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Marcelo perde ligeiramente a margem que tinha face aos adversários mais diretos, mas mantém uma dinâmica de vitória inigualável, com 68% das intenções de voto, na sondagem Observador/TVI/Pitagórica. Se as eleições presidenciais fossem hoje, a grande dúvida não estaria em saber se o Presidente da República consegue ou não a reeleição — é a luta cada vez mais renhida pelo segundo lugar que anima acorrida ao Palácio de Belém.
Os dados para esta sondagem foram recolhidos entre 10-13 e 17-20 de dezembro. Isso significa que o trabalho de campo coincide com o regresso à atualidade da morte de Ihor Homeniuk, o cidadão ucraniano que, em março deste ano, foi encontrado sem vida nas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) do aeroporto de Lisboa, com claros sinais de ter sido vítima de agressões.
O caso de Homeniuk voltou a colocar o ministro da Administração Interna sob forte pressão, mas o Presidente da República não fica fora da fotografia. O tema ocupou, aliás, parte das entrevistas que Marcelo — o candidato — foi dando nas últimas semanas, na antecâmara da campanha para as presidenciais. Por que razão se manteve o Presidente da República em silêncio durante nove meses? E por que razão nunca tentou o contacto com a família de Homeniuk? Depois de manifestar dúvidas sobre se o que está em causa foi uma “atuação sistemática” do SEF ou um caso pontual, e depois de admitir a necessidade de uma revolução naquela polícia de fronteira, o Chefe de Estado garantiu, na SIC, que falou “inúmeras vezes em privado” com o primeiro-ministro sobre este assunto. A distância em relação à família da vítima justifica-se por um frágil argumento de não ingerência do Presidente em processos judiciais.
Pelo caminho, a diretora do SEF demite-se e Marcelo é acusado de proteger o Governo e de fragilizar aquela polícia. Agora, e já com uma distribuição dos que ainda se confessam indecisos quanto ao voto, surge com 68% das intenções de voto, com uma perda de 0,9% face à semana anterior. Fica mais longe do melhor resultado de sempre numa corrida a Belém (Soares conseguiu 70,35%, em 1991), mas o atual cenário também não configura propriamente a “abada” que já admitiu que poderia sofrer numa comparação com o antigo Presidente da República. Se as eleições fossem hoje, Marcelo garantiria uma vitória confortável.
Mais renhida está a corrida pelo segundo lugar. Ana Gomes consegue, esta semana, 10,9% das intenções de voto. Um recuo pela margem mínima (uma décima) e que assegura o segundo lugar nas sondagens, mas que não evita uma aproximação de André Ventura. O líder do Chega conquista mais 1,7 pontos percentuais (a maior subida desta semana) e fica nos 10,7%, muito próximo da ex-eurodeputada do PS. Duas décimas separam agora os dois candidatos que, desta forma, continuam em empate técnico, considerando a margem de erro da sondagem de 3,99%.
Não há alterações de posição nos resultados, mas, se uns sobem alguns pontos, outros perdem terreno para os adversários. E isso não acontece só no topo da tabela. Marisa Matias, apoiada pelo Bloco de Esquerda e que chega à campanha como a mulher mais votada de sempre numas presidenciais, perde 1,4 pontos percentuais e surge com 5,1% das intenções de voto. João Ferreira, o nome que o PCP lançou para a corrida, mantém-se nos 3,5%. Seguem-se Tiago Mayan Gonçalves, apoiado pelo Iniciativa Liberal (que ganha uma décima e chega a 1%) e, a finalizar, Vitorino Silva (Tino de Rans), com 0,8% (mais 0,6 face à semana anterior). O número de eleitores indecisos mantém-se nos 16,5%.
Quem vota em Marcelo? PS ultrapassa PSD
O eleitorado feminino (58%) e os inquiridos das classes sociais mais desfavorecidas (média baixa e baixa, com uma votação de 56% e 66%) continuam a ser a zona de maior conforto de Marcelo Rebelo de Sousa. As ilhas (77%) e a zona do Grande Porto (64%) também asseguram os melhores resultados a um Presidente em funções que, sublinhe-se, volta a bater a concorrência em todos os parâmetros de análise (idade, geografia, género, classe social). Marcelo Rebelo de Sousa perde apenas para Marisa Matias e João Ferreira nos eleitorados do Bloco de Esquerda e da CDU. Mas há uma mudança com um significado político particularmente relevante na sondagem desta semana: na análise por partidos, Marcelo soma agora mais potenciais eleitores que votaram em António Costa nas últimas legislativas do que votantes vindos do universo social-democrata.
A surpresa está mesmo no PS. António Costa, já se sabe, optou por não colar o seu partido a qualquer candidatura. Mas os sinais exteriores do secretário-geral socialista — desde o “empurrão” à recandidatura Marcelo à porta da Autoeuropa até às várias mensagens de confiança na vitória do Chefe de Estado — podem ter tido um peso significativo na decisão destes eleitores. Traduzindo por números, na mais recente sondagem Observador/TVI/Pitagórica, 71% dos que votaram no PS em 2019 admitem contribuir para um segundo mandato do Presidente da República. São mais 5% que os eleitores do PSD. Em jeito de comparação, e sabendo que o PCP tem dos eleitorados mais fiéis no espectro partidário nacional, “apenas” 68% dos que votaram na CDU admitem agora votar em João Ferreira. Aliás, 16% dos eleitores comunistas vão reconduzir Marcelo e 26% dos eleitores bloquistas preparam-se para fazer a mesma escolha.
Olhando para a família política do atual Presidente, entre os inquiridos que votaram em Rui Rio nas legislativas do ano passado, 66,1% pretendem confiar o seu voto a Marcelo, em janeiro. O PSD, recorde-se, assumiu o seu apoio oficial ao Presidente da República, tal como fez o CDS, que agora “entrega” 52,4% do seu eleitorado ao social-democrata.
Ana Gomes, já vimos, continua em segundo lugar na sondagem e é o nome mais forte para uma eventual segunda volta (um cenário que a esmagadora maioria não acredita, no entanto, que possa vir a acontecer). Mas a socialista é, também, uma das principais “vítimas” da ocupação de território socialista por parte de Marcelo Rebelo de Sousa. Apesar de alguns apoios de peso que garantiu dentro de portas, Ana Gomes é escolha para uns meros 14% de eleitores socialistas (na semana passada, eram 16%). A restante base de apoio da antiga embaixadora vem das hostes do Bloco de Esquerda (14%, o que significa uma subida de 4 pontos percentuais) e, de forma muito residual, do PSD (2%, com uma perda de 3 pontos percentuais). Com Ventura no encalço, uma saída de cena de Marisa Matias teria, à partida, um impacto imediato nos números de Ana Gomes. Mas esse cenário foi excluído pela própria candidata bloquista. À porta do Tribunal Constitucional, onde entregou as assinaturas da sua candidatura, a eurodeputada garantiu que não pretendia desistir da corrida em benefício de um eventual apoio à antiga colega socialista no Parlamento Europeu. “Os eleitores conhecem-me há vários anos e sabem perfeitamente que desistir não faz parte da minha trajetória”, garantiu.
Ainda no caso de Ana Gomes, são os eleitores do sexo masculino (10%), maiores de 54 anos (12%), das classes sociais mais altas e intermédias (9% nas classes mais altas, 10% na classe média), residentes no Norte (11%), no Grande Porto (10%) e em Lisboa (10%) que vão segurando a vantagem face ao terceiro mais votado.
Presidenciais. PS divide-se entre apoios a Marcelo, Ana Gomes e até João Ferreira. Quem apoia quem?
Mas André Ventura está na perseguição. Encurtou a distância para um dos objetivos da campanha — ser o segundo mais votado — e está a duas décimas da antiga embaixadora, com conquistas em toda a linha. Para a aproximação a Ana Gomes contribuem os votos que Ventura vai buscar ao eleitorado do CDS (28,6%, um crescimento de 2,3 pontos percentuais nesta franja), do PSD (13,1%, com mais 3,2 pontos percentuais que na semana passada), do Bloco de Esquerda (5,7% e mais 1,8 pontos percentuais) e do PS (2,5%, ou seja, mais 1,3 pontos percentuais). Não há perdas, apenas contas de somar. Só o eleitorado da CDU se mantém inamovível: 8% continuam a admitir que querem votar em Ventura.
Numa análise cruzada com a adversária mais próxima, o líder do Chega vence junto do eleitorado masculino (12% contra 10%) e perde no feminino (6% contra os 8% da socialista); fica com os eleitores mais desfavorecidos, empata na classe média baixa e perde nas classes sociais mais altas; ganha vantagem nos grupos etários intermédios (entre os 35 e os 54 anos), mas não nos extremos (jovens e mais velhos estão com Ana Gomes); perde nas regiões Norte, Grande Porto, Centro e Ilhas mas adianta-se em Lisboa e na zona Sul.
De qualquer forma, fica claro que a disputa pelo segundo lugar está cada vez renhida e que qualquer vantagem ou recuo na corrida se medem pela margem mínima.
Marisa Matias segue lá atrás, no quarto lugar e sem números que lhe permitam ambicionar a mais ligeira aproximação ao resultado de há cinco anos. Na análise da distribuição de votos por geografia, apenas na zona Sul do país a candidata do Bloco de Esquerda consegue subir à terceira posição: recolhe 7% das intenções, contra 49% de Marcelo e os 13% de André Ventura. Um sinal curto para qualquer tipo de ambições mais sólidas.
As perspetivas não são mais animadoras para João Ferreira. Os 3,5% que o eurodeputado trazia da semana passada — e que colocavam em risco de ficar por um resultado abaixo da pior prestação do PCP até hoje (3,95%, por Edgar Silva, em 2016) — mantêm-se absolutamente inalterados.
E, na primeira incursão presidencial da Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves dá um ligeiro passo em frente: 1% das intenções, uma subida de 0,1 pontos percentuais face ao resultado da primeira sondagem Observador/TVI/Pitagórica para as presidenciais.
Quem também ganha terreno é Vitorino Silva. Há cinco anos, protagonizou o primeiro-frente-a-frente com Marcelo Rebelo de Sousa e acabou por conquistar pouco mais de 152 mil votos, que lhe deram o sexto lugar e o deixaram a escassos 30 mil boletins do candidato comunista. Nesta campanha, num primeiro momento, o ex-autarca, que volta a correr em pista independente, viu-se excluído dos 15 debates agendados pelas televisões e que só contaram com as candidaturas apoiadas por partidos. Mas, ao Observador, fonte da campanha de Marcelo avançou que o Presidente ia voltar a debater com “Tino de Rans” (o encontro está marcado para 20 de janeiro, a poucos dias da eleição). Vitorino Silva sobe para os 0,8% (mais 0,6 pontos percentuais).
Um Presidente mais exigente com o Governo
Regressemos, então, a Marcelo Rebelo de Sousa. Na sondagem da Pitagórica para o Observador/TVI (e nas demais sondagens que têm sido divulgadas), o Presidente da República tem vitória assegurada. Mas isso não significa que o eleitorado passe um cheque em branco ao Chefe de Estado.
As palavras de Pedro Passos Coelho foram apenas o exemplo mais recente de que há, no PSD mas não só, quem veja um Presidente demasiado alinhado com o Governo de António Costa. Uma sintonia que se faz notar com mais clareza em momentos de maior tensão política — e, por arrasto, em períodos de maior pressão sobre o Executivo. Numa das raras intervenções públicas desde que deixou de ser primeiro-ministro, e a propósito do caso de Ihor Homeniuk, o antigo governante apontou baterias à “incompreensível relutância” dos responsáveis políticos em “defender o Estado da fuga às responsabilidades dos seus dirigentes”. E criticou aqueles que se mostram mais preocupados em traçar cenários sobre o futuro do SEF do que em garantir a “simples e pronta assunção de responsabilidade” de quem a tenha que assumir. O tiro apanhou Costa, mas também Marcelo.
É apenas um exemplo — ainda que bastante sonoro — de que a avaliação que os inquiridos fazem dos primeiros cinco anos de Marcelo em Belém, sendo positiva (64% consideram-nos bons ou muito bons), não é isenta de críticas.
De facto, há que destacar a opinião de 63% dos participantes nesta sondagem que consideram que Marcelo devia ser “mais exigente” com o Executivo de António Costa. Esse valor sobe (ainda que apenas em 1 ponto percentual) face ao resultado da última sondagem. São, sobretudo, os eleitores mais jovens e eleitores do PSD quem mais contribui para este resultado.
Pelo contrário, 33% dos inquiridos consideram que, não, a relação entre Belém e São Bento não obriga o Presidente da República a níveis mais elevados de exigência com o chefe do Governo. Nesta validação da atitude de Marcelo para com o Governo, também sem grande surpresa, destacam-se as respostas dos eleitores do PS, a que se juntam os eleitores da faixa etária mais avançada.
Mudando o foco para a questão da confiança, na comparação entre estes dois responsáveis políticos — Presidente da República e primeiro-ministro —, quem conseguirá obter melhor resultado junto dos eleitores? Aqui, Marcelo sai melhor na fotografia. É que, se, por um lado, 44% dos inquiridos se divide na avaliação e não faz distinções, por outro lado, 42% das respostas indicam que o Chefe de Estado é merecedor de mais confiança que o primeiro-ministro. Apenas 7% dão a mão a António Costa.
Ficha técnica
Durante 6 semanas (10 Dezembro 2020 a 21 de Janeiro 2020 ) vão ser publicadas pela TVI e pelo Observador uma sondagem em cada semana com uma amostra mínima de 626 entrevistas. Em cada semana a amostra corresponderá a 2 sub-amostras de 313 entrevistas. Uma das sub-amostras será recolhida na semana da publicação e a outra na semana anterior à da publicação. Cada sub-amostra será representativa do universo eleitoral português (não probabilístico) tendo por base os critérios de género, idade e região.
Semana 2 Publicação: O trabalho de campo decorreu entre os dias 10-13 e 17-20 Dezembro 20202. Foi recolhida uma amostra total de 629 entrevistas que para um grau de confiança de 95,5% corresponde a uma margem de erro máxima de ±4,0%. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de “telemóvel” mantendo a proporção dos 3 principais operadores identificados pelo relatório da ANACOM, sempre que necessário são selecionados aleatoriamente números fixos para apoiar o cumprimento do plano amostral. As entrevistas são recolhidas através de entrevista telefónica (CATI – Computer Assisted Telephone Interviewing).
O estudo tem como objetivo avaliar a opinião dos eleitores Portugueses, sobre temas relacionados com as eleições , nomeadamente os principais protagonistas, os momentos da campanha bem como a intenção de voto nos vários partidos.
A taxa de resposta foi de 55,03% . A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva.
A taxa de abstenção na sondagem é de 56,6% a que correspondem os entrevistados que aquando do momento inicial se recusaram a responder à entrevista por não pretenderem votar nesta eleição.
A ficha técnica completa bem como todos os resultados foram disponibilizados junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizara oportunamente para consulta online.