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JAIME RIBEIRO/OBSERVADOR

JAIME RIBEIRO/OBSERVADOR

Milhões de downloads e ouvintes viciados. A história improvável de sucesso dos podcasts narrativos, dos primórdios a "O Sargento na Cela 7"

Tinham tudo para ser um flop, mas são um sucesso de downloads aos milhões e ouvintes ávidos pelo próximo episódio. "O Sargento na Cela 7" é o primeiro Podcast Plus do Observador.

podcast |pòdecáste|
(palavra inglesa, de [i]Pod , marca registada norte-americana + [broad]cast, transmissão)
nome masculino
Ficheiro áudio ou multimédia, divulgado com periodicidade regular e com conteúdo semelhante ao de um programa de rádio, que pode ser descarregado da Internet e lido no computador ou em dispositivo próprio.
In Dicionário Priberam

Em 2014, o jornalista Andy Bowers, então produtor executivo dos podcasts da Slate, publicou um artigo na revista online americana para assinalar os dez anos do género, e praticamente elencou todos os defeitos dos podcasts narrativos.

Tendem a ser longos; raramente se tornam virais; e, se tiverem sucesso, podem alcançar algumas centenas de milhares de downloads — nunca centenas de milhões, como acontece todos os dias com vídeos de gatinhos ou, acrescentamos nós agora, que entretanto o TikTok já foi criado, de danças e coreografias.

"O Sargento na Cela 7" é uma série em seis episódios para ouvir todas as semanas no Observador e em todas as plataformas de podcasts

[Ouça aqui o trailer da nova série em podcast “O Sargento na Cela 7”

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Trailer “O Sargento na Cela 7”. Estreia a 14 de março

“O podcasting é a história de sucesso menos sexy da internet, a tartaruga numa corrida sem fim contra novas ondas de lebres”, escreveu o jornalista premiado e pioneiro dos podcasts, para depois concluir que, “na verdade, tendo em conta as métricas online comuns, o podcasting não deveria funcionar”.

Sem surpresa, nos parágrafos seguintes vem o “mas”: apesar de tudo isto, “ou em alguns casos por causa disto mesmo”, ressalva Bowers, o que não faltam são podcasts narrativos de sucesso, alavancados essencialmente porque, mesmo que sejam uma minoria, os ouvintes de podcasts ouvem mesmo muitos podcasts — e a verdade é que vários são mesmo descarregados aos milhões.

Os podcasts são como clubes, e os que ouvem os mesmos conteúdos tendem a ter tópicos de conversa intermináveis, e são extremamente viciantes. “Os ouvintes voltam semana após semana, mês após mês, ano após ano, quando gostam de um determinado conteúdo”, garantiu o jornalista Andy Bowers

Há mais: os podcasts são como clubes, e os que ouvem os mesmos conteúdos tendem a ter tópicos de conversa intermináveis, e são extremamente viciantes. “Os ouvintes voltam semana após semana, mês após mês, ano após ano, quando gostam de um determinado conteúdo”, garantiu o jornalista, que meses mais tarde foi um dos fundadores da Panoply Media, a empresa que começou por produzir podcasts narrativos para o Grupo Slate e que em apenas dois anos já tinha mais de uma centena de programas feitos, não apenas para a Slate mas para meios como New York Magazine, Time, Wall Street Journal, Politico, Vanity Fair, Sports Illustrated e Huffington Post.

A começar por “This American Life”, que deu os primeiros passos em 1995, ainda como programa de rádio, e que em 2020 ganhou o primeiro Pulitzer alguma vez atribuído a um podcast, e continuando rumo a “Serial”, dos mesmos produtores, que em 2014 se tornou um fenómeno à escala global, o que não faltam ao longo destes quase 20 anos de história, são podcasts narrativos de sucesso.

Apenas no primeiro ano em que foi disponibilizado, “Serial” foi descarregado mais de 100 milhões de vezes em todo o mundo

Em comum, todos têm uma história forte e bem contada, “apenas” com recurso a som, ao longo de vários episódios, disponibilizados online, nos sites de origem e nas entretanto criadas “plataformas de podcast”.

“Serial”, da jornalista Sarah Koenig, tornou célebre o caso de Adnan Syed, o estudante de 17 anos que foi condenado a prisão perpétua pelo homicídio da ex-namorada, Hae Min Lee, de 18 anos, em Baltimore, em 1999. Ao longo de 12 episódios, o podcast dissecou a investigação e a defesa do jovem muçulmano, levantando uma série de dúvidas que culminaram, logo em 2015, com a reabertura do processo, a anulação da sentença e a marcação de um novo julgamento — que depois viria a ser indeferido por instâncias superiores, apenas para, em 2022, já com 41 anos, Adnan vir finalmente a ser libertado, após 23 anos na prisão.

Não foram divulgados dados sobre o último episódio do podcast, disponibilizado excecionalmente no dia 11 de outubro de 2022, horas depois de todas as acusações contra Syed serem retiradas — e quase oito anos após o fim da série. O que se sabe é que, só no primeiro ano em que foi disponibilizado, “Serial” foi descarregado mais de 100 milhões de vezes em todo o mundo, tornou-se viral e bateu todos os recordes, dando origem a dois novos fenómenos: o “binge-listening” e os podcasts de “true crime”.

Mas apesar de ser, de longe, um dos temas mais ouvidos em todo o mundo, no universo dos podcasts narrativos há mais do que histórias verídicas de crime.

Líderes, casas abandonadas e canções. Quando o material é bom, tudo pode ser uma história de sucesso

“Wind of Change”, disponibilizado em maio de 2020, por exemplo, é a história da investigação de Patrick Radden Keefe, jornalista da New Yorker, sobre a origem da balada com o mesmo nome dos alemães Scorpions — que, spoiler alert, pode ou não ter sido escrita pela CIA, para ajudar na luta do ocidente contra o comunismo.

“The Prince”, da jornalista Sue-Lin Wong, do Economist, recua às origens de Xi Jinping para, em oito episódios, revelar a história da “pessoa mais poderosa do mundo” e reconstituir o seu caminho “turbulento” rumo à liderança chinesa.

E “Bag Man”, disponibilizado em 2018, recua 45 anos para contar a história de Spiro Agnew, o vice-Presidente dos Estados Unidos que no início dos anos 1970, em pleno escândalo Watergate, foi investigado por suspeita de conspiração criminosa, suborno, extorsão e fraude fiscal. Da autoria de Rachel Maddow, pivô da MSNBC, o podcast teve tanto sucesso que entretanto já deu origem a um livro e está a ser adaptado ao cinema, com Ben Stiller como realizador.

Estes são apenas três exemplos de entre milhares de podcasts narrativos desenvolvidos desde que num dia de fevereiro de 2005 o especialista em tecnologia e futurista britânico Ben Hammersley cunhou a palavra num artigo no Guardian — “Mas o que vamos chamar-lhe? Audioblogging? Podcasting? GuerillaMedia?”, questionava o autor, dando como certa a “revolução sonora”, que só faltava mesmo nomear.

No universo dos podcasts narrativos há mais do que histórias verídicas de crime (apesar de esse ser um dos temas mais ouvidos em todo o mundo)

Há outros, também com muito sucesso e com temas muito diferentes — quando a história é boa e está bem contada, tudo pode ser um podcast de sucesso —, nomeadamente noutras línguas, que não o universal inglês.

No Brasil, o terceiro país que mais consome o género (depois de Suécia e Irlanda, segundo um estudo de 2022), os podcasts narrativos têm já uma audiência de 30 milhões de pessoas e uma série de produtoras especializadas.

Depois de “Praia dos Ossos”, narrado por Branca Vianna, ter recuperado a história do homicídio da socialite Ângela Diniz no penúltimo dia de 1976, às mãos do então namorado, Doca Street — e ter sido um dos conteúdos mais ouvidos da Apple Podcasts em 2020 —; dois anos depois, “A Mulher da Casa Abandonada”, produzido pelo jornalista Chico Felitti para a Folha de São Paulo quebrou todos os recordes, tornou-se viral e, em poucas semanas, chegou aos 7 milhões de downloads, só no Brasil.

De acordo com o Spotify, os portugueses ouvem cada vez mais podcasts, mas no top dos 10 mais ouvidos ao longo de 2022 não há um único podcast narrativo

A história de “Mari”, a mulher misteriosa que vivia sozinha numa mansão decrépita num dos bairros mais seletos de São Paulo e que afinal era foragida da justiça americana também chegou aos tops de podcasts em Portugal, onde, de acordo com um estudo recente da Reuters, 41,5% dos portugueses com acesso à Internet dizem ter ouvido pelo menos um podcast no mês anterior.

Ainda assim, ficou bem longe dos lugares cimeiros. De acordo com o Spotify, os portugueses ouvem cada vez mais podcasts, mas no top dos 10 mais ouvidos ao longo de 2022 não há um único podcast narrativo — “Extremamente Desagradável”, da Rádio Renascença, ocupa o primeiro lugar, seguido por “ask.tm”, de Pedro Teixeira da Mota, e de “Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer”, da SIC Notícias.

“O Sargento na Cela 7”, uma série para ouvir em seis episódios

A ausência é fácil de explicar: até agora nunca se produziram no país podcasts do género, histórias em áudio com uma forte componente narrativa, que funde jornalismo, investigação e entretenimento — contadas em português.

“O Sargento na Cela 7”, com narração do ator Pêpê Rapazote e banda sonora original de Noiserv, vem colmatar essa lacuna. É uma série para ouvir em seis episódios sobre António Lobato, o piloto da Força Aérea Portuguesa que, em maio de 1963, durante uma missão na Guiné Bissau, foi capturado pelo PAIGC e levado para uma prisão na vizinha Guiné Conacri.

Para além de várias entrevistas de horas com o próprio António Lobato, hoje com 84 anos, para fazer "O Sargento na Cela 7" foi preciso estudar a fundo o período em que tudo aconteceu, pesquisar nos arquivos militares, ler as obras publicadas sobre a operação que o libertou e conversar com especialistas e autores, num processo de investigação e produção que se prolongou durante vários meses

Ao todo, António Lobato esteve preso durante sete anos e meio, em condições miseráveis, numa cadeia de que tentou escapar várias vezes — foi o militar português que mais tempo passou em cativeiro como prisioneiro de guerra.

No fim, acabou por ser resgatado por uma das mais secretas e obscuras operações alguma vez levadas a cabo pelo governo português — e que o Estado Novo negou sempre.

Para além de várias entrevistas de horas com o próprio António Lobato, hoje com 84 anos, para fazer “O Sargento na Cela 7” foi preciso estudar a fundo o período em que tudo aconteceu, pesquisar nos arquivos militares, ler as obras publicadas sobre a operação que o libertou e conversar com especialistas e autores, num processo de investigação e produção que se prolongou durante vários meses. E foi preciso também chegar à fala com outros intervenientes da história, como alguns dos homens que estiveram presos com o piloto na Guiné Conacri, militares que participaram na sua operação de resgate e seus descendentes e, claro, com Maria dos Anjos, a mulher com quem António Lobato casou oito meses antes de ter sido feito prisioneiro, e que ao longo dos sete meses e meio de cativeiro fez de tudo para o trazer para casa.

O primeiro de uma série de podcasts narrativos que o Observador tem em desenvolvimento, “O Sargento na Cela 7” é lançado no próximo dia 14 de março.

“O Sargento na Cela 7” é uma série com seis episódios para ouvir no site do Observador, na Rádio Observador e também nas habituais plataformas de podcast e no Youtube. Todas as terças-feiras é disponibilizado um novo episódio. O guião e as entrevistas são de João Santos Duarte e Tânia Pereirinha. A sonorização e pós-produção áudio são de Diogo Casinha.

Os Podcast Plus do Observador têm o apoio da Honda Automóveis.

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