A Tasca do Pedro “é um refúgio de amigos” vai avisando Carlos Bernardes, presidente da Câmara de Torres Vedras, enquanto entra com o candidato Pedro no pequeno espaço que pouco tem a ver com os palcos dos grandes almoços de campanha de partidos como o PS. Na verdade este não é bem um desses almoços, apesar de apresentado como um momento de contacto com autarcas e dirigentes locais. É mais um cumprimento da promessa que Pedro Marques fez naquele dia que ficou para a memória carnavalesca local e em que o candidato socialista às Europeias dançou em cima do capot de um carro (ver o vídeo em baixo, imagens cortesia TVI). Entre os festejos, o chefe dos tratoristas do Carnaval mais português de Portugal desafiou o socialista para uma cabidela: “Aqui o Tó Zé desafiou e eu disse logo: vamos lá tratar do galo!”. E trataram. E das laranjas também — bom, pelo menos daquelas.
Não há salamaleques na sala onde cabem poucos mais que os cerca de 15 convivas que se juntam para o almoço com o socialista. Pedro Marques vai lançado na conversa com os viticultores que com ele se sentam, intercala conhecimentos sobre castas com garfadas no prato de arroz avinagrado e pedaços de frango: “Este não canta mais”. Na ponta de lá da mesa o chef Tonan, de nome estampado no avental, orgulha-se quando o candidato socialista lhe elogia as qualidades do prato e dos ingredientes: “É que quando se compra aqueles frangos do supermercado, aquilo desfaz-se tudo”.
E ainda faltava a fruta, também produzida ali na região do Oeste: “Eh pá que laranjas tão boas!”, atira Pedro Marques de canivete em riste a descascar uma sumarenta. E aproveitando a deixa, chega de cardápio, vamos à política… o Observador regista que o almoço encerre a descascar laranjas. O candidato solta uma gargalhada: “Vamos dar cabo delas!”. E dá mais uma volta ao canivete. Não tão torcida como aquelas que se queixa de a direita já ter dado nesta pré-campanha para as Europeias. “Isto vai acabar mal”, diz ao Observador. O candidato socialista queixa-se do estado a que chegaram as acusações já em pré-campanha e teme o efeito disso na abstenção:
O que lhe custa mais nestas andanças eleitorais?
Eu sou uma pessoa muito organizada e não gosto de atrasos. E trabalho muito, por isso andar a fazer muitas horas de campanha não é um tema, porque eu trabalho mesmo muito e estou habituado a trabalhar muito.
O trabalho de gabinete é muito diferente.
Sim, mas é dar muitas horas, dar muito do meu empenho e nesse sentido não é diferente. Talvez o grande desafio seja o de tentar que as coisas corram bem, a horas, que as pessoas que estão connosco não sintam aquele desconforto de parecer que estamos a chegar atrasados ou que chegamos e queremos logo sair. Não quero fazer isso e não faço isso na minha campanha. Uma matéria que nisto tudo é desconfortável, de facto, é o estado em que está a campanha. Esta maneira de fazer a campanha, desde início, à direita estragou a pré-campanha.
Mas porquê?
Primeiro foi a questão dos ataques pessoais ao meu trabalho enquanto ministro, a ideia da má gestão dos fundos comunitários que foi absolutamente desmentida por nós. A invenção da ideia de passarmos de primeiro para sétimo lugar na execução dos fundos é uma invenção. A campanha começou por aí: “mau ministro, são todos ex-ministros, todos incompetentes”. E a seguir passámos para isto das relações familiares.
Pedro Marques acusa o PSD de “andar num concurso de baús, a descobrir quem nomeou quem para onde”, atribuindo à oposição a responsabilidade pelas notícias sobre nomeações governamentais de familiares — que já deram em três demissões. “À conta dessas construção, o PSD acabou por conseguir não ter de explicar porque votou contra a medida dos passes sociais. Meteram-se no meio desta cortina de fumo“, atira.
“Sem olhar para os papéis, sabe quem era?” Sorri: “Não”
A conversa segue a bordo do carro que transporta o candidato já quase no fim do dia de pré-campanha que o Observador acompanhou e que começou bem cedo, às 7h30 da manhã em Cacilhas, no terminal fluvial dos barcos para Lisboa. Pedro Marques garante que o reconhecem na rua. Mas nem sempre assim pareceu naquela manhã chuvosa e fria, de narizes muito enfiados nas golas dos casacos e passageiros a correr para o cais para não perderem o transporte para o lado de lá.
O candidato socialista distribuía panfletos nesta pré-campanha que vai correndo em carril duplo: nas mãos traz dois para entregar, um com a sua cara e a da António Costa, com as propostas para as eleições Europeias; outro a promover os novos passes sociais, uma medida do Governo de que fez parte até fevereiro. Consegue parar um ou outro eleitor para dois dedos de propaganda eleitoral: “Tem passe novo?” Tem. “Quanto pagava antes? 71 euros? Agora poupa uns 20, não é?”. O Observador foi atrás desta interlocutora de Pedro Marques que seguiu de panfletos na mão a caminho do barco, para perguntar: “Sem olhar para os papéis, sabe quem era?” Sorri: “Não”.
Ou as outras duas pessoas que passam e ao ver o pequeno grupo com os panfletos na mão dizem a Pedro Marques que não precisam de explicação: ” Já temos o passe” — como se ali estivesse apenas alguém que quer fazer essa pedagogia. “É fixe”, dizem. E seguem.
Dois passos à frente, o candidato tem o diretor de campanha que para ele encaminha algumas das pessoas que passam: “É o candidato do PS às eleições Europeias”, prepara. Pedro Marques respeita o espaço, não arrisca estender panfletos quando as pessoas vêm com pressa e até avisa os camaradas que o ajudam na tarefa: “Esperem aí que chegou o barco, deixem as pessoas passar”. De resto, a conversa de circunstância para quem tem um minuto ou dois é a dos passes. Quando só passam e nem o panfleto aceitam, chega um “bom dia e boa viagem”.
A verdade é que as campanhas eleitorais não são propriamente um terreno novo para este ex-ministro do Planeamento e das Infraestruturas e ex-secretário de Estado do Emprego e ex-deputado, embora seja uma estreia ser o cabeça de cartaz a nível nacional. O reconhecimento não é, por tudo isto, imediato. E muitas vezes não acontece de todo até porque ainda estamos longe da época aberta ao bombo eleitoral e à volta do candidato está apenas um punhado de socialistas anónimos a apoiá-lo nesta ação. Inês de Medeiros, autarca local, vinha dar uma ajuda mas ficou doente e em vez dela veio o vice-presidente da Câmara de Almada, João Covaneiro.
“Esta é uma campanha feita em zonas densamente povoadas em que cumprimentamos centenas de trabalhadores de uma empresa, mas eu levo 20 anos desta dinâmica de campanha”, assegura o candidato. A primeira vez que fez campanha tinha 20 anos e foi para a Junta de Freguesia de Afonsoeiro, Montijo, onde pertencia. Também foi cabeça de lista pelo distrito de Portalegre. Reconhecem-no na rua? “Muito”. Mas chamam-lhe o quê? Ministro? “Ministro, deputado, eurodeputado. Não me chamam cabeça de lista porque é coisa que ninguém chama a ninguém”, responde.
Partiu para a estrada eleitoral na semana seguinte a António Costa o ter apresentado oficialmente como candidato do PS às Europeias e garante que tem “tido uma rua muito positiva, as pessoas falam bem. Nos folhetos que temos distribuído está a minha imagem e a de António Costa e é muito provável que alguém diga ‘António Costa, gosto muito dele e etc’. Portanto tem sido uma rua muito positiva”. Esta fusão entre personagens nesta fase tem sido muito criticada pela oposição, que acusa o PS e Costa de estarem já em campanha para as legislativas de outubro.
É uma campanha dois em um? De manhã entregou panfletos do passe social juntamente com os seus às Europeias.
Ainda agora esteve cá o líder parlamentar do PSE e disse que esta é, neste momento, uma das medidas de referência ao nível europeu na pista da descarbonização. Vi uma indicação que houve um aumento de 10% da venda de passes no primeiro mês. Se isto significar que aumentamos em 10% ou mais o número de pessoas a utilizar transporte público tem um impacto brutal na mobilidade nas nossas cidades e na descarbonização. É um dos nossos pilares a política europeia que propomos, é uma medida que está na matriz do que tenho dito: fazer na Europa o que fizemos bem em Portugal.
É um aquecimento para as legislativas?
Não sinto isso assim porque as eleições Europeias são muito importantes e demasiado importantes para serem postas em segundo patamar. Agora o que digo é que é a primeira vez que, em eleições europeias, o partido do Governo não se importa de apresentar os resultados do seu trabalho e que eles sejam avaliados.
Fugir a boca para o futuro? “Portugal terá uma pasta nos fundos… Raios!”
Este é, para já, o argumento número um do candidato socialista que anda em aquecimento da estrada eleitoral que abre com as Europeias, mas só termina em outubro, com as Legislativas. “Acho que é a primeira vez em que o maior partido da oposição está incomodado por se fazer alguma avaliação do trabalho do Governo. Não tenho nenhum problema em defender os resultados de um trabalho em que também participei intensamente e que procuro projetar para o nível europeu”.
Usar o nacional para vingar no plano europeu e deixar já os argumentos para as legislativas alinhados. António Costa tem aparecido junto do seu escolhido Pedro Marques praticamente a cada fim-de-semana — o que tem contribuído para o tal ataque de fusão. E até já o lançou, numa entrevista à TSF, para outros voos europeus, assumindo que daria um bom comissário europeu. E a pasta dada como preferida é a dos fundos estruturais. Mais um motivo para os ataques da oposição que tem criticado esta candidatura precoce. O candidato foge ao tema, mas acaba por escorregar na pasta duas vezes:
O líder do PS já disse que estas eleições Europeias têm de servir para dar um sinal de confiança ao Governo e lança-o como um bom comissário europeu. Onde fica o candidato a eurodeputado?
No mesmo sítio. Eu fui convidado para candidato a eurodeputado.
Mas parece que já está lançá-lo para outra frente.
Não, eu fui convidado para candidato a eurodeputado, Obviamente que me honra o facto de o primeiro-ministro, que trabalhou tantos anos comigo e que me conhece bem, tenha essa avaliação do meu trabalho e das minhas competências executivas, mas para que fique claro, sou candidato a deputado ao Parlamento Europeu. Foi para isso que fui convidado e mais: só há uma candidatura neste momento em cima da mesa a cargos executivos que é presidente da Comissão Europeia.
Mas o seu nome aparece colocado elo próprio primeiro-ministro para fazer parte do governo comunitário e Portugal terá alguém nesse Governo.
Portugal há-de ter um comissário eurodeputado de certeza absoluta.
É um cargo que lhe interessa?
Interessa-me ser eleito e ter uma grande vitória para o PS nestas eleições. Portugal terá uma pasta nos fundos…
Disse nos fundos, não fui eu…
Mas não queria dizer isso… Portugal terá uma pasta nos fundos europeus. Raio! Uma pasta na comissão europeia… estou com a cabeça nos fundos europeus…
… acho que António Costa também…
… essa pasta será tão mais relevante no contexto da arquitectura europeia quanto mais força tiver naturalmente o PS no contexto do seu grupo político. Dá mais poder de negociação a António Costa enquanto primeiro-ministro socialista no grupo socialista europeu para ter a pasta que seja interessante.
E a dos fundos é interessante?
É de certeza uma pasta interessante, o primeiro-ministro já o disse e eu acompanho-o nisso, mas há muitas pastas muito muito relevantes e muita gente competente neste país para as poder ocupar.
Durante a tarde, depois de almoço, visitou duas fábricas apoiadas por fundos europeus. A Frismag, que fabrica pequenos eletrodomésticos (máquinas de café sobretudo) e tem sede na Suíça, que já se candidatou ao QREN em 2013, e agora voltou a candidatar-se ao Portugal 2020 — o quadro que Pedro Marques negociou e aplicou. E também uma exploração familiar de tomate de mesa e courgetes, de Vítor Santos e a sua mulher Fátima, financiada pelo Proder (apoio ao desenvolvimento rural), que fatura entre 2 e 3 milhões de euros por ano e em que 95% do que produz é para exportar para a cadeia espanhola de supermercados Mercadona.
Vítor queixa-se ao candidato da falta e mãos para trabalhar nos meses de Verão — “O pessoal quer férias, mas é preciso trabalhar mais horas” –, mas não se ensaia na resolução dos problemas que tem naqueles 21 hectares de produção. Vão circulando entre tomateiros e puxando pela qualidade do produto e as técnicas de produção, Pedro Marques interessa-se, faz perguntas, aproveita para meter a deixa dos apoios europeus. Mas Vítor Santos prefere falar da sua lide e nas explicações sobre “o tomate da variedade Alvalade que só passa a ter qualidade quando passa a vermelho”. O candidato benfiquista — entretanto já em mangas de camisa por causa do calor da estufa — ri-se, não resiste a uma piada futebolística. Quando passa pelos caixotes de abelhões usados para a polinização da estufa comenta: “É o chamado abelhão de Alvalade”. Mais tarde, no carro, confidenciaria ao Observador que já percebeu que é caminho a evitar.
É que quando foi ao estádio da Luz — como costuma fazer habitualmente com amigos — ver o Benfica-Galatasaray e o seu clube do coração passou aos oitavos da Liga Europa, não deixou de partilhar uma fotografia na conta oficial de instagram: “Estamos na #Europa”. Os comentários foram tão ofensivos que decidiu não voltar a misturar águas. Sobre isto, faz agora outras contas, como por exemplo que o campeonato nacional de futebol se prepara para ficar decidido mesmo em plena campanha eleitoral (no meio daqueles quinze dias), com todo o alheamento político que isso possa provocar. E eventualmente a perda de festejos no Marquês…
https://www.instagram.com/p/BuKB-1InNS6/
Ataque de Assis: “Só tenho uma preocupação que é unir o partido”
Licenciado em Economia, a sua carreira profissional começou ligada aos fundos comunitários, quando em 1997 fez parte da Estrutura de Apoio Técnico da Intervenção Operacional Renovação Urbana do Quadro Comunitário de Apoio II. Depois foi para a consultoria e poucos anos depois, 2001, estreou-se num Governo como assessor do ministro do Trabalho Ferro Rodrigues. Pelo meio foi autarca, vereador no Montijo com os pelouros da ação social saúde, habitação social, juventude, planeamento e desenvolvimento económico. Em 2005, ano em que José Sócrates conquistou a primeira e única maioria absoluta do PS, Pedro Marques entra no Governo, mas agora como secretário de Estado da Segurança Social.
Foi o operacional de Vieira da Silva da reforma da Segurança Social de 2017, de que os socialista hoje se vangloriam ter feito, e manteve-se sempre perto do núcleo daquele ministro, onde também gravitava Fernando Medina (era seu colega de Ministério, como secretário de Estado do Emprego). Esta frente manteve-se neutra na campanha interna do PS em 2011, no rescaldo da saída de Sócrates, quando António José Seguro concorreu contra Francisco Assis. O último cabeça de lista do PS não foi brando com Marques e, recentemente, numa entrevista ao Observador disse não lhe conhecer pensamento político. O homem que agora lhe tomou o lugar de cabeça de lista do PS recusa entrar nesse confronto: “Só tenho uma preocupação neste momento: unir o partido. Tenho uma honra enorme de suceder aos cabeças de lista do PS desde Mário Soares a Maria de Lourdes Pintasilgo, ao António Vitorino, o próprio Francisco Assis”.
“Não conheço o pensamento político de Fernando Medina e Pedro Marques”
Ele está a fazer uma divisão de águas dentro do PS, Pedro Nunistas, apoiantes de Assis… Enquadra-se nos Medinistas?
Não me é interessante… qualquer análise política dessa natureza neste momento parece-me completamente teórica. Estamos num processo em que estamos unidos, temos três eleições para disputar este ano e temos um líder absolutamente claro, consolidado, para muitos anos, não me entretenho nesse tipo de exercícios. Fui a todas as federações do PS até agora falar com os presidentes de junta e de câmara, tem sido um trabalho enorme com toda a equipa.
O ataque político é uma coisa que o chateia? Já há bocado dizia isso do PSD…
Eu não gostava que as campanhas fossem sempre feitas com base no ataque à competência, isso não constrói porque não estamos a debater propostas nenhumas para a Europa. Isso afasta as pessoas. Já tenho demasiados anos de política para saber que isto acaba por ser sempre assim ou quase sempre. Tenho propostas, se os nossos adversários insistem em não ter propostas a menos de dois meses das eleições é uma responsabilidade deles.
“Não danço mais se não estou tramado. Já dancei tudo para esta campanha”
Resiste a toda a força a qualquer linha que saia do discurso programado para a campanha. Foge a picardias, sobretudo internas, e até a momentos mais soltos da sua própria candidatura, como aquele em que dançou no carnaval de Torres. Nem mesmo quando está em pré-campanha pela terra que assistiu ao candidato-folião. No almoço, aceita entrar na saudação ao fusco (o tinto) e repete o grito depois do anfitrião até chegar ao “goela abaixo” (ver vídeo em baixo). Aceita, sim, mas antes avisa: “Só tenho aqui uma promessa. Não danço mais se não estou tramado. Já dancei tudo para esta campanha”. O Observador quis saber se é mesmo assim, mas Pedro Marques fecha-se outra vez nas diretivas socialistas.
Prometeu que já não dança mais.
Estava a brincar como é evidente
Então dança.
Não, não sei de vou dançar. Isso não é o mais interessante, mas que obviamente estamos a fazer uma campanha muito intensa. O meu adversário é a abstenção, isto parece frase feita, mas numa campanha das Europeias isso é muito importante.
Aos 43 anos, o candidato funciona como o bom aluno, o organizado — “prefiro ser muito organizado porque sou mais eficiente”– que não gosta de atrasos. Neste dia que acompanhámos, além de Cacilhas e de duas fábricas mais um almoço, ainda teve uma reunião com a AHREP, em Lisboa, e voltou a Torres para um jantar. O candidato sempre a apontar para o relógio, mesmo quando chega a Lisboa e salta do carro para a reunião com os representantes da hotelaria e restauração porque está atrasado e afinal vem seis minutos adiantado.
Jura não ter saudades do recato do gabinete. “Não, nada disso. Sempre fui uma pessoa de muito trabalho e de pôr muito as mãos na massa e fazer coisas”. Mas esta vida de estrada que começou na semana seguinte ao anúncio formal do seu nome — o segredo mais mal guardado do último ano político — tem exigido algum desdobramento. No intervalo entre o cais de Cacilhas e a partida para Torres, vai a casa ver os filhos. “Tento encontrar uma ou duas vezes por semana para ir a casa, nem que seja como hoje que fui duas horas, para ver os meus filhos”.
Em campanha diz que tem por hábito “circular e falar muito com os mais próximos, mas também com os presidentes de Câmara porque são quem sente o terreno”. E com António Costa, fala mais vezes por dia ou menos do que quando era ministro? “Falamos muito agora, mas é preciso perceber que eu fazia parte da coordenação do Governo, não é? Coordenei o Programa Nacional de Reformas, o Programa Nacional de Investimentos e tinha pastas com a centralidade da pasta dos fundos, por exemplo. Por isso, de facto, falava muito com o primeiro-ministro enquanto ministro”. Falavam e falam, agora sobretudo por SMS, e Pedro Marques destaca o “apoio do secretário-geral do PS” à sua campanha: “Tem estado connosco todas as semanas e têm sido momentos importantes”.
Nas promessas que levam alinhadas, os dois socialistas falam num novo contrato social para a Europa, “com mais emprego, mais igualdade e contas certas”. Neste último ponto têm sido desafiados pelos parceiros parlamentares, PCP, BE e Verdes, que querem ver o PS menos preocupado com as contas de Bruxelas e mais empenhado no investimento público. Este é aliás o ponto de discórdia assumido desde início na “geringonça”. Pedro Marques contesta que isso constitua um problema: “Havendo diferenças de opinião sobre a matéria, todos os orçamentos que apresentámos respeitaram integralmente as regras europeias, em matéria de contas públicas, isso deu-nos credibilidade, desde logo para que as taxas de juro viesse para onde vieram, libertando espaço para aumentar despesa públicas na saúde, pensões, abonos de família”.
Mas as divergências entre parceiros são reais. O PCP defende, por exemplo, a preparação do caminho para a saída do euro, e o Bloco — apesar de ter amenizado esse discurso recentemente — também sempre se virou para esse mesmo caminho. É desconfortável ser agora o protagonista da campanha europeia quando no Parlamento o Governo de que fez parte negociou com partidos que preferem outras vias? “Naturalmente em eleições europeias essa diferença e maior. Nós somos um partido europeísta, não nos passa pela cabeça mudar esta matriz. E, de facto, à nossa esquerda temos partidos que, ou mais abertamente ou de forma mais tímida ou intermitente, defendem preparações de saída do euro e outras coisas. Nós achamos isso um aventureirismo, basta olhar para o Brexit”.
Mas logo de seguida, Pedro Marques defende-se na conversa virando-se para a direita, evitando o confronto — que nestas matérias é mais claro — com a esquerda: “Mas acho muito mais grave a forma como a direita se tem posicionado na Europa e em Portugal com o candidato que tem à Comissão Europeia. Esta ideia de candidatar Manfred Weber à presidência da Comissão não lembra a ninguém. Ele foi o homem que defendeu sanções na força máxima quando estávamos a tentar tirar Portugal desse risco de sanções”.
É um facto que estamos a falar com o ex-ministro do Governo apoiado à esquerda que até foi um dos que negociou à direita — o acordo para o próximo quadro comunitário –, mas apesar de dizer que essa “negociação não correu mal”, sacode logo de seguida a água do capote lamentando que “pouco tempo depois daquele acordo o PSD tenha começado a pôr em causa a própria natureza do acordo”. E acusa mesmo os sociais-democratas de terem “assinado acordo, para ver se encontravam depois uma forma de dizer que até tinham dado condições ao Governo para negociar, mas que o Governo não foi capaz. Correu-lhes mal porque a primeira proposta da Comissão já cumpria o acordo”. O PSD garante que não. Mas essa é uma laranja que continuará a estar lá para Pedro Marques tentar descascar pela campanha fora. Agora sem canivete.