Imaginem que havia um governo de direita em Portugal (deixo o nome do PM à vossa escolha), a tentar interferir na escolha do Presidente do Tribunal Constitucional. Imaginem também que um conjunto de pessoas de direita tinha escrito um artigo a atacar os jornalistas das televisões por usarem um “estilo acusatório.” Imaginem, ainda, que numa escola pública uma professora dizia aos alunos que a direita promove a justiça social e a esquerda espalha o ódio e a rejeição de outros grupos. Imaginem, por fim, que um antigo militante de um partido da direita radical e membro de uma comissão criada pelo governo para combater o racismo, usava um discurso do ódio para incitar à violência contra um grupo étnico. O que diriam as esquerdas? É muito fácil de responder: o fascismo estava de regresso a Portugal.

Os casos em cima aconteceram em Portugal na última semana, praticados pelo governo socialista e pelas esquerdas. Hoje, há um governo em Portugal que não respeita a independência do poder judicial, e coloca os seus interesses políticos e partidários antes do estado de direito e da competência dos juízes. Aconteceu isso com as substituições da Procuradora Geral da República e do Presidente do Tribunal de Contas, com a escolha do procurador europeu e, agora, com a tentativa de influenciar a escolha do Presidente do Tribunal Constitucional, apesar de tal comportamento violar a Constituição. Aliás, este último episódio mostra que a esquerda só defende a Constituição quando lhe interessa. O governo socialista tem os seus candidatos para os tribunais mais importantes do país e tudo faz para que sejam eles os escolhidos. Em suma, um governo que viola o estado de direito. Não vi uma única pessoa de esquerda ficar incomodada com o comportamento do governo. O estado de direito só é importante na Hungria? Em Portugal é irrelevante?

No Público de ontem, um grupo de “personalidades” das esquerdas (as pessoas das esquerdas adoram o estatuto de “personalidade”) publicou uma carta aberta onde basicamente defende o regresso da censura para controlar a liberdade de imprensa. Copiaram o exemplo de Iglésias e do Podemos em Espanha. Os autores da carta acham que alguém deveria controlar “a duração” dos telejornais, o “tom” e o “estilo” usados pelos jornalistas, os critérios de escolha das notícias, das imagens e dos convidados, e a ousadia de atacar o “Governo” (sim com G à soviética).

Como se aplicariam as sugestões destes iluminados? Obviamente, o governo teria que criar uma entidade regulatória para controlar os telejornais, cujo presidente seria obviamente um militante socialista (quem mais poderia definir o que significa o “respeito pela democracia”?). À hora de almoço e todas as noites, a SIC, a TVI e a CMTV teriam que enviar à Entidade Reguladora do Conteúdo dos Telejornais, o tempo de duração dos telejornais, as notícias e as imagens a passar e os convidados a irem aos estúdios. Paulo Portas nunca mais faria comentários na TVI. José Miguel Júdice e Marques Mendes seriam banidos da SIC. E os jornalistas receberiam instruções sobre como falar e o que escrever. Não era este o comportamento da censura no Estado Novo?

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Nas escolas públicas em Portugal, algumas disciplinas transformaram-se em exercícios de educação ideológica. Não se ensina História, mas transmite-se a versão Marxista da História (eu sei, os meus três filhos estudaram no ensino público). Um deles teve uma professora que defendia a União Soviética e as democracias populares da Europa de Leste, dizendo que os países capitalistas é que violavam as liberdades individuais. Há professores que estão a transformar aulas nas escolas públicas em seminários da Festa do Avante. E há quem diga que o Partido Comunista mudou e é hoje um partido moderado.

Por fim, temos um dirigente do SOS Racismo e antigo militante do Bloco de Esquerda que semanalmente recorre a uma linguagem do ódio, apelando à violência contra o homem branco. Mostra que o ódio e o racismo existem na extrema direita e na extrema esquerda esquerda, entre brancos e entre negros.

Naturalmente, Mamadou Ba tem direito a exprimir sua opinião, por mais repugnante que seja. O que não é admissível é que uma pessoa que usa este tipo de linguagem, como a “bosta da bófia”, continuar numa comissão criada pelo governo. Enquanto assim for, o governo socialista é cúmplice do discurso do ódio de Ba e dá-lhe credibilidade.

Como disse, se um governo de direita tivesse estes comportamentos, as esquerdas estariam nas ruas a gritar contra o fascismo. Mas o que fazem as direitas quando um governo socialista e as esquerdas ameaçam o estado de direito, a liberdade de imprensa e de educação e pactuam com discursos de ódio? Se nada fizermos, não nos podemos queixar quando tudo piorar. Espero que entre as direitas já não haja alguém com ilusões sobre quem nos governa.