Éramos bastante mais desta vez em comparação com 2007 e, sobretudo, mais pessoas fizeram a viagem de Portugal. No início achei que ia ser ao contrário, porque 2007 foi a primeira vez e, portanto, ia ter um grande impacto”, explica Manuel sobre o muito apoio português em França. “À partida estávamos apreensivos, sem sabermos bem o que ia acontecer, porque a expectativa inicial da maioria das pessoas era que Portugal iria perder os quatro jogos”, continuou. “A excitação ia aumentando ao longo que os jogos iam passando com aquilo que a equipa era capaz de fazer. Os jogadores puxaram muito por nós, acho que nós também puxámos muito por eles”. O Mundial de 2023 ainda mal terminou para Portugal e Manuel garante que já tem bilhete para os próximos compromissos dos Lobos. Não se trata de ter sido influenciado pelo feito inédito que viu em França, porque, admite, acontecesse o que acontecesse “sairia sempre satisfeito”. 

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