Por altura da segunda volta das eleições municipais brasileiras de 2020, a 29 de novembro, começou a ser partilhada no Facebook uma publicação em que se alega que Antônio Palocci, ministro da Fazenda durante o governo de Lula da Silva e ministro-chefe da Casa Civil durante o mandato de Dilma Rousseff, teria admitido fraude eleitoral através de urnas “encomendadas” para esse efeito.

O post refere-se à implementação do voto eletrónico que, segundo uma frase que está a ser atribuída a Palocci, teria sido “levado” para o Brasil “com o objetivo de fraudar as eleições em benefício de todos os partidos de esquerda”. Contudo, não existe registo de o ex-ministro alguma vez ter falado em fraude eleitoral ou de ter proferido a frase que lhe é atribuída.

A publicação do Facebook que refere que Palocci disse que as urnas foram “encomendadas”

Um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), Antônio Palocci, de 60 anos, é um aliado próximo de Lula da Silva, tendo integrado o seu governo como ministro da Fazenda entre 2003 e 2006, quando renunciou ao cargo. Durante o governo de Dilma Rousseff, foi, durante seis meses, ministro-chefe da Casa Civil. Pediu a demissão em junho de 2016, devido a acusações de improbidade administrativa, isto é, de usar o cargo público que ocupava para benefício próprio. Foi condenado a 12 anos de prisão em junho de 2017, no âmbito da Operação Lava Jato, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

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Uma pesquisa feita online não permite encontrar qualquer registo de que Palocci tenha dito as frases que lhe são atribuídas nas redes sociais. O escritório da advogada responsável pela sua defesa, Tracy Reinaldet, negou que o antigo governante tivesse alguma falado em fraude eleitoral através da manipulação das urnas. “Não há nenhuma nenhuma declaração do ex-ministro Antônio Palocci sobre o tema”, afirmou Reinaldet, em resposta ao contacto do site de verificação de factos brasileiro AFP Checamos.

Não é também possível estabelecer uma ligação entre Palocci, a esquerda brasileira e o voto eletrónico, que, como lembra o AFP Checamos, foi implementado no Brasil em 1996, durante a presidência do social-democrata Fernando Henrique Cardoso. O modelo instalado foi desenvolvido por especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais e do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações.

A primeira eleição presidencial a recorrer a este tipo de votação aconteceu em 1998. Esta resultou na eleição de Cardoso (com mais de 50% dos votos) para mais um mandato. Lula, que também se candidatou, foi afastado na primeira volta.

Conclusão

Não existe registo de Antônio Palocci alguma ter falado em fraude numa eleição através da manipulação do voto eletrónico. Não é também possível estabelecer uma ligação entre Palocci e a implementação deste sistema de votação no Brasil, que aconteceu em 1996. Palocci integrou os governos de Lula e Dilma, entre 2003 e 2006 e em 2016, respetivamente, muito antes dos especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais e do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações terem desenvolvido o modelo de votação que foi depois implementado.

Assim, de acordo com a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

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