Esta resposta poderia ser dada num corredor da Assembleia da República ou numa rede social, mas o artigo de Mário Amorim Lopes (deputado da Iniciativa Liberal), assente numa mentira, levou-me a uma reflexão mais profunda e que exige proporcionalidade de resposta. É que a guilhotina é uma invenção liberal e a sua ação mortífera trespassa os séculos.

Instrumento da Revolução Francesa para ceifar a vida de qualquer opositor à revolução, a guilhotina foi recuperada por ser um método mais “higiénico” e eficaz de aplicação da pena de morte. Quase três séculos depois, os liberais são cúmplices da cultura de cancelamento que dizem combater. Distinguem-se apenas da esquerda radical pelos métodos mais “higiénicos” de implementar esse clima de censura, no fundo, foram novamente recuperar a guilhotina, mas desta vez, a guilhotina do cancelamento e do politicamente correto.

É que a reflexão de Mário Amorim Lopes podia ser uma ode à tolerância e ao respeito pela dignidade de toda a pessoa humana. Contudo, não é mais do que uma mentira assente no truncamento propositado de informações e publicações em redes sociais, como bom agente da agenda woke.

Mas vamos então repor a verdade dos factos – as recentes eleições europeias foram marcadas pelo resultado expressivo do parceiro político do Chega, em França. Esse resultado levou à dissolução da Assembleia Nacional e à convocação de eleições legislativas antecipadas. Ora, este facto não é de somenos importância para este caso. É que o início da campanha para as eleições legislativas antecipadas não passou ao lado do Campeonato Europeu de Futebol. Numa conferência de imprensa desta competição, o futebolista Kylian Mbappé – que representa a seleção nacional francesa – decidiu apelar ao voto dos jovens, para que estes não permitam o avanço da União Nacional, em França:

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“Penso que estamos num momento crucial na história do nosso país. A situação é inédita, por isso dirijo-me ao povo francês e à geração mais jovem, que pode fazer a diferença. Apelo aos jovens para que votem. Vemos que os extremistas estão à porta do poder, temos a oportunidade de escolher o futuro do nosso país”.

Dirão: “A Rita enfiou a carapuça sobre os extremistas”.

Não. E na dialética parlamentar, faço questão de combater a desinformação sobre o que é direita radical, que é distinta da extrema-direita. Mas o que realmente importa, e é preocupante, é que as declarações de Mbappé surgem na sequência de declarações anteriores de um outro jogador da seleção francesa que assume que todo o balneário está chocado com o crescimento do partido liderado pelo jovem Jordan Bardella:

“A situação é muito, muito grave. Ficámos todos um pouco chocados no balneário. Esta é a triste realidade da nossa sociedade hoje. (…) Como cidadãos, sejam vocês ou eu, devemos lutar diariamente para que isto não volte a acontecer e que o RN não passe” – Marcus Thuram (avançado da seleção francesa).

O que é particularmente grave aqui? É que estes jogadores encontram-se a representar a seleção nacional francesa. A seleção que deveria representar todos os franceses. Os de esquerda, os de direita, os pró-imigração ou os a favor de uma política migratória regulada e assente em mecanismos de deportação. É por isso que neste fórum em particular os jogadores devem eximir-se de qualquer comentário político e este é o único pressuposto no qual me baseio. Não, não utilizei como premissa da minha reflexão o facto da UEFA não permitir que os jogadores tenham manifestações políticas. Porque se por um lado essa entidade faz questão de vincar essa suposta “neutralidade”, por outro, promove agendas políticas e culturais em diversas competições (força os atletas a utilizar símbolos LGBT ou a fazer referências a movimentos como o Black Lives Matter). Não me escudaria por isso nas regras de uma organização que é manifestamente enviesada e promove a agenda cultural que destrói o Ocidente.

É desproporcional, em plena campanha eleitoral, jogadores de futebol assumirem partes enquanto representam a Nação como um todo, sem direito ao contraditório.

Perante isto, partilhei na rede X, uma rede social de mensagens curtas e fortes, as declarações de Mbappé com o seguinte comentário:

A comparação feita é só uma: cresce em França uma imigração islâmica que não tolera a famigerada e popular revolução sexual no Ocidente. Mbappé, tendo mantido um relacionamento com uma modelo transsexual, não deve ser indiferente a esta matéria. Como seria encarada essa relação nos países de origem da maioria dos imigrantes franceses (e de grande parte dos jogadores da seleção francesa, diga-se)? Que destino teria Mbappé ou o seu parceiro nesses países?

Não acredito que Mbappé nunca tenha parado para pensar nos pontos cegos da agenda progressista (tão promotora da cultura LGBT como das políticas de portas abertas). Não há muitos anos, Idrissa Gana Gueye – que foi seu colega no PSG – recusou-se a utilizar em campo uma camisola “contra a homofobia” invocando a sua fé islâmica. Esta ação mereceu forte contestação política, levou a que o jogador fosse cancelado e sancionado mas curiosamente não ouvimos Mbappé ou os liberais saírem em sua defesa. Pois bem, nesta matéria estou ao lado de Gueye e da sua liberdade de consciência.

Curiosamente, no dia em que reagi às declarações de Mbappé no Euro 2024, criticando a invasão islâmica em França, o referido jogador lesiona-se no jogo frente aos Países Baixos. Foi esse facto que me levou a uma nova partilha:

Mbappé meteu o nariz onde não era chamado. Estavam lançados os dados para a onda de revolta e indignação. Para mim, as palavras Mbappé não tinham tom de pele. Pelos vistos, para os liberais e para a extrema-esquerda, essas palavras tinham cor e as minhas também. Compreendo agora a sua obsessão com o racismo. É que a sua mentalidade profundamente materialista faz com que interpretem tudo com as lentes das teorias raciais.

Descobri nessa semana a origem familiar de Mbappé e percebi que a minha origem familiar também indigna muita gente. O etnonacionalismo português conta agora com reforços que vão desde os liberais aos marxistas?

Continuarei a afirmar “França aos franceses” ou “Portugal aos portugueses” como contraponto a uma agenda europeia de substituição populacional que há muito que deixou de ser uma mera teoria. Isto é matéria de facto, não de opinião.  Segundo os dados de INSEE, em 2022, mais de 20% dos recém-nascidos em França tinham como primeiro nome um nome islâmico. Em 1997, este indicador rondava os 7%. Quem ignora os desafios socioculturais e demográficos que esta realidade representa ou é cúmplice desta agenda ou é ignóbil.

Não é surpreendente ter de vir a público justificar declarações depois de uma campanha de desinformação e deturpação das minhas palavras promovida por vários membros da Iniciativa Liberal. Não é possível promover a agenda woke e defender a liberdade. A Iniciativa Liberal caminha vergada ao politicamente correto e não se apresenta como alternativa às forças políticas com influência socialista ou marxista.

Seria muito interessante responder às demais reflexões do deputado liberal sobre a identidade nacional e esta não ser uma mera construção social. Poderíamos até debater o autor em que se baseia, visto que não morro de amores por Fukuyama e como patriota que sou, parece-me que essa reflexão está muito bem esplanada no recente livro do politólogo José Pedro Zúquete “Os identitários”. Contudo, como a mesma reflexão toma por base uma mentira, ficamos conversados por aqui.