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Álvaro Tavares/Arquivo DN

Álvaro Tavares/Arquivo DN

O convite no estúdio, o tamboril para jantar e a máquina de flippers no camarim. Há 30 anos os GNR esgotaram Alvalade e fizeram história

Foram a primeira banda portuguesa a atuar num estádio de futebol em nome próprio. 30 anos depois, recordam o convite inesperado, uma noite sem nervos e explicam porque não o voltariam a fazer.

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“Esta entrevista devia ser patrocinada pelo Memofante”, diz Rui Reininho ao sentar-te numa poltrona, pronto para fazer um exercício de memória com Tóli César Machado e Jorge Romão. Durante uma hora, recuam juntos até 10 de outubro de 1992, o dia em que os GNR esgotaram o Estádio José de Alvalade, em Lisboa, sendo a primeira banda portuguesa a conseguir tal proeza num concerto em nome próprio. “Era um espetáculo que tinha mesmo que acontecer porque ainda ninguém o tinha feito. Fomos um bocado D. Afonso Henriques a fazer história.”

A banda de pop-rock portuense formada em 1980 já tinha enchido os Coliseus do Porto e de Lisboa e até atuado além-fronteiras, em países como Espanha ou França, mas estava longe de imaginar dar um concerto num estádio de futebol para 40 mil pessoas. O convite surgiu quatro meses antes no estúdio onde gravaram Rock in Rio Douro, o disco com temas que se transformariam em sucessos, como “Sub-16”, “Ana Lee”, “Sangue Oculto” ou “Pronúncia do Norte”. Apesar de muitos acharem um concerto em Alvalade “uma loucura” e um “suicídio artístico”, em poucos dias o trio aceitou o convite, consciente do risco e de toda a logística inerente. “Foi bom e fez sentido na altura, mas também foi um acidente de percurso. Muito sinceramente, aquilo nunca foi o nosso campeonato. Nunca fomos uma banda mainstream para encher estádios, toda a gente sabia disso.”

O palco chegou da Holanda, o sistema de som veio de Inglaterra e tinha sido usado no concerto de Elton John em Alvalade três meses antes, o mesmo palco por onde já tinham passado os The Rolling Stones, U2 ou Michael Jackson. Numa era ainda distante da realidade digital, os GNR souberam que o concerto estava esgotado 20 minutos antes de as luzes apagarem. Em palco, ao longo de duas horas (de um concerto que a RTP Memória transmite no próximo dia 10 às 19h57), cantaram êxitos, tiveram dois convidados e mudaram de roupa, garantem que o nervosismo não existiu e que ninguém se enganou.

Recordam a viagem de avião para Lisboa, o hotel fraquinho, o tamboril que escolheram para jantar, a máquina de flippers no camarim, a chuva, o champanhe e os charutos no final. “Este concerto nunca nos tirou os pés do chão”, sublinham, lamentando não terem capitalizado a crítica favorável do momento. Nos anos seguintes, a banda foi obrigada a reforçar a segurança nos concertos, o público e a curiosidade aumentaram, mas Rui Reininho (RR), Jorge Romão (JR) e Tóli César Machado (TCM) asseguram nunca terem sentido a pressão ou o peso das expectativas. Continuar a tocar e em cada álbum não se repetirem parecem ser os seus únicos objetivos. “A grande mudança foi mais para o público e não propriamente para nós. Se calhar deixaram de ter vergonha de ir a espetáculos nacionais, havia muito esse preconceito. Aliás, ainda há.”

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Jorge Romão, 58 anos, Tóli César Machado, de 61, e Rui Reininho, de 67, formam os GNR

(Rui Oliveira/Observador)

Que lugar ocupavam os GNR em 1992 no panorama pop-rock português?

TCM: Estávamos a crescer, ainda não tínhamos chegado ao topo, mas estávamos quase lá. Tínhamos feito um concerto muito grande, gratuito, em Lisboa, ao ar livre, na Alameda, que se calhar até tinha mais gente do que propriamente em Alvalade, parou a cidade, eram umas 100 mil pessoas.

RR: Era um concerto só nosso, onde tocámos o In Vivo, um disco que tinha saído muito bem em 1990, e foi aí que percebemos que talvez pudéssemos dar outro salto e passar para o nível seguinte.

JR: Sim, uma coisa é fazer um concerto de borla, outra coisa é fazê-lo a pagar num estádio de futebol, com as despesas todas inerentes a isso e o risco que isso representa para todos.

Como surgiu o convite para fazerem este concerto?

JR: Partiu do Rui Simões e do Vicente Carvalho, ambos da agência Encore, que vieram ao nosso estúdio no Porto, na Rua Marechal Gomes da Costa, quando estávamos a gravar o disco Rock in Rio Douro e nos propuseram fazer este concerto. Sabiam que o concerto na Alameda tinha corrido bem, ouviram o disco e gostaram, acho que foram os dois ingredientes principais para o convite acontecer.

TCM: Sim, eles vieram ao Porto ouvir as misturas no estúdio e sugeriram tocarmos num estádio de futebol, em outubro estávamos a fazê-lo, foi tudo muito rápido. Eles acreditaram muito no disco, foi esse o gatilho, acreditaram muito no projeto, mas claro que já nos conheciam e sabiam o que estávamos a fazer, já tínhamos enchido os Coliseus e já tínhamos tocado lá fora, em França e em Espanha, o convite não surge propriamente do nada. O disco estava pronto em finais de março, saiu em junho e em outubro fizemos o concerto.

RR: Eu caso-me no dia 21 de junho, vou de lua de mel para Goa e oiço do disco na viagem, lembro-me de ter mandado uns postais a dar feedback [risos].

TCM: Quando recebemos o convite achámos logo que era uma coisa arriscada, houve inclusive pessoas da nossa editora a dizer que era uma loucura, um suicídio, que podíamos estragar o nosso trabalho todo.

JR: Sim, porque éramos a primeira banda portuguesa a fazer um estádio de futebol e isso era muito arriscado, não só pelo número de pessoas, mas também pela logística toda à volta. Tens um disco que é um sucesso, mas depois partes para um estádio e aquilo está vazio? Era horrível e, de facto, podia acontecer.

RR: Fizemos antes o estádio do Vitória de Guimarães com umas três ou quatro mil pessoas, mas claro que tinha uma estrutura técnica muito inferior.

JR: Lembro-me que o palco veio da Holanda, a aparelhagem de som era de Inglaterra e tinha ficado cá do concerto do Elton John. Em Portugal não havia uma oferta técnica preparada para concertos com esta dimensão. Acho que só quando começaram a surgir os primeiros concertos em estádios de futebol é que todos passámos a perceber que havia público interessado nisso. Cheguei a ver o Michael Jackson em Alvalade e a chover.

TCM: No nosso concerto não choveu, só choveu no final quando estávamos a sair dos camarins em direção ao hotel. Foi uma limpeza, uma purificação [risos].

RR: Realmente quando recebemos o convite e não hesitamos muito, aceitámos logo, nós aceitávamos tudo desde que fosse para tocar. Conscientes do risco, mas aceitámos. Ao contrário do que acontece hoje, não havia Ticketlines para saber quantos bilhetes estavam a ser vendidos, era tudo uma incógnita.

TCM: Sim, só soubemos que estava esgotado quando abrimos as cortinas e vimos a sala cheia.

RR: Hoje em dia já não temos muito essa preocupação da ocupação da sala, mas naquela altura havia um risco monetário real, iríamos perder muito por consequência e para a empresa seria também um flop muito grande. Depois a própria RTP, que era o canal com mais expressão para espetáculos, filmou o concerto todo e percebemos que era um espetáculo que tinha mesmo de acontecer porque ninguém ainda o tinha feito. Fomos um bocado D. Afonso Henriques a fazer história, era quase como ir ao Jamor ganhar a Taça, aí não há lesões nem dores de cabeça, só se pode ganhar.

"Por acaso foi daqueles concertos em que correu tudo bem, ninguém se enganou, o que nem era normal. As músicas já estavam bem rodadas e não estávamos muito nervosos"

Álvaro Tavares/Arquivo DN

Que referências tinham do Estádio de Alvalade?

RR: Estávamos já a fazer concertos grandes, no estádio do Vitória de Guimarães o palco estava muito separado da bancada, não foi agradável, não havia gente à nossa frente e foi estranho. Alvalade foi o estádio onde mais vezes fui ver futebol, mas sempre e levar na cabeça [risos]. O primeiro concerto que vi lá foi o dos Rolling Stones.

TCM: Eu vi os Stones, U2, Elton John e Michael Jackson.

JR: Alguns desses até vimos juntos, mas nunca imaginámos na vida dar um concerto ali. Era algo inatingível.

TCM: Foi algo que só surgiu nas nossas cabeças na altura do convite.

RR: Sim, sim, nunca me tinha passado isso pela cabeça.

Não tínhamos grande feedback que o estádio pudesse mesmo encher, na véspera havia algum nervosismo e receio relativamente a isso, porque não havia mesmo maneira de saber o que se vendia, só telefonando para os locais que tinham bilhetes à venda, como tabaqueiras, quiosques ou discotecas que também vendiam discos.
Jorge Romão

JR: Houve uma vaga de concertos em estádios e basicamente aproveitamos a onda, mas nunca tínhamos falado disso internamente.

RR: Não sei quem naquelas circunstâncias poderia arriscar numa coisa destas.

TCM: Na altura disseram-nos que o único artista que podia ter feito um concerto destes seria o Rui Veloso, os Xutos & Pontapés ainda não estavam nesse nível em 1992.

Como foi a preparação para o espetáculo?

TCM: Já estávamos a tocar o disco há algum tempo, tínhamos uma agenda cheia e as coisas bem rodadas.

JR: A escolha de reportório para o concerto foi simples, tocámos o “Rock in Rio Douro” e alguns temas mais orelhudos, o “Dunas”, “Efetivamente”, Vídeo Maria”, apareceu tudo lá. Desse ponto de vista foi perfeito, escolhemos bem tanto o reportório como o alinhamento.

RR: Ensaiávamos na zona do Passeio Alegre, na Foz, e só fomos para Lisboa uns quatro dias antes para fazer a promoção do concerto na rádio e na televisão. Fomos de avião e tudo, um “mercedolas” veio-nos buscar, parecia um carro funerário e não uma limusine [risos].

JR: Não tínhamos grande feedback que o estádio pudesse mesmo encher, na véspera havia algum nervosismo e receio relativamente a isso, porque não havia mesmo maneira de saber o que se vendia, só telefonando para os locais que tinham bilhetes à venda, como tabaqueiras, quiosques ou discotecas que também vendiam discos.

TCM: Muita gente comprou bilhetes à porta, não havia a cultura de comprar bilhetes com um ano de antecedência, nada era digital e as coisas podiam ser canceladas, mas vendeu-se bem tanto em Lisboa como no Porto.

RR: Foram camionetas do Porto cheias de gente.

O que recordam desse dia?

RR: Ficamos num hotel no Estoril.

TCM: No Estoril?

JR: Não foi nada, foi um fraquinho perto do restaurante Laurentina, O Rei do Bacalhau. Aquilo não era nada de especial.

TCM: Pois foi. Acordámos tarde e fomos fazer o som a Alvalade. Lembro-me de ter dado entrevistas em cima do palco, era uma coisa que nunca tinha feito. Foi uma confusão, uma jornalista de rádio fez-me cinco vezes a mesma pergunta, eu a tocar bateria e ela aos berros, não ouvia nada e ela a insistir imenso comigo.

RR: Ainda no outro dia estive com a Catarina Furtado e ela disse-me que também nos entrevistou nesse dia, mas não sei se foi em cima do palco.

JR: Durante a tarde disseram-nos que o concerto estava quase a esgotar, depois só soubemos que esgotou mesmo quando o Rui Simões mandou, através de um intercomunicador, fechar as portas porque já não havia mais bilhetes. Isto aconteceu uns 20 minutos antes de começarmos.

TCM: Fui eu que escolhi o jantar, lembram-se? O Vicente Carvalho perguntou o que queríamos comer e eu disse tamboril cozido. Havia um cozinheiro que montou uma cozinha durante dois ou três dias para as montagens, a equipa era enorme, tinha umas 300 ou 400 pessoas.

RR: As cervejas estavam escondidas porque eram perigosas [risos]. Havia queijo?

JR: E pistáchios.

TCM: Não bebi álcool nesse dia, também a tocar bateria não podia estar ali a emborcar, não é?

RR: Durante o concerto só bebo chá.

TCM: Os camarins eram balneários, mas arranjadinhos.

JR: Não fizemos muitas exigências, pois não?

TCM: Não, só pedimos uma máquina de flippers.

RR: Havia matraquilhos, maquilhagem e uma televisão, mas não me lembro do que transmitia. Cheguei a ter uma bola de vólei e dei uns toques com alguns elementos da equipa.

JR: Não conhecíamos metade da equipa, sei que havia imensos seguranças, bombeiros e polícias. O Sporting pediu para estenderem uma alcatifa em cima da relva para não ser danificada e houve imensos testes às bancadas e à própria arquitetura do estádio.

Zézé Garcia, Tóli César Machado, Rui Reininho e Jorge Romão, os GNR com o galardão de disco de platina por "Rock in Rio Douro", em 1992, com David Ferreira, presidente da EMI/Valentim de Carvalho

Como foi a escolha do guarda-roupa e dos convidados?

RR: Não mudei muitas vezes de roupa. Acho que começámos todos com camisas brancas, depois tirei e tinha uma t-shirt por baixo. As roupas eram dos designers Manuel Alves e Manuel Gonçalves que já nos tinham vestido para a fotografia do disco.

TCM: A mim nunca ninguém me vestiu [risos].

RR: A camisa preta com folhos ainda a tenho e ainda me serve, o resto não, as peças eram vistosas e de boa qualidade, mas não eram roupas de palco. No camarim tinha um charriot e ia escolhendo.

JR: O Rui trocava de roupa porque suava muito e era vaidoso [risos].

RR: Tinha vários intervalos durante o concerto e aproveitava para ir trocar. O Javier Andreu, por exemplo, ficou sozinho em palco uma música inteira e eu saí.

TCM: Sozinho não, nós estávamos lá com ele.

RR: O espetáculo demorava duas horas, havia tempo para me trocar. Na minha cabeça cada roupa fazia sentido com determinadas músicas, mas talvez só na minha cabeça.

TCM: Além do Javier também cantámos com a Isabel Silvestre. Aliás, quando aceitámos fazer o concerto convidámo-los logo, não foi? O “Sangue Oculto” e a “Pronúncia do Norte” eram dois singles que passavam nas rádios com eles e fazia todo o sentido estarem neste concerto connosco.

Alteravam alguma coisa do que fizeram em cima do palco?

TCM: Por acaso foi daqueles concertos em que correu tudo bem, ninguém se enganou, o que nem era normal. As músicas já estavam bem rodadas e não estávamos muito nervosos, se calhar fico mais nervoso agora do que naquela altura.

Não convidamos propriamente ninguém, mas sei que os Xutos foram. E aquele moço que estava sempre nas primeiras filas para se mostrar, o Ricardo Carriço. O Sousa Cintra, que era o presidente do Sporting, foi o que pediu mais bilhetes à borla.
Rui Reininho

RR: Sim, ninguém estava aflito.

TCM: A única coisa estranha foi a Isabel Silvestre que tinha e tem um problema com o tempo. Ela é uma cantadeira, está habituada a cantar e as pessoas irem atrás dela e ali entrou com a bateria.

RR: Ela entrou toda vestida a rigor, trajada, se calhar assustou-se com aquela gente toda [risos].

TCM: Não, ela já no estúdio não entrava no tempo certo, não é uma cantora pop. Agora já não erra porque eu pego no acordeão e vou para a frente para o lado dela.

JR: Acho que só tivemos perceção da quantidade de pessoas que estava à nossa frente quando apagaram as luzes do estádio e sentiu-se aquela força toda e aquele barulho.

RR: Ainda se usavam isqueiros nos concertos. Havia muita gente nova, muitas miúdas coladas às grades, era quase sempre assim.

JR: Não convidamos propriamente ninguém, mas sei que os Xutos foram.

RR: E aquele moço que estava sempre nas primeiras filas para se mostrar, o Ricardo Carriço. O Sousa Cintra, que era o presidente do Sporting, foi o que pediu mais bilhetes à borla.

"Muita gente comprou bilhetes à porta, não havia a cultura de comprar bilhetes com um ano de antecedência, nada era digital e as coisas podiam ser canceladas, mas vendeu-se bem"

O que aconteceu no final do concerto?

TCM: Lembro-me que fumámos charutos Montecristo que o Rui Carvalho, da editora, foi lá levar-nos com uma garrafa de champanhe no fim. Naquela altura não havia acesso aos camarins, eles eram ainda longe do palco, por isso não tivemos contacto com o público.

RR: A própria entrada não tinha torniquetes, soubemos depois que houve alguém que fez 100 ou 200 bilhetes falsos.

JR: Se ainda hoje falsificam, naquela altura era ainda mais fácil, bastava fazer fotocópias bem feitas e pronto. No relvado era tudo de pé e nas bancadas era por ordem de chegada.

RR: Quando acabou o concerto fui para o hotel, até que bateram à porta do meu quarto e era a Isabel Silvestre e uma amiga de malinha na mão todas gaiteiras a dizer: “Então meninos, não vamos para a night?” Fomos para o Johnny Guitar com elas até às tantas.

TCM: Eu não, fiquei no hotel, estava estourado, foi um dia de muita tensão. Estava com a minha namorada, hoje minha mulher.

JR: Eu também fiquei, não costumo sair. Bebi só um copo no bar do hotel e fiquei por lá a falar até tarde.

TCM: Dormi pouco, apanhei logo o avião no dia seguinte.

RR: Foi um concerto emotivo, mas também não foi assim uma coisa que tivéssemos que processar muito.

TCM: Sim, existiam coisas mais excitantes na altura, como os Coliseus.

JR: Tivemos logo noção que o concerto tinha corrido bem e que tinha sido um sucesso, sinceramente não mudávamos nada do que fizemos. Não me lembro bem das críticas, houve muita pancada?

RR: Só li coisas positivas, mas quando enchemos os Coliseus houve muita indiferença por parte do Blitz que me chamou “sub 36”, porque já tinha 36 anos e para eles eu estava armado em teenager. Sempre foram uns ranhosos, nunca ligámos aquela gente.

JR: Já não me lembro se voltei de avião.

RR: Eu não voltei, quando casei fui viver para Oeiras e só fiquei no hotel antes do concerto para fazer estágio antes do jogo de futebol.

"Não mudei muitas vezes de roupa. A camisa preta com folhos ainda a tenho e ainda me serve"

Serem a primeira banda portuguesa a encher um estádio de futebol mudou alguma coisa?

TCM: Acho que não aproveitámos bem o feedback positivo que existiu. Não tínhamos, e se calhar ainda não temos, uma grande visão e uma grande veia para isso. Naquela época não queríamos fazer determinadas coisas, recusámos participar em programas de televisão, não fazíamos publicidade nem playbacks.

RR: Sim, não íamos aos programas da manhã.

TCM: Não é que me arrependa, mas acho que não aproveitámos a onda que se gerou à nossa volta.

JR: O concerto correu bem, mas não foi muito capitalizado por nós. Agora seria impensável fazer uma coisa destas pela sua singularidade.

RR: Hoje uma coisa destas seria aproveitada para ter milhões de visualizações e teria muito marketing nas redes sociais, iria deixar mais rasto. A consequência foi quando fizemos outro disco, o Sob Escuta em 1994, parece que reaparecemos.

TCM: Comercialmente, nunca repetimos o que fizemos, tentámos apresentar sempre coisas diferentes e isso nem sempre foi uma coisa benéfica. Em termos criativos não sentimos nenhuma pressão pela expectativa.

RR: Lembro-me de ter recusado um anúncio de um shampoo para a caspa, não me apetecia nada aparecer para fazer aquilo [risos].

JR: Se fosse hoje, até eu fazia, até fazia contigo [risos].

RR: O ano seguinte foi igualmente bom, em junho de 1993 enchemos o estádio das Antas, também foi importante, tivemos umas 25 mil pessoas, veio gente do Algarve e da Galiza.

JR: Acho que ganhámos público, mas também devemos ter perdido outro, faz parte.

RR: A grande mudança foi mais para o público e não propriamente para nós. Se calhar deixaram de ter vergonha de ir a espetáculos nacionais, havia muito esse preconceito, aliás, ainda há. Os estrangeiros é que são bons e as pessoas são capazes de pagar balúrdios para os verem ao vivo, mas pagar 15 euros para ver uma banda portuguesa já acham escandaloso.

JR: Este concerto nunca tirou os pés do chão.

TCM: Foi bom e fez sentido na altura, mas também foi um acidente de percurso, muito sinceramente aquilo, nunca foi o nosso campeonato. Nunca fomos uma banda mainstream para encher estádios, toda a gente sabia disso.

JR: Aliás, no fim de semana seguinte voltámos logo ao país real, tivemos um concerto em Santo Tirso, numa feira da alheira qualquer.

TCM: Lembram-se de um concerto que fizemos depois em Leiria num pavilhão que estava tão cheio que até escorria água do teto?

JR: Sim, sim. Os concertos seguintes passaram a estar muito mais cheios.

TCM: Ainda andámos uns dois ou três anos com seguranças atrás de nós. As pessoas queriam mesmo vir aos camarins falar connosco e aquilo tornava-se meio exaustivo. Depois fizemos um disco novo e a coisa acalmou um bocadinho.

"Acho que não aproveitámos bem o feedback positivo que existiu. Recusámos participar em programas de televisão, não fazíamos publicidade nem playbacks."

(Rui Oliveira/Observador)

Se hoje fossem convidados para fazer um concerto num estádio de futebol, aceitariam?

TCM: Não, credo. Agora temos é direito a paz e sossego. Por acaso gosto muito de tocar em salas pequenas, anfiteatros e salas mais confortáveis, com concertos a horas decentes.

JR: Atualmente não teríamos seguramente procura para isso, não teríamos quem apostasse em nós.

RR: As pessoas não têm noção do que exige de nós fazermos um Coliseu ou um Campo Pequeno, depende muito das circunstâncias. O público tem outra disponibilidade e já está velhinho, mas nós não [risos].

TCM: Podia fazer sentido correr esse risco com um disco novo, que tivesse tão bom feedback como teve o Rock in Rio Douro.

JR: Sim, nunca digas nunca.

RR: Quem está a fazer isso agora são aqueles grupos que pararam durante muitos anos e aparecem depois com aquele mito de que vai ser a última vez, mas nunca é.

TCM: Nós nunca parámos, se calhar quando o fizermos será de vez.

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