Ficou viral nas redes sociais uma fotografia da cidade de Coimbra, alegadamente dos anos 50/60, que mostra o Rio Mondego com um caudal muito baixo, quando atualmente tem uma quantidade de água substancialmente mais elevada. O autor da publicação utiliza a imagem para dar a entender que as alterações climáticas não estão relacionadas com a intervenção do ser humano. “Antes de haver humanos na Terra já havia alterações climáticas. Isto é cíclico. Sempre houve ondas de calor, sempre houve anos de seca e outros de menos seca.”

Ao Observador o geólogo e professor da Universidade de Coimbra, Pedro Proença da Cunha, afirma que “esta imagem não representa nada, não é exemplo de nada. Porque é um momento breve na história do rio”.

O professor explica que o Rio Mondego é torrencial — depende da água das chuvas —, o que, ao juntar-se às especificidades do clima mediterrânico, dá um caráter irregular ao caudal. “Quando ainda era um rio natural, o Mondego era apelidado de ‘Bazófias’ pelos habitantes da cidade, por tanto ter cheias como tempos de seca”, explica Pedro Proença da Cunha.

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O geólogo destaca que quando esta fotografia foi tirada ainda não havia barragens no Rio Mondego e que, por isso, não havia controlo sobre o caudal. Mas, “com a construção do Açude-Ponte e da Barragem da Aguieira, passou a haver controlo sobre o nível das águas e é por isso que hoje em dia temos um espelho de água”. Além disso, Pedro Proença da Cunha explica também que não é possível comparar um rio com um curso natural e um rio cujo caudal é controlado pelo homem e sublinha que hoje em dia o nível de água do Mondego é maior por causa das barragens mas que isso não está relacionado com as alterações climáticas mas, sim, com a intervenção do ser humano.

O geógrafo da Universidade de Coimbra João Pardal reforça também que os caudais deste curso de água sempre foram variáveis. “O regime era natural antigamente e o Mondego por natureza tem uma variabilidade de caudais brutal, sempre teve. Pregava partidas, por isso a população chamava o rio de ‘bazófias'”.

No texto da fotografia que mostra o Rio Mondego numa altura de seca, o autor dá a entender que as alterações climáticas não estão relacionadas com a intervenção do ser humano, mas que se trata de um fenómeno “cíclico”. A Comissão Europeia afirma que as alterações climáticas afetam todas as regiões do mundo e causam eventos extremos tanto de calor como frio, secas e cheias. No site são enumerados como exemplos das contribuições humanas para as alterações climáticas a utilização de combustíveis fósseis, a desflorestação, a indústria pecuária e a utilização de fertilizantes.

Além disto, no site do executivo europeu é detalhado que na Europa são várias as regiões que enfrentam secas cada vez mais frequentes, mais longas e com efeitos mais severos. Eventos que já causaram perdas de 9 mil milhões de euros para várias indústrias como a agricultura e energia. A Comissão Europeia aponta ainda para as previsões de que as cheias sejam cada vez mais frequentes nos próximos anos no continente europeu.

A NASA escreve que, com base nas evidências disponíveis, os cientistas concluem que as atividades humanas aqueceram a superfície da terra e as bacias oceânicas — o que está a impactar o clima. A agência espacial norte-americana acrescenta que isto tem por base mais de um século de provas científicas.

Conclusão

Através de uma fotografia do Rio Mondego, um utilizador do Facebook dá a entender que as alterações climáticas existiam antes do ser humano e são “cíclicas”. No entanto, os especialistas ouvidos pelo Observador explicam que o Rio Mondego tem uma grande variabilidade de caudal e que a par dos períodos de seca, também são comuns as cheias. O geólogo Pedro Proença da Cunha aponta que, a partir de um momento da vida do Rio Mondego, não é possível tirar conclusões mais alargadas sobre as alterações climáticas.

A Comissão Europeia dá exemplos de várias atividades humanas que afetam o clima na Europa. Já a NASA explica que há provas da contribuição humana no aquecimento do planeta.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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