Som e Fúria, são as palavras que surgem da célebre frase do Macbeth de Shakespeare num contexto dramático, cuja frase envolve uma reflexão sobre toda a nossa existência enquanto humanidade. Esta frase deu o nome a um livro do escritor norte-americano William Faulkner, intitulado Som e Fúria. No entanto, não é sobre literatura que vou escrever, mas sobre política.

Gostaria de classificar o curto-prazismo que contagia as nossas democracias (umas mais do que outras) com essas duas palavras “Som e Fúria”. O ritmo frenético da nossa vida em sociedade, não só tem conduzido a uma crescente aceleração do tempo político e mediático, como contamina e pressiona ofegantemente o próprio tempo da Justiça.

Uma cultura de pensamento estratégico, envolve tempo para nos informarmos e tempo para ponderar. Se as pessoas e instituições não tiverem o tempo necessário e optarem por respostas rápidas e fáceis, terão sempre soluções frágeis, assentes em circunstâncias concretas do momento, e de insuficiente profundidade e densidade para fazer face ao curso inexorável do tempo.

As democracias liberais, sendo o melhor dos sistemas inventados até hoje, tornam-se muitas vezes presas fáceis do “curto-prazismo”. O frenesim das notícias ao minuto, as correspondentes respostas políticas instantâneas, e a forte pressão para a Justiça dar resposta nos mesmos tempos têm vindo a causar graves problemas institucionais.

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Ora, as nossas instituições não foram pensadas e construídas para dar resposta em tal ambiente de fortes tensões. O resultado é implacável, traduz-se em processos de reflexão e decisão pouco amadurecidos, sem a prudência necessária e muitas vezes incompreensíveis para os cidadãos.

Para contrariar este estado de disfuncionalidade institucional torna-se urgente a existência de uma cultura que promova o pensamento estratégico, que dote as instituições de uma verdadeira capacidade para fazer face às exigências dos tempos de hoje e do amanhã, e que robusteça e proteja as instituições de serem dominadas pela turbulência pressionante em redor.

Esta cultura do curto-prazismo empurra políticos e agentes da justiça mais para uma preocupação reativa em exibir uma imagem de resposta por parte do sistema, muitas vezes de cosmética e quase sempre a reboque dos impulsos mediáticos, do que assumindo uma postura de ponderação e maturação sobre a estratégia, tempo e caminhos a percorrer para chegar a decisões de maior qualidade e que melhor salvaguardem o interesse público ou da Justiça.

Uma sociedade imbuída numa cultura do curto-prazismo e informalismo – sejam eles eleitores, legisladores, opinion makers ou magistrados – é uma sociedade que caminha para o desastre. É uma sociedade que terá sempre instituições fracas e que fomentará a descredibilização e desconfiança em largos sectores da sociedade.

É necessária a criação de condições para a captação e fixação de massa crítica no Estado, de modo a robustecer as instituições e o Estado de Direito democrático. É urgente pensar a qualidade das nossas instituições de forma profunda, e de renovar o contrato social com os eleitores. Para esse desafio precisamos de todos os democratas.

Sem isso, a Democracia corre sério risco de definhar e morrer.