Em vésperas da consoada, os líderes da JS, Miguel Costa Matos, e da JSD, Alexandre Poço, foram os convidados de uma Vichyssoise especial de Natal. Depois de perguntas pouco natalícias — em que os convidados responderam a questões que foram desde o comprometimento do líder da JS com Pedro Nuno Santos na sucessão do PS até ao caso da contratação da mães do líder da JSD por uma vereadora do PSD — os líderes das duas juventudes partidárias dos dois maiores partidos trocaram prendas de Natal.

[Ouça aqui a edição desta semana do programa Vichyssoise:]

Líderes da JS e JSD trocam prendas na Vichyssoise

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Na parte da entrevista habitual, Miguel Costa Matos comparou António Costa à antiga chanceler alemã Angela Merkel – que esteve quinze anos no cargo — como prova de que não haveria qualquer problema caso o atual primeiro-ministro decidisse recandidatar-se em 2026. Porém, mais à frente, provocado numa pergunta de escolha múltipla por Alexandre Poço (o segmento “Carne ou Peixe” ficou nas mãos dos convidados), acabaria por deixar subentendido que preferia a retirada de António Costa do que a do “grande ativo” Pedro Nuno Santos.

Já Alexandre Poço, ainda na resposta aos jornalistas do Observador, disse que não existe nenhuma incompatibilidade por a mãe ter sido contratada pela vereadora que lhe sucedeu na câmara de Oeiras após ter renunciado ao cargo.

[Veja aqui, em vídeo, os dois segmentos especiais de Natal, em que os líderes partidários trocam prendas de Natal e fazem perguntas de escolha múltipla no segmento Carne ao Peixe um ao outro:]

Recandidatura de Costa em 2026. “Merkel foi pouco saudável?”

Alexandre Poço, desde que é líder da JSD esteve quase sempre posicionado de um lado diferente do líder do partido. Já escolheu quem é que vai apoiar quando as coisas correrem mal a Luís Montenegro?
Alexandre Poço: Acredito que o PSD terá agora uma fase positiva e longa. Difícil também, mas estou muito confiante que esta liderança veio para ficar. Portanto não está na minha cabeça as próximas diretas ou quem é que será putativamente candidato a uma putativa eleição. Eleição haverá sempre porque somos um partido democrático, como foi particularmente visível nos últimos anos, com muita animação e expressão do que é a pluralidade e militância no nosso partido. Agora, o que sinto que é mais importante nesta fase e que é mérito de Luís Montenegro de o ter conseguido é: unir o partido, estabilizar o partido e colocar o foco no que é importante. Luís Montenegro veio para ficar e cá estaremos para ajudá-lo.

Miguel Costa Matos, já definiu com Pedro Nuno Santos a secretaria de Estado que quer ter no próximo Governo ou ainda é muito cedo para deixar de ser leal a António Costa?
Miguel Costa Matos: Acho que os socialistas têm de ser leais todos uns com os outros, portanto, naturalmente que o António Costa tem de governar mais estes quatro anos, tem todas as condições para fazer um bom mandato. Esperemos que desta vez não surja uma nova crise, uma nova pandemia, uma nova guerra para atrasar aqueles que são os nossos planos e, naturalmente que o PS, quando se aproximar as eleições legislativas de 2026, iremos fazer a análise de quem se deve apresentar para essas eleições e não tenho dúvidas que depois destes anos de bom trabalho, que poderemos merecer novamente a confiança dos portugueses para isso.

Alexandre Poço: Já é um guia de marcha a António Costa por aquilo que estamos aqui a perceber.]

Miguel Costa Matos: Antes pelo contrário: António Costa…

Alexandre Poço: …não será recandidato em 2026.

Miguel Costa Matos: Ele terá estes quatro anos para fazer e terá de tomar a decisão se é ou não recandidato. Da minha parte, tenho trabalhado com ele e acho que tem todas as condições para fazer aquilo que entender.

Aproveitando a provocação do Alexandre Poço: seria saudável que António Costa depois destes anos todos se recandidatasse no final deste ciclo?
Miguel Costa Matos: E foi pouco saudável a recandidatura da Merkel?

Então veria com bons olhos que António Costa ficasse?
Miguel Costa Matos: Para mim o mais importante do que as pessoas, são as políticas públicas que se implementam e o PS merecer a confiança das pessoas. Portanto, acho que o PS deve encarar-se como um movimento para transformar a sociedade e aquele que puder melhor contribuir para isso é para isso que cá estamos. Não tem nada a ver com ambições pessoais. Pelo menos foi sempre assim que encarei o meu percurso político.

Mudando de assunto, vamos avançar para um caso polémico que envolveu o Alexandre Poço e a sua mãe, que foi contratada pela vereadora que lhe sucedeu após renunciar ao mandato. Não vê aqui uma incompatibilidade?
Alexandre Poço: Não. Nenhuma. E a própria vereadora do PSD na câmara municipal de Oeiras esclareceu tudo o que tinha a esclarecer, nomeadamente o facto de ter sido uma contratação que fez para o secretariado do seu gabinete, que é a função que a minha mãe sempre desempenhou na sua vida profissional e, portanto, na qual eu não tive qualquer interferência.

Não seria de evitar esta incompatibilidade?
Alexandre Poço: Eu penso que foi uma escolha livre entre a vereadora que me substituiu e substituiu também o número dois da lista do PSD. E também uma escolha livre e profissional da minha mãe, que desempenha essas funções. Portanto, estou absolutamente tranquilo com essa situação e não vejo nenhuma incompatibilidade.

Nasceu em Cascais, estudou num colégio privado, mais tarde foi para uma universidade do Reino Unido, e é conhecido pela forma aguerrida com que intervém… Considera-se um queque que guincha, como diria o primeiro-ministro?
Miguel Costa Matos: Terão de lhe perguntar [a António Costa]. Os meus pais trabalharam a vida toda, quiseram lutar para que o seu filho tivesse a oportunidade de estudar numa Língua Inglesa, no estrangeiro.

É um queque que guincha em inglês?
Miguel Costa Matos: Se calhar, se calhar. Foi uma excelente oportunidade e tenho de reconhecer o privilégio que é ter nascido no contexto social em que cresci. Naturalmente que o meu projeto político que sociedade é que as pessoas possam ter iguais oportunidades e melhores oportunidades.

Mas também utilizaria essa expressão para classificar adversários políticos?
Miguel Costa Matos: Se são queques que guincham ou não, se a carapuça serve, que a vistam.

Porque é que o irritam tanto os liberais? Disse no Congresso da JS que os liberais se estão a infiltrar na sua geração e que têm de os combater.
Miguel Costa Matos: O que me preocupa é que nós crescemos como país, temos muita gente da nossa geração e não só que pôde ir para o Ensino Superior pela primeira vez, porque houve uma expansão do Ensino Superior Público, porque houve uma escola pública. Os nossos pais e os nossos avós pudera ser tratados num Serviço Nacional de Saúde público. A Segurança Social há 50 anos mal existia. Portanto, acho que a sociedade que nós construímos, do ponto de vista de as pessoas terem qualidade de vida, mas também dos seus direitos económicos…

…está a ser ameaçada pelos liberais?
Miguel Costa Matos: Eles querem impugnar esse modelo de sociedade. Por exemplo, querem toda a gente a pagar os mesmos impostos, o que custa três mil milhões de euros. Suponho que não seja para acrescentar à dívida todos os anos, seja para cortar no Serviço Nacional de Saúde ou na escola pública.

Mas estão a ter sucesso junto dos jovens porquê? Comunicam bem?
Miguel Costa Matos:Esse será um fator. E é natural que os jovens se sintam zangados com uma sociedade que três quartos dos salários são abaixo dos 950 euros. Agora, do meu ponto de vista, aquilo que temos de comunicar é: aquilo que está a impedir um jovem de ter uma casa não é haver pouca especulação imobiliária, é a falta de habitação pública; aquilo que impede um jovem de ter um bom emprego, é os empregos serem precários. E isso resolve-se com melhor Estado, com melhores leis laborais. Não se promove flexibilizando os despedimentos, não se promove pondo o país num regime de serviços públicos mínimos. Não se resolve criando aqui um regime de paraíso fiscal tipo a Irlanda e a Estónia e achar que isso vai atrair pessoas ou empresas. Até porque a ciência económica diz-nos que não.

Voltando novamente a Alexandre Poço: a JSD defende a legalização da canábis, em tempos já defendeu a legalização da prostituição. Se o PSD tivesse maioria, a JSD queria que essa mesma maioria fosse utilizada para legalizar estas duas situações?
Alexandre Poço: A JSD fez um referendo há dois anos e meio sobre o tema da canábis e a opinião foi favorável. Eu também, como defensor dessa legalização da canábis, fiquem contente com essa posição da maioria. Embora na nossa estrutura exista muito um lado em que há um conjunto de temas em que vivemos bem com a pluralidade daquilo que são as posições na JSD. Na minha direção nacional, por exemplo, tenho pessoas que são contra a legalização da canábis e pessoas que são a favor. E relativamente àquilo que importa, aquilo que temos de definir é se é ou não uma prioridade. No anterior mandato, na Assembleia da República, fiz uma intervenção para defender a canábis para fins pessoais, até porque para fins terapêuticos ela já é permitida há alguns anos. Entendo que é o comportamento responsável, seguro, correto. Percebo também quem tem receios, nomeadamente que a legislação deve definir muito bem os lugares em que se pode comprar, quem pode consumir, o registo dos dados, o que fazemos à receita fiscal.

A questão é: se o PSD tivesse uma maioria a JSD devia fazer essa força. Alexandre Poço: Sou muito sincero: como primeira batalha não seria com certeza. Por exemplo, há pouco ouvia o Miguel Costa Matos a contrariar aquilo que é um excesso de estatismo numa sociedade e aquilo que é uma sociedade que nós entendemos que está a caminhar para o fosso. Um país que é ultrapassado todos os anos por mais um país europeu do Leste ou do centro da Europa e que depois tem os resultados que nós sabemos. Aliás, o próprio Miguel reconheceu esses resultados quando faz o diagnóstico que faz dos salários dos jovens.

Miguel Costa Matos: Os salários dos jovens são muito melhores ainda do que nesses países!

Alexandre Poço: Não seria de certo logo a primeira prioridade, mas não tenho a mínima dúvida de qual seria a minha posição. Espero que a JSD continue no seu futuro a ter não só a maioria dos militantes a posicionarem-se a favor, como também as futuras lideranças tenham sempre esta perspetiva de não ter medo de dar a possibilidade de escolher às pessoas aquilo que entenderem.

Voltando ao Miguel Costa Matos, que disse recentemente que a legalização da canábis é uma questão estruturante para Portugal. Acha mesmo que é isso que vai mudar a vida dos jovens portugueses?
Miguel Costa Matos: Nós temos um conjunto de outras causas que também contribuem para mudar a vida dos jovens portugueses. Agora, nós não podemos fechar os olhos a que a canábis está perfeitamente disponível na rua, em que é vendida no mercado clandestino, vendida adulterada, com outro tipo de drogas, com níveis de concentração de uma substância da canábis muito acima do que seria desejável e que a melhor maneira de controlarmos isto e assegurarmos segurança e saúde pública é legalizar.

Mas utilizou a palavra “estruturante”. É assim uma causa estruturante?
Miguel Costa Matos: É estruturante num país que se diz progressista e da liberdade. E eu defendo esse país da liberdade.

A troca de prendas entre os líder da JS e JSD

O Observador desafiou, após o segmento  de entrevista habitual da Vichyssoise, os líderes da JS, Miguel Costa Matos, e JSD, Alexandre Poço, a trocarem prendas de Natal entre si. Eis o que disseram ambos:

Alexandre Poço: Pelo percurso político e pelo conhecimento que tenho do Miguel Costa Matos, trouxe ao Miguel Costa Matos uma lata de caviar, mas depois emoldurada com a figura do Karl Marx, que aposto que é uma inspiração do percurso político do Miguel. E como vejo também no Miguel muitas vezes este traço de uma esquerda caviar, decidi trazer-lhe este presente de Natal com toda a simpatia democrática de um caviar marxista.

Miguel Costa Matos: Sendo caviar, será naturalmente degustado e que possa ser degustado por todas e por todos os trabalhadores. Acho que é essa a causa (…)

A prenda que trouxe para o Alexandre Poço é um livro do Cas Mudde, que é o maior especialista internacional em direita populista e extrema-direita, que é para ver se o Alexandre percebe que o PSD e os democratas de direita também são muito importantes para nós travarmos a onda da extrema-direita, que nomeadamente passa por eles saberem construir um cordão sanitário ou uma muralha contra esses indivíduos e as suas ideias racistas e xenófobas.

Alexandre Poço: Irei ler. Sei que o PS gosta muito de dar força ao Chega e, portanto, vou ficar pela Literatura, deixo o namoro com que se

Miguel Costa Matos: Quem se quis aliar nos Açores foram vossas excelências.

Carne ou Peixe. “Não é bacalhau, nem é peru”

Vamos agora ao segmento Carne ou Peixe, com a inovação de serem os convidados a escolherem as perguntas de escolha múltipla um para o outro.

Alexandre Poço: O Miguel preferia que o Governo do António Costa caísse e ele nunca mais fosse candidato a nada ou que esta legislatura fosse cumprida até ao fim e o Pedro Nuno Santos nunca chegasse a líder do PS?

Miguel Costa Matos: Naturalmente prefiro que o PS possa governar. A nossa missão é transformar a sociedade, independentemente das pessoas. Mas acho que, se perdêssemos o Pedro Nuno Santos, perdíamos um grande ativo do Partido Socialista. E do Governo.

Miguel Costa Matos: A pergunta que tenho para ti, Alexandre, é se preferias governar com o Chega ou ficar na oposição?

Alexandre Poço: Governar com o Chega, penso que o PSD nunca governará. E, portanto, o que o PSD fará é governar com o seu programa, os seus princípios e os seus valores. E, portanto, essa opção que Miguel Costa Matos utiliza para dar força ao Chega não se antevê.

[Miguel Costa Matos: Acho que isto não foi nem o peru]

Alexandre Poço: Preferias que o próximo Governo do PS fosse liderado por José Sócrates ou que fosse um governo liderado pelo PSD?

Não penso que José Sócrates volte à vida política, muito menos do PS, do qual ele saiu. Se isso está nas cabeças imaginativas dos militantes da JSD, espero que seja uma boa ficção.

Miguel Costa Matos: O líder do PSD disse recentemente que queria fazer um referendo à eutanásia, mas ainda em fevereiro disse que não era altura de fazermos um referendo à regionalização. Preferias não ter referendo à eutanásia ou ter também referendo à regionalização?
Alexandre Poço: Aquilo que é a minha posição, eu penso que o Parlamento tem legitimidade para decidir o que decidiu. Não me oponho à consulta popular e, portanto, não me oponho a que os portugueses pudessem também sobre o tema da eutanásia. A regionalização, penso que neste momento não há condições para pedir um referendo à regionalização. O mais importante neste momento era um referendo à eutanásia. Sou daqueles que prefere sempre a democracia representativa, mas neste momento não me oponho a chamar os cidadãos para uma decisão que é importante para o futuro da sociedade.

Alexandre Poço: Preferia deixar a política para sempre ou ser ministro num Governo onde estivesse a Renata Cambra na Economia, a Catarina Martins nas Finanças e o Paulo Raimundo nos Negócios Estrangeiros?
Miguel Costa Matos: Para eu pertencer a um Governo desse género é porque tínhamos feito convergências em cada uma dessas áreas e compromissos firmes e que me dessem garantias que era um Governo europeísta, que defendia a NATO e a iniciativa privada. Todas as pessoas são livres de mudarem de ideias. Só os burros é que não mudam.

Miguel Costa Matos: A JSD tem defendido uma taxa máxima de 15% no IRS apesar de a taxa média paga pelas pessoas ser já 13%. Se aplicássemos a taxa única de 15% teria um impacto de 3 mil milhões de euros, este teria outro não estimado. Mas como pagariam: com corte nos serviços públicos e nas pensões ou com aumento da dívida? 

Alexandre Poço: Por acaso está estimado: o valor fica muito abaixo do que o Estado decidiu meter na TAP. Custaria um pouco mais do um décimo do que o Estado meteu na TAP. O que defendemos é que o país não pode continuar soterrado em impostos. Eu sei que os socialistas têm uma fixação pelos impostos e por ficar com o que é o rendimento dos outros, mas continuamos a defender que haja uma taxa máxima e os jovens não saiam do país.