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Joana Espadinha lança "Ninguém Nos Vai Tirar o Sol" a 24 de setembro. Um dia antes há concerto de apresentação na Casa do Capitão, em Lisboa
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Joana Espadinha lança "Ninguém Nos Vai Tirar o Sol" a 24 de setembro. Um dia antes há concerto de apresentação na Casa do Capitão, em Lisboa

D. R.

Joana Espadinha lança "Ninguém Nos Vai Tirar o Sol" a 24 de setembro. Um dia antes há concerto de apresentação na Casa do Capitão, em Lisboa

D. R.

Joana Espadinha. Enquanto tiver um refrão, ninguém lhe vai tirar o sol

Há três anos levou-nos a dançar num baile pop açucarado. Agora, regressa com um álbum novo, com a mesma pontaria, mais ironia e elegância ao detalhe. Em entrevista diz-nos como e porquê.

Quando damos por ela, já estamos a trautear “ma-a-a-au feitio”, ainda nem a canção vai a meio. Este é o single que Joana Espadinha sonhou escrever a ouvir “Lança Perfume” de Rita Lee, num bar daqueles tirados das melhores noites pré pandemia cheios de gente a cantar tudo de peito cheio. Espadinha tem esse poder – maldito, bendito – de nos colar refrães ao ouvido que nos lambuzam os tímpanos. Faz uso da pop como quem se atira a um algodão doce, essa nuvem enorme cor de rosa que abocanhamos entre caretas, expressão mais embaraçosamente genuína de deleite.

Porque a pop veio ao mundo para nos dar esse açúcar gostoso. Joana Espadinha percebeu isso na transição de um Avesso (2014) algo indefinido, primeiro álbum de originais entrincheirado entre a formação jazzística e o chamamento do pop, e a segunda pele que vestiu em O Material Tem Sempre Razão (2018), a sua rendição definitiva ao género, de mão dada com Benjamim.

Como já tinha mostrado no seu registo anterior, Espadinha não é mulher de se ficar pelas coisas óbvias nem pelo superficial. Joga com as sonoridades e com as letras, dando um travo agridoce às suas canções que faz com que nós as apropriemos como se fossem realmente coisas nossas desde a sua conceção. “Há uma canção dos Clã, o ‘Sexto Andar’, que até diz ‘Alguém que julgou que era para si em particular que a canção estava a falar’”, atira para a conversa com o Observador, lembrando – através das palavras de Carlos Tê tão bem adornadas por Manuela Azevedo — que a canção é esse bicho inquieto que salta do autobiográfico para o universal com total desfaçatez e que, uma vez cá fora, deixa de pertencer a quem a compôs para ser de todos quantos a escutam.

[o vídeo de “Mau Feitio”:]

No caso do novo álbum, Ninguém Nos Vai Tirar o Sol, esse ritual celebrar-se-á no próximo dia 24 de setembro, sexta-feira, mas em boa verdade, Joana Espadinha já largou cinco canções no mundo. “Ir lançando e destapando as canções permitiu chamar mais a atenção para elas”, diz sobre esta estratégia que é uma novidade para a música, habituada ela que estava a ouvir álbuns do início até ao fim e a lutar com os dilemas da escolha de singles como quem escolhe um filho favorito. Porém, havia uma coisa que a irritava no passado: isso de se lançar um ou dois singles e o resto do álbum ficar na incógnita. “Infelizmente, eram poucas as pessoas que realmente iam ouvir o álbum todo. Cada vez mais as pessoas estão a consumir músicas em playlists e essa é a realidade que temos, não há grande volta a dar, mais vale encará-la de frente”.

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Esclarecida a estratégia, olhemos para o álbum. “Houve um processo em que procurei perceber onde é que eu estava como autora e se me queria projetar para o futuro ou ficar demasiado saudosista no passado”, refere. As canções refletem precisamente estes dois mundos, em simultâneo: se por um lado Ninguém nos vai tirar o sol vem na senda pop de O Material Tem Sempre Razão, não deixando cair uma melancolia e um lado sonhador que fora ali explorado e que continua presente em temas como “Queda P’ra Desgraça” ou “Um Sentimento”, por outro, este novo álbum de Joana Espadinha tem um penteado mais brincalhão e mais funky que salta logo à vista no primeiro tema, “O Príncipe e o Sapo”.

“Houve um processo em que procurei perceber onde é que eu estava como autora e se me queria projetar para o futuro ou ficar demasiado saudosista no passado.”

Na produção, Benjamim volta a fazer o que tem feito com Espadinha e outros músicos, um esculpir das arestas mais contundentes do material em bruto até delas retirar detalhes cuidados como se fossem ponto-caramelo. Ele que lapidou a estética de Joana no álbum anterior e que a fez repensar na forma como escrevia música, como a própria reconhece. Neste novo conjunto de canções, contudo, a cantora e compositora já teve mais mão nos arranjos: “Já tinha aprendido bastante com ele a esse nível para conseguir tomar as rédeas do processo. No outro disco, foi o Benjamim que tocou quase tudo e depois chamámos os músicos para gravar pontualmente. Neste, a banda já ensaiou e fomos todos para estúdio. O Luís [Nunes, nome de Benjamim] mexeu nas linhas de baixo, fez alguns arranjos, mas já havia muito mais corpo.”

Ao ouvir Ninguém Nos Vai Tirar o Sol não é difícil lembrarmo-nos da pop dos 80 e dos 90, entre sintetizadores ora espaciais ora divertidos, baterias de “tuuum taaaaa tum ta ta” que acendem aquela vontade de acompanharmos as canções com palminhas naïves, teclados profícuos a navegar pelas melodias ditadas por cadências de acordes gulosos e guitarras que tanto sabem ser melodramáticas como conseguem ampliar o groove que se passeia na base de cada um dos temas. Lena d’Água vem logo à cabeça, “uma referência” admite Espadinha, mas qualquer semelhança com os Clã também não é de todo inusitada. “Eu era adolescente nos anos 90 e isso inevitavelmente marca a música que fazemos” admite sem qualquer preconceito, deitando os nomes de Sheryl Crow, Alanis Morissette, K’s Choice ou Ben Harper cá para fora, aqueles que mais passavam na aparelhagem.

"Escrever é quase terapêutico. Esta coisa de querer agradar aos outros traz-nos muitos dissabores e faz com que as pessoas não nos respeitem da mesma forma"

Para lá de todas estas influências que, com maior ou menor grau, estão espelhadas na sua estética, há neste disco uma matriz infantil que não é de todo alheia ao facto de ter sido gravado enquanto Joana Espadinha esteve grávida. “Foi muito engraçado cantar com ele na barriga a dar-me pontapés. Acho que nunca mais me vou esquecer disso”. Só que ter um filho, à semelhança do que é trazer ao mundo um novo álbum (nas suas devidas proporções), é tão fascinante quanto aterrador. É abraçar as incertezas, mergulhar no mundo em contramão e sonhar ver crescer esse pé de feijão num caminho cheio de imperfeições que Espadinha canta em “A História do Pé de Feijão”, o tema abertamente mais maternal do álbum.

O curioso neste rendilhado linguístico é a ambiguidade do cantar delicado de Joana, que tanto se dirige para outrem [neste caso para o seu filho], como dialoga consigo mesma, embalando as suas próprias inquietações. “Escrever, para mim, é quase terapêutico” admite. Isso é visível em faixas como “Dar Resposta”, essa canção que é uma revolução pessoal, um saber dizer não e o constatar de que “esta coisa de querer agradar aos outros traz-nos muitos dissabores e faz com que as pessoas não nos respeitem da mesma forma”.

“Às vezes são coisas tão simples como perguntarem-me numa entrevista se sou mesmo eu que escrevo as canções. Mas porque é que não seria? São resquícios de alguns preconceitos dos quais ainda não nos conseguimos livrar e que estão num nível tão inconsciente que as pessoas nem sequer são mal-intencionadas quando fazem esse tipo de perguntas."

Por isso, Joana Espadinha teve que bater o pé. “Impor limites tem sido uma aprendizagem para mim”. Ainda para mais sendo mulher. Não que o meio não esteja a evoluir e a dar cada vez mais voz a autoras e compositoras, defende, mas é principalmente nos pequenos detalhes que a música, por vezes, sai distorcida: “Às vezes são coisas tão simples como perguntarem-me numa entrevista se sou mesmo eu que escrevo as canções. Mas porque é que não seria? São resquícios de alguns preconceitos dos quais ainda não nos conseguimos livrar e que estão num nível tão inconsciente que as pessoas nem sequer são mal-intencionadas quando fazem esse tipo de perguntas. Fazem-nas porque ainda está na forma como pensamos”.

Nestas voltas que a cabeça dá, a questionar o mundo, a pandemia que quase nos chegou a sugar as perspetivas, Espadinha não deixa cair a esperança. Essa esperança “Não é um ‘Vai Ficar Tudo Bem’, que obviamente tem uma boa intenção, mas ninguém sabe o que é o futuro”. É um “pelo menos ninguém nos vai tirar o sol”, nem as pessoas próximas, nem as coisas simples às quais nos temos que agarrar para “continuar um dia de cada vez.” Curiosamente, a faixa que dá título ao álbum e que foi o primeiro single a ser apresentado, em maio, aparece já no desfecho do disco. Soa como hino de esperança, entregando-se a uma onda soul e a umas leves melodias e harmonias de gospel que nos fazem levantar o queixo para cima e ver raios de luz, mesmo quando são gotas de chuva que nos estão a cair na cara. “Essa música foi mesmo um mantra para mim”. “Travessia”, a última faixa instrumental, prolonga essa quase meditação, numa escolha feliz e de notória sensibilidade que deixa o disco, como a vida, em aberto.

[“Ninguém Nos Vai Tirar o Sol”, o primeiro single do álbum com o mesmo título, a editar a 24 de setembro:]

No meio de tudo isto, temos mais uma certeza: que antes do lançamento oficial, haverá um concerto de apresentação na Casa do Capitão, em Lisboa, no dia 23 de setembro (€10). Em bom rigor, será mais do que um concerto: “Vamos ter algumas coisas temáticas relacionadas com o título do álbum e vamos ter um DJ set a seguir ao concerto feito por nós. A ideia é que seja mesmo uma tarde feliz, bem passada e com muita festa”, deixa no ar. Não faltará comida e bebida, tudo a pensar com carinho especial na ocasião. As portas abrem às 17h30. Só resta esperar “que esteja bom tempo”.

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