“Os estádios de Aveiro e Leiria custaram 90 milhões cada para dois jogos do Euro. Desde aí, um consome três milhões de euros e o outro cinco milhões de euros, todos os anos, por encargos financeiros e manutenção. Não assisti a nada comparado a este frenesim. Porque será?”. A publicação viral vem em jeito de pergunta e data do passado dia 27 de janeiro deste ano. Trata-se, no entanto, de uma publicação com informações falsas.

É verdade que há muito se discute a utilidade futura de cada um dos dez estádios utilizados — sendo que seis foram construídos propositadamente para este evento europeu — durante o Euro 2004 que ditou a derrota de Portugal, na final, diante da Grécia por 0-1. Alguns deles estão pagos, outros, segundo várias notícias, continuam por pagar, obrigando várias câmaras municipais do país a endividar-se. No entanto, olhando só para a publicação, não se vislumbra nenhuma prova factual das acusações que são feitas, além do texto. Olhemos então para o estádio de Aveiro e de Leiria.

Custo dos projectos públicos – Euro 2004 do TdC.

Antes de mais, importa verificar se aqueles foram os valores pagos para a construção de cada uma das infraestruturas desportivas em causa. Segundo o relatório do Tribunal de Contas (TdC), que olhou para os gastos e investimentos de cada um dos estádios referidos, o de Aveiro terá custado — segundo o que consta na página 138, onde se pode ver os custos dos projetos públicos, ou seja, o custo do empreendimento global (estádio, estacionamentos, acessibilidades e outros investimentos ou infra-estruturas) — 68.100.783 milhões de euros. Olhando apenas para a construção do estádio, a conta fica um pouco mais abaixo: 51.054.129 milhões de euros.

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No caso do estádio de Leiria, mais conhecido por Estádio Dr. Magalhães Pessoa, a conta, com todos os custos associados, é bem mais alta: 83.207.473 milhões de euros. Só a construção da infraestrutura desportiva ficou-se pelos 53.850.170 milhões de euros. Foi o segundo estádio mais caro, a seguir ao da cidade de Braga.

Ou seja, não, nenhum destes estádios custou 90 milhões de euros. Outra história são os custos e encargos seguintes que cada um destes recintos desportivo teve no pós Euro 2004. Para isso, o Observador consultou cada uma das autarquias para mais esclarecimentos. Por exemplo, de 2020 a 2022, o estádio municipal de Aveiro nunca teve despesas (correntes, de capital e empréstimos) que chegassem sequer aos três milhões de euros. Na verdade, o ano de 2020 foi o mais dispendioso destes três: foram gastos 1.840.693 milhões de euros.

Simão Santana, adjunto do presidente daquela autarquia, afirma, por outro lado, que o estádio continua a ser utilizado, ao contrário do que dá a entender o autor da publicação original. “É essencialmente usado para jogos de futebol, acolhendo encontros das camadas jovens da seleção nacional,  a Supertaça Cândido de Oliveira nas últimas épocas, além de finais de competições nacionais femininas, jogos do Beira-Mar ou partidas de outros clubes como o Tondela ou o Oliveirense”.

Se olharmos para o estádio de Leiria e para as contas mais recentes, o município garante ao Observador que em 2022, por exemplo, o custo de manutenção ficou-se pelos 331.616,16 mil euros. O município refere ainda que o valor em dívida, a 31 de dezembro do ano passado, estava nos 13.187.687,13 milhões de euros, tendo sido amortizados 3.440.921,74 euros, tendo os juros representado cerca de 602 mil euros.

Quanto à sua utilização, a resposta é semelhante à da autarquia de Aveiro. “Este recinto é utilizado pela União de Leiria para os seus jogos, tem recebido diversos eventos, como a Final 4 da Taça da Liga que, nos últimos três anos, se realizou em Leiria. Em 2022, acolheu, ao todo, 207 eventos. Durante a pandemia, o estádio “foi adaptado para centro de testagem, numa primeira fase, e numa segunda fase como centro de vacinação Covid-19, dando resposta a todo o concelho de Leiria”, alegou João Paulo Silva, adjunto e membro do gabinete de apoio da presidência daquela autarquia. Também o ano passado, os camarotes do estádio foram adaptados para receber 210 refugiados ucranianos.

Conclusão

Não é verdade que dois estádios construídos de propósito para o Euro 2004 tenham custado 90 milhões de euros cada um. As contas oficiais do Tribunal de Contas mostram números contrários (e inferiores) aos alegados pelo autor da publicação original. Também não é verdade que, pelo menos nos últimos três anos, que cada um dos estádios, de Aveiro e de Leiria, tenham tido custos de manutenção acima dos três a cinco milhões de euros.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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