No cenário vibrante da investigação e inovação em saúde, os biobancos são heróis silenciosos no grande desafio do século XXI: conseguir rastrear e curar qualquer doença, desde o cancro à doença de Alzheimer. Durante a última década, o campo dos biobancos cresceu rapidamente, em paralelo com o advento da medicina personalizada.

Os biobancos são infraestruturas especializadas no armazenamento e gestão de amostras biológicas humanas, desde vários tipos de tecidos e células (sangue, urina, osso, entre outros) até material genético, sempre colhidas e armazenadas com autorização dos doentes ou voluntários saudáveis. Dispõem de laboratórios, sistemas de congelação e plataformas informáticas nos quais as amostras são rigorosamente catalogadas e armazenadas, ficando associadas aos dados clínicos relevantes dos dadores.

Uma utilidade primordial dos biobancos é a identificação de biomarcadores de doenças. As coleções armazenadas permitem comparar amostras de indivíduos saudáveis com aqueles afetados por doenças e identificar alterações moleculares subtis (em genes, proteínas ou noutras moléculas), que podem servir como um sinal de alerta quando posteriormente detetado em rastreios clínicos – marcadores biológicos, ou biomarcadores. O colesterol, por exemplo, é um biomarcador para o risco de doença cardiovascular. Doenças com impacto elevado na sociedade, como o cancro, as doenças cardiovasculares ou as neurológicas, manifestam alterações moleculares muito antes do aparecimento dos sintomas clínicos, pelo que a identificação de biomarcadores de doenças com recurso a amostras de biobancos permitirá a implementação de medidas preventivas e uma intervenção precoce.

Por outro lado, a análise de biomarcadores através dos biobancos contribui para o desenvolvimento da medicina personalizada. Ao correlacionar biomarcadores específicos com informações genéticas e clínicas, podem ser identificados subgrupos de doentes com maior probabilidade de responder favoravelmente a terapias específicas. No caso do cancro da mama, a recolha de uma amostra tumoral para identificação de biomarcadores específicos é atualmente um teste rotineiro que guia o médico na sua decisão terapêutica. A abordagem personalizada não só aumenta a eficácia da terapia, como minimiza potenciais efeitos secundários, marcando uma mudança de paradigma em relação a intervenções médicas convencionais de one size fits all.

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No outro extremo temos a saúde pública, que também beneficia com os biobancos. A saúde humana resulta de uma interação complexa entre fatores genéticos, ambientais, socioeconómicos e de estilos de vida. Estes determinantes são vitais para compreender porque é que certas populações podem ser mais suscetíveis a doenças específicas. Ao analisar grandes conjuntos de dados em biobancos, são identificados padrões e correlações que transcendem os casos individuais, levando a uma melhor compreensão das causas das disparidades em saúde. Este conhecimento é fundamental na elaboração de políticas de saúde pública que atendam às necessidades específicas de diversas populações, promovendo uma abordagem mais equitativa e eficaz aos cuidados de saúde.

Se Portugal quer assumir um compromisso com a melhoria dos cuidados de saúde e a promoção da inovação, o investimento em biobancos é um imperativo estratégico. A criação e o reforço de biobancos em Portugal posicionam o país na vanguarda da investigação em saúde e promovem a colaboração à escala internacional.

Num mundo global em que vivemos hoje, onde os desafios de saúde transcendem fronteiras, a aposta nestas ferramentas torna-se uma prova do compromisso do país em moldar um futuro mais saudável e resiliente, tanto para os seus cidadãos como para a população mundial.