No dia 31 de outubro, comemora-se os 506 anos da Reforma Protestante, que foi um movimento religioso do século XVI, período em que a fé cristã se viu envolvida numa profunda crise[1], onde a leitura da Bíblia ficava restrita apenas aos clérigos, sendo paulatinamente substituída pelos amuletos, misticismo, e pelas crendices populares. Sendo que neste período, a Bíblia somente era lida em latim pelos padres, se tornando para a maioria das pessoas um documento misterioso.

Portanto, o contexto histórico da Idade Média foi marcado pela imposição da teologia do medo, onde o clero católico demonizava tudo que fosse contrário aos dogmas da Igreja, sendo que neste período, a igreja ensinava alguns temas controvertidos tais como a venda de indulgências, o uso de amuletos, e histórias com fundo manipulativo. De acordo com Reinaldo José Lopes:

“Os críticos atacavam a vida de riqueza e decadência dos líderes católicos e ficavam exasperados com a maneira como os altos cargos da hierarquia eclesiástica (que muitas vezes eram acompanhados pela posse de ricos feudos) viravam moeda de troca política. Mas o hábito que provavelmente mais escandalizava os intelectuais era a venda de indulgências. Com doações à Santa Sé, os cristãos mais abastados podiam, através de rezas por encomenda, reduzir o tempo no Purgatório e agilizar sua ida ao Paraíso – era quase como comprar um lugar no céu.”

Contudo, com o passar do tempo, começou a haver um desgaste destas práticas e assim, tem início o período conhecido como Pré-Reforma, que se pode justificar pela crise moral do papado, pela revolta dos camponeses contra os senhores feudais, e pelo movimento do Renascimento, eventos que foram fundamentais para a Reforma Protestante, já que Lutero confrontava-se com as consequências desastrosas do negócio das indulgências, um dos pilares da sustentação financeira da instituição Igreja.

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Em 31 de outubro de 1517, Lutero  lançou uma abrangente e contundente crítica às indulgências, não com o objetivo de formar uma nova igreja, mas, com o objetivo de reformar a fé católica,  fixando as suas 95 Teses na porta da catedral da  cidade de Wittenberg, propondo assim um debate para esclarecer o valor das indulgências, colocando dúvidas sobre esta prática, o que foi fundamental para o início da Reforma Protestante, já que para Lutero e para os seus seguidores, a salvação não estava ligado as indulgências, mas, a doutrina da justificação pela graça mediante a fé, como sinaliza o  historiador luterano Joachim H.Fischer:

“A origem da Reforma Protestante foi a redescoberta da justificação pela graça mediante a fé. Serviu como critério para avaliar a igreja, a teologia e a sociedade da época.”[2]

A Reforma foi fundamental para o nascimento do Protestantismo, que influenciou milhares de pessoas em todo o mundo, e por fim, a própria igreja católica reconheceu a importância da Reforma[3], o que foi amplamente divulgado em 2017, durante as comemorações dos 500 anos deste acontecimento,  que marcou a história da cristandade, o que demonstra a importância de Lutero e de sua mensagem, como sinalizou em seu livro o padre e teólogo português Carreira das Neves:

“Penso que vale a pena repassar e reler, mais uma vez, a vida de um homem que marcou a história religiosa da humanidade, sobretudo a história do cristianismo…É regressar às fontes com os olhos da exegese bíblica de hoje e com os olhos da cultura religiosa, cientifica, política e social dos nossos dias”[4].

[1]DREHER, M. (2006) Bíblia: suas leituras e interpretações na história do cristianismo.  São Leopoldo: Sinodal& CEB.
[2]FISCHER, J. (2006). Reforma: renovação da Igreja pelo Evangelho. São Leopoldo: Sinodal.

[3] Disponível em< https://istoe.com.br/papa-reconhece-aspectos-positivos-da-reforma-protestante/>.Acesso em 01 Nov.2018.

[4] Neves, C. (2014), Lutero palavra e fé, Barcarena, Editorial Presença.p.19.