793kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Saímos à noite com os miúdos dos milhões. Mas não há "festazinha das startups" aqui

O Observador pegou em três empreendedores, foi comer e beber com eles, e pediu-lhes para falarem sobre o que aí vem para as startups, Lisboa e o país. O que vai acontecer na ressaca da Web Summit?

    Índice

    Índice

— Será que as empresas vão estar preparadas para a ressaca da Web Summit?
— Depende… Se continuarmos todos na festazinha das startups, a conseguir os primeiros cem mil, se calhar vamos falhar o ponto disto tudo. Porque não é estar a bater palmas, é estar no escritório em vez de ir aos cocktails, a trabalhar, a perceber como é que consegues fazer crescer a tua startup.

A resposta é de Miguel Leite, fundador do Tradiio. Quando cheguei ao pé dele, do Jaime Jorge e da Mariana Gama, na quinta-feira à noite, num bar do Cais do Sodré, assumi-lhes logo que não percebia quase nada de startups. Antes deste artigo, aliás, nem sequer sabia se startups se escrevia com itálico ou não. Agora já sei. E sei outras coisas. Não estranhe a opção de nos encontrarmos à noite, num bar, para falar do evento que vai trazer 50 mil pessoas na próxima semana. That’s the way they like it. “Bons negócios fazem-se quando vais sair, quando vais beber copos”, explicou Jaime Jorge, fundador da Codacy, startup que ganhou o concurso da Web Summit 2014.

São nove da noite e, estranhamente, já decorre uma festa de Natal num dos bares da Rua Nova do Carvalho, a famosa “rua cor-de-rosa” do Cais do Sodré. É para lá que milhares de investidores, fundadores de startups, jornalistas e curiosos vêm divertir-se e, quem sabe, fazer negócios durante aquele que é considerado o maior evento de tecnologia e empreendedorismo da Europa.

Isto vai ser a Expo 98 vezes vinte vezes três anos. Durante a próxima semana, estas ruas vão estar cheias. Isto vai estar cheio. As pessoas vão perguntar “o que é isto? o que é que está a acontecer aqui?”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quem é quem

Mostrar Esconder

Jaime Jorge:

Tem 28 anos, fundou a Codacy em 2012. A empresa é responsável por uma plataforma online de análise de código em que se inscreveram milhares de pessoas para ajudar os programadores de software de todo o mundo a corrigirem possíveis erros. A Codacy venceu a Web Summit de 2014, em Dublin, e pôs Lisboa no mapa do empreendedorismo.

Mariana Gama:

Tem 29 anos, é arquiteta e ajudou a fundar a Mondino, uma startup imobiliária focada em atrair e ajudar os investidores interessados em comprar e reabilitar edifícios em Lisboa.

Miguel Leite:

Tem 29 anos e é cofundador do Tradiio, uma plataforma online que permite descobrir, apoiar e financiar artistas musicais novos. Este ano, o Tradiio foi considerada uma das startups mais disruptivas do mundo.

Naquela quinta-feira, a enchente não era grande, mas ainda assim não foi fácil arranjar mesa para os quatro. Demorámos uns bons 20 minutos. No interior do bar, uma fadista explica em inglês quem foi José Afonso e que coisas cantou. Do outro lado da rua, na festa de Natal, é Adele que se ouve. Enquanto o gelo não se quebra totalmente e os primeiros copos de vinho e cerveja que pedimos não se esgotam, falamos da Web Summit. É Jaime quem começa.

— Arriscaria dizer que as pessoas nem têm noção do que aí vem. Aquelas que estão dentro do círculo, que sabem o que é uma startup e ouvem falar em startups todos os dias, estão sempre a ouvir o que é isto. Mas as pessoas de fora vão começar a ver o que isto vai ser. Vai haver muitas pessoas, muito inteligentes, dos círculos mais importantes de decisão do mundo tecnológico, a vir ter connosco.

Miguel Leite concorda.

— Consegues, em três dias, trazer a Lisboa uma data de gente que nunca viria a Portugal, que nunca olharia para Portugal, nunca olharia para as empresas portuguesas. Essa injeção de conhecimento é muito importante.

“Conhecimento”. Eis a primeira palavra-chave para descodificar as expectativas, os anseios e as preocupações dos empresários portugueses que lançaram startups. Miguel traça rapidamente o panorama:

O buzz que está a acontecer em Portugal neste momento de startups é demasiado para a qualidade que ainda existe no ecossistema português. Não é mau haver barulho, eu penso é que por vezes esse barulho pode ser inimigo da evolução. As pessoas às vezes falam do que está a acontecer à volta das startups como o momento mais incrível que nós atravessámos no que toca à inovação, mas esse momento mais incrível está para vir.

Jaime e Mariana acenam em sinal de concordância, Miguel vai expondo argumentos. “Muitos dos erros que eu cometo e que a nossa empresa comete acontecem porque ainda não temos ninguém em Portugal que nos diga ‘olha, eu já cometi esse erro, não cometas esse erro'”.

Miguel Leite, 29 anos, cofundador da Tradiio, quer "tornar a indústria da música mais justa para todos os artistas" (Fotografia: HUGO AMARAL/OBSERVADOR)

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Lisboa, we matter!

Ter os pés assentes na terra. Não perder o foco. Ser realista. Ainda não passaram mais de cinco minutos de conversa e o Miguel já mostrou que, apesar de entusiasmado com as possíveis oportunidades que aí vêm, prefere estar cauteloso. Aparece uma cuspidora de fogo da rua que vai lançando chamas por cima das nossas cabeças.

Os portugueses já estão despertos para a realidade de que as empresas nascem e morrem?
— Estamos a começar a ver empresas a nascer, mas não estamos nada habituados a ver empresas a morrer. Achamos que é um falhanço péssimo. Achamos “epá, esta pessoa está marcada para a vida, nunca mais vai conseguir ter uma casa, não vai casar-se, esquece, mais vale mandar-se já para o cemitério”. Que é uma coisa que não vês lá fora. Vais a Silicon Valley, vais a Nova Iorque, vais a qualquer outro sítio e o falhanço é uma coisa vista como positiva. “Fogo, este fulano já passou pelas coisas más, já cometeu os erros, já viu cometer os erros, sabe as coisas”.

Foi Jaime que respondeu. Mariana acrescenta:

— A Web Summit vai trazer muita gente que quer viver em Portugal e trazer muitas coisas boas para Lisboa. Nós ainda temos um espírito muito conservador, vemos isto como se as pessoas viessem aqui atormentar a nossa aldeia, fazer barulho, destruir os nossos sítios… Eu acho que é preciso fazer uma atualização da mentalidade e perceber que isto, de facto, traz imensa inovação para Lisboa e traz uma qualidade de vida para toda a gente.

Jaime reforça:

— Isso é uma coisa extraordinária e nós, portugueses, gostamos disso. Gostamos de ver as pessoas de fora a vir cá para dentro…
— Gostamos da atenção?
— Da atenção!

Mariana acrescenta que os portugueses gostam da atenção, sim, mas que têm dificuldade em aceitá-la. Jaime não nega que haja essa falta de aceitação, mas também não esconde que adora ver turistas na rua. “Digo yes!, pessoas a ver a nossa cultura, a nossa indústria, a ver-nos a nós… pá, we matter!“, reforça.

Mariana Gama, 29 anos, cofundadora da Mondino, passa grande parte dos dias a "vender" Lisboa aos investidores estrangeiros (Fotografia: HUGO AMARAL/OBSERVADOR)

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Entra Miguel de novo na conversa, de novo para atirar um bocadinho de água para a fervura: “Eu sou um bocadinho velho do Restelo. Às vezes tenho medo que a tasca onde eu vou deixe de ter o bitoque com molho de banha de porco e que alguns espaços percam a sua autenticidade.” Mas, acrescenta, a balança de transformações por que Lisboa está a passar é mais positiva do que negativa.

“É preciso passarmos a ver Lisboa como uma cidade que não é só uma cidade, é uma cidade onde o mundo está. Onde há conhecimento do norte da Europa, há investimento dos Estados Unidos e há startups portuguesas a exportar para o mundo inteiro”, acrescentou Miguel. Mariana, que lida diariamente com pessoas que querem investir no mercado imobiliário português, diz que é “absolutamente incrível o potencial que Lisboa tem enquanto capital europeia”.

— Às vezes digo isto — sou muito criticada — mas digo que Lisboa finalmente se tornou uma capital europeia. Porque é verdade! Éramos aqui um bocadinho um canto escondido que as pessoas gostavam, vinham, tinham os seus cafés… Nós finalmente somos uma cidade! Depois as pessoas queixam-se, que não há cafés, que não há restaurantes, que há muita gente… Há imensas outras cidades em Portugal para viver isso, Lisboa é uma capital europeia!

Nós ainda temos um espírito muito conservador, vemos isto como se as pessoas viessem aqui atormentar a nossa aldeia, fazer barulho, destruir os nossos sítios...
Mariana

Cuidado com “a festazinha das startups

Entre 7 e 10 de Novembro, há cerca de 50 mil pessoas em Lisboa para ouvir os grandes nomes do universo tecnológico. São empreendedores, investidores, celebridades que vão encher o MEO Arena e FIL no ano de estreia da Web Summit fora de Dublin. Até à data, o evento realizava-se na capital irlandesa. A mudança para Lisboa foi anunciada no final do ano passado. E até 2018 – com possibilidade de estender por mais dois anos – é a cidade à beira Tejo que vai receber o maio evento de tecnologia europeu. Jaime Jorge não esconde o entusiasmo.

Eu acho que isto é brutal. É fantástico. É o sonho tornado realidade. Muitas das pessoas que tu sonhavas conhecer… vou dizer uns nomes: o gajo que criou a Intercom, o Des Traynor. Para mim, é um dos gurus de produto. Um fulano que sabe fazer produto, que percebe o que é falar com um cliente… Ele vem a Lisboa! Ele vem para estar connosco, vem para falar cá. É uma oportunidade que é rara. Isto aplica-se a muitas outras pessoas.

Pouco depois, acrescenta que este é o tipo de coisas que grandes eventos como a Web Summit potenciam: a disseminação de informação, de cultura, de contactos.

— Então não tem só a ver com o dinheiro?
— Não, nada, de maneira nenhuma! A minha opinião é que tu nem devias ir à Web Summit se estás à procura de investimento. Toda a gente vai à procura do mesmo, os investidores vão lá estar a ser assediados “hey, can I pitch you? hey, can I pitch you?

Miguel Leite corrobora: “Eu não vou ter com o gajo do Spotify e espero que ele me diga o segredo que vai fazer com que a minha empresa cresça. Mas, se calhar, vou estar a beber copos com ele e, daqui a três semanas, ele manda-me um mail a perguntar se queremos fazer uma call rápida. É mais de relações e menos de consequências reais e óbvias”, afirmou

Jaime Jorge, 28 anos, cofundador da Codacy. Ele não o admite, mas a startup dele foi uma das que contribuiu decisivamente para a vinda da Web Summit para Lisboa (Fotografia: HUGO AMARAL/OBSERVADOR)

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

O adiantado da hora pede mais bebida e alguma coisa para picar. Estamos num momento importante da conversa, em que se aborda o que pode acontecer depois da Web Summit. O mundo não vai mudar do dia para a noite, alertam Jaime, Miguel e Mariana, que têm bem identificados os problemas que ainda há para resolver.

— É preciso olhar para depois das luzes, sempre. Há uma excitação brutal à volta das startups, há apoios do Governo para investimento, etc. Mas há o depois das luzes. Ainda há imensa burocracia em Portugal, 90% dos investidores não têm experiência nenhuma… No caso da Web Summit vai haver uma altura depois da festa, vai haver uma altura da ressaca. É importante olhar para o que vai ser essa ressaca.

Nada de novo debaixo do sol

Eis que está lançada a discussão.

Jaime Jorge diz que “há uma parte muito non-glamorous nas startups que não vai passar para fora. Noventa por cento do trabalho de uma startup é muito chato, meu! Não é…” Mariana Gama completa a frase: “Não é jogar pingue-pongue.” Jaime concorda. “Não é estares nas revistas… O trabalho real de uma startup é muito chato. É mandar e-mails, fazer chamadas, ouvir ‘nãos’ todos os dias, estar a tentar angariar investimento e teres investidores a dizerem-te que não. Quando um investidor te diz que não, tu levas isto a peito, porque aquilo é a tua vida”, explicou Jaime

Imagina contactares 600 pessoas por e-mail e o teu dia é receberes ‘nãos’“, reforça Miguel.

Jaime corrobora. “Um não’ é muito difícil. Porque é um ‘não’ a ti, é algo que é teu, estão a dizer-te não a ti, que tu não és suficientemente bom para receber aquele dinheiro. Quando ouves um, dois, três…agora quando ouves 60,70, 80 e 100… Bem, a partir de certo momento ficas numb para ouvir um ‘não’, mas é uma rigidez mental que poucas pessoas percebem.”

Mariana põe água a fervura e explica que há todo um trabalho de backstage que pode e deve ser feito. Um trabalho que implica pegar na mão dos investidores e dizer-lhes que assim “vale mesmo a pena ficar cá e nós vamos ajudar-vos”.

Acho que é impossível vir a Lisboa e não querer cá voltar, pelo menos. Lido com investidores que decidem não só vir viver para Lisboa como também decidem montar cá negócios — e a partir desse momento trazem uma bagagem gigante que não existe em Portugal. Agora o país tem uma data de coisas para trabalhar: burocracia, mentalidades…

Os fundamentos de criar uma empresa não mudaram. Nada mudou. É só marketing chamarmos "startup".
Jaime

E o deslumbramento?

Há deslumbramento de que startups é ter uma ideia, ir para lá, tentar desenvolver e mandar uns bitaites…”, responde Miguel Leite. Jaime Jorge completa a ideia.

Quando sou convidado para falar em público, gosto de passar a ideia de que isto é muito duro. Isto é difícil, isto é suposto ser difícil, porque se não havia imensas outras pessoas a fazer isto.
As vossas respostas fazem-me pensar que isto não vos diferencia assim tanto de uma pessoa que, nos anos 70 decidiu criar uma empresa de ar condicionado.
— Nada, nada! É a mesma coisa. É só marketing chamarmos “startup”.

Miguel Leite usa o termo “porrada” para falar do que é isto de criar uma empresa. “Dizer isto nem sequer elogia a realidade que é, isto é muito mais difícil do que se possa imaginar. Às vezes este mito e este deslumbramento afasta a ideia verdadeira do que é que as pessoas estão aqui a tentar fazer. Para além dos cocktails, para além dos grandes eventos, há a realidade. E a realidade é que, em vez de estares a criar uma fábrica de têxtil, estás a criar uma empresa cuja base é digital”, frisou

E os fundamentos de criar uma empresa não mudaram, acrescentou Jaime Jorge. “Na minha opinião apenas houve uma aceleração nos métodos de fazer uma empresa por causa da internet. Isso permitiu que, a muito baixo custo, as pessoas pudessem fazer coisas que iam dar muito mais trabalho”, acrescentou

“Coitadinho, quando é que tu arranjas emprego?”

É uma coisa que não se ouve todos os dias. Apesar do nome inglês e de parecer ser um mundo muito sexy, as startups são pequenas empresas a querer crescer e a querer o que todas querem — vender. O importante continua a ser o negócio.”Make something people want. Podes estar a fazer um produto e, muitas vezes, estás a criar uma solução quando não existe problema”, diz Jaime, quando a mesa já está mais composta: um cesto de pão, manteiga, queijo, azeitonas, pica-pau, mais dois copos de vinho e dois de cerveja.

Miguel também diz que é fundamental responder a uma necessidade, que sem isso não há negócio. “Essa é a parte mais gira, quando tu identificas um produto que as pessoas realmente querem.” Mas há outras coisas giras nas startups, acrescenta o fundador da Tradiio.

— Passas por tudo. De repente, vês-te com uma equipa de vinte pessoas, que nunca geriste. Depois, percebes que não devias ter vinte pessoas e que tens de despedir. Nunca despediste pessoas na vida. De repente, o teu dinheiro está a acabar e tens de ir buscar mais financiamento ou perceber se o teu produto é realmente interessante. Sporquee não for, tens de perceber que é porque não está a resolver um problema. Ter capacidade de mudar, não ter vergonha. Esta questão de admitir que se falha é importante. As pessoas dizem todas que não é preciso ter medo de falhar, concordo. E é fácil dizer isto, mas viveres é completamente diferente…Se falhares, a forma como as pessoas às vezes falam contigo… A família… Pelo menos no meu caso, ninguém percebe o que eu faço.

Jaime: “E o teu negócio é música! Agora vai lá explicar programação à minha avó! Foooogo”, brinca.

Essa é a parte mais gira, quando tu identificas um produto que as pessoas realmente querem.
Miguel

Na festa de Natal do bar em frente começa a dar uma música do Hélder, Rei do Kuduro (lembram-se?). Chama-se “Felicidade”. Nem de propósito, porque é disso mesmo que se fala por aqui.

— Ainda temos muito aquela ideia de que saímos da faculdade e temos logo de arranjar emprego?
— Exatamente! Se não és um perdido da sociedade…

Foi Mariana quem respondeu primeiro, mas logo a seguir Jaime Jorge corroborou. Para o fundador da Codacy, antigamente era muito bem visto quando as pessoas saíam da faculdade e iam para um emprego seguro. “Emprego seguro era uma coisa fantástica. Trabalhar num banco. As pessoas pensavam ‘Uaaaau. Ele conseguiu, ele está bem. Tem um salário assegurado, tem um emprego de risco baixo, tem um empréstimo para a casa, comprou um carro. Uau, está feito. É uma ótima vida.’ A nossa geração percebeu várias coisas. Não há emprego assegurado. Isso é bullshit. E estamos prontos para isso. Não há uma carreira de uma vida”, frisou.

Mariana volta a intervir.

O deslumbramento com as startups é tanto que hoje em dia as pessoas acham que ir para uma startup é…
— É cool?
— É cool! E ir para uma startup por dois ou três anos é muito giro, mesmo que a startup não seja nada.

Miguel pega no exemplo da mãe para explicar como a ideia ainda é difícil de explicar. “A minha mãe, como ainda não viu o Tradiio a…vê-me nas revistas, no Observador… mas como ainda não viu aquilo a explodir, mesmo que eu tenha um contrato, mesmo que eu tenha um ordenado, ela não percebe. E olha para mim e diz ‘coitadinho, então mas quando é que tu arranjas um emprego?'”, conta.

Desafios para resolver com sorriso na cara

O vinho já se acabou, o cesto de pão desapareceu. A fadista calou-se e os seus tocadores já arrumaram os instrumentos. A noite avança, a festa de Natal do outro bar está ao rubro. Sucedem-se os hits de Beyoncé, Enrique Iglesias, Pitbull. Estamos a chegar ao fim da conversa e talvez seja boa ideia voltar um pouco ao princípio, ao que nos trouxe aqui. A Web Summit e o que ela pode trazer a Lisboa e ao país. Tem a palavra Mariana:

— Eu acho mesmo que as pessoas de Lisboa conseguem ter um charme e uma empatia que são mesmo atrativos. Sente-se imenso na forma como Lisboa de repente teve a onda de turismo, os investidores… Há uma onda de empatia gigante com as empresas portuguesas, com as pessoas. Eu acompanhei o processo de a Web Summit vir para cá e havia imenso isso, sentia-se!

É por isso que ela olha para os cerca de 800 investidores que vão aterrar em Lisboa na próxima semana com especial atenção.

— Eu olho muito para isso como: são 800 potenciais futuros moradores de Lisboa. Eu sinto que as pessoas vêm e querem ficar aqui, querem viver aqui, querem construir negócios aqui.

Mas, alerta de novo Miguel, há problemas para resolver rapidamente. Jaime elogia João Vasconcelos, o secretário de Estado da Inovação que trabalhou vários anos na Startup Lisboa e que lançou há poucos meses um pacote de medidas de apoio a este setor e ao investimento. Todos na mesa concordam que o caminho traçado por João Vasconcelos é o correto, mas Miguel lamenta que as coisas não se processem mais rapidamente.

Antes as empresas faziam planos a cinco anos, nós temos de fazer planos a seis meses. As startups andam a uma velocidade tremenda, porque é inerente a este negócio. Tu tens uma ideia, aquilo funciona para mil gatos pingados, vais buscar dinheiro rapidamente para conseguir transformar mil em cem mil e a tua empresa fica gigante. Só que os governos não acompanham. O João Vasconcelos não deixa de estar com as mãos atadas em alguns sentidos. Está a tentar incentivar o investimento em Portugal, a apoiar os business angels em Portugal, só que depois as coisas andam tão devagar que o dinheiro dos angels não chega a tempo às startups.

Jaime está otimista. “Vai chegar, vai chegar. Ao longo do tempo isto vai melhorar.”

É com estas palavras de esperança, enquanto se ouvem ecos de “El táxi” vindos do fundo da rua, que damos a conversa por terminada. Para quem vai passar a próxima semana a correr as conferências da Web Summit e os bares do Cais do Sodré, estas duas horas não foram mau aquecimento. Até lá, estes três empresários terão provavelmente de enviar milhares de mails, fazer centenas de telefonemas e preparar dezenas de conversas. Quanto a mim, sei que startups se escreve em itálico e, só por isso, já evitei fazer má figura. Senhoras e senhores, estamos prontos para a semana em que Lisboa não vai dormir.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos