A votação do Orçamento do Estado para 2023 ameaça seguir a tradição dos orçamentos do Partido Socialista: serão inscritos mundos e fundos, propalados à exaustão, que nunca serão executados.

Desde 2015, é esta a narrativa oficial. Contudo, há sempre uma enorme diferença entre o que é prometido e a sua efetiva execução. Entre 2016 e 2021, o ‘desvio’ entre o inscrito e o executado foi superior a cinco mil milhões de euros. Uma regra que é mesmo seguida ano após ano: em 2022, há mil milhões de euros por executar.

O setor da Saúde é paradigmático desta gestão em que se anunciam milhares de milhões na proposta de lei orçamental, enquanto os serviços de saúde ficam à míngua por falta de investimento público. O Governo socialista insiste nesta opção de não realizar os investimentos necessários à resolução de problemas estruturais mais do que diagnosticados. É um escândalo que os primeiros 10 meses de 2022, na saúde, apenas 20% do orçamentado tenha sido executado.

Isto resulta, depois, numa notória degradação dos serviços de saúde, contabilizados num aumento de mortalidade inexplicado, em severos constrangimentos dos serviços de urgência e no abandono acelerado de muitos profissionais perante condições de trabalho que colocam em perigo utentes e profissionais do setor.

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Como resultado, aqueles que menos têm, os mais vulneráveis, são os mais prejudicados, numa altura de claros sinais de empobrecimento do país. Quem tem recursos, terá sempre solução. O problema é quem não tem e fica sem alternativas. Não será por acaso que se batem atualmente o recorde do número de portugueses com acesso a seguro de saúde privado: são mais de 4 milhões.

Com a aprovação garantida, o debate do Orçamento do Estado mostrou que o Partido Socialista não está interessado em promover as reformas essenciais do Serviço Nacional de Saúde. Mesmo assumindo existir um aumento da despesa na área da saúde, verificam-se resultados piores, o que é um óbvio sinónimo de má gestão. O Observatório Português dos Sistemas de Saúde, uma rede de investigadores e instituições académicas, no seu último relatório, acentua particularmente a falta de orientação estratégica na saúde.

É preciso responder com urgência e inteligência, para se sair do pântano em que o Serviço Nacional de Saúde mergulhou. Consciente desta realidade, o PSD apresentou neste Orçamento para 2023 propostas de curto e médio prazo, assentes numa lógica de maior proximidade na prestação de cuidados de saúde e de territorialização das politicas públicas.

O PSD insiste na necessidade de definir uma orientação estratégica para o setor da Saúde, sem prejuízo da reestruturação entretanto anunciada, no âmbito da regulamentação da Lei de Bases da Saúde e da criação o Estatuto do SNS. É fundamental travar a degradação dos cuidados de saúde, corrigir debilidades e combater a incapacidade de resposta aos problemas de saúde das pessoas.

Entre as propostas do PSD, conta-se a criação de unidades locais de saúde e de sistemas locais de saúde, paralelamente à extinção das administrações regionais de saúde. A proximidade deve ser a regra na prestação dos cuidados de saúde.

Defendemos, igualmente, a redução dos tempos de espera de cirurgias, consultas e exames de diagnóstico, através de incentivos à recuperação da atividade assistencial, com a garantia de emissão imediata de vales-cirurgia, a utilizar sempre que os tempos máximos de resposta garantidos tenham sido ultrapassados. Para tal, deve ser aproveitada toda a capacidade instalada do Sistema de Saúde, incluindo privados e setor social. A nossa preocupação é a saúde das pessoas, sem preconceitos ideológicos.

Atendendo à gritante falta de médicos de família que afeta mais de um milhão e trezentas mil pessoas, o PSD propõe a contratualização de médicos especialistas em medicina geral e familiar, para tal se recorrendo, quando necessário, aos setores social e privado. É socialmente inaceitável continuarmos a privar milhares de pessoas do acesso a um médico de família.

Em último lugar, pugnamos pela passagem das Unidades de Saúde Familiar para Modelo B e pela regulamentação das USF modelo C. Estes modelos contemplam a garantia de uma carteira básica de serviços, diferenciados modelos de financiamento e equipas prestadoras dos cuidados. O objetivo deverá ser estas Unidades de Saúde Familiar abrangerem 80% da população até 2026.

O trabalho de refundar o Serviço Nacional de Saúde é um imperativo até aqui adiado. Este desiderato será alcançado no dia em que o PS olhar além dos preconceitos partidários e acolher algumas das propostas do PSD. Esperemos que esse dia seja já o da votação do Orçamento do Estado para 2023.”