Como é amplamente sabido, e apesar de se verificar pela segunda vez em dois anos, encontram-se novamente convocadas eleições antecipadas, ato eleitoral este que poderá ser o mais atípico da história política do país.

As circunstâncias que levam à sua realização são por si só anormais, no entanto o fator diferenciador reside na imprevisibilidade das mencionadas. Se em janeiro de 2022 poucos eram os que projetavam a vitória em Rui Rio e no PSD, no presente enquadramento mostra-se tudo mais incerto na medida em que – apesar das convicções de cada um – se denota impossível apontar com certeza um vencedor.

Embora ainda distantes do derradeiro 10-03, paira a ideia de que não existirão maiorias absolutas e que a chave do êxito se prende nos acordos ou coligações a fazer, sendo aqui que se despoleta a multiplicidade de cenários possíveis.

No caso de uma maioria de esquerda, pouco haverá a inventar. Para tal se confirmar, não só é necessário um bom resultado do Partido Socialista, como também – talvez até de forma mais determinante e crucial – uma surpreendente subida do Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português e do Livre, que possam suportar um governo PS.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por outro lado, em conjetura que premeie a direita com um desfecho satisfatório, deparar-se-á o líder que possuir maior votação – presumivelmente Luís Montenegro – com uma pluralidade de hipóteses para formação de governo ou de maioria parlamentar, sempre condicionado por aquilo que lhe seja imposto pelos restantes partidos.

A solução mais óbvia passará pelo abrir da caixa de pandora ao Chega, que se destaca dos remanescentes pelas suas acentuadas, constantes e consecutivas subidas nas intenções de voto e por ser o partido – excluindo o próprio Partido Social Democrata – com maior representação à direita no hemisfério político.

No entanto, a aleatoriedade deste quadro, que se motivará, principalmente, nas exigências e intermitências do Chega, podem levar Luís Montenegro a ponderar diferentes contextos, de modo a que se reduza o poder de intervenção de Ventura num hipotético governo.

As recentes declarações de José Luís Carneiro permitem que Montenegro torça até pela vitória do primeiro nas eleições internas do PS e, com o inédito apoio deste partido, seja viabilizado um governo de direita.

Outra solução para o PSD – e talvez a ideal, uma vez que remove a dependência da boa vontade do PS – será o ressurgimento do CDS/PP. O mesmo partido com quem, na sua última governação, em coligação e por intermédio da PAF, formou governo.

Desde então, o referido partido foi-se debilitando de ato eleitoral em ato eleitoral até atingir a ausência de representação parlamentar, tendo sido absorvido pelo crescimento do Chega e da Iniciativa Liberal.

Na pretérita ocasião, os centristas estabeleceram-se aquém das expectativas, reunindo apenas 1,60% dos votos dos portugueses, distanciando-se dos 4,91% da IL, que elegeu 8 mandatos e ainda mais dos 7,18 % do Chega que, por sua vez, conta com 12 deputados na Assembleia da República.

Todavia, no retorno, o CDS/PP – consubstanciando-se sempre com liderança de uma figura que reúna consensualidade e entenda o know-how da política nacional – pode recuperar alguns assentos parlamentares.

Neste seguimento, deve focar a sua luta pela reconquista dos territórios onde possuía espírito de triunfo e eleitorado, como é caso dos distritos do litoral norte, nomeadamente Viana do Castelo e Braga, esquecendo assim Aveiro, no qual também detinha representação, que se vislumbra agora ocupado por Montenegro, de onde é originário, e se pode lotar, pelas mesmas razões, por Pedro Nuno Santos.

Será naturalmente difícil lograr os resultados de 2019, nos quais o CDS/PP – já em decadência – alcançou 4,22% dos votos e, consequentemente, elegeu 5 mandatos, o famoso partido do Taxi, porém, se com muito esforço e trabalho conseguir no futuro sufrágio o partido do Smart, faz o seu brilharete e baralha as contas da maioria.

Se assim fosse, surgiria não só o recuperar de um histórico partido que desapareceu do hemiciclo político nacional, como também uma alternativa à direita, que embora não bastante por si só, seria, justificado pelo histórico político de e entre ambos os partidos, pela plausível ausência de imposições e pelo total apoio, um sinal de conforto, confiança e garantia para o PSD, que – estando, em termos de popularidade, muito longe dos seus melhores momentos – tanto necessita deste velho aliado.