António Costa brindou-nos segunda-feira na CNN com uma masterclass de propaganda político-partidária. David Dinis no seu comentário, disse que Costa apresentou uma narrativa. Eu vou mais longe: Costa ontem contou-nos uma grande história… aquilo que eu chamaria um “momento José Pedro Gomes/António Feio”.

Costa trazia objetivos bem definidos e conseguiu atingi-los todos: atiçou o orgulho socialista, atacou a PGR, chamou o PR de incompetente, ligou o PSD a uma barafunda, menosprezou Montenegro, conseguiu reações destemperadas dos líderes dos partidos da oposição, enalteceu o seu legado, elogiou as medidas que tomou e as políticas que colocou em prática. Chamou a si as atenções a 3 dias das eleições do PS, vitimizou-se, reivindicou um patriotismo mítico quase fundador, desenhou a moldura do desenho que vem a seguir.

Costa manipulou pessoas, números, situações, políticas de acordo com os seus interesses partidários, usando para isso a posição de PM cessante e dando caneladas a todos os que passavam ao seu lado no recreio.

Tudo isto perante a total complacência do entrevistador da TVI. Às mãos de Nuno Santos, Costa pareceu Astreia, a deusa grega filha de Zeus, personificação da pureza, da inocência, da justiça, das causas justas. Até Galamba se tornou de repente um excelente Secretário de Estado e um Excelente Ministro, e Lacerda Machado voltou a ser “o buddy”.

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Na entrevista (ou direito de antena?! ) não se falou:

  • daquilo que era a impossibilidade de manutenção de Costa no cargo devido aos factos conhecidos, independentemente do “parágrafo canalha”,
  • da sua incapacidade governativa e do rodízio de ministros e secretários de estado que nos serviu ao longo dos últimos anos e da sua incapacidade de coordenação governativa (essa sim a verdadeira barafunda),
  • dos erros políticos na administração interna (SEF), saúde (médicos), educação (professores), emigração, juventude, apoio ao desenvolvimento empresarial, capacitação de empresas para os desafios globais,
  • dos escândalos do Ministério da Defesa, do Ministério da Saúde, das Infra estruturas,
  • da quebra das exportações, da debandada dos jovens, dos aumentos de impostos (porque aumentaram mesmo, senhor Primeiro-Ministro, e não foi só o efeito da diminuição do desemprego e por essa via aumento das contribuições para a segurança social),
  • dos indicadores miseráveis na educação, na saúde, na segurança interna.

Há que tirar o chapéu ao ainda PM pela exibição e por ter conseguido “ajeitar” os factos a favor da construção de um “boneco” adequado aos seus interesses individuais e partidários. Homem inteligentíssimo e esperto, Costa é muito mais perigoso do que qualquer outro dirigente do PS. Não sabe escolher amigos e pessoas de confiança mas sabe montar um grande espetáculo. Nesta nova vida de Costa com um brilhozinho nos olhos, La Féria tem que ter cuidado para não perder o lugar.