Ainda na semana passada Mário Centeno atirou a questão para setembro, mas António Costa fez entretanto saber que conta com ele para o próximo Governo, caso ganhe as eleições legislativas marcadas para 6 de outubro. O ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo quis manter o tabu, em entrevista à SIC-Notícias, mas o primeiro-ministro foi claro, em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, e não deixou margem para dúvidas sobre a sua intenção: “No ponto de vista interno não há razões para que não prossiga as suas funções e também do ponto de vista externo, sendo presidente do Eurogrupo, cessar essas funções prematuramente”.

Centeno foi eleito há dois anos para presidir ao grupo informal de ministros das finanças da área do euro e estará em funções até meio de 2020. É condição, para se manter nesse cargo, ser ministro das Finanças e Costa aponta agora essa como uma das razões para manter Centeno num futuro Governo. Depois, na entrevista emitida este sábado, também fala no significado interno de manter o mesmo ministro numa pasta tão sensível: “Nunca houve um ministro das Finanças que tenha feito uma legislatura completa e tem mesmo a oportunidade de ser não só o que fez uma legislatura completa como também fazer uma segunda legislatura”. E se a conversa começa com a pergunta concreta sobre se está a contar com Centeno num novo Executivo, a resposta imediata de Costa não podia ser mais clara: “Sim”.

Pedro Marques “daria um bom comissário europeu”

Mas até lá ainda falta vencer eleições, começando já em maio com as Europeias para onde o PS candidata uma escolha de António Costa como cabeça de lista, o ex-ministro Pedro Marques. Na mesma entrevista, o líder socialista deixa entender que a candidatura tem uma segunda intenção. Questionado sobre se Pedro Marques daria um bom comissário europeu, Costa assume: “Sim, mas essa escolha será feita em momento próprio”. O que “é importante é que Portugal possa estar nessa negociação [sobre a composição do futuro executivo europeu] com mais força possível e, por isso, ter mais força dentro do grupo socialista europeu”.

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Assim, para as Europeias pede “o melhor resultado possível”. Não é poucochinho? “Há quatro anos foi poucochinho, espero que este ano não seja”, disse repetindo a expressão que usou sobre as últimas europeias, em 2014, para classificar o resultado do PS liderado por António José Seguro nessas eleições. A declaração foi, aliás, o tiro de partida para uma luta interna tensa no PS que acabou com António Costa como líder. Costa coloca nas eleições de 26 de maio especial expectativa, dizendo que “é útil ao país dar aqui sinal claro de estabilidade e continuidade”, lembrando que as “eleições europeias são especialmente ingratas para os partidos que estão no Governo” — só por duas vezes aconteceu que o partido no Governo venceu eleições ao Parlamento Europeu.

Plano B a Montijo é novo aeroporto “de raiz”

Na governação, Costa recusa responder diretamente à pergunta sobre uma baixa de impostos na próxima legislatura, dizendo apenas que a sua “prioridade é prosseguir a trajetória de reposição da qualidade dos serviços públicos, em particular do Serviço Nacional de Saúde e continuar a trajetória de redução sustentada do défice e da dívida, porque temos que nos propor chegar ao final da próxima legislatura com uma dívida próxima dos 100% do produto”. Este, considera Costa, é um “nível de maior segurança perante incertezas”.

Para fazer “face a imprevistos”, o primeiro-ministro não nega ter “consciência que temos de estar preparados para qualquer eventualidade”. Por isso, diz que a intenção é agir “com confiança, mas sem dar um passo maior do que a perna. Mesmo um otimista deve ser prudente no passo que dá”, afirma na entrevista. No défice, o objetivo para este ano são os 0,2% previstos no Orçamento, e quando questionado sobre a hipótese de poder apresentar um superavit no final do ano, o primeiro-ministro diz que “se a economia continuar a ter uma dinâmica positiva que permita ter um resultado melhor, ainda bem”. Garante também que as previsões do Governo já contavam com a desaceleração da economia, fruto da redução das exportações.

Também fala de uma das principais obras previstas por este Governo, o aeroporto do Montijo que ainda aguarda pelo estudo de impacto ambiental — que chegará em abril. E se for negativo, existe um plano B: “O plano B é simples, é fazer um novo aeroporto de raiz”, assume Costa que diz, no entanto, que o Governo “vai aguardar pelo estudo porque uma coisa é certa, onde já há um aeroporto haverá impacto menos do que construir um de raiz”.

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Familiares socialistas: “Só haveria uma questão ética se alguém nomeasse um familiar seu”

Numa altura em que se fazem contas ao número de socialistas com relações familiares no Governo e nos gabinetes ministeriais, o tema ocupou parte da entrevista com Costa a repetir os argumentos sobre o número de independentes no Governo, face ao número de socialistas. Sobre as relações familiares em si, Costa garante nunca “ter escolhido para o Governo por ser filho, pai, marido ou mulher de quem quer que seja” e que só existiria “uma questão ética se alguém nomeasse um familiar seu”. Quanto ao resto, Costa atira: “Não posso aceitar esse critério de que alguém só porque é familiar mais próximo ou remoto de um membro do Governo ou militante do PS (…) que isso signifique incapacidade para o exercício de uma função num gabinete”.

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“Um gabinete não é um órgão da administração pública, é um órgão de apoio à atividade política de um membro do Governo em que o critério de nomeação fundamente é o de confiança política, pessoal e técnica”. Garante também não ter dado nenhuma orientação aos gabinetes para conter este tipo de contratações: “Ainda não vi até agora alguém que seja incompetente, que só lá está porque é prima, irmã… não vi, ninguém apontou um único caso”.

Quanto à mesa do Conselho de Ministros em si, onde existe um casal (a ministra do Mar e o ministro da Administração Interna) e um pai e uma filha (o ministro do Trabalho e a ministra da Presidência), Costa escuda-se no argumento de que “não é uma situação nova” e que “nunca” detetou “um padrão de coincidência de opiniões em função de relações familiares ou não”. “As pessoas não pensam o mesmo necessariamente por serem marido e mulher”, rematou o primeiro-ministro.