A Europa esteve ligada no “Connecting Europe Days”, realizado entre os dias dois e cinco de abril de 2024, em Bruxelas, naquele que é considerado o principal evento europeu da mobilidade. O objetivo do evento consistia em discutir medidas e trocar ideias “sobre a criação de uma rede de transportes e mobilidade totalmente descarbonizada, resiliente, contínua e digital na Europa”, entre políticos, instituições financeiras, representantes da indústria, partes interessadas nos transportes e a Comissão Europeia.
Nessa senda, o vice diretor-geral da Direção-Geral da Mobilidade e dos Transportes da Comissão Europeia, Herald Ruijters, responsável pelos transportes na União Europeia, reforçou a necessidade e a expectativa da União Europeia numa futura ligação de alta velocidade Lisboa-Porto e Porto-Vigo “o mais rápido possível”.
Sendo certo que essa ligação dependerá, seguramente, de um entendimento ibérico quanto à pasta das infraestruturas, a verdade, parece-nos, é que a União Europeia não deixou de exercer a sua pressão sobre as decisões políticas e medidas a tomar nos respetivos países envolvidos. Aliás, o dirigente terá já contactado o novo executivo português, no sentido de perceber as nossas prioridades neste setor, sobretudo no que toca à ferrovia, e da sua conformidade com os prazos estimados como razoáveis, pela Comissão Europeia, para a concretização da ligação de alta velocidade – isto é, até 2030.
Segundo o Jornal de Negócios, este dirigente afirmou que a importância da existência de uma “verdadeira conectividade” reside ainda no MUNDIAL de 2030, a realizar-se em Portugal, Espanha e Marrocos, reforçando, assim, a necessidade urgente de contribuir para a menor dependência do setor aéreo, nomeadamente privilegiando e potenciando uma conectividade mais sustentável.
No que toca à sustentabilidade, também a Aliança Ibérica pela Ferrovia defendeu, recentemente, a coordenação dos governos português e espanhol para assegurar ligações ferroviárias diretas entre as cidades-sede.
Sendo, no entanto, um projeto ambicioso, não podemos deixar de congratular esta iniciativa, denominada pela Aliança como “Um Mundial pelo Clima”, que idealiza o que também nós gostaríamos de ver concretizado – a utilização da “extensa rede ferroviária” europeia existente, que permitiria que a maioria das deslocações entre estádios e o país vizinho fosse feita através do comboio, com as mais baixas emissões por passageiro e por quilómetro.
Tomemos de exemplo a Alemanha, a anfitriã do UEFA EURO 2024, e que permite que todas as equipas e portadores de ingressos possam usufruir de viagens de comboio, a preços reduzidos, pelos estádios em que se realizará aquela competição. Assim, para além da pressão exercida pela Comissão Europeia e das iniciativas da Aliança Ibérica da Ferrovia, a Alemanha convoca ainda todos os países europeus para uma reflexão: “Tal como o futebol, o caminho de ferro é um desporto de equipa. Temos a oportunidade única de fazer do UEFA EURO 2024™ um evento emocionante inteiramente dedicado à mobilidade verde. Convidamos, portanto, todas as seleções nacionais participantes e todos os adeptos da Alemanha e da Europa a viajarem connosco. Juntos, queremos ser uma equipa para o clima.”
Vejamos se Portugal responde a este apelo e se a Península Ibérica se alinha à bitola do campeonato mundial, ou se ficará “fora de jogo”.