A eleição para o 46º presidente dos Estados Unidos da América continua a ser amplamente contestada, quer por Donald Trump, quer pelos seus apoiantes, mesmo que a vitória de Joe Biden tenha sido confirmada pelas instituições oficiais, estando agora a ser contestada via tribunais. Nesse sentido, no passado dia 6 de novembro, surgiu uma publicação de Facebook de um vídeo, já colocado anteriormente a circular do outro lado do Atlântico, onde, mais uma vez, se critica o processo eleitoral, neste caso na cidade de Filadélfia do estado da Pensilvânia. “O meu nome é Brian Mccafrey, sou um democrata registado na cidade de Filadélfia, estou num centro de convenções como observador da contagem de votos. Quero avisar-vos sobre a corrupção que se está aqui a passar. Não nos deixam ficar a menos de9 metros (30 pés, como referido em inglês) para supervisionar as contagens. Isto é um golpe contra o presidente dos EUA”. Deixa ainda críticas ao mayor daquela cidade, James Kenney, ao procurador geral, Josh Shapiro  e a procurador distrital de Filadélfia, Lerry Krasner. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa, onde o seu autor não apresenta nenhuma prova do que está a defender.

Vídeo viral alega que houve corrupção eleitoral na Filadélfia.

O vídeo com alegações falsas foi partilhado no Facebook

O vídeo colocado a circular ganhou mais gás depois de algumas personalidades republicanas, como o advogado pessoal de Donald Trump, Rudy Giuliani, Donald Trump Jr. ou o senador Ted Cruz, via Twitter, com a seguinte legenda: “Os presidentes de câmara democratas estão a desafiar a lei”.  O vídeo, no entanto, foi tapado por aquela rede social, por violar as suas regras. Segundo o BuzzFeed, que acompanhou o caso, uma testemunha ocular e elementos das autoridades locais, afirmou que Brian Maccaffrey foi removido do centro de convenções de Filadélfia, depois de quebrar as regras que proibiam a captação de vídeo do que se estava a passar lá dentro. “Foi removido da sala por um segurança depois de recusar interromper as fotografias na zona reservada. Foi-lhe dito várias vezes para parar, existem sinais de “fotografias não permitidas”, garantiu Kevin Feeley, porta-voz daquele instituto.

Segundo o “Philadelphia Inquirer”, Brian Mccaffrey votou em Trump da primeira vez, mas considera-se como independente.O Washington Post foi outro dos órgãos de comunicação social que se debruçou sobre este caso. McCafferty, com 52 anos, é, na verdade, um apoiante de Trump que ajuda o seu filho a utilizar uma página de Facebook de apoio ao líder republicano — algo que já fez com que surgisse em sites de far-right, como o Infowars ou em médias estatais russos, história relatada pelo “Philadelphia Inquirer”.

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Por outro lado, sobre se tinham existido restrições impostas aos observadores, Lauren Vidas, observador de uma organização apartidária, a Protect Our Philly, desmente ao Washington Post qualquer interferência. Ao contrário do que foi defendido pela ala republicana,  observadores de ambos os lados tiveram autorização para trabalhar naquela cidade, tendo também admitindo que tinha visto uma dúzia de representantes republicanos que tinham estado dentro da convenção, em diferentes turnos, até ao fecho das urnas.

No mesmo sentido, o PolitiFact também verificou estas informações, especialmente a parte em que observadores republicanos estariam a ser expulsos em Filadélfia. Nenhum observador foi expulso durante a eleição, como assegura aquele fact-checker norte-americano, citando Jane Roh, porta-voz da procuradoria distrital daquela cidade. Também segundo o Politifact, não existia, até aquele momento, nenhuma evidência de que votos ilegais estariam a ser considerados válidos, nem que Donald Trump ou Ted Cruz tinham provas para o que estavam a defender sobre possíveis fraudes no processo eleitoral. Cita ainda Al Schmidt, republicano e comissário de Filadélfia, que afirmou o seguinte à CNN: “Observadores dos dois partidos, da campanha de Joe Biden e de Donald Trump, têm estado na nossa área de contagem de votos, muito perto onde o processo está a tomar lugar, desde o início”. Convém também dizer que naquele Estado, foi possível acompanhar a contagem de votos via livestream, que foi disponibilizada no Youtube. Ou seja, o processo naquela cidade não foi obscuro ou escondido, como apregoado por apoiantes de Trump.

Em relação à crítica do autor — e do senador Ted Cruz — sobre a obrigação dos observadores estar muito afastados da contagem de votos (como a 30 metros do local), também não é totalmente verdadeira. É verdade que, tal como o “Philadelphia Inquirer” fotografou, alguns observadores ficaram mais afastados mas não a uma distância tão grande, sendo que a razão é simples: por causa da pandemia da Covid-19 e das regras de segurança sanitárias.

No entanto, esse jornal só captou um observador que estava a cerca de 1,8 metros (6 ft.) e não a nove metros, como referido por Mccafrey. Mesmo assim, um tribunal fez com que os observadores eleitorais estivessem mais próximos. No entanto, não existe nenhuma evidência de que representantes de ambos os partidos não tenham tido acesso ao processo. Esta acusação foi também desmentida pelo New York Times, depois de Trump ter tweetado sobre o tema.

Um último referência para a capa do New York Times de 11 de novembro, uma semana depois da publicação viral ter surgido, que declarou que as autoridades responsáveis por esta eleição não encontraram nenhuma fraude a nível nacional.

Conclusão

Não é verdade que observadores tenham sido afastados durante a contagem de votos em Filadélfia. Vários órgãos de comunicação social norte-americanos contrariam essa teoria defendida quer por Donald Trump, quer pelos seus apoiantes. O rumor foi propagado por Brian Mccafrey, que se apelidou como democrata registado e observador, que teria sido obrigado a ficar a 30 metros da contagem de votos. Porém, o autor do vídeo não demonstra nem prova o que está a defender. Na verdade, Mccafrey foi afastado — ou neste caso expulso — do local por estar a filmar, algo que não era permitido. É verdade que, por ordem do tribunal, os observadores puderam encurtar a distância inicial em relação à contagem de votos — por causa das normas de segurança e de saúde contra a Covid-19 — mas isso não impediu que representantes de ambos os partidos pudessem acompanhar o processo eleitoral. No caso da cidade de Filadélfia esse processo até pôde ser acompanhado via livestream. Não existe qualquer indício de corrupção eleitoral naquela região.

Assim, de acordo com a classificação do Observador, este conteúdo é:

 
ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

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