Uma publicação, que circula na rede social Facebook, afirma que a maioria das mamografias que indicam sinais de doença oncológica são falsos positivos e que estes exames estimulam o crescimento dos tumores. “50-60% dos resultados ‘positivos’ estão incorretos! Então, sendo diagnosticado com ‘cancro da mama’ em 50-60% dos casos, afinal ele não existiu de todo!”, diz a publicação, acrescentando que as mamografias estimulam também a disseminação de metástases pelo corpo.

Mas será mesmo assim? A resposta é não. A percentagem de falsos positivos nas mamografias é muito inferior à referida, diz ao Observador o presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia, o ramo da Medicina que diagnostica, estuda e trata as doenças da mama. “Isso não corresponde à realidade. As mamografias de rastreio, de base populacional (grande parte feitas pela Liga Portuguesa contra o Cancro) podem resultar numa maior percentagem de casos positivos. Já as mamografias de diagnóstico, feitas em clínicas e que são apoiadas por ecografia, têm uma percentagem mínima de falsos positivos”, explicou José Carlos Marques, estimando que a percentagem de falsos positivos seja inferior a 2% em Portugal, “um número muito baixo”.

Os estudos nesta área escasseiam. Uma investigação, publicada em março de 2022, e conduzida por investigadores norte-americanos, apontava para um risco aumentado de falso positivo de 49%, mas após 10 mamografias. Ou seja, de acordo com este estudo — que analisou os resultados dos exames de mais de 240o mulheres entre os 40 e os 69 anos –, o risco de falso positivo é de menos de 5% por cada mamografia.

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A publicação que circula no Facebook também refere que as mamografias estimulam o crescimento dos tumores e a disseminação de metástases. O médico radiologista José Carlos Marques diz que tais considerações “não fazem sentido” e que “o benefício da mamografia ultrapassa largamente o risco”. “Com os equipamentos atuais de mamografia digital, a dose de radiação é mínima e o benefício é enorme”, sublinha o especialista do IPO de Lisboa.

José Carlos Marques alerta para o perigo da desinformação na área do cancro de mama, o mais prevalecente em Portugal. Na zona de Lisboa, o número de casos tem vindo a aumentar desde o início de 2021, alerta o especialista.

Conclusão

A taxa de falsos positivos resultante das mamografias não é de 50% a 60%, como diz a publicação, mas pelo menos dez vezes mais baixa do que isso. Em Portugal, rondará os 2%, segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia. Já quanto à segunda alegação, de que os mamografias potenciam o crescimento dos tumores, a mesma também não corresponde à realidade, uma vez que, ao ser usada uma dose de radiação cada vez mais baixa, o risco é diminuto — e o benefício muito superior.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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