Costumamos associar diferentes grupos de Profissionais de Saúde a traços particulares de personalidade. Espera-se que um cirurgião seja preciso e meticuloso, que um enfermeiro seja empático e ágil, que um psicólogo seja sereno…

Na verdade, além das qualidades de cariz técnico e específico, somam-se as características associadas à sua inteligência emocional – o traço transversal a todos os grupos de profissionais de saúde.

Mas será que este é o único traço em comum?

Na minha opinião, não. Todos os profissionais de saúde partilham também um poder especial: são líderes e motores de mudança. Especialmente, em dois campos. O primeiro, naturalmente, junto dos seus pacientes e, o segundo, no cerne das estruturas de saúde em que atuam.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nos últimos anos, tenho assistido a vários eventos e jornadas de Fisioterapia e tem sido fascinante ver esta competência de liderança a ser, tanto na capacitação do paciente como na transição digital das organizações, cada vez mais abordada.

Ser líder junto do paciente é, além de influenciar o comportamento de prevenção da doença e promoção da saúde, fazê-lo também numa ótica de capacitação e educação do paciente. Materializa-se na influência positiva sobre o comportamento do paciente, na motivação para hábitos saudáveis, na orientação a objetivos e no apoio emocional.

Ser líder ao nível de mudanças estruturais implica o acompanhamento da evidência e correntes científicas e uma vontade de implementar as melhores práticas clínicas, sendo agente ativo na implementação de inovação, tecnologia e processos que tenham em vista a melhoria global dos cuidados.

De facto, a APFisio (Associação Portuguesa de Fisioterapeutas) escreve, num artigo sobre o perfil do fisioterapeuta, “De acordo com as atuais prioridades da OMS e os últimos desenvolvimentos tecnológicos e da sociedade, o fisioterapeuta, deve ainda ter competências para ser agente ativo na inovação e na adaptação constante a novas realidades, promoção de saúde e adoção de tecnologias na sua atuação”. Acrescenta, também, que os fisioterapeutas “Lideram e comprometem-se com projetos, agregam e mobilizam ações conducentes à mudança (…) Promovem a inovação nos cuidados de saúde.

Como com qualquer bom líder, importa a capacidade de transmitir não só o que deve ser feito, mas também o porquê. Por esta razão, existe uma vitória de cada vez que um paciente cumpre os seus exercícios “TPC” – significa que o paciente compreendeu a importância do exercício na sua recuperação, que sentiu confiança, motivação e autonomia para o executar.

Um fisioterapeuta pode ser líder.

Sempre que educa um paciente. Sempre que o incentiva a cumprir um determinado plano. Sempre que analisa o seu contexto físico e emocional para encontrar estratégias (digitais ou outras) que o motivem. Acima de tudo, sempre que o capacita e educa para que seja uma parte ativa no seu próprio processo de saúde.

Também, sempre que procura a formação e inovação. Sempre que partilha ou promove conhecimento entre a equipa. Sempre que propõe novos métodos, processos e práticas com base na evidência científica e com vista à evolução clínica.

Há super-poderes que não se podem desperdiçar. A somar ao valor imensurável que os Profissionais de Saúde trazem à nossa sociedade, a liderança e o papel ativo na implementação de inovação trarão cada vez mais benefícios.

Que seja cada vez mais reconhecido o valor e super-poder dos Fisioterapeutas e que cada um destes esforços valorize a jornada de Saúde do Paciente.

Joana Pinto é Engenheira Biomédica pelo Instituto Superior Técnico. Co-fundadora e CEO da Clynx.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.