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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Montenegro encontrou-se com Filipe Araújo para tentar travar candidatura independente ao Porto

Líder do PSD encontrou-se com Filipe Araújo, número dois de Moreira, para o convencer a integrar coligação liderada pelo PSD. Recebeu nega. Divisões e conspirações à direita deixam Pizarro a sorrir.

A vida do PSD não está fácil na cidade do Porto. Ainda sem candidato à sucessão de Rui Moreira — o partido quer Pedro Duarte, mas Pedro Duarte vai hesitando —, Luís Montenegro encontrou-se discretamente com Filipe Araújo para tentar convencer o independente a deixar cair a candidatura e juntar-se a uma grande coligação liderada pelos sociais-democratas. Todavia, a diligência do líder do PSD e primeiro-ministro terá falhado e o ainda vice-presidente da autarquia do Porto vai mesmo avançar com uma candidatura autónoma.

Nesse encontro esteve também Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares, líder da distrital do PSD/Porto e provável candidato social-democrata à Câmara, apurou o Observador junto de três fontes conhecedoras do processo. No entanto, e apesar do esforço de Montenegro, as negociações bateram na trave quando Filipe Araújo disse estar indisponível para ser o número dois de Pedro Duarte, contrapondo com outra solução: à imagem do que aconteceu na corrida autárquica a Coimbra, em 2021, seria um independente a liderar uma grande coligação que integrasse o PSD e outras forças políticas.

Filipe Araújo seria, nesse cenário, o ponta de lança da coligação. Ora, Montenegro terá declinado a solução por entender, entre outras coisas, que seria uma lose-lose situation: se Filipe Araújo ganhasse a Câmara do Porto, o mérito seria dele; se perdesse, a derrota seria assacada ao PSD e ao próprio Luís Montenegro. Além disso, nem sequer existem garantias sólidas de que Araújo seja um candidato vencedor numa corrida que é muito importante para PS e PSD: os socialistas estão afastados do poder há praticamente 24 anos; os sociais-democratas há 12. Qualquer líder que conquistar a segunda cidade mais importante do país pode começar a lançar os foguetes na noite eleitoral e preparar o novo ciclo político nacional.

O PSD não ata nem desata, Pedro Duarte não se decide e Filipe Araújo, que foi ganhando autonomia face a Rui Moreira, foi-se convencendo (e foi convencido) de que poderia, senão ganhar as eleições, pelo menos disputar as autárquicas com alguma seriedade. O caminho foi-se tornando mais estreito para um possível acordo com Pedro Duarte e o PSD

Filipe Araújo indisponível para ser sidekick de Pedro Duarte

O Observador sabe que o primeiro-ministro também se encontrou com Rui Moreira no sentido de o pôr a par destas conversações — há muito que os dois vão cozinhando, informalmente, um eventual acordo para o ciclo pós-Moreira. Durante muito tempo, havia a convicção de que as duas forças — PSD e movimento independente que governa a cidade do Porto — poderiam facilmente chegar a uma solução nos termos agora propostos pelo PSD — o candidato a presidente da câmara seria sempre do partido, mas a plataforma independente garantiria representação no futuro executivo.

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Desde o início que Rui Moreira tem dado todos os sinais de que não se quer meter no seu processo de sucessão e de preferir manter-se equidistante em relação aos possíveis pretendentes — ainda que seja indisfarçável que tem uma ótima relação com Luís Montenegro e que não morre de amores pela ideia de ver a autarquia entregue a Manuel Pizarro, com quem foi tendo uma relação política, no mínimo, conturbada. Sem a bênção de Moreira, era de supor que o caminho de Filipe Araújo fosse tão estreito que facilmente aceitasse integrar uma candidatura liderada pelo PSD.

Acontece que o tempo foi passando, o PSD não atou nem desatou, Pedro Duarte não se decidiu, e Filipe Araújo, que foi ganhando autonomia face a Rui Moreira, se foi convencendo (e foi convencido) de que poderia, senão ganhar as eleições, pelo menos disputar as autárquicas com alguma seriedade. E a margem foi-se tornando mais estreita para um possível acordo com Pedro Duarte e o PSD. “A partir do momento em que integrássemos uma coligação liderada pelo PSD seria o mesmo que dizer aos eleitores que votaram em nós que estavam livres para votar noutras alternativas. O movimento desaparecia“, explica ao Observador fonte da plataforma que está a apoiar Filipe Araújo.

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Aliás, essa mesma indisponibilidade para ser uma espécie de sidekick de Pedro Duarte já tinha sido manifestada por Filipe Araújo quando, em entrevista ao Observador, no início de dezembro, provocou abertamente o seu potencial adversário. “A candidatura tem que ser de carácter independente e livre. Não quer dizer que haja pessoas dos partidos que possam perfeitamente depois integrar a nossa candidatura”. Por outras palavras: ou o PSD aceitaria uma solução idêntica à encontrada em Coimbra e permitiria a um independente liderar uma lista com representação partidária; ou arriscar-se-ia a enfrentar Manuel Pizarro num quadro de grande fragmentação à direita.

Já no início desse mesmo mês de dezembro, como contava aqui o Observador, multiplicavam-se as queixas no movimento independente que apoia Filipe Araújo sobre a “postura arrogante e suicida” do PSD, e lamentava-se que os dirigentes sociais-democratas não tivessem mexido um músculo no sentido de chegar a um acordo. Agora, e mesmo depois de todas as diligências de Montenegro junto de Filipe Araújo e até de Rui Moreira, as negociações parecem ter chegado a um beco sem saída.

Em cima disso, Filipe Araújo mantém boas relações com Manuel Pizarro e com uma parte do aparelho social-democrata do Porto. Em teoria, correndo sozinho e tendo uma votação generosa poderia ser um desbloqueador de maiorias, mantendo-se relevante na definição dos destinos da cidade. Em alternativa, se se diluir numa grande coligação liderada pelo PSD, seria sempre apenas mais um — circunstância que se agravaria num cenário em que os sociais-democratas precisassem de vereadores do PS para formar uma maioria, por exemplo. Filipe Araújo passaria de vice-presidente da Câmara do Porto a parceiro júnior de coligação. E não tem interesse nessas contas.

O espaço da direita arrisca-se, assim, a ter três candidatos à sucessão de Rui Moreira. O atual ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, como candidato da coligação PSD/CDS; o independente Filipe Araújo, em representação do que resta do movimento independente que lançou Rui Moreira; e também António Araújo, que encabeça o movimento cívico “Porto com Porto". Sendo que ainda há que perceber o que farão a Iniciativa Liberal e, sobretudo, o Chega

Pizarro põe as peças em campo

Enquanto os sociais-democratas continuam sem encontrar uma solução capaz de agregar (quase) toda a direita, Manuel Pizarro, candidato socialista à sucessão de Rui Moreira, vai esfregando as mãos de contente. O antigo ministro da Saúde, que procura pela terceira vez a eleição, sabe que, quanto mais fragmentada estiver a direita, mais hipóteses terá de conquistar a Câmara do Porto. “Se as coisas continuarem assim, arrisca-se a ganhar com alguma facilidade”, antecipa um elemento que conhece bem as dinâmicas eleitorais do Porto.

É uma questão quase aritmética: em 2017, da última vez que concorreu e mesmo depois do divórcio público e traumático com Moreira, de quem era vereador e parceiro de coligação, Manuel Pizarro conseguiu uns generosos 29%. Com a direita muito dividida, sem o popular Rui Moreira em campo, sem um incumbente para enfrentar, sem um candidato da coligação PSD/CDS com provas dadas (Pedro Duarte é ministro, mas não é Rui Moreira, nem tem exatamente uma dimensão senatorial), desta vez, a sorte pode muito bem sorrir ao socialista.

O espaço da direita arrisca-se, assim, a ter três candidatos à sucessão de Rui Moreira. O atual ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, como candidato da coligação PSD/CDS; o independente Filipe Araújo, em representação do que resta do movimento independente que lançou Rui Moreira; e também António Araújo, que encabeça o movimento cívico “Porto com Porto”. Sendo que ainda há que perceber o que farão a Iniciativa Liberal e, sobretudo, o Chega, que não tendo, no Porto, exatamente um bastião, conta sempre qualquer coisa para o totobola. Por sua vez, Pizarro poderá piscar o olho ao Livre e terá à sua esquerda a concorrência de PCP e de Bloco de Esquerda, que não estão exatamente na sua melhor forma eleitoral.

De resto, quem por estas semanas vai vivendo de perto a política portuense jura a pés juntos que Pizarro tem dado todos os sinais de estar a tentar dividir para reinar. Desde logo, tem procurado fazer aproximações junto da equipa que esteve e está com Rui Moreira, com Fernando Paulo, vereador da Educação e da Coesão Social, e Catarina Santos Cunha, vereadora do Pelouro do Turismo e da Internacionalização, à cabeça. O primeiro entrou em rota de colisão com Filipe Araújo e abandonou o movimento independente; a segunda é socialista e tornou-se independente em rutura com o líder da concelhia do PS, Tiago Barbosa Ribeiro.

Mas há mais sinais e há mais personagens a manter debaixo de olho. Numa primeira fase, Pizarro tem tido ajuda de Jorge Afonso Morgado, especialista em comunicação e atual diretor de comunicação da Metro do Porto, empresa com quem Rui Moreira tem travado várias batalhas públicas — ainda em dezembro, o presidente da Câmara exigiu ao Governo que pusesse ordem nas obras da Metro do Porto (que é liderada por Tiago Braga, nomeado em 2019, ainda no governo de António Costa), acusando a empresa de “mentir” abertamente sobre o estado da empreitada.

Com uma nuance importante: Jorge Afonso Morgado foi o relator dos manifestos eleitorais do movimento independente de Moreira em 2013 e assessor de imprensa. É, portanto, um antigo aliado que conhece bem Rui Moreira e que agora está a trabalhar de perto com Manuel Pizarro. Entre os mais próximos de Rui Moreira, há quem desconfie que parte destes bloqueios estão a servir para alimentar a candidatura de Manuel Pizarro e para dar argumentos para a próxima campanha eleitoral.

É uma questão quase aritmética: em 2017, da última vez que concorreu e mesmo depois do divórcio público e traumático com Rui Moreira, de quem era vereador e parceiro de coligação, Pizarro conseguiu uns generosos 29%. Sem o popular Moreira, sem um incumbente para enfrentar, com a direita profundamente dividida, a sorte pode sorrir desta vez para o socialista

Rui Rio continua a assustar

Ao mesmo tempo, a proto-candidatura de António Araújo, que parte do espaço social-democrata e que parece ter como grande promotor Rui Rio, continua a mexer muito. O médico, fundador de um movimento independente (“Porto com Porto”) e ex-coordenador de Rio para área da Saúde mantém intactas as intenções de, pelo menos, estudar uma candidatura à Câmara do Porto — o que, a confirmar-se, prejudicaria as aspirações de Pedro Duarte e de Filipe Araújo e ajudaria… o socialista Manuel Pizarro.

O médico tem estado particularmente vocal nas críticas a Rui Moreira desde que apareceu à frente desta plataforma, abençoada por figuras como Rui Rio, José Silva Peneda e José Luís Carneiro (velho rival de Pizarro). Além destes nomes, estiveram presentes em conferências organizadas por António Araújo figuras como António Tavares, presidente da Santa Casa da Misericórdia do Porto, há muito um colaborador próximo de Rui Rio; Luís Valente de Oliveira, que foi presidente da Assembleia Municipal de Rio para se tornar depois um dos apoiantes de primeira hora de Rui Moreira (de quem se afastaria em 2021); e Miguel Poiares Maduro, que não sendo um rioísta de origem também colaborou com o antigo líder social-democrata.

A 27 de novembro, na conferência onde esteve Poiares Maduro (que contou com o apoio organizativo de Nuno Mota Soares, outro rioísta e figura conhecida do aparelho social-democrata na região) foi notada a presença de um velho conhecido de Rui Moreira: Nuno Santos, o seu primeiro chefe de gabinete, que mantém assumidamente boas relações com Jorge Afonso Morgado. Os dois — Moreira e Santos — cortaram relações e seguiram caminhos diferentes, com muitas acusações à mistura e ressentimento crescente. Aliás, existe no Porto quem desconfie que esta aproximação de Nuno Santos a António Araújo é uma forma de contribuir para a confusão de candidaturas à direita, ajudar indiretamente Pizarro e vingar-se de Moreira.

Ao Observador, Nuno Santos, que é especialista em comunicação e apareceu na primeira linha do combate político pela mão de Valentim Loureiro, nega estar a ajudar António Araújo na sua protocandidatura e limita-se a dizer que esteve naquela conferência a convite do próprio e por uma questão de admiração — foi António Araújo quem coordenou o Hospital de Campanha do Porto durante a pandemia, quando Nuno Santos era chefe de gabinete de Rui Moreira, e achou por bem marcar presença na conferência. “Nada mais”, corta.

Para 31 de janeiro já está marcado mais um evento que dará que falar no microscomo do Porto: Pedro Duarte, mais do que provável candidato do PSD/CDS ao Porto, vai inaugurar o ciclo das "Conversas na Bolsa" deste ano precisamente na Associação Comercial do Porto. Resta saber que sinal quererá dar nessa altura — é que começa a faltar em tempo o que vai sobrando em agitação, conspirações e protocandidatos

A trama adensa-se

A candidatura de António Araújo, não tendo, neste momento, hipóteses sérias de vencer, pode chegar aos “5-6%”, estimam várias fontes ouvidas pelo Observador. A esta fatia há que acrescentar o potencial eleitoral de Filipe Araújo, o resultado do candidato do Chega e, porventura, o score de uma eventual candidatura autónoma da Iniciativa Liberal, que não está completamente descartada. Seria o suficiente para estragar as contas do PSD, de Pedro Duarte e, mais importante, de Luís Montenegro, que tem alguns adversários políticos no tecido social-democrata da cidade do Porto — a começar por Rui Rio, naturalmente.

De resto, as movimentações de Rui Rio continuam a ser seguidas atentamente pelos seus detratores. Não passou despercebida a excecional participação do antigo líder do PSD num almoço organizado pela Associação Comercial do Porto no Palácio da Bolsa, no início de dezembro. Mas mais do que a presença do antigo autarca, o que causou maior espanto a quem participou nesse almoço (e estava lá gente próxima de Filipe Araújo e de Rui Moreira) foi o elogio rasgadíssimo de Nuno Botelho (homem que chegou a ser apontado como herdeiro de Rui Moreira no Porto já depois de ter sucedido ao autarca na Associação Comercial) precisamente a Rui Rio.

Botelho era próximo de Moreira, foi seu diretor de campanha em 2013, mas os dois foram-se afastando progressivamente. Os elogios de Nuno Botelho a Rio, que se tornou um arqui-inimigo de Moreira depois de o ter ajudado a conquistar a Câmara, causaram um grande impacto no movimento independente. E logo feitos a partir da Associação Comercial do Porto que mantém uma relação privilegiada com agência de comunicação JLM_K, onde o mesmo Jorge Afonso Morgado é adviser — em junho, o próprio moderou um debate entre Nuno Botelho e Luís Marques Mendes no Palácio da Bolsa.

Vale o que vale, mas há quem se esforce por ir juntando todos os pontos: Manuel Pizarro, contando com a persistência de Filipe Araújo e com a ajuda indireta dos homens de António Araújo, pretensamente influenciados por Rui Rio, está a tentar minimizar a candidatura de Pedro Duarte e as hipóteses de Luís Montenegro — que Rio manifestamente não aprecia politicamente. Tudo para impedir que Montenegro faça um brilharete na noite eleitoral e conquiste a Câmara Municipal do Porto 12 anos depois. Toda uma trama de supostos interesses cruzados, portanto.

Existe, todavia, uma impressão confirmada por várias fontes ao Observador: na candidatura de Manuel de Pizarro respira-se confiança e otimismo perante a barafunda que reina à direita. “Está divertidíssimo“, garante ao Observador um confidente próximo do socialista. Todos sinais parecem contar e todos os gestos vão assumindo os mais diversos significados políticos para os envolvidos. A divisão à direita é o que mais interessa a Manuel Pizarro e a derrota do PSD de Montenegro teria sabor a vitória para um parte do aparelho social-democrata do Porto.

Para 31 de janeiro já está marcado mais um evento que dará que falar no microcosmo do Porto: Pedro Duarte, mais do que provável candidato do PSD/CDS ao Porto, vai inaugurar o ciclo das “Conversas na Bolsa” deste ano precisamente na Associação Comercial do Porto. Resta saber que sinal quererá dar nessa altura — é que começa a faltar em tempo o que vai sobrando em agitação, conspirações e protocandidatos.

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