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Porto, Lisboa e Leiria são as cidades que acolhem os espectáculos que resultam destas semanas de experimentação e aprendizagem
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Porto, Lisboa e Leiria são as cidades que acolhem os espectáculos que resultam destas semanas de experimentação e aprendizagem

GUILHERME GOUVEIA

Porto, Lisboa e Leiria são as cidades que acolhem os espectáculos que resultam destas semanas de experimentação e aprendizagem

GUILHERME GOUVEIA

"Território": nesta plataforma de dança ensaia-se o futuro

Ao longo de várias semanas, dez jovens bailarinos de instituições de ensino nacionais, trabalharam com coreógrafos de renome internacional. Estivemos nos bastidores, antes das apresentações em palco.

É nos Estúdios Victor Córdon (EVC), em Lisboa, que pela sexta vez se lançam as bases para o programa Território, com o objetivo de dar a oportunidade a jovens bailarinos ainda em formação de trabalhar com coreógrafos convidados de renome internacional. Na sala de ensaios paira um certo nervosismo, mas também um espírito aberto à experiência que ao longo dos anos tem selecionado um conjunto de bailarinos provenientes de diversas instituições de ensino nacionais. Este ano são dez. Entre os movimentos ensaiados, escuta-se um mambo mexicano e ganha forma a interpretação de “Sad Case”, coreografia da dupla Sol León & Paul Lightfoot, que este ano celebra precisamente 25 anos desde a sua estreia. Tem mais anos de existência do que as idades do elenco que a irá apresentar ao vivo, depois de longas semanas de preparação. A estreia desta peça e de “Dez”, do coreógrafo Douglas Lee – o outro criador convidado desta edição – acontece já esta sexta-feira e sábado, dias 21 e 22 de julho, no Teatro Nacional São João, no Porto. Segue-se uma breve digressão que irá passar pelo Millennium Festival ao Largo, em Lisboa, dias 26 e 27, e pelo Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, no dia 29.

Neste programa, como explicam os EVC, ao grupo de bailarinos que passou por um processo de audições para chegar até aqui dá-se a “oportunidade de usufruir do conhecimento e da visão estética dos coreógrafos convidados, numa experiência profissionalizante e potenciadora de um olhar diverso e inclusivo”. Paralelamente, Território oferece ao público português a possibilidade de assistir, em alguns casos pela primeira vez, a obras internacionais e contemporâneas, num programa que, em edições anteriores, já contou com nomes como Wayne McGregor, Marco Goecke, Marcos Morau ou Alexander Ekman. Regressamos aos ensaios que têm decorrido desde o início do verão. Entre os dez bailarinos selecionados para este ano, vindos de Alcobaça, Braga, Coimbra, Faro, Lisboa, Porto, Vale do Sousa e Vila Nova de Gaia, está Santiago Novo, de 17 anos, estudante da Academia de Dança de Alcobaça. É um dos cinco protagonistas da coreografia “Sad Case” e esta é a primeira vez que tem uma experiência de maior proximidade com coreógrafos internacionais desde que começou os seus estudos em dança há seis anos.

Para muitos destes jovens, o programa é, efetivamente, a primeira oportunidade de saírem das escolas e poderem lidar com aquilo que se assemelha ao dia-a-dia de uma companhia profissional

GUILHERME GOUVEIA

“Foi a minha primeira audição e não tinha grandes expectativas, vim com fé apenas”, começa por dizer ao Observador o bailarino, revelando que desde logo lhe cativava a ideia de poder dançar peças distintas e abordar estéticas de movimento que o possam enriquecer no seu percurso futuro. “Entre a audição e os ensaios fiz alguma pesquisa e nos primeiros dias estávamos todos muitos nervosos por começar”. Santiago refere-se ao momento em que ensaiaram com a veterana coreógrafa Sol León (que faz dupla com Paul Lightfoot, ambos coreógrafos residentes do Nederlands Dans Theater), que veio propositadamente a Portugal ensaiar a peça que a mesma criou quando estava grávida. “Foi um teste, para saber como é que me dava neste ambiente, fora da academia, sendo que para mim também foi interessante perceber como é que as diferentes escolas trabalham”, realça Santiago.

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Para muitos destes jovens, o programa é, efetivamente, a primeira oportunidade de saírem das escolas e poderem lidar com aquilo que se assemelha ao dia-a-dia de uma companhia profissional e de repertório. Ao longo das suas várias edições, Território já acolheu mais de 70 jovens de todo o país, provenientes de cerca de 40 escolas de dança espalhadas por mais de 30 cidades portuguesas. A proposta singular, desenvolvida pelos EVC, revela-se como incentivo para os percursos de muitos destes jovens e propõe igualmente um diagnóstico sobre o ensino da dança em Portugal – dado significativo para o coreógrafo Douglas Lee, que depois de ter sido bailarino principal no Stuttgart Ballet, tem desenvolvido uma prolífica carreira como criador — ele que já antes tinha participado neste programa. “Poder desenvolver uma peça com eles não é uma coisa muito comum nestas idades ou que aconteça nas escolas, onde lhes dizem o que fazer. Mexer com essa curiosidade acaba por ser um passo corajoso para eles, mesmo que seja num período curto, mas intenso”, sublinha.

Tanto para Santiago como para Filipa é chegada a altura de escolher a dança como um caminho profissional, que nem sempre é fácil de ser percorrido. “Existem muitos desafios na carreira de um bailarino e acaba por ser importante eles terem este tipo de experiências que os testa para além da sua aprendizagem”, acrescenta Douglas Lee.

Foi também por essa mesma curiosidade e ânsia que Filipa Bacelar, de 18 anos, aluna da EDD – Escola Domus Dança, no Porto, decidiu concorrer ao programa pela segunda vez consecutiva, novamente sendo escolhida para integrar o elenco. “Recolhemos aqui muitas coisas. Adquirimos a experiência de diferentes estilos de dança, conhecemos coreógrafos que nos dão importantes conselhos e acabamos por conhecer outros bailarinos, com quem podemos partilhar experiências e as nossas pretensões para o futuro”, explica. Tanto para Santiago como para Filipa é chegada a altura de escolher a dança como um caminho profissional, que nem sempre é fácil de ser percorrido. “Existem muitos desafios na carreira de um bailarino e acaba por ser importante eles terem este tipo de experiências que os testa para além da sua aprendizagem”, acrescenta Douglas Lee.

Duas criações para um corpo comum

No caso desta 6.ª edição do programa Território, apresentam-se duas peças; uma que já existe há mais de duas décadas, sendo bastante reconhecida no panorama da dança contemporânea, e outra criada do zero, num diálogo entre coreógrafo e bailarinos que abre todo um novo horizonte de possibilidades. São dois lados de uma mesma moeda, feita de um movimento uníssono sobre uma linguagem universal que, mesmo passadas décadas pode ser novamente reinterpretada como algo de novo. O mote é justamente aquele que explica a vitalidade de “Sad Case”, agora dançada por elenco que não era sequer nascido quando foi composta por León e Lightfoot.

Ao Observador, a coreógrafa diz que tal como a poesia, que se pode ler 300 anos depois de ter sido escrita, também a dança carrega esse lado etéreo e intemporal. “É lindo abordar esta peça 25 anos depois, porque é a idade da nossa filha. Então, como mãe, estou muito em contacto com essa geração e acredito que podemos fazer coisas incríveis juntos se o desejarmos”. Não gosta de revelar muito do seu processo de ensaios, mas sublinha que impor apenas um desenho coreográfico destrói a capacidade critica e criativa dos bailarinos, em especial, quando são tão jovens. Ao contrário do que aponta o seu título, à maneira de um verdadeiro slogan, “Sad Case” é uma peça festiva, sobre a celebração da vida, a fecundidade e a relação primitiva entre seres humanos. “No seu processo, os bailarinos vão rir, vão ver coisas diferentes, e aos poucos vamos dando espaço para eles entenderem onde estamos. O importante é que tenham o input correto para abraçar a técnica e os desafios que a dança impõe.”

"Recolhemos aqui muitas coisas. Adquirimos a experiência de diferentes estilos de dança, conhecemos coreógrafos que nos dão importantes conselhos"

BRUNO SIMÃO

Sarapintados de branco, o elenco assemelha-se a uma tribo que dança numa constante tensão entre o satírico e o natural. Celebra-se a humanidade num estado natural, mas no seu lado mais cartoonesco, entre movimentos rápidos e intensos, como tudo sucedesse à volta de uma fogueira, como ritual. “O Paul e eu criámos os passos, quando a minha barriga carregava a nossa bebé, portanto esta peça carrega também esse lado hormonal, de grande felicidade e de uma época muito importante para nós como criadores”, sintetiza Sol Léon.

De “Sad Case” passamos para “Dez”, a coreografia de Douglas Lee, ensaiada de trás para a frente, onde os dez bailarinos do programa assumiram um importante papel de cocriação. “O desafio, desde o princípio, foi que criasse uma peça específica para eles, daí chamar-se ‘Dez’ e ter o intuito de evidenciar o que cada um deles tem de melhor”, explica o coreógrafo. “Dez” faz-se acompanhar da composição sonora de Nicolas Sávva, que criou uma peçasob medida para o espetáculo, intitulada Pizzicato for 10 Dancers. Em sete movimentos curtos, Sávva junta cordas, estruturas, formas e padrões geométricos que se entretecem de modo lúdico. “É uma coreografia que foi evoluindo de forma conjunta com eles, que explora aspetos técnicos, mas também o lado mais simbólico dos corpos destes jovens bailarinos”, completa Douglas Lee. “Fomos juntando as peças e não sabíamos exatamente qual seria o resultado, explica Filipa. “Com o Douglas vimos diferentes formas de cada um, ele começou pelo fim e tudo o resto foi um caminho conjunto”, acrescenta Santiago.

"Território" é um lugar de exploração para estes jovens, vindos de norte a sul do país, que aqui tem a possibilidade de encarar aquilo que poderá ser o seu futuro, numa área que exige sacrifício e uma grande capacidade de adaptação.

Para a edição deste ano, além das duas peças, as semanas de ensaios foram serviram também para a construção de um documentário, intitulado Casa do Corpo, realizado por Mário J. Negrão e que será mostrado durante as apresentações ao vivo. “O filme aborda em entrevista alguns aspetos do programa enquanto tenta expandir e reimaginar-se a partir de impressões dos bailarinos, coreógrafos e do próprio autor sobre momentos e lugares importantes na sua vida”, explicam o realizador na sinopse do documentário. Há um ano, Mário J. Negrão venceu o prémio Território | Estúdios Victor Córdon na categoria de Melhor Realizador Português do InShadow – Lisbon ScreenDance Festival 2022, tendo sido por isso convidado para este desafio. “O objetivo era fazer um filme documental sobre o processo, mas que tivesse também uma abordagem poética sobre este percurso dos bailarinos das audições até aqui”, salienta o realizador.

Na perspetiva do realizador, que se assemelha à dos coreógrafos, o que existe de singular neste programa é o facto de testemunhar “a primeira vez em que acontece algo se importante na vida de um jovem”. Neste caso, Território é um lugar de exploração para estes jovens, vindos de norte a sul do país, que aqui tem a possibilidade de encarar aquilo que poderá ser o seu futuro, numa área que exige sacrifício e uma grande capacidade de adaptação. Semanas depois de terem começado – como se realmente se tratasse de um princípio de carreira – este território foi uma casa do corpo que se explora em movimento contínuo e de olhos postos no futuro.

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