A frase aparece numa imagem como se pertencesse a uma reportagem da TVI, com o nome e fotografia da jornalista Sandra Felgueiras e a letras garrafais “50 milhões roubados”. No link abaixo, para um vídeo no Youtube, surge como título “filho de Marcelo roubou 50 milhões”.

O vídeo pertence ao autor Gonçalo Sousa que se apresenta como “palestrante” e também “candidato a vice-presidente da Câmara Municipal de Oeiras em 2021 pelo partido Chega”, mas o seu conteúdo não é referido qualquer roubo — embora o título seja mesmo esse. Trata-se de uma análise a uma notícia da TVI sobre o suposto envolvimento de Nuno Rebelo de Sousa, filho de Marcelo Rebelo de Sousa, no negócio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Brasil.

O negócio passava por uma parceria entre a Santa Casa e o Banco de Brasília para explorar os jogos e lotarias em São Paulo que, segundo a notícia da TVI, tinha sido impulsionado por Nuno Rebelo de Sousa. Em causa estarão contactos diretos com o Governo, nomeadamente com a ministra do Trabalho e Solidariedade Social, Ana Mendes Godinho.

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O filho do Presidente da República é diretor de Marketing e Comunicação da EDP Brasil e também presidente da Câmara Portuguesa de Comércio em São Paulo, bem como vice-presidente da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil. Nunca respondeu à TVI sobre as investigações de que tem sido alvo — a mais polémica é a relativa ao caso das gémeas luso-brasileiras, que levantou suspeitas de tratamento preferencial, envolvendo a Presidência, e que está a ser investigado pelo Ministério Público.

Ministério Público investiga caso das gémeas luso-brasileiras

No caso relativo à Santa Casa volta a existir suspeita de intervenção de Nuno Rebelo de Sousa e num negócio que acabou por correr mal, tendo mesmo sido cancelado depois da auditoria externa da consultora internacional BDO à Santa Casa Global (SCG), que foi criada há três anos precisamente para implementar o projeto de internacionalização da Santa Casa. O plano no Brasil envolvia uma parceria com o Banco de Brasília para explorar e operar jogos e lotarias em São Paulo e estava em marcha desde abril de 2023, tendo envolvido uma transferência da Santa Casa que ascendeu aos 27 milhões de euros, de acordo com dados revelados pela atual provedora. Ana Jorge enviou o caso à Procuradoria Geral da República depois de a auditoria externa ter apontado “para procedimentos que não cumpriram com as normas em vigor e para indícios de irregularidades” nos anos de 2021 e 2022.

Entretanto o Tribunal de Contas do Distrito Federal determinou a suspensão do negócio e pediu ao Banco de Brasília que esclarecesse a sua competência na exploração de jogos sociais e lotarias, tendo sido detetada uma rede de empresas e parceiros locais que levantou dúvidas de legalidade. A auditoria em Portugal à operação internacional da SCM apurou que os compromissos financeiros que podem vir a ter de ser assumidos pela Santa Casa na sequência da parceria podem ultrapassar os 50 milhões de euros, entre dívidas reclamadas à empresa que explora o jogo no Rio de Janeiro, empréstimos obrigacionistas, bancários e cartas de conforto obtidas juntos de bancos, a somar aos investimentos feitos pela Santa Casa, como já escreveu o Observador.

Santa Casa corre risco de sofrer perdas de 50 milhões no Brasil que vão ter impacto nas contas

Assim, os 50 milhões de euros dizem respeito às perdas que a instituição portuguesa pode vir a ter de assumir, sendo certo que, tal como já avançou o Observador, os advogados contratados pela Santa Casa no Brasil estão a procurar formas de reduzir a exposição à rede no Brasil, nomeadamente pela venda de participações. No entanto, pelo menos uma parte das perdas no mercado brasileiro deverá ter de ser reconhecida nas contas deste ano da instituição.

No entanto, não se trata de um valor que foi levado por alguém em concreto de forma indevida, configurando um roubo. Tal como já foi explicado, a perda potencial decorre do avanço do negócio em abril. Também não existem referências a qualquer “roubo” por parte de Nuno Rebelo de Sousa que, de acordo com a notícia da TVI, terá sido um intermediário do negócio a dada altura. A parceira foi cancelada pela SCML, tal como foi noticiado pelo jornal Público em outubro.

Conclusão

Não é feita qualquer referência, no vídeo partilhado, a um “roubo” de Nuno Rebelo de Sousa, mas sim a análise de uma notícia da TVI onde o filho do Presidente da República, que trabalha no Brasil, surge como intermediário junto do Governo num negócio que foi entretanto cancelado e que envolvia a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Banco Brasília. De acordo com uma auditoria à operação internacional da Santa Casa, a instituição poderá vir a sofrer perdas  superiores a 50 milhões de euros na sequência deste negócio e não é ainda certo que parte delas poderá recuperar. As perdas decorreram de empréstimos obrigacionistas, bancários e cartas de conforto obtidas juntos de bancos, além de investimentos feitos pela SCML.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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