795kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

U.S. Army Conducts Warrior Strike Exercise
i

EUA, Polónia, Alemanha, República Checa e até Portugal. Armas e equipamento têm chegado à Ucrânia ao longos dos quase quatro meses de conflito

Getty Images

EUA, Polónia, Alemanha, República Checa e até Portugal. Armas e equipamento têm chegado à Ucrânia ao longos dos quase quatro meses de conflito

Getty Images

Tanques, obuses e drones. A lista de pedidos de Zelensky aos aliados é longa — e grande parte estará por cumprir

O Governo ucraniano quer mais e mais depressa. A NATO avisa que é preciso calma e que não basta enviar armamento. Os soldados ucranianos têm de ser treinados para usá-lo.

“Não especificado.” Como se fosse um carimbo único, usado por todos os aliados da Ucrânia, é essa a resposta que se costuma obter quando se pergunta quantas armas determinado país já enviou para Kiev. Os ministros podem ser de países diferentes, mas, invariavelmente, respondem o mesmo. “Por questões de segurança” não entram em detalhes. Essa foi também a resposta de Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, quando, numa conferência de imprensa no início da invasão russa da Ucrânia, os jornalistas lhe pediram pormenores sobre a ajuda que a Aliança Atlântica ia enviar ao país liderado por Volodymyr Zelensky.

Esta quarta-feira, Stoltenberg continuou sem falar em números, mesmo depois de Zelensky se ter queixado de que o exército ucraniano “não tem armas de longo alcance” e “veículos blindados” em número suficiente para enfrentar os russos. “Das armas de que precisamos, recebemos cerca de 10%”, disse, com mais precisão, a vice-ministra ucraniana da Defesa, Anna Maliar. Não foram os únicos a falar, num dia em que vários políticos ucranianos deixaram no ar um recado aos amigos do Ocidente. A Mykhailo Podolyak, um dos principais conselheiros de Zelensky, coube o toque final: fazer uma lista daquilo que a Ucrânia espera receber tão rápido quanto possível.

“Indo direto ao assunto – para a guerra acabar precisamos de paridade ao nível do armamento pesado”, escreveu Podolyak no Twitter. A seguir, detalhou numa lista as necessidades dos soldados ucranianos: 1000 obuses, 300 sistemas de lançador múltiplo de foguetes (MLRS, na sigla inglesa), 500 tanques, 2000 veículos armados e 1000 drones.

Aos números absolutos, Stoltenberg respondeu com uma ideia abstrata. “Já foi dado apoio à Ucrânia nunca antes visto” e os aliados estão dispostos a reforçá-lo, enviando mais “artilharia pesada” e equipamentos de longo alcance. Se entre o pedido e a entrega passa mais tempo do que Zelensky gostaria, o secretário-geral da NATO diz, nas entrelinhas do seu discurso, que é preciso ter calma. O processo “leva tempo” e os militares ucraniano têm de ser treinados para usar o armanento e equipamento que vão chegando ao país.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A transição do equipamento da era soviética para o moderno equipamento da NATO exige que os ucranianos estejam prontos a utilizá-lo”, e esta “é uma transição difícil e exigente”, insistiu, em conferência de imprensa, antes do início da reunião dos ministros da Defesa da NATO desta quarta-feira.

Têm os ucranianos razão? Só receberam uma pequena parte do que precisam? A resposta correta só Volodymyr Zelensky conhecerá, já que sabe aquilo de que precisa, o que recebeu e o que ainda vai receber. O Oryx — site holandês especializado em análise de Defesa — tem feito a contabilidade possível do armamento que chega à Ucrânia com base na informação que se encontra em fontes abertas, mas é apenas uma estimativa. Pegando na lista de Podolyak, e nas previsões do Oryx, o Observador traça-lhe o retrato do armamento que terá passado de fronteira em fronteira até chegar a Kiev.

epa09782310 A T-72 battle tank and an armoured vehicle are seen at the Vay Adam training ground near Hajduhadhaz, Hungary 24 February 2022. Hungarian troops are being deployed to the eastern part of the country near the Ukrainian border both for national security reasons and humanitarian aid after Russian troops launched a major military operation on Ukraine on 24 February.  EPA/Zsolt Czegledi HUNGARY OUT

Tanques T-72

Zsolt Czegledi/EPA

Pedidos: 5.000 tanques | Estimativa de entregas: 270

O maior envio de tanques foi, até agora, da Polónia. No final de abril, quando a Rússia retirava as suas tropas de Kiev, Varsóvia enviou, pelo menos, 240 tanques soviéticos (T-72) para a Ucrânia, número suficiente para formar duas brigadas, segundo o Wall Street Journal. O pacote polaco incluiu ainda obuses autopropulsados, lançadores de rockets, drones e veículos de combate de infantaria.

No início desse mês, a República Checa já tinha enviado alguns T-72 para serem utilizados pelos militares ucranianos, mas as autoridades não detalharam em que quantidade, alegando motivos de segurança. Já um canal público de televisão do país divulgou imagens desse carregamento onde se viam cinco tanques e cinco veículos blindados BVP-1. Com esta decisão, a República Checa tornou-se o primeiro país da NATO a enviar tanques para Kiev.

Kiev recebeu “cerca de 10% das armas” pedidas a países ocidentais

No final de maio, os dois países voltaram a enviar armamento para a Ucrânia. De Praga, terão seguido novamente tanques T-72, segundo a imprensa nacional, sem que haja confirmação oficial do governo.

Da Alemanha, há uma promessa: a Ucrânia receberá 15 tanques antiaéreos Gepard (alemão para chita) durante o mês de julho. A garantia foi deixada, em maio, pelo porta-voz do Ministério da Defesa alemão, que assegurou o envio de quase 60.000 cartuchos de munição.

peça de artilharia Howitzers M777

Howitzers M777

Getty Images

Pedidos: 1.000 obuses (calibre 155 mm) | Estimativa de entregas: 250

Os obuses (howitzer em inglês) são canhões de infantaria e um dos principais pedidos da Ucrânia aos países aliados. As estimativas apontam para que as tropas de Kiev tenham recebido (ou estejam prestes a receber) um quarto dos obuses que consideram necessários para enfrentar a Rússia. De Portugal, terão sido enviados cinco.

Dos Estados Unidos, a promessa feita em maio foi de que seguiriam 90 howitzers para a frente da batalha. Confirmaram-se 89, mais os veículos usados para rebocá-los, mas os obuses foram enviados sem os sistemas avançados de computador que permitem maior precisão no ataque. Apesar disso, e de lamentarem a ausência daquela tecnologia, a eficácia das armas no terreno é reconhecida pelos ucranianos.

Daquele lado do Atlântico, também o Canadá enviou quatro obuses M-777 (dos 37 que comprou durante a guerra do Afeganistão) para as forças armadas da Ucrânia, segundo fontes do exército citadas pela CBC News. O primeiro-ministro, Justin Trudeau, e a ministra da Defesa, Anita Anand, confirmaram o envio de armamento, mas escusaram-se a entrar em detalhes sobre as quantidades.

Da Alemanha e dos Países Baixos serão enviados 12 obuses, mas só depois de os soldados ucranianos terem sido treinados para usar o armamento. Na terça-feira, falando sobre os sete howitzers que o seu país irá disponibilizar, a ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, afirmou que o treino das tropas está praticamente concluído e, assim, o armamento seguirá em breve para a Ucrânia. Sobre a quantidade enviada, Lambrecht, sem falar em números, disse apenas que era um valor “militarmente sensato”.

Não são apenas os “Himars” e os EUA: as armas que a Alemanha e Eslováquia vão enviar para a Ucrânia

Dos números que vão sendo divulgados pela imprensa internacional, sabe-se ainda que França já enviou seis obuses CAESAR (e fará um novo envio em breve), a Eslováquia contribuiu com, pelo menos, oito howitzers e a Noruega com 22 obuses autopropulsados ​​M109, informação confirmada pelo Ministério de Defesa daquele país. O Reino Unido terá enviado dezenas de obuses autopropulsados ​​AS-90, via Polónia, embora o número final não seja conhecido.

No final de abril, o governo da Austrália confirmou o envio de sete obuses rebocados leves M777 para a Ucrânia. O que o primeiro-ministro Scott Morrison se escusou a divulgar foram os detalhes e data de entrega do armamento.

Da Polónia, foram oferecidos 18 obuses ao país vizinho. Além disso, foi anunciado na sexta-feira passada que os dois países fecharam negócio para a venda de 60 obuses polacos, os AHS Krab, naquele que é o maior negócio polaco de exportação de armas até hoje.

epa09545432 A view of a US High Mobility Artillery Rocket System (HIMARS) during a landing exercise at Spilva airfield in Riga, Latvia, 25 October 2021. The US Air Force special operation aircraft MC-130J Commando II took part in a landing exercise demonstrating the rapid delivery and deployment of US Army High Mobility Artillery Rocket System (HIMARS). The aim of the exercise is to demonstrate the collective defense capabilities and the ability of the Allies to quickly deliver fire support capabilities to Latvia, providing support to the National Armed Forces in national defense.  EPA/TOMS KALNINS

Sistema de lançador múltiplo de foguetes Himars

TOMS KALNINS/EPA

Pedidos: 300 MLRS | Estimativa de entregas: 50

Quando se fala do sistema de lançador múltiplo de foguetes (MLRS, na sigla inglesa), é mais difícil chegar aos números reais de armas disponíveis entre as tropas ucranianas. O Oryx aponta para 50 unidades no terreno.

O que é certo é que República Checa e Polónia enviaram este tipo de armamento para a Ucrânia, informação confirmada oficialmente pelos dois países. No primeiro caso, a imprensa avançou que teriam sido entregues 20 unidades de RM-70, a versão checa e atualizada do BM-21 Grad — o modelo que os polacos enviaram no final de abril.

Em completa sintonia na decisão sobre MRLS estiveram o Reino Unido e os Estados Unidos. Sabendo do poder de alcance deste armamento, e da irritação da Rússia quando soube que ia ser enviado para a Ucrânia, ambos os países fizeram questão de escrever uma nota de rodapé: estas peças de artilharia pesada não podem ser usadas pela Ucrânia para atingir território russo.

“Estes sistemas de lançamento múltiplo altamente capazes permitirão que os nossos amigos ucranianos se protejam melhor contra o uso brutal de artilharia de longo alcance que as forças de Putin têm usado indiscriminadamente para arrasar cidades”, disse Ben Wallace, ministro britânico da Defesa e do Estado quando anunciou o envio do sistema M270 a 6 de junho. Quantidade? Provavelmente um número militarmente sensato, como diria a homóloga alemã.

Nos Estados Unidos, foi o próprio Presidente Joe Biden a confirmar o envio dos sistemas M142 Himars (Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade, na sigla inglesa). Se os obuses M777 enviados pelos norte-americanos têm um alcance de 40 quilómetros, os Himars atingem o dobro da distância (80 quilómetros).

TEKNOFEST Istanbul

Bayraktar Akinci

Anadolu Agency via Getty Images

Pedidos: 1.000 drones | Estimativa de entregas: 150

O mais famoso veículo aéreo não tripulado (UAV, na sigla inglesa) usado pelos ucranianos é o drone turco Bayraktar. E entre todos os Bayraktars, há um que surpreende mais do que os outros. Em apenas três dias e meio, numa ação de crowdfunding, a população da Lituânia (2,8 milhões de pessoas) conseguiu juntar os  cinco milhões de euros necessários para comprar e enviar um drone turco para a Ucrânia.

Não é o único. Segundo o site Oryx, outros 16 drones terão sido oferecidos pela própria Turquia ao exército ucraniano a quem, desde 2019, vende este equipamento militar.

Da Polónia, sabe-se que saíram dois tipos diferentes de drones fabricados no país: o kamikaze Warmate, que leva explosivos na parte dianteira da aeronave, e o FlyEye, um drone para missões de reconhecimento e vigilância. Qual o acordo entre os países vizinhos? Não são conhecidos detalhes, mas o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, fez questão de os elogiar publicamente. “A Polónia é, sem dúvida, o melhor vizinho e aliado da Ucrânia. O apoio da Polónia é extraordinário. E  Pioruns [misseis] & Warmates nas mãos do nosso exército ucraniano destroem com sucesso o inimigo”, escreveu no Twitter.

Oficialmente, a 21 de abril, os Estados Unidos anunciaram o envio de mais de 120 drones táticos Phoenix Ghost para a Ucrânia. Até à data, nunca ninguém tinha ouvido falar deste equipamento militar desenvolvido pela Força Aérea norte-americana.

O que são “os misteriosos drones” militares que os EUA vão enviar para a Ucrânia?

Segundo o porta-voz do Pentágono, serve sobretudo para ações de ataque a alvos específicos, mais do que para monitorização de território. Tal como os polacos Warmate são de utilização única (neste caso, auto destroem-se após a missão). “Este era um drone que já estava a ser desenvolvido antes da invasão [russa da Ucrânia], claramente. Após conversas que tivemos com os oficiais ucranianos em que detalharam os seus pedidos, pareceu-nos que este sistema em particular iria adequar-se àquilo de que precisam, sobretudo no leste da Ucrânia”, disse John Kirby.

APCs In The Desert

M113

Getty Images

Pedidos: 2.000 veículos armados | Estimativa de entregas: 550

Da lista de Mykhailo Podolyak, o mais complicado é saber quantos dos 2.000 veículos armados que os ucranianos pretendem já chegaram, de facto, a Kiev. Primeiro, pelo secretismo em que todas estas transações têm estado envolvidas; depois, porque Podolyak não especifica. Refere-se apenas a veículos armados de combate? Ou também inclui os blindados utilizados para carregar soldados de infantaria e os que dão fogo de apoio?

Na lista das entregas já concretizadas estão os veículos enviados pela Polónia. O número certo não é conhecido, mas foram vistos veículos de combate de infantaria BWP-1 a serem entregues na mesma altura que os tanques T-72, em abril. Da República Checa, chegou a versão nacional do mesmo veículo, o BVP-1. Além destes, os checos prometeram, no início de abril, enviar 56 unidades de Pbv-501 (outra variante do BMP-1).

A Austrália, no mesmo mês de abril, enviou 20 veículos de mobilidade de infantaria Bushmaster, capaz de ser apetrechado com diversas armas, como lançadores automáticos de granadas e metralhadoras pesadas. E, em maio, enviou nova remessa: mais 20 Bushmaster e 14 M113, blindados transportadores de pessoal.

Dos Estados Unidos, há uma promessa ainda por cumprir: 200 veículos blindados M113 e 100 blindados de mobilidade de infantaria HMMWV M1114. Os primeiros, os M113 (que transportam pessoal e são dos mais usados em todo o mundo) também foram prometidos por Arvydas Anušauskas, ministro da Defesa da Lituânia: “20 veículos blindados M113, 10 caminhões militares e 10 SUVs (para operações de desminagem) serão entregues à Ucrânia em breve!”, escreveu no Twitter.

De Portugal, haverá uma garantia semelhante: dispensar 15 unidades M113 que o Exército tem estacionados em Santa Margarida.

A terminar a lista de promessas estão os 120 veículos blindados de transporte de pessoal do Reino Unido e os oito veículos blindados RoshelSenator do Canadá. James Heappey, ministro britânico das Forças Armadas, detalhou que 40 deles serão variantes da plataforma Combat Vehicle Reconnaissance e 80 serão uma mistura de veículos Mastiff, Wolfhound e Husky.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos