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O candidato da Iniciativa Liberal a tirar uma fotografia com jovens que o abordaram esta sexta-feira, no Cais do Sodré, em Lisboa
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O candidato da Iniciativa Liberal a tirar uma fotografia com jovens que o abordaram esta sexta-feira, no Cais do Sodré, em Lisboa

GAROA

O candidato da Iniciativa Liberal a tirar uma fotografia com jovens que o abordaram esta sexta-feira, no Cais do Sodré, em Lisboa

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No Cais do Sodré, Cotrim saiu finalmente da toca liberal: uma noite a fazer campanha entre selfies e imperiais

Beijinho para a Dina, abraço ao Ricardo e muitas selfies. Cotrim foi pop star na noite no Cais do Sodré, esta 6ª. Campanha acelera: indecisos estão a definir o voto, IL já sonha com o 3º lugar.

João Cotrim Figueiredo está com uma cerveja na mão no Cais do Sodré (Lisboa), um sorriso na cara e um telemóvel à frente. Quem o segura na mão é um jovem, que, apesar de a hora ainda não ir muito adiantada, parece ter já levado uma injeção de energia boémia. O rapaz queria um vídeo para a mãe e Cotrim acede: ei-lo a enviar “um beijinho” digital “para a Dina”, um “obrigado, já sei que vai votar na Iniciativa Liberal”.

Passam-se alguns minutos e o rapaz volta à base: desta vez o vídeo é para a cunhada. Cotrim ainda ensaia com humor um “o primeiro está bem, o segundo já é a pagar”, mas não tem grande sorte. Parece que a mãe e a cunhada adoram o partido. Como fica mal dizer que não, pumba, aí vai outro beijinho cibernético.

Andar numa sexta-feira à noite pelo Cais do Sodré, em Lisboa, é viajar numa fronteira ténue entre a ficção e a não-ficção, o que parece real e o que parece um filme cómico-ébrio. Ser um líder partidário e ficar parado numa sexta-feira à noite no Cais do Sodré é a fronteira anterior multiplicada por mil.

Durante os minutos em que ali permanece parado, Cotrim Figueiredo é encurralado pelos mais novos, posa para fotografia atrás de fotografia, alinha nas selfies à Marcelo, é metido no meio de um grupo que canta os parabéns (parece que alguém faz anos, mas fará mesmo?), é abordado por miúdos que estão na noite com os amigos, mas que lhe fazem perguntas seriíssimas, programáticas, de alianças à esquerda e à direita. E sucedem-se: vem um, outro, logo a seguir aparece novo curioso. Parece uma fila infindável. E Cotrim é devorado por um corrupio de solicitações, em ambiente de festa.

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Esta sexta-feira, 21 de janeiro, a Iniciativa Liberal foi para a rua. Ou, dito com mais rigor, este foi o dia em que a Iniciativa Liberal voltou para a rua e encontrou o que habitualmente se designa de povo.

Depois de uma arruada em Aveiro no fim-de-semana anterior, os últimos dias tinham sido passados nos distritos de Lisboa e Setúbal a comunicar sobretudo por outros canais. A campanha do partido foi-se desdobrando esta semana por reuniões de trabalho — com ordens profissionais, com associações empresariais, com administrações de hospitais e universidades — e sobretudo idas a sítios emblemáticos para que Cotrim Figueiredo pudesse falar às pessoas, via jornalistas, de temas caros à IL.

Fora por exemplo à porta da Autoridade Tributária criticar a complexidade do sistema fiscal, à entrada do Hospital Beatriz Ângelo criticar o “preconceito ideológico” contra as PPP e os moldes de um SNS que quer reformar, ao Aeroporto de Lisboa reivindicar para o partido a bandeira da privatização da TAP. Tudo mais institucional e sério, sem magotes de apoiantes atrás, sem desfiles de bandeiras difíceis de contar, sem música e cânticos de apoio.

Não se via “espetáculo” eleitoral, não se via a distribuição massiva de canetas e t-shirts da praxe, não se viam os beijinhos, os apertos de mão, o contacto com os eleitores na rua. E jantares-comício, ou comícios tão só, nem vê-los. Nem mesmo um curto passeio na quinta-feira pelas esplanadas de Telheiras, em Lisboa, parecia suficiente para mudar o rumo geral da campanha, que avançava sóbria, informativa.

Cotrim dizia nesse mesmo dia em declarações aos jornalistas: o partido estava a optar por fazer “a campanha que mais se coaduna não só com o tempo que vivemos mas com aquilo que são as características da IL: falar com clareza, profundidade e conhecimento de causa dos temas. Temos algumas coisas mais participadas, outras mais de trabalho”.

Esta sexta-feira, o jogo começou a mudar: a pouco mais de uma semana das eleições, com sondagens favoráveis, muitos indecisos a decidir o voto e previsíveis tentativas de bipolarização e reforço de apelos ao voto útil de PS e PSD, a campanha da IL aqueceu o motor da rua. The show must go on.

Cânticos, sim, mas também queixas: “Saímos da faculdade e vamos para onde?”

Eram 22h15 da noite e já se viam algumas dezenas de pessoas encasacadas para a noite liberal. Jovens, vários, mas também mais velhos, alguns acompanhados dos filhos, estavam alinhados para aquilo que a comitiva da IL chamava de “noite liberal”: um passeio noturno a percorrer algumas das artérias mais movimentadas da movida lisboeta a uma sexta-feira, como a Rua de São Paulo e a chamada “rua cor-de-rosa”.

No arranque do passeio levantava-se um grande pano — capaz de fazer duas pessoas e meia de altura — que apontava três soluções: “proibir”, “taxar” e “libertar”. A cruzinha estava na opção C e Cotrim Figueiredo ensaiava uma piada: “vejam como se faz a cruz; no dia 30 é fazer uma cruzinha igual a esta no boletim, não pode é ser encarnada”.

Entre o Jardim Dom Luís e a Rua da Ribeira Nova o trânsito entupia, culpa de quem se vingava ainda do fecho anterior das discotecas e das madrugadas perdidas em casa, mas Cotrim fazia caminho nos slogans: “O país está parado, a Iniciativa Liberal avança”.

João Cotrim Figueiredo ia avançando, quase sempre imperturbável. Por pudor ou hábito, não abordava ninguém, seguia sempre sem se dirigir a desconhecidos e só quando o interpelavam respondia, conversava, tirava fotografias.

Atrás de si, o candidato tinha uma comitiva com algumas dezenas de pessoas (certamente mais de cinco dezenas) e um conjunto de jovens animados, que asseguravam a cantoria: entoavam-se gritos de “liberal!”  “ohhhhh Portugal a cresceeeer, Portugal a cresceeeer, Portugal a cresceeeer, vota liberaaaal!” Havia quem fugisse ao guião e ensaiasse um “glorioso SLB”, mas também se adaptavam cânticos sportinguistas para a política: “Braços no ar / todos de pé / vamos cantar / liberal allez / libeeeeraaaaal alleeeeez”.

João Cotrim Figueiredo ia avançando, quase sempre imperturbável. Por pudor ou hábito, não abordava ninguém, seguia sempre sem se dirigir a desconhecidos e só quando o interpelavam respondia, conversava, tirava fotografias. A dada altura era já ladeado por duas militantes da IL, um braço dado a cada uma, e por Bruno Horta Soares, o candidato do partido a Lisboa nas últimas autárquicas.

Foi na altura da pausa, e depois de um elemento do seu reduzido núcleo duro de campanha lhe passar uma imperial para as mãos, que a secção perguntas e respostas se impôs. Um primeiro jovem aproximava-se para lhe dizer que, “como grande parte da juventude”, não queria o Chega no poder, tinha amigos a “equacionar votar no PS” (dizia) e ele à partida não queria mas precisava da “certeza de que não vai haver coligação com o Chega”. Cotrim selava o acordo com um aperto de mão: a IL “só tem uma palavra” e com o Chega não há acordos. O rapaz parecia satisfeito, até porque, confessava, a sintonia com a Iniciativa Liberal tinha sido “de 94% no votómetro” do Observador.

Saía um, entrava outro. Ou outros, como dois estudantes de “ciências farmacêuticas e medicina dentária” que não viam oportunidades futuras em Portugal, “saímos da faculdade e vamos para onde, para os países nórdicos?”. Ele dizia: “Só penso em sair”. E Cotrim respondia-lhe: “Essa história é a que ouvimos todos os dias. Sair é bom, ter de sair é que me faz impressão — como não ter hipótese de voltar. Essa desesperança pode ter solução, mas para mudar alguma coisa é preciso votar diferente. Não vos prometo que somos eleitos dia 30 e que dia 31 há oportunidades, mas é possível fazer melhor”.

A um jovem que lhe perguntava como era possível fazer "maioria de direita" sem o Chega, Cotrim chutava a responsabilidade para Costa: com um acordo entre PSD, IL e CDS-PP em cima da mesa, "o PS abstém-se e deixa passar esse Governo alternativo ou força a presença do Chega?"

De Cotrim abeirava-se outro jovem que lhe fazia uma pergunta difícil, repetindo aliás o que um candidato, André Ventura, tem questionado: como conseguem fazer uma maioria sem o Chega? A responsabilidade era agora chutada para outro: Cotrim lamentava, tinha “pena que não esteja aqui António Costa”, e entrava nos cenários hipotéticos. Dizia que a Iniciativa Liberal era clara, não faria entendimentos “nem com o PS, nem com o PCP, nem com o BE, nem com o Chega”. Se houver mais votos à direita, perguntava Cotrim, “o PS abstém-se e deixa passar esse Governo alternativo ou força a presença do Chega” para o viabilizar?

Mas um acordo à Açores está fora de equação: “Não vai acontecer porque nenhum dos partidos [em especial, PSD e IL] está disponível para isso”. A um outro jovem, Cotrim tentava explicar como quer pagar a perda de receitas para o Estado da redução da progressividade do IRS para duas taxas: o crescimento, os cortes na despesa pública (“é de 91 mil milhões de euros, achamos que é possível cortar 1%, também achas com certeza”), as PPP na Saúde que “poupam dinheiro”, os cortes nas “subvenções e isenções de impostos aos partidos”, as privatizações da Caixa Geral de Depósitos ou da TAP.

Um outro rapaz aproximava-se, desgostoso, dizendo ao líder liberal que as ideias dele poderiam ser ótimas mas infelizmente “o PSD não vai aceitar o que nós propomos, digo nós porque voto em si”, Cotrim ripostava “não vai aceitar tudo” mas aceitará algumas coisas.

De repente aparecia um novo telemóvel, era feito mais um vídeo a pedido: “Gustavo, o Ricardo pediu para mandar um abraço”. E outro: “Olá, Andreia…”. A alguns o candidato deixava conselhos (“abram-se ao mundo, viajem, façam Erasmus, leiam muito, alarguem-se”), para outros que simpatizavam com o Chega ligava o turbo para dizer que o partido de Ventura “não é confiável nem competente”, uma a uma desfazia as bandeiras e propostas do Chega, da castração química a pedófilos à duplicação de penas, “e achas isto competente?”.

Cotrim Figueiredo foi abordado por muitos jovens esta sexta-feira, no Cais do Sodré, em Lisboa

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Está aberta a época de combate pelo 3º lugar

Se não foi a primeira vez, não faltou muito: até aqui, a expressão “terceiro lugar” parecia quase impronunciável na campanha da Iniciativa Liberal. Internamente o partido definiu e comunicou os seus objetivos para estas eleições: obter 4,5% dos votos e eleger cinco deputados. Tudo o que viesse a mais, entendia-se, seria um bónus àquele que já seria em si um bom resultado.

Mas as últimas sondagens e tendências evolutivas de intenções de voto vão fazendo crescer o sonho liberal de superar Bloco de Esquerda, Chega e PCP.

Esta quinta-feira era revelada uma nova sondagem da Católica para a Antena 1, RTP e Público que colocava a IL empatada com o Bloco de Esquerda e CDU, com 5% das intenções de voto e a apenas um ponto percentual de distância do Chega, que aparecia em terceiro com 6%.

Mais encorajador ainda: na tracking poll da Pitagórica/TVI/CNN, a IL empatava esta sexta-feira com o Chega no terceiro lugar com 6,3% dos votos, com BE (4,9%) e CDU (4,5%) a não superarem os 5%.

Apesar da amostra desta tracking poll ser curta (152 entrevistas), há quatro dias consecutivos que a intenção de voto nos liberais sobe, o que insufla o entusiasmo e faz crer numa tendência crescente. Uma dinâmica a que porventura a notoriedade também crescente de Cotrim e a sua prestação nos debates — ele que nunca debatera anteriormente em frente a frente televisivos — pode não ser alheia.

O sonho de tornar os liberais a terceira força política fez entrar nesta campanha o Bloco de Esquerda, o Chega e a CDU. Cotrim chamou-lhes esta sexta-feira "extremistas de várias cores e de vários quadrantes"

O líder não fica indiferente à expectativa que se gera em torno do resultado. Apesar de cauteloso, e de insistir reiteradamente que não comenta sondagens “porque as variações estão todas dentro das margens de erro”, Cotrim proferiu esta sexta-feira pela primeira vez na campanha a expressão “terceiro lugar”. Fê-lo ao dizer que o único comentário que faz às sondagens recentes, porque o “diverte um pouco”, é “ver que afinal há um conjunto de partidos a lutar pelo terceiro lugar bastante maior do que o que se achava”.

O sonho de tornar os liberais a terceira força política fez entrar nesta campanha o Bloco de Esquerda, o Chega e a CDU. Se nos dias anteriores Cotrim Figueiredo apontara quase exclusivamente a mira ao Partido Socialista, ignorando os restantes partidos exceto quando era explicitamente questionado sobre eles pelos jornalistas, esta sexta-feira desferiu alguns ataques naquela que pode ser a nova concorrência.

Para Portugal, disse o líder liberal, “seria muito boa notícia que fosse um partido reformista e moderno como a IL que acabasse por ocupar o terceiro lugar — e não extremistas das várias cores e dos vários quadrantes que têm estado todos contentes a disputar esse lugar”.

O partido parece estar a crescer de eleição para eleição: nas legislativas de 2019 a Iniciativa Liberal conseguira 1,29% dos votos, nas presidenciais do ano passado obtivera 3,25% e agora parece estar a caminho de cantar vitória dia 30. Vitória de que dimensão, está ainda por perceber. O terceiro lugar, impensável até há poucas semanas, seria o corolário.

Quem também se deixou contagiar pelo sonho da terceira posição foi Bruno Horta Soares. O candidato da IL a Lisboa ia percorrendo a marcha liberal desta sexta-feira pelo Cais do Sodré quando confessou ao Observador: “Hoje estamos em pulgas”. O motivo? “Hoje houve um acompanhamento diário que nos dava como terceira força política”.

Bruno Horta Soares em setembro de 2021, em campanha em Lisboa para as eleições autárquicas

José Fernandes

O terceiro lugar nas eleições “é um número” mas é também “uma esperança de que verdadeiramente pode haver uma terceira força política responsável”, dizia Bruno Horta Soares. Ia mais longe: “É um sinal de esperança para Portugal, que pode vir a ter uma terceira força política que não seja do contra, da vingança, da chatice”.

Oficialmente as expectativas moderam-se, mas é previsível que o élan das sondagens venha a dar uma força crescente à campanha para a última semana. Este sábado, por exemplo, está previsto um comício com discurso do líder, João Cotrim Figueiredo, mas também de outras figuras nacionais do partido que se podem impor mediante um resultado acima das expectativas em distritos como Setúbal (Joana Cordeiro, marketing manager, é a cabeça de lista), Braga (Rui Rocha, gestor de recursos humanos) e Aveiro (Cristiano Santos, enfermeiro).

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