Economia Circular não é um conceito novo, mas com o passar dos anos deixou de estar associado apenas a grupos ambientais para começar a inspirar pessoas, empresas e negócios. Enquanto antigamente a segunda mão era sinónimo de “usado” e “velho” e quem consumia era um nicho de mercado considerado “forreta”, atualmente assistimos ao contrário. Há orgulho em comprar segunda mão e esta mudança de mindeset tem vindo a ser feita pela mão dos millenials.

Segundo um estudo da DS Smith, os millenials – nascidos entre 1981 e 1996 –, a geração mais populosa entre a população ativa, difere em muito das anteriores em vários aspetos, nomeadamente, no poder de compra, competências tecnológicas, mas também nas tendências e hábitos de consumo. Este grupo é socialmente mais consciente e está mais preocupado com o impacto dos produtos que compra – 75% dos millenials está disposto a pagar mais por produtos que sejam sustentáveis.

Esta geração impulsionou a mudança de pensamento e a perceção do value for money (consumo inteligente), que ganhou uma nova dimensão: porquê comprar uma bicicleta nova por 500 euros se tenho a mesma bicicleta em segunda mão por 250 euros!? Apesar do poder de compra dos millenials estar a aumentar os mesmos reconhecem que os produtos não podem deixar de ser utilizados quando ainda lhes resta muita vida.

A verdade é que são uma das gerações social e ambientalmente mais conscientes pois, ao contrário das anteriores, que adotavam um comportamento despreocupado, estes reconhecem o valor de explorar cidades diferentes, experimentar culturas diferentes, e sabem que isso deixará de ser possível se continuarmos a adotar os hábitos de consumo de há 50 anos atrás que vão destruir o planeta. Esta geração quer preservar a Terra e por isso usa a sua voz para fazer mudanças, por mais pequenas que sejam, que tenham um impacto positivo no ambiente.

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Por serem “Smartshopers” (procuram e comparam preços, condições e promoções em lojas físicas e online), têm feito também com que o processo de compra tenha vindo a sofrer alterações. Os millenials procuram produtos que sejam boas soluções qualidade-preço, mas procuram também ter confiança nestas soluções mais em conta. Segundo o estudo da Agrocluster, 59% desta geração afirma que as suas opções de compra são influenciadas pelos amigos, ou seja, as boas experiências de compra acabam por atrair novos clientes que ouvem falar bem da economia circular e tendem a querer experimentar.

Por outro lado, esta geração de consumidores está mais à vontade com o conceito de “propriedade partilhada” por ser economicamente mais viável. A prova disto é que hoje em dia, os influenciadores digitais – opinion makers desta geração – compram cada vez mais em segunda mão, usam carros elétricos, procuram alugar casas e até meios de transporte (trotinete, bicicleta, mota, etc) e tornam a segunda mão e a sustentabilidade moda.

A par disto e das preocupações ambientais das novas gerações, ao longo dos anos, o mercado da economia circular tem vindo a ser impulsionado também pela obsessão nostálgica com os anos 70, 80 e 90 – o típico vintage e “antigamente é que se faziam coisas boas”. As pessoas procuram objetos destas épocas, como telefones fixos e máquinas de escrever para decoração, o que aproximou os consumidores dos espaços e plataformas geradores de economia circular.

Finalmente, o online, e novamente pela mão dos millenials, teve um papel importante na normalização da segunda mão. Isto porque oferece mais conforto às pessoas, que deixam de ter de sair de casa para comprar produtos usados com garantia e segurança. Tenho como certo que o online foi e vai continuar a ser crucial, pois coloca o produto na ponta do dedo do cliente com a facilidade e rapidez que as novas gerações tanto procuram quando compram, segundo a Agrocluster.

Assim, e talvez por já termos vivido épocas de consumismo desmesurado que nos fizeram perceber que a felicidade não está aí, a sociedade, motivada pelos millenials, caminha cada vez mais de mãos dadas com uma economia circular. As novas gerações estão a revolucionar o mundo e, segundo elas, chegou a hora de parar a utilização descartável de produtos de consumo.